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Príncipe das Trevas

**Capítulo 1: Nas Sombras do Destino**

A noite se aproximava com pressa, envolvendo o castelo de pedras antigas em uma escuridão impenetrável. Do alto da torre mais alta, ele observava o horizonte, onde o último fio de luz do sol desaparecia, deixando apenas um véu de trevas. O Príncipe das Trevas, como era conhecido por todos, suspirou pesadamente. Aquela era sua rotina: observar o dia se transformar em noite, sem nunca poder pisar na luz do sol.

Desde a infância, ele havia sido amaldiçoado, condenado a viver nas sombras. A maldição que pairava sobre ele não era apenas física, mas também emocional. Seus pais haviam sido mortos por aqueles que temiam o poder que ele poderia um dia possuir. Agora, ele era um governante solitário de um reino que ninguém ousava visitar. As histórias sobre sua maldição e sua suposta crueldade haviam se espalhado por terras distantes, mantendo qualquer visitante em potencial longe.

No entanto, naquela noite, algo estava diferente. Enquanto observava o crepúsculo, uma sensação estranha percorreu seu corpo. Ele podia sentir uma presença, uma energia diferente. Algo ou alguém havia cruzado as fronteiras de seu reino. E isso era impossível.

Descendo as escadas da torre com passos firmes, o príncipe atravessou o grande salão, onde tapeçarias desbotadas contavam histórias de um tempo melhor, de um reino que havia prosperado antes de sua maldição. Agora, o silêncio era seu único companheiro, exceto por suas raras visitas ao mundo exterior, sempre sob o manto da noite.

Ele chegou à entrada principal do castelo e empurrou as grandes portas de madeira, que se abriram com um rangido sombrio. Lá fora, a escuridão o envolveu completamente, mas ele estava acostumado com isso. Seus olhos, treinados para enxergar na penumbra, logo captaram o movimento sutil entre as árvores ao longe. Uma figura estava se aproximando.

“Quem ousaria?” murmurou ele para si mesmo, sua voz rouca pela falta de uso. Ninguém havia se aventurado tão perto do castelo em anos. Ele permaneceu imóvel, esperando que a pessoa se revelasse.

A figura emergiu das sombras, uma mulher jovem e determinada. Ela estava vestida com roupas simples, mas seus olhos brilhavam com uma coragem inabalável. O príncipe notou o tremor sutil em suas mãos, mas admirou sua determinação. Ela não tinha ideia do perigo que corria.

“Quem é você e o que faz aqui?” Sua voz ecoou pelo pátio vazio, carregada de autoridade.

A jovem deu um passo à frente, seu olhar fixo no dele. “Meu nome é Isabela,” disse ela, sem hesitação. “Vim até aqui para encontrar o Príncipe das Trevas.”

O príncipe ergueu uma sobrancelha, surpreso com a ousadia dela. “Você o encontrou,” respondeu ele, a frieza em sua voz se intensificando. “Mas saiba que isso pode ser a última coisa que você faça.”

Isabela não recuou. “Sei dos perigos que corro,” disse ela, mantendo seu tom firme. “Mas eu soube da maldição que o prende, e acredito que posso ajudar a quebrá-la.”

O príncipe reprimiu uma risada amarga. “Já ouvi isso antes,” disse ele, virando-se para entrar novamente no castelo. “Nenhuma maldição pode ser quebrada por simples palavras ou intenções. Você está perdendo seu tempo.”

“Não, não estou,” insistiu Isabela, seguindo-o até a entrada. “Acredite em mim, Príncipe, eu trouxe comigo mais do que apenas palavras. Conheço o segredo da maldição que o aprisiona.”

Ele parou no meio do corredor escuro, seus olhos cravados na jovem. “O que você pode saber que os outros não sabem?” questionou ele, a curiosidade finalmente despertando dentro dele. “Muitos vieram antes de você, todos falharam.”

Isabela se aproximou lentamente, sem quebrar o contato visual. “Eu sei que a maldição que o atormenta não é apenas por causa dos seus pais,” disse ela suavemente. “Há algo mais profundo, algo que foi escondido de você por anos.”

