Camila sentia o coração apertado enquanto encarava a porta de madeira maciça que separava o escritório de seu pai do resto da mansão. Ela sabia que algo estava muito errado. Durante semanas, havia notado o comportamento estranho de seu pai, Roberto, sempre parecendo preocupado, murmurando para si mesmo, e constantemente em telefonemas que terminavam em discussões acaloradas. O que quer que fosse, ele havia mantido Camila no escuro—até agora.
Com uma respiração profunda, ela empurrou a porta e entrou. O ar no escritório estava pesado com o cheiro de charuto e tensão, as luzes fracas mal iluminando as paredes forradas de livros. No meio da sala, seu pai estava em pé ao lado da mesa, e diante dele estava um homem alto, de feições rígidas e expressão impenetrável. Ele era o tipo de pessoa que parecia dominar qualquer ambiente em que entrasse, com uma presença quase esmagadora.
Roberto: (Virando-se ao ouvir a porta) "Camila, entre. Quero que conheça Miguel Ferraz."
O nome soou familiar, mas Camila não conseguia associá-lo a nenhuma lembrança clara. Mesmo assim, algo na maneira como seu pai pronunciou o nome fez seu estômago revirar.
Camila: (Cautelosa, aproximando-se) "Prazer em conhecê-lo, senhor Ferraz."
Miguel não sorriu, apenas inclinou levemente a cabeça em um cumprimento quase mecânico. Seus olhos escuros fixaram-se nos de Camila, avaliando-a, mas sem demonstrar emoção alguma.
Miguel: (Seco) "Camila."
O silêncio que se seguiu foi opressor, e Camila sentiu que algo sombrio estava prestes a ser revelado. Ela olhou para o pai, esperando que ele explicasse o que estava acontecendo, mas ele apenas suspirou, parecendo envelhecido e derrotado.
Roberto: (Com voz grave) "Miguel e eu... chegamos a um acordo. É difícil para mim dizer isso, Camila, mas... você vai se casar com ele."
Aquelas palavras caíram sobre Camila como uma avalanche. Ela piscou, confusa, achando que tinha ouvido errado.
Camila: (Atônita) "Casar? Pai, o que está dizendo? Isso é algum tipo de brincadeira?"
Roberto: (Balbuciando) "Eu queria que fosse, minha filha. Mas não há outra saída. Nossos negócios estão... em ruínas. Miguel se ofereceu para ajudar, mas a condição é que você se case com ele."
Camila: (Sentindo o pânico crescendo) "Isso é loucura! Você não pode simplesmente me entregar assim! Eu não conheço esse homem!"
Miguel permaneceu impassível, observando a explosão de emoções de Camila como se estivesse assistindo a uma cena de um filme. Para ele, era apenas mais uma parte do plano.
Miguel: (Intervindo calmamente) "Isso não é uma escolha, Camila. É uma necessidade. Seu pai está afundado em dívidas, e eu sou a única coisa que está impedindo que ele perca tudo."
Camila: (Virando-se para Miguel, com raiva e desespero) "E eu sou o preço que você exige? Não há outra maneira?"
Miguel: (Frio) "Não. O que ofereço em troca da sua mão em casamento é muito mais do que ele jamais poderia retribuir de outra forma. Veja isso como uma transação."
O mundo de Camila parecia estar desmoronando ao seu redor. Como seu pai poderia colocá-la em uma situação dessas? Como poderia pensar que ela aceitaria um casamento sem amor, baseado em uma dívida? Mas quando ela olhou para Roberto, tudo o que viu foi o desespero de um homem que havia perdido o controle de sua vida e que agora dependia de um acordo para salvar o que restava.
Roberto: (Com lágrimas nos olhos) "Eu sinto muito, Camila. Eu nunca quis que chegasse a isso. Mas não posso perder o que resta de nossa família. Não posso perder você."
Camila sentiu as lágrimas queimando em seus olhos, mas não deixou que elas caíssem. Sabia que não adiantaria chorar ou suplicar. O homem diante dela, Miguel Ferraz, era uma muralha. Seus sentimentos não fariam diferença. Ela estava sendo sacrificada por um erro que não era seu, por pecados que não cometera.
Camila: (Sussurrando) "E quanto a mim, pai? E quanto à minha vida?"
Roberto: (Desesperado) "Você ainda terá sua vida, Camila. Eu prometo que ele não vai te machucar. E talvez, com o tempo, vocês possam encontrar um jeito de conviver. Só... por favor, aceite isso."
Camila virou o rosto, incapaz de olhar para o pai. Ela sentia uma mistura de raiva, tristeza e traição. Como ele podia pensar que um casamento imposto por circunstâncias tão terríveis poderia ser algo aceitável?
Miguel: (Com voz calma, mas firme) "Não se iluda, Camila. Não haverá amor ou afeto nesse casamento. Para mim, isso é apenas um negócio. Quanto mais cedo você entender isso, mais fácil será."
