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O Chamado

Capítulo 01 - O chamado da Floresta

A floresta era um reino à parte, onde o tempo parecia fluir de maneira diferente, moldado pelo farfalhar das folhas e o sussurro do vento entre as árvores. A luz do sol filtrava-se através das copas densas, projetando sombras alongadas no chão coberto de musgo. Era um lugar de serenidade e perigo, conhecido apenas por aqueles que ousavam se aventurar em suas profundezas. Para Aric, porém, a floresta era seu lar, e ele conhecia seus segredos como a palma de sua mão.

Naquela manhã, como tantas outras, Aric estava absorto em seu trabalho, derrubando uma árvore antiga que forneceria madeira para o próximo inverno. O som do machado atingindo o tronco ressoava ao redor, afastando temporariamente o silêncio que governava aquele canto isolado do mundo. Suas mãos calejadas seguravam o cabo do machado com firmeza, e cada golpe era dado com precisão e força controlada. Ele se movia com a eficiência de alguém que havia repetido aquele movimento milhares de vezes, sem pressa, mas também sem descanso.

Foi então que ele ouviu. No começo, pensou ser o uivo distante de um lobo ou o canto de um pássaro. Mas não era. Era um som humano – fraco, quase imperceptível, mas inconfundível. Um pedido de socorro.

Aric parou imediatamente, sua respiração se acalmando enquanto ele escutava com atenção. O som vinha de mais fundo na floresta, onde as árvores eram mais antigas e o terreno, traiçoeiro. Ele pegou seu machado, mais por hábito do que por necessidade, e começou a caminhar na direção do som, seus passos quase silenciosos no chão coberto de folhas.

À medida que se aproximava, o som se tornava mais claro, revelando a urgência e o desespero por trás dele. Aric sentiu seu coração acelerar, uma sensação que ele não experimentava há muito tempo. A última vez que havia sentido algo parecido fora... não, ele não queria pensar nisso agora. Ele empurrou os pensamentos para longe e acelerou o passo.

Ao atravessar uma espessa barreira de arbustos, ele avistou a fonte do chamado. Montada em um cavalo que parecia exausto, estava uma mulher. Sua armadura estava em frangalhos, coberta de lama e sangue seco. Seu corpo estava curvado de dor, e suas mãos, ainda agarradas às rédeas, tremiam. O cavalo, um animal magnífico apesar de sua condição, bufava e ofegava, claramente em seus últimos momentos de força.

Aric aproximou-se com cautela, levantando uma mão para não assustar o animal. Os olhos da mulher se ergueram para ele, revelando uma expressão de dor e exaustão. Mas havia algo mais em seu olhar – uma determinação feroz que a mantinha erguida, apesar das feridas que cobriam seu corpo.

— Por favor... — ela murmurou, sua voz quebrada pelo esforço. — Ajude-me...

Antes que Aric pudesse responder, ela desabou do cavalo, caindo nos braços dele. Ele sentiu o peso dela, muito leve para uma guerreira, mas a firmeza de seu aperto nos braços dele dizia que ela não era alguém que desistia facilmente.

Aric a segurou firmemente, seus olhos percorrendo as feridas que cobriam o corpo da mulher. Sangue escorria por entre as placas da armadura e manchas negras marcavam sua pele, sinal de algo muito pior que ferimentos de batalha. Ele sabia que precisava agir rápido se quisesse salvar sua vida.

— Está tudo bem agora — ele disse, mais para si mesmo do que para ela, enquanto a colocava cuidadosamente no chão. — Vou cuidar de você.

E, naquele momento, o mundo de Aric, tão cuidadosamente mantido à distância dos conflitos e tragédias de fora da floresta, começou a mudar. Ele não sabia quem era essa mulher ou o que a havia trazido até ali, mas sentia que seu destino agora estava entrelaçado com o dela, de uma forma que ele ainda não compreendia.

Enquanto o lenhador trabalhava rápido para estabilizar a guerreira ferida, um pensamento passou por sua mente, um presságio sombrio: o que quer que a tivesse levado àquela floresta não estava muito atrás.

Aric pegou a guerreira nos braços com cuidado, sentindo o calor febril que emanava de seu corpo. Ela estava delirante, murmurando palavras desconexas entre gemidos de dor. Ele sabia que precisava agir rápido; a vida dela dependia disso. Olhando ao redor, Aric avaliou o ambiente e percebeu que não poderia tratar os ferimentos ali mesmo. Decidiu que o melhor seria levá-la para sua cabana, onde teria acesso às ervas medicinais e aos poucos suprimentos que possuía.

