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QUANDO O AMOR BATE À PORTA

Capítulo 1 Na Fazenda "Rio Claro"

Eu sou Abygail Fontes, tenho 20 anos.

Moro numa pequena fazenda no interior de Minas Gerais. É uma fazenda bem bonita, e confortável, com paisagens lindas, pomar diversificado e plantações de hortaliças. O meu pai Joaquim Fontes é um microempresario da agricultura e administra a fazenda com seriedade e perfeccionismo, o que faz dele um homem bem sucedido e temido por muitos.

Joaquim Fontes, 40 anos

Eu amo a fazenda e um dos meus passatempos preferidos é pintar as belas paisagens e o pomar. As paredes da fazenda são a minha galeria.

A minha mãe Ema é grande entusiasta das minhas pinturas. Ela também pintava quando era mais jovem, mas com o casamento foi deixando de lado. Eu sabia que ela ainda tinha vontade de pintar, mas o meu pai sempre a mantinha ocupada com afazeres que poderiam ter funcionários para isso.

Ema, 38 anos

Estou no jardim tentando há horas capturar um pássaro colorido que certamente era da fazenda vizinha. Ele foi criado comendo migalhas na mão de dona Josefa e por isso sempre aparecia no nosso jardim. Eu comecei com esboços e sempre deixava tudo pronto para pintar esse pássaro lindo. Seria o presente ideal para a minha irmã Eve, que íris completar seus quinze anos. Ela era espoleta e sempre conseguia o que queria do meu pai. mesmo sendo um homem rabugento. Assim ela ganhou a sonhada festa de aniversário.

Eve. 15 anos.

Eve: oi Aby, mamãe está chamando para o lanche.

Aby: oi Eve. Estou indo. Obrigada meu anjo.

Eve: não vai deixar que eu veja a nova pintura?

Aby: ainda não sua curiosa. Vamos comer o bolo de laranja delicioso da mamãe.

Fomos abraçadas até a cozinha arejada e espaçosa. com uma enorme mesa de jacarandá com as cadeiras esculpidas com belos arabescos. A mesa estava farta. Bolos. pães caseiros, biscoitos de nata, leite fresco, queijo manteiga feita pela minha mãe. Era tudo de dar água na boca. Lavamos as mãos e ajudamos a mamãe a terminar de arrumar a mesa. Logo o meu pai chega, com seu semblante fechado como sempre. Nos sentamos e somente a tagarela da Eve falava do que viu e fez na escola.

Joaquim: parece que você só se diverte nessa escola, não é mesmo, Eve?

Eve: não papai. Também estudo muito. Tirei dez na prova de matemática.

Ema: parabéns minha filha! Você é muito inteligente.

Eve: obrigada mamãe. Acho que o papai precisa ir às reuniões e aí poderá saber tudo que faço na escola.

Um silêncio desconfortável pairou por uns minutos. A minha mãe olhou para o meu pai. esperando um xingamento. Mas ele sorriu divertido.

Joaquim: Eve, minha filha. E você sabe o que eu faço aqui na fazenda? Pensa que eu não gostaria de ir às reuniões da sua escola? Eu sou muito ocupado para colocar comida no prato que todos comem.

Eve: eu sei papai. E sou grata. Mas gostaria que o senhor fosse pelo menos uma vez.

Joaquim: eu vou tentar. Mas Aby nunca se importou das minhas ausências.

Aby: é claro que eu me importava sim.Mas o senhor nunca "teve tempo" para ir.

Ele percebeu o sarcasmo na minha fala. Mas resolveu deixar de lado. No entanto eu sabia que mais tarde ele iria retomar a discussão.

Joaquim; Ema querida, estava tudo delicioso. Mas tenho que ir para o galpão. Volto para o jantar.

Ema: obrigada Quim.

Eu nunca entenderia o relacionamento dos meus pais. Ele não era bruto. mas também não demonstrava gestos de carinho. Nunca vi os dois se beijando. Nem mesmo um beijo na testa.