O coração do príncipe deu um salto em seu peito. Como ela poderia saber? Ele sempre acreditou que a maldição estava ligada à morte trágica de seus pais, mas nunca havia explorado a possibilidade de um segredo maior. No entanto, seu instinto o obrigou a manter a guarda alta.

“E o que você espera ganhar com isso, Isabela?” perguntou ele, seu tom agora um pouco mais suave. “Nenhum favor ou gratidão virá de alguém como eu.”

“Não estou aqui por recompensas,” disse ela, balançando a cabeça. “Vim porque acredito que ninguém merece viver nas trevas, não importa o que tenha acontecido no passado.”

O príncipe ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela. Havia algo em Isabela que o desarmava, algo que ele não sentia há anos: esperança. Mas ao mesmo tempo, ele sabia que a esperança era perigosa. Ela poderia levá-lo a caminhos sombrios, onde a desilusão e a dor o aguardavam.

“Se você realmente acha que pode me ajudar, então entre,” disse ele finalmente, movendo-se para o lado para permitir que ela passasse. “Mas saiba que, se falhar, sua vida estará em perigo.”

Isabela assentiu e entrou no castelo. Ela sabia que as trevas que cercavam o príncipe não eram apenas físicas, mas emocionais. E se havia uma chance de trazer a luz de volta ao seu coração, ela estava disposta a correr o risco.

O príncipe a conduziu até uma sala próxima, onde uma lareira apagada fazia o ambiente parecer ainda mais frio e inóspito. Ele acendeu o fogo com um gesto rápido, revelando os traços cansados em seu rosto.

“Comece a falar,” ordenou ele, sentando-se em uma poltrona desgastada. “Me diga tudo o que sabe.”

Isabela se aproximou da lareira, aquecendo as mãos enquanto começava a contar a história que ouvira de uma velha sábia em sua vila. A história de uma maldição que ia além da morte dos pais do príncipe, uma maldição ligada a um ato de traição cometido há séculos.

Enquanto ela falava, o príncipe sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Cada palavra de Isabela parecia despertar memórias há muito enterradas, ecos de um passado que ele nunca quis confrontar. E enquanto o fogo ardia, uma nova chama começou a acender em seu coração.

Uma chama que ele não sabia se era de esperança ou de medo.

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Este primeiro capítulo estabelece o tom sombrio e misterioso da história, apresentando os dois personagens principais e sugerindo o conflito central. A introdução da jovem Isabela e sua determinação em ajudar o Príncipe das Trevas cria uma tensão imediata e uma curiosidade sobre como ela poderá desvendar o segredo por trás da maldição.

**Capítulo 2: O Segredo Escondido**

O crepitar das chamas era a única coisa que quebrava o silêncio na sala. Isabela havia terminado de contar sua história, mas o Príncipe das Trevas ainda estava imóvel, seus olhos fixos nas labaredas que dançavam na lareira. A revelação que ela trouxera perturbava profundamente seu espírito, como se uma porta que ele sempre mantivera trancada tivesse sido subitamente escancarada.

Finalmente, ele se levantou, a expressão em seu rosto uma mistura de raiva e confusão. "Você não tem ideia do que está mexendo, Isabela," disse ele, sua voz baixa e ameaçadora. "Essa história... se for verdade... significaria que tudo o que eu acreditei até agora foi uma mentira."

Isabela, ainda de pé perto do fogo, não recuou. "Eu entendo o que você deve estar sentindo, mas esconder a verdade não vai mudar o que aconteceu. E se há uma chance de desfazer essa maldição, você precisa encarar o passado."

O príncipe começou a andar pela sala, suas mãos fechadas em punhos. "Há muito tempo eu enterrei o passado," murmurou ele. "Vivi todos esses anos aceitando a maldição como uma punição pelos pecados dos meus pais, por suas ambições desmedidas... Mas agora, você me diz que tudo pode ter sido uma farsa? Uma traição?"