A cabana de Aric ficava a uma curta caminhada, escondida em uma clareira que ele havia escolhido cuidadosamente anos atrás. Era um lugar seguro, protegido por árvores altas e cercado por plantas que ajudavam a ocultar sua presença. Ele caminhou rápido, mas com cuidado, para não agravar os ferimentos da mulher. O cavalo, exausto e ferido, seguiu-os lentamente, quase como se estivesse ciente da gravidade da situação.

Quando chegaram à cabana, Aric empurrou a porta de madeira com o ombro, abrindo-a com um rangido. O interior era simples, mas funcional: uma mesa de madeira, algumas cadeiras, prateleiras repletas de utensílios e ervas secas, e uma lareira que mantinha o ambiente aquecido. Ele deitou a mulher em sua própria cama, um gesto que mostrou o quão grave ele considerava a situação. Rapidamente, começou a preparar um cataplasma com as ervas que ele sabia serem eficazes contra infecções e inflamações.

Elyana, embora ainda semiconsciente, sentiu a mudança de ambiente. Seus olhos se abriram brevemente, focando em Aric com dificuldade. Ela tentou falar, mas ele a interrompeu, sua voz firme mas calma.

— Não fale, guarde suas forças. Você precisa descansar — disse ele, enquanto esmagava as ervas com habilidade.

Mas ela insistiu, sua voz fraca, quase um sussurro.

— Eles... eles estão vindo...

Aric parou por um momento, absorvendo as palavras dela. "Eles". Quem eram "eles"? Ele sabia que algo terrível havia acontecido, mas ainda não compreendia completamente a magnitude da situação. No entanto, a urgência na voz dela e o medo em seus olhos o convenceram de que o perigo estava perto.

— Quem está vindo? — ele perguntou, enquanto aplicava o cataplasma nos ferimentos dela.

Elyana tentou se levantar, mas estava muito fraca. Ela olhou diretamente para Aric, e seus olhos, agora mais lúcidos, estavam cheios de uma intensidade que ele não podia ignorar.

— Os... Demônios Milenares... — ela conseguiu dizer antes de cair de volta no travesseiro, exausta.

As palavras dela ecoaram na mente de Aric como um trovão. Demônios Milenares. Ele já havia ouvido histórias, lendas contadas por velhos ao redor de fogueiras, mas sempre pensara que não passavam de contos para assustar crianças. Seres das sombras, antigos e poderosos, que traziam destruição e morte por onde passavam. Mas ele nunca imaginou que essas histórias pudessem ser reais, muito menos que chegariam à sua porta

.— Por que estão atrás de você? — perguntou ele, sabendo que ela estava quase sem forças para responder.

— Porque... eu sou... a última esperança... — Elyana murmurou antes de perder a consciência.

Aric ficou parado por um momento, processando a informação. O último fio de esperança de um reino destruído agora estava em suas mãos. Ele olhou para a mulher inconsciente, sentindo o peso da responsabilidade que acabava de cair sobre seus ombros. Ele não sabia como, mas precisava protegê-la, e ao fazer isso, poderia muito bem estar protegendo o mundo de uma ameaça que ele mal começava a compreender.

A floresta, que sempre foi seu refúgio, agora parecia cheia de sombras que ele não conseguia identificar. Aric sabia que a tranquilidade que havia conhecido por tanto tempo estava prestes a acabar. Ele se levantou e foi até a porta, espiando pela pequena janela. As árvores balançavam suavemente ao vento, mas ele sentia que algo estava se movendo nas sombras, algo que se aproximava a cada momento.

Ele fechou a porta, trancando-a, e então voltou para junto de Elyana. Seu coração estava pesado, mas sua mente estava decidida. Ele precisava preparar a cabana para o que quer que estivesse vindo, mas primeiro, tinha que garantir que Elyana sobrevivesse à noite. Se ela era a última esperança, ele faria tudo ao seu alcance para mantê-la viva.

Capítulo 02 - O despertar das sombras

A noite caiu sobre a floresta, envolvendo a cabana em uma escuridão profunda e opressiva. O crepitar da lareira lançava uma luz trêmula, projetando sombras inquietantes nas paredes de madeira. Aric, sentado ao lado da cama onde Elyana estava deitada, observava atentamente, seu rosto iluminado apenas pela luz do fogo. A mulher estava inconsciente, seu corpo imerso em um profundo descanso febril.

Aric havia feito o melhor que podia com as ervas e remédios disponíveis. A cada momento que passava, ele sentia a pressão aumentar. Elyana não apresentava sinais claros de melhora, e ele estava ciente de que o tempo estava contra eles. A floresta, com sua tranquilidade usual, agora parecia um mero pano de fundo para a crise que se desenrolava em sua cabana.

