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Coração em Guerra

Colisão de Titãs

Suspiro entrando na famosa Crowell & Pierce, meus saltos ecoando no piso de mármore, coloco um sorriso e as portas de vidro se abrem.

Cumprimento todos e me sento na minha mesa, bem ao lado da janela, me dando visão da maravilhosa vista que Nova Orleans proporciona.

Jonathan, o dono da firma, entra e logo nos levantamos, o cumprimento.

— Mi Cara — ele me dá dois beijos no rosto.

Eu e Jonathan temos uma relação de pai e filha, ele e minha mãe são amigos de longa data, mas isso nunca afetou a minha vida profissional, Jonathan nunca passou dos limites comigo ou deixou de me dar bronca quando mereci.

— Já disse para não me chamar assim, podem dizer que estou aqui graças a nepotismo.

— Que digam, sabemos que só está aqui devido a sua dedicação e esforço.

Sorrio e ele segura em minhas mãos, sorrindo.

— Há uma pessoa que você vai adorar em saber que trabalhará aqui.

Curiosa, arqueio as sobrancelhas.

— Quem?

— Você verá

Ele solta minhas mãos e chama a atenção de todos.

— Pessoal, gostaria de lhes dar uma notícia ótima.

— O quê? Decidiu adotar Lara como sua filha? — Minha colega Vivianne, diz.

— Infelizmente ainda não. — Rimos. — Hoje receberemos um novo integrante aqui na empresa. Pode entrar.

Olho ansiosamente para dar as boas-vindas ao novo integrante da empresa, mas meu sorriso desaparece imediatamente quando vejo meu inimigo dos tempos da faculdade, Ethan.

Ao vê-lo, meu sangue borbulha e exclamo irritada. — O que faz aqui?

— Ah, já se conhecem? Perfeito, Lara, ajude-o com as demandas da empresa, pessoal, esse é Ethan Carter, o melhor advogado de Los Angeles, ele foi transferido para cá. Espero que goste da hospedagem, Sr. Carter.

Enquanto meu chefe cumprimenta Ethan, reviro os olho e mordo minha língua para não sair xingando ele de todos os nomes possíveis nas línguas que falo.

Ao se aproximar, Ethan exibe um sorriso completamente irritante e estende a mão, mas não me movo.

— É um prazer te rever, Larabelle.

— É Lara e eu não vou te cumprimentar, prefiro morrer.

— Mia cara, se comporte e seja educada, o cumprimente. — Jonathan diz com a mão em meu ombro.

A contragosto, estendo a mão, o cumprimentando, após alguns segundos, solto a mão dele e me afasto.

— Vou tomar um ar.

Suspiro, pegando meu celular e subo até o terraço da empresa, jogo ela em cima de uma das cadeiras e me sento, passo a mão pelos meus cabelos e mordo o lábio, me acalmando. Como ele tem coragem de dar as caras aqui? Ele não poderia ter ficado lá? Em Los Angeles? Ele veio para me atormentar, é claro.

Estalo os dedos, uma mania minha, e pego minha garrafa d’água na bolsa. Em um gole só, acabo com todo o conteúdo da garrafa. Tendo a oportunidade de estar sozinha, dou um grito alto, aproveitando que daqui não podem me ouvir.

Me agacho sentindo meus pulmões implorarem por ar e descanso, tiro minha jaqueta e a jogo na cadeira de polímero resistente à maresia.

Fecho os olhos, aproveitando o ar fresco de Nova Orleans.

Abro os olhos quando escuto a porta de acesso ser aberta e quando vejo Ethan, murmuro um xingamento em italiano e volto a fechar os olhos.

— Sabia que é desrespeito ignorar os novos funcionários da empresa? Ainda mais se é um amigo de longa data.

— Não somos amigo, nem aqui e nem na China.

— Credo, por que tanta amargura?

— Não se faça de desentendido, seu hipócrita.

— Assim você magoa meu coração, Belle.

— Seu idiota! — jogo um exemplar de algum livro que fica na mesinha, na cabeça dele.

— Ai! Você está louca? Olha o tamanho desse livro, ele tem oitocentas páginas.

— Que bom, quem sabe assim você não deixa de ser burro?

— Eu não sou burro.