Isabela assentiu, sua expressão séria. "Sim, e acredito que essa traição é a chave para quebrar a maldição. Mas, para isso, precisamos descobrir quem realmente foi responsável."

Ele parou de andar e se virou para encará-la. "Você realmente acha que pode resolver um mistério que permanece há tanto tempo? Que pode desfazer uma maldição que nem os maiores magos e sábios conseguiram? O que faz você pensar que é diferente?"

Ela encontrou seu olhar, seus olhos brilhando com determinação. "Porque eu não estou aqui apenas para quebrar a maldição. Estou aqui para ajudá-lo a encontrar paz, seja qual for o custo."

Houve um longo silêncio entre eles, interrompido apenas pelo crepitar do fogo. O príncipe estava dividido. Parte dele queria acreditar em Isabela, agarrar-se à esperança que ela oferecia, mas outra parte – a parte mais sombria e cínica – não conseguia deixar de lado a dúvida e o medo. Ele sabia que aceitar a ajuda dela significaria abrir as feridas do passado, confrontar demônios que ele evitara por tanto tempo.

Finalmente, ele respirou fundo, decidindo que não tinha mais nada a perder. "Muito bem, Isabela. Vou permitir que você tente. Mas saiba que, se falhar, as consequências serão graves – para ambos."

Ela assentiu novamente, sem mostrar medo. "Estou pronta para enfrentar o que for necessário."

O príncipe sentiu uma onda de respeito por aquela jovem que, apesar de sua aparência frágil, mostrava uma coragem inabalável. "Muito bem. Amanhã de manhã, começaremos a investigar as verdadeiras raízes desta maldição. Tenho alguns registros antigos que podem nos ajudar a entender o que realmente aconteceu."

Com um aceno, ele a dispensou, observando enquanto ela deixava a sala. Quando a porta se fechou atrás de Isabela, ele se permitiu relaxar um pouco, sentando-se novamente na poltrona. Seus pensamentos estavam confusos, misturados com memórias dolorosas e dúvidas crescentes.

Aquela jovem havia despertado algo nele, algo que ele pensou que estava morto e enterrado: a esperança de que um dia, talvez, ele pudesse viver sem as sombras que o seguiam desde a infância. Mas junto com essa esperança, veio o medo – o medo de que, ao tentar desfazer a maldição, ele acabasse descobrindo verdades que não poderia suportar.

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Na manhã seguinte, o príncipe acordou antes do amanhecer. O castelo estava mergulhado em um silêncio profundo, interrompido apenas pelo som distante do vento passando pelas torres. Ele se vestiu rapidamente, optando por roupas escuras que o ajudavam a se misturar com as sombras do castelo.

Encontrou Isabela já esperando por ele na biblioteca do castelo, uma sala ampla com prateleiras que se estendiam até o teto, cheias de livros e pergaminhos antigos. Ela estava sentada em uma das mesas de leitura, examinando um manuscrito antigo com atenção. Ao vê-lo entrar, levantou-se imediatamente, seus olhos brilhando com expectativa.

"Bom dia," disse ela suavemente, colocando o manuscrito de lado. "Espero que tenha descansado bem."

O príncipe assentiu, embora o sono não tenha vindo fácil para ele naquela noite. "Vamos direto ao ponto," disse ele, caminhando até uma prateleira específica. "Há uma série de registros que foram mantidos por meus antepassados, registros que documentam os eventos que levaram à maldição."

Ele puxou um livro pesado e empoeirado da prateleira, colocando-o na mesa diante de Isabela. O livro parecia velho e frágil, suas páginas amarelecidas pelo tempo. "Este é um dos registros mais antigos. Acredito que o que estamos procurando pode estar aqui."

Isabela abriu o livro cuidadosamente, revelando páginas cheias de escritos antigos e ilustrações detalhadas. Ela começou a ler em voz alta, traduzindo o texto antigo para algo mais compreensível.