O silêncio foi quebrado por um som distante, um murmúrio baixo e inquietante que parecia vir de fora. Aric parou imediatamente e se levantou, sua mente alertada. Ele foi até a janela e olhou para a escuridão lá fora, mas não conseguiu ver nada além das sombras projetadas pela luz da lua. A sensação de estar sendo observado era palpável, como se a própria floresta estivesse consciente da ameaça.

Aric fechou a janela e voltou para perto da cama de Elyana. Ele a examinou novamente, ajustando as compressas e verificando os sinais vitais dela. Apesar de seus esforços, os ferimentos eram graves e ela parecia cada vez mais enfraquecida. Ele sabia que precisava agir rápido, mas não tinha certeza de qual seria o próximo passo.

— Fique tranquila — murmurou Aric para Elyana, mesmo sabendo que ela não estava consciente. — Vou fazer o que for necessário para te manter segura.

Enquanto preparava algumas ervas para possíveis infecções, Elyana acordou com um sobressalto. Seus olhos se abriram, e ela olhou ao redor com um olhar confuso e aterrorizado. Aric se aproximou imediatamente, notando a agitação em seu olhar.

— O que... o que está acontecendo? — a voz dela estava fraca e rouca, mas havia uma urgência palpável.

— Você está segura aqui. Fiz o melhor que pude para tratar seus ferimentos — respondeu Aric, tentando manter a calma. — Mas precisamos saber mais sobre a ameaça que você mencionou.

Elyana tentou se sentar, mas a dor a fez recair na cama. Ela olhou para Aric, seus olhos refletindo uma mistura de gratidão e desespero.

— Eles estão... mais próximos do que você imagina. — Ela fez uma pausa, respirando com dificuldade. — A invasão... foi só o começo. Eles têm um plano para acabar com tudo.

Aric franziu a testa, tentando processar as informações. Ele sabia que os Demônios Milenares eram uma ameaça, mas a magnitude do perigo estava começando a se tornar clara.

— O que você sabe sobre o plano deles? — perguntou Aric, seu tom carregado de preocupação.

Elyana olhou diretamente para ele, seus olhos demonstrando uma dor profunda.

— Eles querem abrir um portal... um portal para uma dimensão onde podem... destruir tudo sem limites. Eu sou a única que pode impedir isso, mas não sei quanto tempo tenho antes de ser capturada novamente.

Aric sentiu uma onda de determinação crescer dentro dele. Ele nunca imaginara se envolver em algo tão grandioso, mas a necessidade de proteger Elyana e impedir a destruição de seu mundo o impulsionava.

— Então precisamos nos preparar. Se eles estão tão próximos, não temos muito tempo — disse Aric, seu tom decidido.

Elyana assentiu lentamente, fechando os olhos com um suspiro de alívio ao ver a determinação de Aric. Sua confiança, embora frágil, parecia renovada pela presença dele.

Aric começou a se mover pela cabana, decidindo preparar-se para a iminente ameaça. Ele revisou suas armas e equipamentos, verificando cada detalhe com cuidado. O que antes era um lugar de paz agora estava se transformando em um bastião de resistência. Ele preparou algumas armadilhas improvisadas nas proximidades da cabana e verificou os pontos de entrada para garantir que estivessem bem seguros.

Enquanto trabalhava, o vento uivava lá fora, e o som das árvores balançando parecia mais ameaçador. Aric não pôde ignorar a sensação crescente de que algo estava se aproximando. Ele retornou à cabana e se sentou perto da cama de Elyana, mantendo um ouvido atento para qualquer sinal de perigo.

A noite se arrastou lentamente, e Aric se revezou entre vigiar a floresta e cuidar de Elyana. A tensão estava palpável, e ele sabia que a qualquer momento, a ameaça que pairava sobre eles poderia se materializar. A floresta, antes um refúgio seguro, agora estava cheia de sombras e presságios sombrios.

Enquanto o sol começava a nascer, Aric se preparava para enfrentar o que quer que viesse. Ele olhou para Elyana, cuja respiração estava um pouco mais tranquila, e fez uma silenciosa promessa: protegeria ela e lutaria contra a escuridão que se aproximava, não importa o custo.

Capítulo 03 - Conexão

O sol da manhã filtrava-se através das árvores, trazendo um calor reconfortante à cabana. Aric estava sentado à mesa, preparando algumas ervas e alimentos leves, enquanto Elyana ainda repousava em sua cama. Ela havia passado a noite em um sono inquieto, mas com a ajuda de Aric, seus ferimentos pareciam estar começando a cicatrizar.

