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Memórias de uma Vida Passada

Alimentando a fantasia...

Milena acorda assustada depois de um pesadelo, com o corpo suado e aos gritos, sua mãe entra em seu quarto

— o que aconteceu meu amor?

— água mamãe, eu vi estava engolindo e o rio me puxava, não conseguia sair

a mãe abraça a pequena de apenas dez anos que chora com as lembranças do pesadelo, mas quanto mais Milena se esforçava para lembrar ela olha para mãe e afasta e sai correndo pela casa gritando pela mãe, o pai dela se levanta e encontra ela no corredor

— Milena sua mãe não está com você no quarto?

ela olha para ele assustada e sai correndo como se tivesse visto um desconhecido, enquanto sua mãe vem atrás dela e encontra com o pai no corredor

— Augusto eu estou com medo da nossa filha estar perdendo a razão ela me empurrou como se eu fosse uma estranha e saiu gritando por mim

— já aconteceu isso outras vezes Gabriela temos que levar ela ao médico, ela também me olhou como se eu fosse um estranho e saiu correndo gritando por você e não é normal esse medo de água desde bebê não podemos colocar ela em uma banheira, nunca entrou na piscina, na praia ou em qualquer rio

— farei isso levarei ela a um psicólogo amanhã mesmo agora vamos atrás dela antes que ela saia pela porta

Milena era filha única, Gabriela tinha ovários policísticos e por um milagre ela conseguiu gerar sua única filha Milena após muitas tentativas o que era para ser a felicidade do casal se transforma em preocupação porque desde o seu nascimento eles perceberam que Milena não era uma criança comum, isso foi percebido ao dar banho nela pela primeira vez assim que ela foi submersa na banheira chorava incontrolavelmente dos primeiros dias eles acharam que era por ser um recém-nascido, mas o pai desesperado com o choro resolveu levá-la para o chuveiro e dar banho junto com ele colocando ela em seu peito e assim a pequena não chorava eles perceberam que era essa única maneira de dar banho nela sem que fosse um sofrimento para o pequeno recém-nascido.

Com o passar dos anos Milena apresentava comportamentos diferentes como desejar feliz aniversário para mãe em uma data que não era o seu aniversário, dizer várias vezes que ela não era sua mãe e que queria a mãe e os constantes pesadelos com ela se afogando em um rio e por diversas vezes ela perguntava onde está a sua irmã Lívia.

Eles descem as escadas se encontra sentada no sofá olhando para o porta-retrato com a foto da família

— como você está minha filha?

— me perdoa mamãe eu olhei para você e não via você era como se fosse outra mulher alguém que eu conheci e que amava muito, como se essa mulher fosse a minha mãe eu sentia o abraço dela tão apertado e quando abri os olhos e a vi fiquei desesperada atrás da minha mãe eu não sei explicar mamãe é tudo confuso por quê essa foto da nossa família não parece ser real? falta alguém o seu lugar e do papai não parece certo como se vocês fossem intrusos que eu estivesse na família errada

— não se preocupe meu amor amanhã nós vamos falar com o médico e tudo isso vai passar, eu não sei porque você tem tantas dúvidas eu sou a sua mãe e vi você nascer te carreguei por 9 meses na minha barriga, sentir cada chute que você me deu enquanto estava aqui dentro

Ela aponta para a barriga

— você foi uma filha muito desejada meu amor eu estive ao lado da sua mãe todo esse tempo de gestação, vi você nascer e não me separei de você na maternidade você nunca ficou longe de nós, você é a nossa filha eu não entendo porque você não nos aceita

— eu aceito papai, eu amo vocês só não entendo porque às vezes eu não os conheço, na minha cabeça tem outro homem e outra mulher como meu pai e minha mãe e vocês não passam de estranhos

Eles a abraçam e a levam para o quarto e ficam ao seu lado até ela dormir

— eu tenho tanto medo da menina perder a razão e viver nessa fantasia que ela inventa de que nós não somos a sua família essa irmã que ela diz ter

— se ela quer ter uma irmã vamos entrar na fila da adoção meu amor buscaremos por uma menina recém-nascida para poder pôr o nome de Lívia como ela chama a irmã imaginária

— não acho certo você ficar alimentando a fantasia dela só vai afundar ela mas no mundo de fantasia e tirar ela da realidade

— eu só quero que ela cresça feliz e não seria má ideia ter uma outra filha nem que não seja do nosso sangue vamos ama- lá da mesa maneira

— tudo bem amor amanhã você vai em busca da adoção e eu vou levar ela ao psicólogo

Na manhã seguinte o casal cumpre com os seus planos enquanto Augusto vai atrás da adoção Gabriela leva a filha ao consultório do psicólogo mais famoso e renomado da cidade, ela faz a ficha da Milena e quando as portas do consultório se abrem um jovem de 20 anos sai e encara mãe e filha e fica visivelmente assustado com a aparência da menina e fica paralisado

— algum problema Júnior?