"A maldição foi lançada por um feiticeiro poderoso, conhecido apenas como O Sombra. Ele foi traído por aqueles em quem confiava, e em sua fúria, lançou uma maldição sobre o reino, jurando que nenhum descendente dos traidores viveria em paz. A maldição foi passada de geração em geração, corrompendo os corações e mentes dos que estavam no poder."

Ela olhou para o príncipe, seus olhos cheios de compreensão. "Parece que a traição foi a causa inicial da maldição, mas quem exatamente traiu quem ainda não está claro."

O príncipe balançou a cabeça, frustrado. "Isso não nos dá muitas respostas, apenas mais perguntas. Quem era esse Sombra? E por que ele escolheu minha família como alvo?"

Isabela voltou a folhear as páginas, parando em uma ilustração que mostrava um homem encapuzado, segurando um cetro em uma mão e uma adaga na outra. "Aqui, talvez isso possa nos dar uma pista."

O príncipe se aproximou, observando a ilustração com atenção. Havia algo familiar naquele homem encapuzado, algo que despertava memórias antigas e dolorosas. "Eu já vi essa imagem antes," disse ele, a voz baixa. "Quando eu era criança, meu pai tinha um amuleto com essa mesma figura. Ele me disse que era um símbolo de proteção... Mas e se não fosse?"

Isabela franziu a testa, intrigada. "Um símbolo de proteção ou um símbolo de poder corrompido? Talvez esse amuleto tenha um papel mais importante do que você imaginava."

O príncipe sentiu um calafrio. "Se o amuleto estiver ligado à maldição, talvez haja uma maneira de usá-lo para revertê-la."

"Precisamos encontrar esse amuleto," disse Isabela com determinação. "Pode ser a chave para quebrar a maldição de uma vez por todas."

O príncipe concordou, sentindo uma nova onda de esperança misturada com medo. "Se estiver certo, o amuleto deve estar guardado nos aposentos do meu pai. Ninguém tocou naquele quarto desde a morte dele."

Os dois deixaram a biblioteca e seguiram pelos corredores escuros do castelo, o príncipe liderando o caminho até uma ala isolada. As paredes aqui eram cobertas por tapeçarias antigas e retratos de seus antepassados, todos com expressões severas, como se as sombras do passado ainda os assombrassem.

Chegaram a uma porta grande de madeira, com entalhes intricados. O príncipe parou diante dela, hesitando por um momento antes de empurrá-la. O quarto estava exatamente como ele lembrava: austero, com móveis de madeira escura e uma cama grande no centro. Havia um cofre de ferro ao lado da cama, onde seu pai guardava suas posses mais valiosas.

O príncipe ajoelhou-se diante do cofre, tirando uma chave de seu pescoço. Com mãos trêmulas, ele abriu o cofre, revelando o amuleto. Era exatamente como ele lembrava: uma pequena figura de um homem encapuzado, esculpida em um metal escuro, preso a uma corrente de prata.

Ele pegou o amuleto com cuidado, sentindo uma energia estranha emanando dele. "Este é o símbolo que vi tantas vezes na minha infância. Mas agora, olhando para ele, sinto que há algo mais... algo que não consegui ver antes."

Isabela observou o amuleto com interesse. "Vamos levá-lo de volta à biblioteca. Talvez haja algo nos registros que possa nos dizer como usar isso para quebrar a maldição."

Eles retornaram à biblioteca com o amuleto em mãos. O príncipe colocou o amuleto sobre a mesa, enquanto Isabela continuava a folhear os registros antigos. Após alguns minutos, ela encontrou uma passagem que descrevia um ritual realizado com o amuleto.

**Capítulo 3: O Ritual Proibido**

A manhã seguinte chegou com o céu tingido de cinza, e um silêncio estranho pairava sobre o castelo, como se o próprio edifício estivesse segurando a respiração. O Príncipe das Trevas e Isabela estavam sentados na biblioteca, o amuleto entre eles, com a luz fraca das velas tremulando nas paredes.