 — Claro e eu sou uma detetive do FBI que namora um doutor e perfilador. — digo revirando os olhos.

— Você e essa sua mania de falar sobre Criminal Minds, tem coisas que não muda mesmo.

— Realmente, nisso concordamos, porque você continua um idiota.

Pego minhas coisas, coloco minha jaqueta, pego o livro que joguei o colocando no lugar e começo ir embora.

— Espero que se lembre porque eu te odeio tanto.

Me sento em minha mesa, começando a digitalizar vários documentos, ignorando totalmente a presença de Ethan ao meu lado, escorando o braço na divisória.

Depois que ele some, eu suspiro aliviada, mas isso não dura muito, pois meu chefe me chama e Ethan aparece com um sorriso muito, mais muito suspeito.

— Sim?

— Entre Lara, sentem-se, os dois.

A contragosto me sento ao lado de Ethan, revirando os olhos e cruzando as pernas.

— Um notei uma certa tensão entre vocês dois, gostaria que deixassem isso de lado você está em um ambiente de trabalho e não queremos que isso prejudique nossas funções, certo?

— Sim, senhor — Ethan diz sério.

— Larabelle. . . — Meu chefe me adverte.

— Sim, senhor.

— Ótimo, os dois estão liberados por hoje. Tirem esse tempo para se acalmarem e voltem amanhã.

Me levanto, e assim que Ethan sai, Jonathan segura minha mão.

— Sei que não gosta dele, mas precisa se esforçar, pleo bem da empresa.

— Sei disso, não precisa me lembrar. — digo azeda.

Ele solta minha mão e suspira.

— Às vezes esqueço de quem você é filha.

Arqueio as sobrancelhas, odeio quando falam que me pareço com minha mãe.

— Desculpa, mia cara, mas você tem o mesmo temperamento que sua mãe.

— Sabe que odeio quando dizem que eu me pareço com ela em alguma coisa.

— Tem razão, sinto muito, não irá mais acontecer.

Deixo escapar um suspiro e relaxo os ombros.

— Só não deixa minha mãe saber que ele voltou, por favor.

— Certo. Bom, tenho uma reunião, até amanhã, senhorita Montgomery.

— Até amanhã, Sr. Perez.

Pego minha bolsa e saio da sala, encontrando Suzy me esperando em frente ao elevador.

— Seu expediente acabou?

— Fui mandada embora.

— Não brinca! — ela grita no meu ouvido e a olho como se ela fosse louca. — Não me olha assim, como assim? Por que eles te demitiram?

— O quê? Não, não me demitiram, eu volto amanhã, é porque fiquei um pouco alterada devido a um certo ser.

Olho com desgosto para Ethan, que entra no elevador, ficando à minha frente, nossos olhos soltando faíscas, deixando um silêncio perturbador e agoniante no elevador.

Numa tentativa de aliviar o clima, Suzy sorri e o cumprimenta.

— Prazer, sou Suzy Jackson, melhor amiga da Lara e trabalho no andar embaixo do de vocês.

— Não sabia que ela teria a habilidade de se socializar e ter amigos, é um prazer te conhecer, Suzy.

Reviro os olhos, bufando com o comentário dele.

— Você que é chato, seu. . .

Avanço nele, mas Suzy me segura, me contendo.

— Nada de agressão, pelo menos não ainda no prédio.

Me recosto na parede metálica e mordo a língua.

O elevador se abre e nós três saímos, mas apenas Suzy e Ethan conversam. Estou muito concentrada em não arrancar a cabeça dele aqui mesmo no estacionamento.

— Bom, acho que é aqui que nos separamos.

— Posso te dar uma carona, onde você mora?

— Em PineBrook.

Olho surpresa para ele e minha amiga expressa uma felicidade desnecessária.

— Que notícia boa, Lara também mora em PineBrook, vamos, entrem, eu lhes dou uma carona.

A contragosto, entro no carro, ficando ao lado dele, pois o banco da frente está cheio de sacolas.

— Suzy, para que essas sacolas?

— Esqueceu a nossa maratona de Criminal Minds?

Abro a boca para dizer que não, mas não consigo mentir para ela.

— Desculpa, eu fiquei com tanta coisa na minha cabeça.