— não doutor Nunes, estou com sede vou ao bebedouro

Ele se afasta e o médico chama Gabriela para entrar e pede para Milena aguardar do lado de fora com uma assistência de uma enfermeira

Júnior senta ao lado da menina e a chama

— Helena

A menina olha para ele e fica assustada procurando se lembrar de onde o conhece e porque esse nome soa tão familiar e principalmente porque atendeu rapidamente pelo nome diferente do seu...

Tenho que conviver com essa dor...

Milena olha para o homem misterioso e ao mesmo tempo familiar ela força a mente e a única coisa que se lembra é de um menino gritando por Helena, seus gritos eram desesperados ela sentia a dor dele

— Helena

Ele a chama novamente por um nome diferente do seu

— porque está me chamando por esse nome ?

— me desculpa menina mas é incrível a semelhança entre você e uma amiga minha do meu passado, quando eu era criança tinha uma amiga que se chamava Helena e era igual a você

— mais eu não sou Helena

— me desculpa por incomodá-la

Milena sorri e Júnior sorri para ela neste momento ambos sentem seu coração palpitar de uma maneira que jamais havia sentido, para Júnior era como se voltasse no tempo, quando ele era feliz e tinha sua amada Helena ao seu lado novamente

— porque você veio aqui?

— eu não sei , as vezes sinto que não conheço meus pais e não pertenço a esse mundo

— entendo, bom eu tenho que ir agora boa sorte Helena

— eu me chamo Milena

— e eu Júnior, tchau Milena espero que se recupere

Ele se levanta e quando Milena se distrai ele tira uma foto dela e deixa o consultório e Milena fica com o nome Júnior ecoando em sua mente, mas ela é chamada pela mãe e entra no consultório e começa a contar ao médico que pensa enquanto a sua mãe ficou na recepção aguardando que ela saísse, o médico sugeriu que ela fizesse sessões quinzenais e ela logo voltou para casa com a mãe.

Do outro lado da cidade Júnior entra em sua casa abalado

— algum problema meu filho? você está com uma cara de assustado

—conheci uma menina hoje e me chamou muita atenção

— fico feliz meu filho já passou da hora de você arrumar alguém, você nunca teve uma namorada

— não é isso mãe a menina deve ter 10 anos o que me impressionou foi a semelhança dela com a Helena

— meu filho a terapia não está te ajudando Helena já partiu há 10 anos você tem que se conformar que ela foi embora meu filho, você ainda está vivo eu sei que você gostava muito dela mas você tem que refazer a sua vida

— eu não gostava muito dela mãe, eu aamava e ainda amo acho que nunca mais vou amar alguém eu sei que eu era só uma criança mas eu a amava, ela partiu cedo demais e por minha culpa mas não quero ficar relembrando esse momento doloroso quero que a senhora veja essa foto que eu tirei da menina

enquanto Silvia sua mãe fica olhando para a tela do celular ele vai até a estante e pega um pequeno álbum de fotos e retira uma foto daquele álbum e entrega para a mãe

— compare a semelhança mãe é como se fosse a Helena até o nome dela é semelhante se chama Milena

— você se aproximou de uma menina desconhecida, responsáveis por ela poderiam até processar e chamar de abusador

— eu chamei de Helena e ela olhou para mim

— ela só deve ter entendido o final do nome, Júnior você tem que ficar longe dessa menina ela é muito parecida com a Helena mas você viu ela ser enterrada você viu o caixão sendo fechado entenda de uma vez meu filho Helena está morta você tem que aceitar

— quem deveria ter morrido naquele dia sou eu que tive a infeliz ideia de ir para a cachoeira, porque Deus é tão mal e a tirou de nós eu implorei para que ela voltasse eu pedi para ele me levar no lugar dela e vocês nunca me deixavam ir sozinho naquele dia queria ir junto com ela, e agora para deixar a bondade dele me coloca frente a frente com uma garota igualzinha a garota que eu amo e não posso ter de volta, eu não posso me aproximar dessa garota porque ela é jovem demais tenho o dobro da minha idade sou praticamente um adulto e ela ainda é uma criança porque ele me colocou em seu caminho

Ele diz chorando para mãe

— não precisamos entender a vontade de Deus apenas aceitar se Helena era boa demais para permanecer nesse mundo, temos que nos conformar crianças são parecidas mesmo, e eu imploro para você que não vai mostrar essa foto para Carla e nem para o Roger , e muito menos para Lívia só vai causar sofrimento para eles já foi difícil para eles aceitarem a partida dela e agora que já se passaram tantos anos não vai relembrar essa dor na vida deles

— eu sei mãe esse é meu castigo, ele está me castigando por não ter salvo a vida dela, por ter levado ela para tomar banho de cachoeira sem a supervisão de um adulto meu castigo é nunca esquecer dela e amar ela como se ela estivesse viva, e agora conhecer uma garota idêntica ela quando tinha essa idade até o sorriso é igual, a voz era como se Helena tivesse ao meu lado e eu só eu cresci

— eu acho que você precisa arrumar uma namorada nada mais que um amor para curar outro porque você não dá uma chance para Lívia?