Isabela, que não havia descansado desde a descoberta do amuleto, segurava um pergaminho velho e amarelado em suas mãos. O texto estava escrito em uma língua antiga, e as palavras pareciam dançar na página, resistindo aos seus esforços de lê-las.

"O que diz aí?" perguntou o Príncipe, sua voz carregada de tensão. Embora ele tentasse manter uma fachada fria, a expectativa de uma possível solução estava pesando sobre ele.

Isabela franziu a testa enquanto examinava as linhas tortuosas do texto. "Este é um ritual antigo, descrito como sendo capaz de desfazer maldições... Mas é incrivelmente perigoso. Não foi realizado com sucesso em séculos, e há avisos por todo o pergaminho sobre os riscos."

"O que exatamente diz?" Ele inclinou-se para frente, seus olhos fixos nela.

"Basicamente, o ritual exige que o amuleto seja imbuído com sangue real – o sangue de quem foi afetado pela maldição. Em seguida, a pessoa amaldiçoada deve enfrentar uma prova espiritual, um confronto com os próprios demônios interiores. Se vencer, a maldição pode ser quebrada. Se falhar... Bem, as consequências podem ser piores que a própria maldição."

O príncipe respirou fundo, processando a informação. "E se falharmos?"

"O texto não é muito claro. Pode resultar na perda completa de sua humanidade... ou algo ainda pior. Há menções de almas perdidas para sempre, aprisionadas em um estado de tormento eterno."

Houve um silêncio pesado enquanto ambos ponderavam as implicações. O Príncipe das Trevas sempre vivera à sombra de uma maldição que ele acreditava ser justa, uma punição pelos erros de seus antepassados. Mas agora, confrontado com a possibilidade de libertação, ele estava dividido entre a esperança e o medo.

"Mas se isso funcionar," continuou Isabela, "você poderá se livrar dessa escuridão que o envolve. Poderá viver como um homem normal, sem o peso dessa maldição em seus ombros."

Ele se levantou e começou a andar pela sala, lutando com seus pensamentos. "Eu fui criado para aceitar esse destino, para carregar essa maldição como uma forma de penitência. Nunca imaginei que haveria uma saída."

"Talvez você nunca tenha procurado uma porque, no fundo, não acreditava que merecia," disse Isabela suavemente. "Mas agora você tem uma chance. Uma chance de quebrar o ciclo de dor que sua família carregou por gerações. Não quer pelo menos tentar?"

O Príncipe olhou para ela, vendo a determinação em seus olhos. Ela estava disposta a arriscar tudo para ajudá-lo, mesmo que isso significasse se expor a perigos desconhecidos. Pela primeira vez, ele se perguntou por que ela estava tão empenhada nisso. "Por que está fazendo isso, Isabela? O que você ganha com isso?"

Ela desviou o olhar por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. "Eu... também tenho minha própria maldição para enfrentar. Algo que me atormenta desde a infância. Mas ajudar você me dá esperança de que talvez, algum dia, eu também possa encontrar a paz."

O Príncipe ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. "Então estamos juntos nisso, seja qual for o resultado."

Ela assentiu, e ele pôde ver um lampejo de alívio em seu rosto.

"Vamos fazer o ritual," decidiu ele, sua voz firme. "Vou enfrentar o que for preciso. Se há uma chance de me libertar, então estou disposto a correr o risco."

Isabela respirou fundo, se preparando para o que estava por vir. "Muito bem. Precisamos começar imediatamente. O ritual deve ser feito à meia-noite, no local onde a maldição foi lançada pela primeira vez."

Ele assentiu, e juntos, começaram a preparar tudo o que seria necessário. Isabela desenhou um círculo de proteção no chão da biblioteca, usando giz branco misturado com sal. No centro, colocou o amuleto, que agora parecia emitir um brilho fraco e pulsante. O Príncipe, por sua vez, buscou uma adaga cerimonial, uma relíquia de sua família, que seria usada para cortar sua própria carne e oferecer o sangue necessário para o ritual.