Essas palavras eram como uma lâmina fria penetrando no coração de Camila. Ela sempre sonhara com um casamento cheio de amor, com alguém que a amasse e a respeitasse. Agora, estava sendo forçada a viver o oposto disso.
Camila: (A voz quase inaudível) "Eu aceito... Mas só porque não tenho escolha."
Miguel: (Sem emoção) "Sábia decisão."
Os primeiros dias de casamento foram como uma prisão silenciosa para Camila. Miguel era um enigma insondável, raramente falando com ela, e quando o fazia, era sempre com frieza e desapego. A mansão Ferraz, grandiosa e imponente, parecia ainda mais opressiva com sua arquitetura sóbria e corredores intermináveis, ecoando a solidão de Camila. Cada canto da casa lembrava-a de sua nova realidade, onde sua vida havia sido reduzida a um contrato, e seu valor, medido pelo sucesso ou fracasso do império Ferraz.
Naquela manhã, enquanto a luz suave do sol penetrava pelas pesadas cortinas de seu quarto, Camila tentou encontrar algum conforto na rotina. Vestiu-se cuidadosamente, escolhendo uma roupa que transmitisse confiança, mesmo que por dentro estivesse em pedaços. Descendo para o café da manhã, encontrou Miguel já à mesa, lendo um jornal, sua expressão fechada como sempre. A tensão no ar era palpável, e ela hesitou por um momento antes de se sentar.
Camila: (Com voz suave, tentando quebrar o silêncio) "Bom dia, Miguel."
Miguel: (Sem desviar os olhos do jornal) "Bom dia."
Mais uma tentativa falha de diálogo. Camila suspirou internamente, decidindo que talvez o silêncio fosse menos doloroso do que as tentativas inúteis de conversa. Ela pegou uma xícara de café e começou a beber, seus pensamentos vagando enquanto a tristeza se instalava mais profundamente em seu peito.
Mas naquela manhã, algo incomum aconteceu. Miguel, do nada, abaixou o jornal e olhou para ela, seu olhar penetrante fazendo com que Camila parasse de respirar por um segundo.
Miguel: (Com uma frieza calculada) "Hoje à noite, haverá um jantar importante. Quero que esteja pronta às sete. Vestido formal."
Camila: (Confusa, mas obediente) "Com certeza. Alguma ocasião especial?"
Miguel: (Retornando ao jornal) "Apenas negócios."
A resposta seca e sem detalhes não era novidade, mas Camila não pôde deixar de sentir uma pontada de curiosidade e apreensão. O que quer que fosse, ela sabia que estava sendo arrastada para os jogos de poder de Miguel, gostasse ou não.
O dia passou rapidamente, e Camila se preparou para o jantar, escolhendo um vestido preto elegante que acentuava sua figura, sem ser excessivamente chamativo. Enquanto observava seu reflexo no espelho, ela não pôde deixar de pensar no quão distante estava da vida que um dia imaginara para si mesma. Onde estava o futuro repleto de amor e felicidade que sempre sonhou? Ao invés disso, ela se via em um casamento forçado, cercada de intrigas e vinganças.
Quando desceu as escadas, pronta para o que quer que estivesse por vir, Miguel já a aguardava no hall de entrada. Ele estava impecavelmente vestido em um terno preto, que realçava ainda mais sua postura imponente e fria. Seus olhos varreram Camila dos pés à cabeça, como se a avaliasse, e por um breve momento, ela viu algo em seu olhar—não exatamente admiração, mas uma espécie de reconhecimento de sua beleza.
Miguel observava Camila com um olhar calculista. Seus olhos escuros estavam cheios de uma intensidade que a fazia sentir-se pequena e vulnerável. O ambiente ao redor era sofisticado e imponente, mas para Camila, parecia mais uma prisão de luxo.
"Você deve estar se perguntando por que eu fiz isso," Miguel começou, sua voz fria e controlada. "Por que eu a comprei."
Camila ergueu o olhar, tentando manter a compostura, mesmo que seu coração estivesse acelerado e sua mente em turbilhão. "Por que, então? Por que me comprar como se eu fosse um objeto?"
Camila se sentia exausta, tanto emocional quanto fisicamente. Seus pensamentos estavam presos na revelação de que Miguel havia a comprado por vingança. Cada palavra dita por ele ecoava em sua mente, criando um turbilhão de sentimentos que a deixava sufocada.
Ela estava sozinha em seu quarto, o silêncio apenas amplificando o som de sua própria respiração. A mansão de Miguel era fria, impessoal, refletindo a personalidade distante do homem que agora controlava sua vida. Camila se levantou e caminhou até a janela, olhando para o vasto jardim que se estendia até onde a vista alcançava. Ela se sentia uma prisioneira em um palácio dourado.
Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos. Ela se virou, o coração acelerado, e viu Amanda entrando no quarto.
"Eu trouxe algo para você comer," disse Amanda, com a voz suave e preocupada. Ela carregava uma bandeja com sanduíches e suco, e colocou-a na mesinha ao lado da cama.
Camila sorriu, embora o sorriso não alcançasse seus olhos. "Obrigada, Amanda."