— a Lívia é a última mulher com quem eu me relacionaria seria uma traição para Helena mesmo que ela não está mais entre nós não vou trair a sua memória, eu amo demais a Helena para arrumar outro eu prometi que nós seríamos um do outro e eu vou cumprir vou me guardar e me privar de mulheres e por minha culpa ela partiu não é justo que eu arrume uma mulher em casa e tenha filhos e ela está lá naquele cemitério porque eu não salvei a vida dela, ela ainda me disse porque não vamos chamar o papai e a mamãe para ficar conosco, mas eu cheio de mim lhe disse que nós só íamos ficar na beirada e ela partiu e eu tenho que conviver com essa dor

ele pega a foto da Helena no seu celular das mãos de sua mãe e sobe para o quarto, a semana seguinte junho tenta todo o custo pegar o endereço da menina mas o médico disse que não pode passar os dados de um outro paciente para ele e também não pode dizer quando será a sua consulta e muito menos o horário, ele passou 10 dias em frente ao consultório do momento em que ele abria até o seu fechamento e nada dessa menina retornar então ele acabou desistindo e também desistiu da consulta porque o médico não quis passar os dados que ele queria e ainda disse que ele só estava vendo coisas porque sentia falta da Helena então ele decidiu abandonar as suas consultas com o psicólogo

Milena após três meses de consulta foi diagnosticada com transtorno de personalidade e disse que teria que fazer acompanhamento periódico por toda a vida para não desenvolver surtos psicóticos então ela seguiu a sua vida com os mesmos pesadelos e as mesmas dúvidas, e mesmo hoje após 13 anos de consultas nada mudou ela continua com os mesmos pensamentos sobre sua família, mas ela já está conseguindo controlar os seus ataques com a mãe e o pai cursou faculdade de administração e está há dois anos como estagiários na empresa NexusEdge é muito reconhecida em seu trabalho, e estar em seus últimos dias de trabalho aguardando o RH para ver se vai ser efetivada na empresa ou terá que procurar um outro trabalho...

Frutos da minha imaginação....

 Milena:

  Acordei Bem disposta hoje pois terei a resposta se continuo ou não na empresa, mesmo meu pai querendo que eu vá trabalhar com ele quando eu me formar, quero ficar lá na NexusEdge gosto dessa empresa me sinto em casa, como se já estivesse aqui antes, por isso quero ficar aqui o máximo de tempo possível ou seja mais dois anos e o chefe dos estagiários me falou que fui recomendada para o RH só falta a aprovação do CEO para que eu seja efetivada.

— Bom dia mãe

— Bom dia meu amor, como passou a noite?

— ansiosa para saber se vou ser contratada ou não

—não se preocupe querida por acaso você receba uma resposta negativa você sabe que tem empresa do seu pai para trabalhar

—eu sei mãe, mas eu gosto de lá me sinto familiarizada com a empresa como se eu tivesse trabalhado ali antes ou andado vendo aqueles corredores me traz uma sensação de paz e alegria principalmente quando vou ao refeitório

— ai minha filha você diz cada coisa, você nunca foi naquela empresa antes

— eu sei mãe mas eu gosto, eu sinto que eu tenho que ficar ali me dá uma tristeza imaginar que poderia deixar a empresa em poucos dias, me sinto angustiada por isso eu fiz o meu melhor para permanecer ali eu sinto que eu tenho que ficar ali

—essa empresa não é a única que existe você pode passar por outras se não quer trabalhar com seu pai agora mas você sabe o que a empresa é sua, sua irmã ainda é uma criança e você assumirá tudo por mim e pelo seu pai você já estaria estagiando lá para assumir os negócios mas essa sua mania de querer adquirir experiência e depois que entrou nessa empresa não quer mais sair de lá