Mas eu sabia que a minha mãe era apaixonada pelo meu pai. Via o brilho nos olhos dela. E a ouvia cantar quando preparava o jantar, sempre com um prato especial para o pai.

Eve pediu a minha ajuda na lição de casa e subimos para o quarto dela. Depois que ela terminou a lição, nós ficamos escolhendo mais detalhes para a festa de aniversário dela.

Aby: não está exagerando, anjo? Sabe que o nosso pai não é fã de festas e ainda estou surpresa dele ter concordado.

Eve: eu sei disso e é exatamente por isso que quero que seja fantástica. Você nunca falou como foi a sua.

Aby: eu não sou festeira como você, anjo. Só quis um bolo que a mamãe faz melhor que existe.

Eu estava mentindo, é claro, não podia dizer a ela que queria muito uma festa. Mas recebi um sonoro não do meu pai que estava viajando e mesmo assim não permitiu e muito menos me dar os parabéns se prestou. Mas eu não tenho inveja por ele fazer para Eve. Fico é muito feliz que ele seja mais carinhoso com ela.

Capítulo 2 A festa

Assim como eu previra, o meu pai me chamou para conversar antes do jantar. Eu fui com todos os argumentos para uma boa discussão.

Joaquim: sente-se Aby. Preciso conversar com você.

Aby: sobre o que pai?

Joaquim: você hoje demonstrou um certo rancor para comigo. Estou certo?

Aby: não pai. Não tenho rancor pelo senhor. Sou grata por tudo que você fez por mim.

Joaquim: não foi o que pareceu. Não para mim. Sou um homem trabalhador e essa parte da educação ficou para a sua mãe. Acha que ela foi irresponsável?

Aby: não mesmo. A minha mãe sempre esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida escolar.

Joaquim: então, qual é o motivo do seu sarcasmo?

Aby: a minha mãe sempre esteve presente, mas e o senhor? Sei que é muito comprometido com a fazenda, mas nunca pensou em dedicar umas horas para algo significativo na minha vida escolar como, por exemplo, o dia dos pais?

Joaquim: eu nunca tive isso. como sabe bem. Eu não tive um pai. E deleguei para a sua mãe.

Aby: ela não era o meu pai. Todas as crianças tinham os pais no dia dos pais. na escola. Eu era a única que tinha a mãe.

Joaquim: certamente eu estava trabalhando.

Aby: esqueceu que o dia dos pais é no domingo? E a escola sempre comemorava no sábado ou na sexta-feira à tardinha. Mas o senhor sempre preferiu beber a sua cerveja na sexta-feira e fim de semana.

Joaquim: está me julgando? Acha mesmo que tem o direito de fazer isso? Nunca lhe deixei faltar nada. Levanto às cinco horas da manhã para garantir uma vida boa para vocês.

Aby: não senhor. Como disse anteriormente. sou muito grata por tudo. Sei que é muito responsável por todos. Mas isso não diminuiu a falta que eu sentia do seu carinho de pai. Entenda que eu nunca exigi nada luxuoso. Eu só queria ser notada.

Joaquim: isso sao ciúmes da sua irmã,? Porque eu permiti a festa?

Aby: nunca serei capaz de ter inveja de Eve. Fico feliz por ela ter o que deseja. A indiferença dói muito. E eu amo Eve. Não quero que ela sinta a frustração que eu senti nos meus quinze anos.

Joaquim: festas são inúteis. Eve ainda é uma criança.

Aby: eu também era quando fiz os meus quinze anos e nem aqui o senhor estava E muito menos um parabéns pode mandar. Estou com fome. Desculpe se o ofendi no lanche. Posso ir jantar?

O meu pai olhou nos meus olhos e por um instante vi um brilho diferente. Talvez um lampejo de remorso. mas foi breve. Logo ele voltou ao normal e abriu a porta do escritório.