— Tudo bem, mesmo tendo se esquecido, eu não ia deixar de ficar no seu magnífico sofá reclinável.

— Esse sofá é o mesmo daquela época? — Ethan pergunta curioso e, quando fico em silêncio, noto um desconfortável dele e automaticamente fico desconfortável do mesmo jeito.

Ao chegar na minha casa, solto um lamento ao ver que ele será meu vizinho, ótimo, além de ter que suportar ele como colega profissional, terei que aturar ele como vizinho.

Descemos do carro e abro minha porta enquanto Suzy e ele se despedem. Ao entrarmos, pego Meg, minha gata, no colo.

— Oi, meu amor, sentiu saudades?

Ela se esfrega em meu colo e rio. Suzy e Meg são as melhores companhias que alguém poderia ter.

Vou para o meu quarto e grito:

— Arruma tudo, que vou só tomar um banho.

— Não durma na banheira. — Ela grita de volta. Só porque tenho mania de cair no sono na banheira, já que este emprego consome muita energia da minha parte.

Pego um pijama quentinho e vou para o banheiro e tiro a roupa, entrando na banheira que rapidamente se encheu.

Suspiro afundando até cobrir 90% do meu corpo, deixando apenas minha cabeça fora d’água. Fecho os olhos e sinto o sono me dominar.

Alguns minutos depois, acordo bruscamente ao ouvir a porta ser quase arrombada.

— Larabelle! Sai daí! Já faz quarenta minutos que você está aí, dormiu de novo?

— Não! Eu não ouvi porque estava de fone. — Minto, pois sei que ela vai ficar brava e triste por eu estar num emprego tão cansativo e aí isso virará um discurso de que sou uma excelente profissional e que eu deveria largar esse emprego e procurar o que realmente gosto, que é escrever ou modelar.

Saio do banheiro já vestida e cheirosa, prendo meu cabelo e me jogo no sofá, começando a maratonar a melhor série de todos os tempos: Criminal Minds.

Sessão

Mais um dia se inicia e suspiro quando recebo uma mensagem.

“Oi, bonitinha, que horas você chega no trabalho? Precisa me apresentar à empresa” — recebo uma mensagem de Ethan e automaticamente reviro os olhos, como diabos ele conseguiu meu número?

Resmungo na cama e pego o celular, mandando a seguinte mensagem:

“Não te interessa, você não é mais uma criança que precisa da diretora para mostrar a sala em que vai ficar”.

Desligo o celular e me levanto, desistindo de dormir mais um pouco, me viro olhando o relógio ao meu lado e o xingo por me acordar às plenas cinco da manhã.

Me sento e esfrego as mãos nos olhos, tentando me acostumar com a claridade da luz ligada. Como diabos deixei a luz do quarto ligada?.

Coloco minhas pantufas e vou até a sala vendo Suzy dormir jogada, as pernas para fora do sofá e o corpo todo torto.

Pego um megafone que deixo guardado para situações inusitadas e me aproximo dela, e grito.

— Acorda!

Ela se levanta assustada, ou melhor, ela cai do sofá assustada e começo a rir.

— Fogo! Fogo! Onde? — Ela diz aos tropeços, mas para ao me ver rindo e como megafone na mão. — Muito engraçado, Larabelle.

— Desculpe, mas você tinha que ver a sua cara, ela foi hilária, parecia o episódio em que o Spencer e o Morgan ficaram presos no elevador e gritaram pelo Hotch.

— Isso foi muito específico, mas eu entendo. Mas tem que parar de fazer referência com tudo.

— Ah, você não, por favor, já não basta minha mãe. — Desligo o megafone e o guardo, logo começo a arrumar a sala com ela.

— Amiga, precisa parar de ficar pensando na sua mãe.

— É mesma coisa que dizer para um bêbado parar de beber, quando se está acostumado, é difícil.

— Está indo às suas sessões?

Travo quando a mesma diz, mas logo me recomponho.

— Claro, é o único momento em que posso desabafar com alguém quando você está trabalhando.

— Queria poder ter mais tempo para te ajudar, amiga.

Ela para de arrumar as coisas e agarra minhas mãos, me fazendo sentar no sofá.