Quando Elyana acordou, o sol já iluminava a cabana com um brilho suave. Ela se espreguiçou e olhou ao redor, notando a presença de Aric preparando algo na cozinha improvisada. A visão de Aric, concentrado em seu trabalho, trouxe um senso de calma que ela havia perdido durante a crise.

Aric notou que Elyana estava acordada e se aproximou com uma tigela de sopa quente e um pedaço de pão.

— Bom dia — disse ele, com um sorriso amigável. — Espero que tenha dormido melhor. Trouxe algo para comer. Pode ajudar na recuperação.

Elyana aceitou o prato com gratidão, seu olhar revelando um misto de alívio e curiosidade. Enquanto comia, ela observava Aric, notando a maneira cuidadosa com que ele se movia e o esforço que estava fazendo para garantir seu bem-estar.

— Obrigada, Aric. Não sei como te agradecer — Elyana disse, a voz ainda fraca mas sincera. — Sem sua ajuda, eu não teria chegado tão longe.

Aric sentou-se ao lado dela, observando-a com um olhar de compreensão.

— Não há necessidade de agradecer ainda. Apenas me diga o que você precisa e farei o possível para ajudar. Mas você deve saber que sua recuperação é o mais importante agora.

Elyana assentiu, sua expressão mostrando um toque de determinação.

— Eu quero ajudar. Sei que estou fraca agora, mas preciso fazer algo para contribuir. Cada momento conta.

Aric olhou para Elyana, percebendo a força interior dela apesar da fraqueza física. Ele havia visto em muitos anos na floresta o poder da natureza e das pessoas, e Elyana era um exemplo claro disso.

— Por enquanto, o melhor que você pode fazer é descansar e se recuperar. A floresta tem suas próprias maneiras de curar, e eu vou garantir que você tenha tudo o que precisa para se recuperar o mais rápido possível.

Nos dias seguintes, Aric dedicou-se a ajudar Elyana a se recuperar. Ele preparou infusões de ervas para aliviar a dor e acelerar a cicatrização, enquanto também ajudava Elyana com exercícios leves para recuperar a força. A interação entre eles tornou-se um momento de aprendizado e conexão.

Elyana, embora ainda fraca, começou a compartilhar mais sobre si mesma com Aric. Ela contou histórias sobre sua vida no reino, sobre suas batalhas e a missão que a trouxe até ele. Aric, por sua vez, falou sobre sua vida como lenhador e as histórias da floresta que conhecia. Essa troca ajudou a criar um vínculo de compreensão e respeito mútuo

.Uma tarde, enquanto Aric estava fora procurando por algumas ervas raras, Elyana estava sozinha na cabana. Ela se levantou, usando um cajado para apoio, e decidiu explorar um pouco a área ao redor da cabana. Ela se moveu lentamente, absorvendo o ambiente natural e tentando recuperar um pouco de sua energia.

Quando Aric retornou e a encontrou fora, ele se aproximou com uma expressão de surpresa e preocupação.

— Elyana, você deveria estar descansando — disse ele, ajudando-a a voltar para dentro da cabana. — Não deve forçar seu corpo ainda.

— Eu precisava sentir o ar fresco — Elyana respondeu, um sorriso tímido no rosto. — Acredito que isso também faz parte da recuperação.

Aric não pôde deixar de sorrir com a determinação dela. Ele a ajudou a voltar para dentro e preparou um lugar confortável perto da janela, onde ela pudesse desfrutar da vista sem se esforçar.

— Apenas cuide-se para não exagerar. A floresta pode ser linda, mas sua recuperação é mais importante agora.

Elyana se acomodou no local que Aric preparou para ela, observando a luz do sol filtrar-se através das folhas das árvores. A sensação de estar cuidada e compreendida era reconfortante, e ela começou a sentir uma verdadeira gratidão por Aric.

— Obrigada, Aric — disse ela, com um olhar de apreciação. — Você tem sido uma grande ajuda, e eu valorizo muito o que você fez por mim. Não só pelos cuidados, mas por sua companhia e apoio

Aric se inclinou para frente, olhando para Elyana com um olhar sincero.

— Fico feliz em poder ajudar. Às vezes, os momentos mais difíceis trazem as maiores oportunidades para conhecer e apoiar uns aos outros. E eu estou aqui para isso..

A conexão entre Aric e Elyana se aprofundou com cada conversa e cada gesto de cuidado. O ambiente ao redor, antes um mero cenário, começou a se transformar em um lugar de cura e entendimento. Eles estavam se preparando para o que viria, mas agora estavam fazendo isso com uma nova perspectiva e um vínculo mais forte.

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