O jantar foi silencioso e opressor. Eu perdi o apetite, mas sabia das regras. Não podia me levantar sem a permissão do meu pai. E eu não estava a fim de discutir mais.

Assim que terminamos o jantar, Eve e eu ajudamos a nossa mãe a organizar a cozinha. Depois subi para o meu quarto e fiquei horas observando as estrelas.

Eu sabia que a minha hora estava chegando. Assim que passasse a festa de Eve, eu iria enfrentar a fúria do todo poderoso. Mas eu iria correr atrás do meu futuro.

O dia da festa amanheceu lindo. Começamos os preparativos cedo. A minha mãe contratou umas cozinheiras extras. Foi um trabalho divertido, pois ver a alegria de Eve não tinha preço.

No fim da tarde, estava tudo pronto. E subo para ajudar Eve a se arrumar. Ela ficou linda. Escolheu dois trajes, sendo um de princesa para dançar a valsa com o nosso pai.

Quando eu vi Eve pronta com o primeiro vestido, senti um prazer incontestável, pois sabia que o meu pai iria começar a surtar. E quando viesse o outro, completaria a loucura.

Fui me arrumar, e resolvi caprichar, pois seria a última festa que eu estaria ali em harmonia.

Adorei o vestido que Eve me obrigou a comprar. Iria contribuir muito para a insatisfação do meu pai.

Quando saímos do quarto encontramos a nossa mãe e ela estava muito linda. Vi um brilho diferente nos olhos dela. E naquele momento prometi a mim mesma que a tiraria dessa vida de submissão.

Descemos e vi o meu pai pela primeira vez com roupas diferentes. Pois ele nunca fez questão de usar terno para as minhas formaturas, que ele se dignou a ir. E ele estava muito bonito. Os olhos da minha mãe brilharam ao vê-lo. Mas eu vi o desconforto dele usando terno. Estava acostumado a usar roupas confortáveis.

Quando ele nos viu, o seu semblante se fechou, mas os convidados começaram a chegar. E a festa foi espetacular. A minha mãe pode ter desistido da carreira de professora, mas se mostrou uma exímia organizadora de festas. Os aperitivos estavam deliciosos, os drinques coloridos sem álcool magníficos. Até DJ tinha.

Dancei muito e revi amigos do colégio, que Eve teve a consideração de convidar.

A hora mais emocionante chega. Vejo o meu pai pegar Eve pela mão e eles dançam a valsa. Foi lindo e não pude conter as lágrimas.

Para a minha surpresa. O meu pai veio até mim e me pediu para dançar com ele. Eu olhei o para os olhos dele e finalmente vi um brilho de amor.

Nos braços do meu pai eu me senti uma princesa pela primeira vez. Deixei a imaginação comandar e voltei aos meus quinze anos. E tirei toda mágoa do meu coração.

Mas isso não iria mudar os meus planos.

Capítulo 3 Discussão

A festa de Eve foi um acontecimento muito especial para ela. E vendo-a tão feliz fiquei mais aliviada quando ela soubesse dos meus planos.

Assim que acordei, desci para o café da manhã. Eve toda tagarela, contando os detalhes da festa. Eu sorri para ela.

Aby: bom dia. tagarela. Acordou animada.

Eve: bom dia Aby. Obrigada pelo presente. Entendi o motivo de não deixar que eu visse.

Aby: gostou mesmo? Você sempre ficava encantada só ver o pássaro aqui.

Eve: eu amei. Ficou perfeito.

Aby: papai e mamãe, eu preciso conversar com vocês agora. Poderiam me dar atenção?

Joaquim: até parece que não lhe dou atenção. Aby. Vamos para o escritório. Ele fechou a porta e pediu para sentarmos.

Joaquim: pode falar. Espero que sejam notícias boas.

Aby: bom, não é segredo que eu amo pintar e finalmente poderei aprimorar meu dom.