— Amiga, sabe que pode contar comigo para o que for, certo?

— Suzy, por favor, não começa, não preciso de lição de moral agora.

— Larabelle, não estou tentando dar uma de terapeuta, mas precisamos conversar.

— Não, não precisamos.

— Larabelle, sou sua amiga, mas até quando vai se fechar desse jeito?

— Eu não estou fazendo nada, Suzy, agora, se me der licença, vou para a sessão, minha terapeuta odeia atrasos.

Ela suspira e assente.

— Certo, eu aviso o Jonathan, nos vemos na empresa?

— Claro.

Ela vai embora e eu ainda fico mexida com o que Suzy me disse, que estou me fechando e que preciso parar de pensar na minha mãe.

Termino de arrumar tudo e vou para o meu quarto, separando uma blusa longa de lã e uma saia plissada, pego minhas botas de guerra, que não largo por nada, e vou para o banheiro tomar banho.

Ao sair do banheiro, bufo ao ver o nome de Ethan piscando na tela do meu celular, enquanto me visto, coloco no viva voz.

“Você é um insuportável, sabia? O que você quer? Estou extremamente ocupada”.

“Oi para você também, desaparecida, eu só queria saber se está tudo bem.”

“E, por que não estaria?”

“Jonathan nos contou que você iria atrasar por estar em uma consulta”.

Fecho os olhos, murmurando “droga” e coço minha nuca.

“Eu estou bem, é apenas exame de rotina”

“Sei. . . Bom, não se esqueça de que está me devendo um tour pela empresa.”

“Isso nunca vai acontecer, pode esquecer”

“Assim você me magoa, Belle”

“Já falei para não me chamar assim”

“Foi mal, mas sério, prefere ser chamada de Lara do que de Belle? Em minha humilde opinião, Belle é mais bonito e charmoso que Lara”.

“Sua opinião inútil, você quis dizer.”

“Eu queria. . .”

“Eu preciso desligar”

Desligo o telefone e passo a mão pelo rosto, arrumando meu cabelo em frente ao espelho, após ter me trocado.

Coloco algumas coisas na bolsa e me arrumo para sair, mas antes, coloco comida e água para Meg.

— Tchau, boneca.

Saio e ando calmamente até a clínica. Ao entrar, suspiro ao ver a terapeuta em frente à sua sala. Uma sala em tons brancos e nudes, seus diversos prêmios e conquistas como profissional na área da saúde.

— Decidiu aparecer? Quando eu te conheci e disse que poderia vir quando quisesse, não imaginei que seria dois meses sem vir. — Ela se afasta da porta para eu entrar.

Me sento, descansando a bolsa em meu colo.

— A vontade demorou para aparecer.

— Certo. . . Saiba que o que acontecer aqui, continua aqui e não sai jamais.

Sinto um alívio no peito e relaxo os ombros que, até então, estavam tensionados.

— Então, por onde começamos?

— Minha mãe é narcisista, controladora, idiota, babaca, cruel, o que posso dizer mais dela? Ah, claro, gosta de controlar minha vida como se fosse dela, me obriga a fazer coisas que eu não quero.

— Certo. E, por que até agora você não se desvinculou dela? É algo físico, verbal ou sentimental?

— Verbal. Sei que tenho 25 anos e tenho minha própria vida e já sou adulta, mas o nível que ela vai é odiável, eu me sinto sufocada pela minha própria mãe, é como se eu estivesse me afogando em um oceano aberto, sem conseguir chegar ao topo.

— E seu pai?

— Eu não sei, eu era muito pequena quando ele foi embora, alegando que conviver com a minha mãe era muito sufocante. — Aperto as alças da bolsa até ver os nós dos meus dedos brancos.

— Veja que isso é um tópico sensível para você, se incomoda se eu fazer mais perguntas?

— Qualquer coisa que me faça não ir para o trabalho hoje.

— Por quê? Há algo lá que te incomoda?

— Muitas coisas, apesar de gostar do que faço.

— Então, por que não sai? Ou tentar se afastar daquilo de que não gosta?

— Porque o que eu não gosto se movimenta.

— Ah, entendi — ela exibe um sorriso. — Está falando de um colega?

— Colega? Está mais para Nêmesis.