— eu sei mãe que a senhora e o papai queriam que eu trabalhasse lá mas que seja adquirindo uma experiência em outro lugar mas a empresa que trabalha me encanta gosto daquele lugar da estrutura eu gosto de andar pelos corredores às vezes me imagino correndo lá sabe quando era criança assim como eu fazia na empresa do papai correndo pelos corredores fecho meus olhos é como se eu tivesse feito a mesma coisa naquela empresa só que diferente eu não estaria sozinha tinha um menino atrás de mim e essas lembranças me trazem até saudade todas as vezes que forço a minha mente para essas lembranças se parecem reais nada mudou são as mesmas paredes como se realmente eu tivesse vivido esta experiência de um garoto e eu estar correndo pelos corredores da empresa e me segurava pela cintura e depois me dá um beijo no rosto voltarmos a correr você entende mãe que é como se eu realmente tivesse passado por isso

— você já disse isso para o médico

— eu já disse mas ele disse que fruto da minha imaginação que esse menino é meu amigo imaginário que eu nunca deixei ele ir, e que a minha mente queria essa cenas como se fosse reais, ele disse que esse garoto e a tal menina um pouco maior que eu a chamo de Lívia são apenas frutos da minha imaginação

— então não faça sua mente apenas vá trabalhar e faça o que tem que ser feito, não tente se lembrar de coisas que não viveu nem viver no mundo de fantasias onde só existe na sua cabeça, Milena você já tem 23 anos sua sensações já melhoraram bastante mas você ainda continua parecendo que está vivendo em uma vida que não é sua, já fizemos de tudo para você sentir acolhida até adotarmos a sua irmã para que você tenha uma irmã chamada Lívia e o seu pai fizemos, mas você sempre vem com essas conversas de que já viveu em lugares que nunca esteve, que tem memórias de momentos que nunca viveu às vezes eu me acho uma intrusa em sua vida que nós estamos apenas te prendendo conosco e que você não nos pertence

Mamãe fala chorando, eu sei que eu deixo ela triste com essas sensações que tenho, mas nenhuma das minhas amigas jamais me compreenderam pergunto para Lívia se ela passa por isso e ela não passa eu me sinto presa em uma família que não é a minha a minha casa não parece minha esse lugar que eu vivo não parece meu isso me sufoca é como se estivesse presa querendo sair para procurar algo que eu sinto falta às vezes eu ando até uma altura querendo ir em algum lugar mas eu não me lembro como chegar, quando saímos para algum restaurante que parece que já estive eu sempre ando por ele ou lugares que eu reconheço sempre quero ter experiências como se já tivesse passado por isso antes como se estivesse vendo tudo novamente e ninguém me compreende, mas não quero mais magoar minha família decidi a partir de hoje não vou mais falar dos meus sentimentos com a minha família vou viver tudo sozinha mesmo que isso me sufoque eu sofra é melhor eu sofrer calada do que fazer os outros sofrerem.

— me perdoa mãe, como o médico disse são apenas frutos da minha imaginação eu vou me esforçar para que eles vão embora e eu seja a filha que vocês merecem

— você já é a melhor coisa que nos aconteceu meu amor você e sua irmã são os nossos tesouros a única coisa que me deixa chateada são essas histórias que você me conta queria que você lembrasse da sua infância conosco seus aniversários suas brincadeiras com a sua irmã e não coisas que você nunca viveu

— eu prometo que a partir de hoje só vou ter lembranças boas em que nós convivemos juntos mamãe a senhora vai ver que eu só vou falar coisas da nossa família agora eu tenho que ir

Dou um beijo na testa dela e vou para o trabalho, fico com minha rotina falta apenas uma semana para o fim do meu contrato por isso cada dia eu sinto como uma despedida e hoje é mais um dia desses fui até o refeitório para o almoço já me despedindo desse lugar mas com a sensação de correr por ali e rir com um menino até que vejo o cozinheiro repondo os alimentos eu fecho meus olhos e imagino ele bem mais jovem ajudando um outro cozinheiro

—como está seu João?

— eu estou bem menina Milena

—seu João faz tempo que o senhor trabalha aqui?

— 28 anos, comecei como auxiliar de cozinha ajudando o meu pai seu Geraldo que me ensinou como a comandar tudo isso aqui, o Sr Marcos sempre gostou do tempero do meu pai por isso ele me ensinou já que ele disse que jamais mandaria meu pai embora e depois veio o senhor Júnior que gosta do meu tempero e eu continuo aqui até hoje

termino de me servir e volto para o meu posto quando o chefe dos estagiários disse que o CEO quer falar comigo o gerente de RH finalmente me recomendou para ele e ele fará uma entrevista já que está precisando de uma assistente pessoal, oro mentalmente para ele gostar de mim e que eu possa convencê-lo a me contratar, mas desde que conversei com o seu João aquele nome Júnior não me sai da cabeça é como se ele ecoasse na minha cabeça como um sino batendo , porém não tenho tempo de ficar com esse pensamento tenho que convencer o dono da empresa me contratar...

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