Ema: como assim filha?

Aby: recebi os meus resultados e consegui uma bolsa integral para cursar Arte na UFMG.

Joaquim: como assim? Estudar Arte? Você já sabe dos meus planos para você aqui na fazenda.

Aby; planos esses que nunca perguntou para mim se eu concordava com eles. Se tivesse perguntado, iria saber que não é do meu interesse trabalhar aqui.

Joaquim: por que não quer? Está menosprezando um trabalho digno que sempre colocou comida no seu prato?

Aby: não estou menosprezando nada. Reconheço a importância desse trabalho que o senhor realiza muito bem. Apenas não é o que eu quero para mim.

Joaquim: desde quando desenhar dá futuro para alguém?

Aby: nunca ouviu falar de Tarsila Amaral. de Leonardo da Vinci? Não acredito. No entanto eu não tenho pretensões tão altas. Quero apenas fazer o que amo.

Joaquim: acha mesmo que tem tanto talento para sobreviver de desenhar? Eu não vou sustentar você nesse trem da fantasia.

Aby: eu já contava com isso. Portanto estudei muito. consegui bolsa integral que inclui até direito à moradia. Pode guardar o seu dinheiro.

Joaquim: está sendo insolente e mal agradecida.

Aby: desculpe, não era a minha intenção. Mas eu não vou desistir do que quero, assim como a minha mãe. Sempre gostou de pintar e hoje não tem tempo para isso.

Ema: minha filha, o seu pai nunca me proibiu de nada.

Aby: então a senhora pode escolher ser dona de casa, desistir de ser professora e até mesmo manter o hobby de pintar. Eu também tenho direitos.

Joaquim: se já decidiu tudo, por que veio conversar conosco?

Aby: porque esperava apoio de vocês. Mas tudo bem. Eu sabia que seria assim. Já arrumei as minhas malas e amanhã estarei indo para Belo Horizonte.

Ema: onde você ficará, minha filha?

Aby: por enquanto ficarei numa pensão. Depois irei para o condomínio pertencente à faculdade.

Joaquim: vai viver de sonhos? Se pensa que vou financiar, está enganado.

Aby; eu tenho economias. Vendi uns quadros e também guardei os meus presentes que sempre foram uma determinada quantia pois sempre era esquecida. No fim foi útil.

O meu pai olhou com fúria para mim. Ele viu o sarcasmo que eu usei, pois ele não se lembrava do meu aniversário, e sempre mandava a minha mãe me dar dinheiro. E depois, no natal também.

Joaquim: se era só isso, tenho obrigações importantes para fazer.

Ele saiu pisando duro indo para as suas obrigações importantes. que eram cerveja e churrasco com os peões.

A minha mãe olhou triste para mim e deixou as lágrimas caírem.

Ema: eu vou sentir a sua falta. Aby. Mas estou orgulhosa de você. Eu tenho economias e te ajudarei. Não adianta recusar. Eu me sinto culpada por não ver como você se sentia negligenciada.

Aby: está tudo bem mamãe. Eu também sentirei falta daqui. Mas eu não gosto de ver a senhora ser uma dona de casa tão servil. A senhora é professora e artista. Poderia cuidar do serviço da fazenda e exercer a profissão que escolheu. A senhora sempre nos disse como se sentiu feliz quando se formou.

Ema: sim. Mas eu gosto também de cuidar da fazenda.

Aby: fico feliz por isso. Mas precisa parar com o seu hobby, mamãe?

A minha mãe não falou mais nada. Mas eu vi nos seus olhos que ela ainda tinha o desejo de pintar.

Ema: já conversou com Eve?

Aby: não. E sei que não será fácil. Mas eu tenho que mostrar a Eve exatamente a necessidade de fazer o que queremos.

Saí do escritório com o coração apertado. Eve estava no seu quarto, admirando os seus presentes.

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