— Se conhecem há bastante tempo?

— Nos conhecemos na faculdade, sempre ficamos brigando um com o outro, queríamos ser os melhores. Quando terminei a faculdade, entrei na Crowell e nunca mais tive contato com ele, até ontem.

— Até ontem, quando ele foi trabalhar na sua empresa — ela diz com um sorriso.

— Como sabe que foi ontem?

— Ao te ver aqui, sentada à minha frente, depois de dois meses e nervosa por conta de um colega que apareceu recentemente, e ao ver seu nervosismo, isso é extremamente recente.

— Falando assim, até parece que é uma perfiladora.

— Continua fazendo referência à Criminal Minds em todos os momentos em que tem uma oportunidade?

— Não. . . — Olho para ela com vergonha.

— Não posso te culpar, talvez você sinta a necessidade de divulgar o que você gosta, assim eles se interessam, perguntam a você o que é, você explica e então começa uma conversa.

Olho para ela, indignada por saber tão bem por que faço isso.

— Não posso evitar.

— Certo. . . O que ele faz você sentir?

— Fico nervosa só dele respirar, eu quero bater nele mesmo ele não falando nada, a presença dele me irrita.

Minha terapeuta ri e coloca a mão na boca tentando disfarçar.

— Falei algo engraçado?

— Desculpa, é que você me chamaria de louca e não quero que abandone as sessões.

— Sei. . .

Continuamos a conversar sobre diversos dos meus problemas.

Após umas três horas conversando, Vivianne se levanta, dando por encerrada a nossa sessão.

— Hoje foi uma conversa produtiva, daqui a algum tempo, vou te contar uma coisa.

— Por que não pode contar agora?

— Porque vai perder a graça.

Suspiro, agarrando minha bolsa e ela me surpreende com um abraço.

— Sabe que não pedi abraço, não é?

— Eu sei, mas lembre-se, se deixe sentir, senão se afogará em silêncio.

Saio do consultório dela pensativa e decido passar numa cafeteria próxima, saí sem comer nada e estou morrendo de fome.

Faço uma careta — Eu mereço. . .

Coloco meus fones e dou play na minha música.

Entro na fila e pego minha carteira, esperando minha vez.

— Próximo! — A atendente diz.

Me aproximo dela e então meus olhos cruzam os dele.

— Oh! . . Larabelle, que surpresa te ver aqui. Gostaria de conversar com você, mas tenho um compromisso.

Ele vai embora e faço meu pedido, duas fatias de bolo de chocolate com muita cobertura e um cappuccino sem canela.

Pago e fico mexendo no celular enquanto meu pedido é preparado, o que não demora.

Vou para a mesa e me sento, descansando a bolsa entre meus dois pés, uma medida de segurança contra roubos.

Chego em casa cansada e exausta, tiro meu casaco, olho para o relógio e vejo o horário: 17h30. Perdi meu dia todo naquela sessão, mas confesso que me sinto mais leve em ter dito o que disse para Vivianne.

Me troco e coloco num prato os lanches que comprei, me sento em frente à televisão e a ligo, colocando em algum filme de fantasia misturado com romance, algo do tipo.

Mal-Estar

Acordo com muita dor de cabeça e me levanto, pegando um comprimido na cômoda, isso tem acontecido mais frequentemente do que eu gostaria.

Vou ao banheiro e tomo meu banho. Saio já trocada: Uma calça preta, uma blusa de seda amarela e uma jaqueta preta.

Sinto uma tontura repentina e me seguro na penteadeira. Respiro fundo segurando a vontade de vomitar e fecho os olhos.

A porta do meu quarto é aberta e Suzy entra com um sorriso inicialmente, mas logo desaparece ao me ver apoiada.

— Ei, o que houve? Lara. . .

— Estou bem. — Me levanto, abrindo os olhos.

— Não, não está e dá para ver isso na sua cara, está pálida, acho melhor não ir trabalhar hoje.

— Estou bem e está louca se vou faltar mais um dia. Estou apenas com dor de cabeça.

— Então vou com você.

Suspiro derrotada e ela pega minha bolsa, me levando até seu carro.

— Já acordou assim?

— Já, deve ser o estresse.

— Tem comido direito?