Amanda se aproximou e sentou-se ao lado de Camila na cama. "Você está bem?"
Camila hesitou por um momento antes de responder, seus olhos desviando para o chão. "Eu não sei como responder a isso. Tudo o que pensei que sabia... foi tirado de mim."
Amanda segurou a mão de Camila, oferecendo-lhe o conforto que só uma amiga verdadeira poderia dar. "Eu estou aqui, Cami. Não importa o que aconteça, nós vamos superar isso juntas."
Camila apertou a mão de Amanda, sentindo-se um pouco mais forte com a presença da amiga. Mas no fundo, ela sabia que as coisas não seriam tão simples. A vingança de Miguel era uma nuvem negra que pairava sobre sua cabeça, e ela não fazia ideia de como iria lidar com isso.
"Amanda," começou Camila, a voz trêmula, "ele me odeia. E eu não sei por quê."
Amanda olhou profundamente nos olhos de Camila, vendo a dor que sua amiga estava tentando esconder. "Nós vamos descobrir, Cami. E vamos enfrentar isso juntas, você não está sozinha."
Camila assentiu, sentindo as lágrimas ameaçarem cair. Ela não queria chorar na frente de Amanda, mas a presença reconfortante da amiga fazia com que suas barreiras começassem a desmoronar.
"Obrigada," sussurrou Camila, permitindo-se sentir um pouco de alívio no meio de tanto caos.
Amanda sorriu e puxou Camila para um abraço, o tipo de abraço que só uma amiga verdadeira poderia oferecer. "Vamos enfrentar isso, juntas," repetiu Amanda, com determinação na voz.
Enquanto Camila se permitia afundar no conforto daquele abraço, ela sabia que o caminho à frente seria difícil. Mas, com Amanda ao seu lado, ela se sentia um pouco mais capaz de enfrentar o que estava por vir.
Camila estava deitada em sua cama, os lençóis ainda frios e imaculados, enquanto a mente não parava de girar. O que Miguel havia revelado sobre o passado e a vingança ainda reverberava em sua cabeça. Ela tentou se concentrar no presente, mas as lembranças do que havia acontecido e a perspectiva de seu futuro iminente a atormentavam.
O som de batidas suaves na porta a tirou de seus pensamentos. Ela se levantou e foi até a entrada, encontrando Amanda, sua amiga leal, com uma expressão preocupada.
Camila, eu... Eu não sei o que dizer, mas eu estou aqui para você," Amanda disse, entrando no quarto e olhando ao redor com um olhar de inquietação. "Eu trouxe algo para comer e pensei que talvez quisesse conversar."
Camila deu um pequeno sorriso, grata pela companhia e pelo gesto de carinho. "Obrigada, Amanda. Eu não sei o que fazer com tudo isso."
Amanda se aproximou e colocou a bandeja em uma mesinha ao lado da cama, então se sentou ao lado de Camila. "Vamos conversar. O que Miguel te disse?"
Camila explicou, resumindo as palavras de Miguel sobre a vingança e o sofrimento que ela agora carregava como consequência das ações de alguém mais. Amanda ouviu atentamente, com o semblante carregado de preocupação.
Eu não entendo como isso é justo," Amanda finalmente disse. "Você não fez nada para merecer isso. E, por mais que eu saiba que Miguel tem suas razões, isso não faz com que seja certo."
Eu sei," Camila respondeu, a voz embargada. "Mas o que posso fazer agora? Ele me comprou e deixou claro que não há como escapar dessa situação."
Amanda pegou a mão de Camila, oferecendo-lhe um toque reconfortante. "Nós vamos descobrir uma maneira de lidar com isso. E eu vou estar ao seu lado, não importa o que aconteça."
A presença de Amanda era um alívio em meio ao caos. Mesmo assim, Camila sabia que as questões que surgiriam na sua vida agora eram muito maiores do que qualquer coisa que ela tivesse enfrentado antes. A vingança de Miguel tinha um preço, e ela estava prestes a descobrir o custo completo.
Camila olhou para Amanda, decidida. "Eu preciso entender mais sobre por que isso está acontecendo. E preciso encontrar uma maneira de me manter forte, mesmo que não saiba o que esperar."
Estamos juntas nessa," Amanda garantiu. "E eu vou ajudar você a enfrentar o que vier. Vamos começar a descobrir o que Miguel realmente quer e como podemos lidar com isso."
A noite caiu, e enquanto as duas amigas conversavam e planejavam, Camila sentiu uma pequena faísca de esperança. Ela sabia que, embora o caminho à frente fosse incerto e cheio de desafios, tinha a lealdade e o apoio de Amanda para guiá-la.
O futuro ainda era nebuloso e ameaçador, mas, por enquanto, a presença da amiga era um consolo valioso em meio à tempestade que se aproximava.
Camila se deitou novamente na cama, agora com um pouco mais de alívio após a conversa com Amanda. As palavras da amiga, embora reconfortantes, não apagavam o peso da situação, mas davam a ela uma razão para manter a esperança
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