Enquanto o tempo passava, a tensão na sala só aumentava. Nenhum deles sabia ao certo o que esperar, mas ambos sabiam que o que estavam prestes a fazer poderia mudar o curso de suas vidas para sempre.

Finalmente, quando o relógio do castelo bateu as badaladas da meia-noite, eles estavam prontos. O Príncipe ficou no centro do círculo, com a adaga na mão, enquanto Isabela começou a recitar as palavras do ritual em voz alta. A língua antiga soava estranha e inquietante, como se as próprias palavras carregassem um poder sombrio.

Quando Isabela terminou de recitar, o Príncipe cortou a palma da mão com a adaga, deixando seu sangue pingar sobre o amuleto. O amuleto brilhou intensamente por um momento, antes de absorver o sangue e começar a emitir uma luz vermelha sombria.

De repente, o chão sob seus pés começou a tremer, e as paredes da biblioteca pareceram se distorcer. Uma força invisível o puxou para baixo, como se estivesse sendo sugado para dentro de um abismo sem fundo. Isabela tentou alcançá-lo, mas uma barreira invisível a impediu de entrar no círculo.

O Príncipe sentiu como se estivesse sendo arrancado de seu corpo, sua consciência se separando, sendo transportada para outro lugar. Quando abriu os olhos novamente, encontrou-se em um campo vasto e desolado, cercado por sombras que sussurravam seu nome.

Este era o teste espiritual. Ele estava cara a cara com os demônios de seu passado, as sombras que assombravam sua família por gerações. As figuras que surgiram das sombras eram familiares – seus pais, seus avós, todos os que vieram antes dele, suas faces distorcidas pela dor e pela fúria.

"Você nos condenou," sussurraram as sombras. "Por sua culpa, estamos presos neste tormento eterno. Você falhou conosco, assim como todos os outros."

O Príncipe recuou, mas as sombras continuaram a avançar, seus sussurros crescendo em intensidade. "Você não merece redenção. Você deve pagar pelos pecados de sua família!"

Ele tentou se defender, mas as sombras eram implacáveis, envolvê-lo em uma escuridão sufocante. Cada palavra, cada acusação, era como um golpe direto em sua alma, fazendo-o duvidar de si mesmo.

Mas então, ele ouviu uma voz, uma voz suave e reconfortante, diferente das outras. Era Isabela. Embora ele estivesse em outro plano de existência, sua voz atravessou a barreira, alcançando-o em seu momento de maior desespero.

"Você não está sozinho," ela sussurrou. "Lute contra as sombras, enfrente seus medos. Você pode superar isso. Eu acredito em você."

Suas palavras foram como uma luz na escuridão, dando-lhe forças para se levantar e enfrentar as sombras. "Vocês não me derrotarão," gritou ele. "Eu sou mais do que os pecados do meu passado!"

As sombras hesitaram por um momento, e ele aproveitou essa fraqueza para avançar. Com cada passo, as sombras se dissipavam, como névoa ao sol. Finalmente, a última sombra desapareceu, deixando-o sozinho no campo desolado.

De repente, ele foi puxado de volta para seu corpo, de volta para a biblioteca. Ele caiu de joelhos, respirando pesadamente, suado e exausto. Isabela correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado.

"Você conseguiu," disse ela, sua voz cheia de alívio e alegria.

Ele olhou para suas mãos, ainda sujas de sangue, e percebeu que o amuleto estava apagado, sem o brilho sinistro de antes. "Está acabado?"

Ela assentiu. "Você quebrou a maldição. O preço foi alto, mas você venceu seus demônios."

Ele ficou em silêncio por um momento, processando tudo o que aconteceu. "Eu não teria conseguido sem você," disse finalmente, olhando para ela com gratidão.

Ela sorriu, mas havia algo triste em seus olhos. "Agora é sua vez de me ajudar," disse ela suavemente.

Ele olhou para ela, surpreso. "O que quer dizer?"

"Eu também tenho meus demônios para enfrentar," disse ela, sua voz trêmula. "Mas para isso, preciso que você faça uma escolha... uma escolha que poderá nos custar muito."

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