— Sim, Suzy. Tem como ficarmos em silêncio?

— Certo. Desculpa.

O caminho todo fico em silêncio, desligando até mesmo chamada do nosso chefe.

— Deveria contar a ele.

— Vou contar, quando chegar na empresa.

— Você tem certeza de que está bem o suficiente para ir trabalhar? Podemos ficar em casa ou ir para o hospital, não o da sua mãe, é claro. — Ela logo se corrige ao ver minha careta.

— Vou ficar bem, prometo que se eu piorar, eu vou ao médico.

— Ótimo.

Chegamos na empresa e logo fecho os olhos tentando segurar a enorme vontade de vomitar.

— Vou indo na frente, preciso tomar uma água.

— Claro, te vejo depois amiga.

Ela me abraça e entro na empresa, ignoro todos e vou até o elevador e clico no botão do 4° andar, me encosto na barra de ferro e começo a fazer massagem nas têmporas. Ignoro a pessoa que coloca a mão na porta, a impedindo de se fechar e então entra.

— Decidiu vir ao trabalho?

— Hoje não, Ethan.

— O que houve? — noto um tom de preocupação em sua voz.

— Nada.

— Olha, sei que não gosta de mim e tudo mais, mas saiba que trabalhamos juntos agora e que se você não é eficiente, Jonathan vai pegar no nosso pé e me preocupo com nosso futuro nesse emprego.

Olho para ele e ao ver ele sério, o que é raro, decido dizer, que mal há, não é? Não preciso me fechar o tempo todo.

— Acordei com dor de cabeça.

— É por isso? Por que veio trabalhar então? Não acho que Jonathan não autorizaria sua melhor funcionária trabalhar quase desmaiando.

— Não estou quase desmaiando, não seja dramático.

— Não é isso que sua aparência diz.

Olho para ele de esguelha.

— Estou sem maquiagem, por isso estou pálida.

— Você pode tentar enganar qualquer um, até mesmo o Jonathan, mas não se esqueça que eu te conheço há mais tempo.

Seguro a enorme vontade de revirar os olhos e as portas metálicas do elevador se abrem. Jonathan então se aproxima.

— Pensei que tinha falecido.

— E deixar essa empresa na mão? Jamais. — Forço um sorriso.

— Não vai ser descontado esses dois dias no seu salário, Vivianne me disse que foi ontem.

Desvio o olhar dele sentindo vergonha. Pelo Amor de Deus, que ele não fale da terapia na frente do Ethan. Não quero que ele tire proveito disso, aí, sim, ele vai me chamar de doida.

Noto um sorriso cínico em seu rosto e mordo o lábio.

Idiota, mil vezes idiota. Como ele consegue ser tão calmo mesmo depois do que aconteceu? Ele me arruinou e ainda, sim, parece que nada afeta ele.

Sou tirada dos meus pensamentos com Ethan me olhando curiosamente e Jonathan preocupadamente.

— Tudo bem, Lara?

— Sim, estava pensando em umas coisas.

— Certo, Lara e Ethan, vocês irão para Miami ainda hoje, temos uma cliente muito importante, porém não conseguirá vir até aqui, então vocês irão. Lembrem-se, ajam profissionalmente, entendeu, Larabelle?

Assinto sem ter muita força de vontade de falar hoje.

— Ótimo.

Ele vai embora e Ethan coloca o braço ao redor do meu pescoço me puxando para perto dele.

Noto o sorriso cínico em seu rosto e, imediatamente, sinto o sangue ferver. Idiota. Babaca, mesquinho, mauricinho… Como ele consegue ser tão calmo depois de tudo o que fez? Ele me arruinou, e age como se nada disso importasse. A tranquilidade dele só piora as coisas.

Mordo o lábio com força\, tentando controlar a onda de raiva. Meus músculos estão tensos e meus pensamentos giram ao redor da mesma pergunta. *Por que ele nunca parece ser afetado por nada?*

Ele me puxa para perto, um gesto casual e, para ele, talvez até reconfortante. Mas, no instante em que sinto o contato, minha reação é completamente diferente. Eu travo.

Se fosse na época da faculdade, esse gesto teria arrancado um sorriso, talvez até me fizesse esquecer o quão idiota ele era. Ethan sempre foi aquele amigo que me fazia sentir segura, que trazia uma sensação de normalidade. Mas agora… agora, isso só me faz lembrar de como tudo mudou. O toque que antes me confortava agora parece estranho, deslocado, como se não houvesse mais espaço para esse tipo de intimidade entre nós.

Meu corpo fica rígido\, e mesmo que eu tente disfarçar\, a tensão é evidente. *Não é a mesma coisa. Não existe mais aquele sentimento\, aquela cumplicidade entre nós.*

— Você está bem? — ele pergunta, a voz baixa, sentindo que algo está errado.

— Estou — murmuro.

Mas por dentro, estou longe de estar bem. Esse braço ao redor dos meus ombros, que antes me trazia paz, agora me traz nervosismo e irritação. E o sorriso daquele idiota continua gravado na minha mente, como um eco irritante que não consigo ignorar.

Me afasto dele e vou para o meu armário, pegando uma maleta pequena que sempre deixo aqui, caso tenhamos que fazer uma viagem.

Passo em casa e pego outra mala, ao sair do quarto, sinto uma tontura muito forte, procuro me segurar em algo, mas acaba nem dando tempo e escorrego, caindo.

Na queda, bato as costas na parede e murmuro.

Me lembro da dica que Suzy me deu há um tempo. Colocar o dedo indicador e médio juntos entre as sobrancelhas e pressionar por alguns segundos.

Sinto a tontura melhorar depois de alguns segundos e me levanto, mas ainda sentindo muita dor nas costas.

Mesmo com dor, disfarço e volto para a empresa quase desmaiando no processo.

Quando chego, Ethan está do lado de fora do prédio com duas malas e uma pasta tira-colo de couro marrom.

Típico, sempre se achando o melhor e querendo exibir a sua inteligência e dinheiro numa pasta. Grande coisa — penso.

— Demorou.

— Tive um probleminha.

— O que houve?

— Você é insuportável, sabia?

— Eu só estou preocupado com você, agora porque fica agindo como se eu tivesse feito algo para você?

— Porque você fez. — digo colocando as minhas malas no porta-malas do táxi.

— Então esclareça, porque eu não me lembro.

— Você é um babaca, escroto, idiota e muito mimado! — esbravejo, como ele pôde se esquecer do que fez comigo?

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O caminho até o aeroporto foi longo e silencioso, eu dormindo e ele fazendo sei lá o que.

Quando chegamos, nosso avião faltava pouco para decolar.

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Me sento na poltrona e coloco a mão na cabeça.

— Está tudo bem mesmo? Você parece uma Cullen. — Ele ri tentando aliviar o clima.

— Eu diria que está me elogiando.

— Os Cullen são feios!

— Óbvio que não, você deve ter visto os filmes errados, é impossível achar os Cullen feios, você com certeza não viu Jasper Hale, Rosalie Hale, Carlisle Cullen... É, você realmente não viu.

— Eu vi, mas não achei tudo isso.

— Péssimo.

Fecho meus olhos à procura de paz e estalo os dedos procurando reencontrar os movimentos das mãos.

Começo a balançar a mão, querendo que os movimentos volte.

— Vai falar o que tá acontecendo ou não?

— Não tem nada acontecendo.

— Eu não ia dizer nada, mas sua amiga me contou que você estava tonta hoje.

Xingo a Suzy e forço um sorriso. — Não é nada demais, só levantei rápido demais.

— Olha, não me lembro do que eu te fiz, mas saiba que estou genuinamente preocupado com você.

Reviro os olhos, logo me arrependo, e ele pega minha mão, acariciando. Tento puxar, mas ele segura mais forte.

— Fique parada, meus pais são médicos, eles me ensinaram a reconhecer quando alguém está com alguma parte do corpo dormente.

Mordo a língua ao sentir seu toque e por um momento sou levada até a época em que namorávamos na faculdade, seu toque continua o mesmo, quente.

Percebo que continua segurando minha mão e me afasto.

— Quando chegarmos, você vai para o hospital.

— Não pode me obrigar.

— Não, mas se não ir, eu conto para o Jonathan.

Sinto minhas costas repuxarem e engulo a vontade de gritar de dor.

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