Helena Walker, 24 anos.
HELENA
Eu não podia acreditar no que meus olhos viam. As mensagens no celular do Miguel eram uma prova dolorosa de que minha vida não era o conto de fadas que eu pensava. Era tudo mentira. Eu estava noiva, planejando um futuro com o homem que pensei ser o amor da minha vida, enquanto ele estava me traindo com minha melhor amiga. Tatiana e Miguel… Eu nem queria acreditar, mas a realidade estava bem ali, escancarada na minha frente, em cada palavra trocada entre os dois.
Minha mente voltou àquele dia, como se fosse ontem. Eu tinha passado na casa do Miguel de surpresa, animada para mostrar o vestido de noiva que minha mãe finalmente aprovou. Mas em vez de sorrisos e abraços, encontrei um silêncio estranho e duas taças de vinho ainda frescas na sala. Foi quando o celular dele vibrou. Uma mensagem de Tatiana apareceu na tela. Meu coração parou por um segundo.
— Não vejo a hora de te ver hoje à noite. Não conte nada para a Helena. Beijos, Tati.
Tudo o que eu podia sentir naquele momento era um vazio profundo. O vestido caiu das minhas mãos, e com ele, todos os meus sonhos. Eu lembro de confrontar Miguel, da discussão que explodiu como uma tempestade dentro de mim, da dor no seu olhar quando percebeu que tinha sido pego. Mas nada disso importava. O que eles fizeram, o que ela fez, era imperdoável. Naquela noite, eu arrumei minhas coisas e deixei aquela cidade para sempre.
Eu tinha que ir embora. Longe de Miguel, de Tatiana, de todas as lembranças que agora pareciam me sufocar. Nova York sempre foi um sonho distante, uma cidade onde eu poderia começar de novo. E agora, parecia a única opção. Eu precisava de um recomeço, longe de tudo o que me fez sofrer.
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A cidade que nunca dorme. As ruas lotadas de gente, os táxis amarelos buzinando, os arranha-céus imponentes… Manhattan era tudo o que eu imaginava e mais. Mas estar aqui sozinha, sem conhecer ninguém, era assustador e emocionante ao mesmo tempo. Eu estava me arriscando, tentando apagar os vestígios de quem fui e encontrar uma nova versão de mim mesma.
A entrevista de emprego no Memorial Hospital, um dos hospitais mais prestigiados de Manhattan, era o primeiro passo desse novo capítulo. Eu havia chegado cedo e caminhava pelos corredores do hospital, tentando não parecer tão nervosa quanto me sentia. Aquele hospital era impressionante, uma máquina de cura perfeitamente afinada, onde médicos e enfermeiros se moviam com uma confiança que me intimidava um pouco.
Esperei na sala de recepção, observando as pessoas que passavam apressadas. Eu me perguntava se algum dia pareceria tão confiante quanto aquelas enfermeiras com seus jalecos impecáveis, tão seguras de si. Eu estava prestes a me levantar para pedir um copo d'água quando ouvi meu nome ser chamado.
— Senhorita Walker? — Uma mulher alta e magra, com um semblante sério, estava à porta. — Sou a Dra. Evans. Pode me acompanhar, por favor?
Levantei-me e segui a Dra. Evans pelo corredor. Minhas mãos estavam suadas, e eu sentia meu coração disparar. Tentava manter a calma, mas a verdade é que nunca estive tão nervosa na vida. Não era apenas uma entrevista de emprego. Era meu futuro, minha chance de recomeçar, de esquecer o passado.
— Eu li seu currículo e tenho que dizer que ele é impressionante, especialmente para alguém tão jovem — a Dra. Evans começou, enquanto caminhávamos para o seu escritório. — Você se formou com honras e tem uma experiência considerável, especialmente em atendimento de emergência. Por que decidiu sair de sua cidade natal?
Aquela pergunta me pegou de surpresa. Eu não esperava ter que falar sobre o motivo que me trouxe aqui. Pensei rapidamente no que dizer. Não podia simplesmente dizer que estava fugindo de um noivo traidor e de uma amiga falsa.
— Senti que era hora de um novo desafio — respondi, tentando parecer confiante. — Sempre sonhei em trabalhar em um hospital grande, e Nova York sempre foi um objetivo para mim. Achei que agora era o momento certo para fazer essa mudança.
Dra. Evans me olhou com uma expressão que era difícil de ler. Era como se ela estivesse tentando ver além das minhas palavras, procurando algo mais. Eu mantive o olhar firme, tentando não demonstrar o quanto estava nervosa.
— Nova York é uma cidade desafiadora, mas também oferece muitas oportunidades — ela disse finalmente. — Trabalhar aqui no Memorial não é fácil. Exige dedicação, habilidade, e muita resistência emocional. Você acha que está preparada para isso?
Eu sabia que esta era a pergunta crucial. Precisava mostrar a ela que, apesar de tudo pelo que passei, eu era forte o suficiente para esse desafio. Mais do que isso, eu queria mostrar a mim mesma que poderia superar o que aconteceu e me tornar uma enfermeira ainda melhor.
— Sim, eu acredito que estou preparada — respondi com firmeza. — Passei por muitas situações difíceis em minha carreira até agora, mas sempre encontrei uma maneira de seguir em frente e fazer o meu melhor pelos meus pacientes. Sei que trabalhar aqui será exigente, mas estou pronta para esse desafio.
Dra. Evans pareceu considerar minhas palavras por um momento. Finalmente, ela sorriu, um sorriso pequeno, mas que me deu um pouco de esperança.
— Bem, então acho que podemos começar com um período de experiência — ela disse. — Você poderá trabalhar ao lado de alguns dos nossos melhores profissionais e ver se realmente se adapta ao ritmo daqui. Se tudo correr bem, poderemos falar sobre uma posição permanente.
Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Era a chance que eu tanto esperava. Sorri de volta, sentindo um peso enorme sair dos meus ombros.
— Obrigada, Dra. Evans — disse, tentando manter a calma. — Não vou decepcioná-la.
Quando saí do escritório dela, senti uma mistura de alívio e excitação. Tinha conseguido. Estava em Nova York, com uma nova oportunidade diante de mim. Claro, ainda havia muito a fazer, e eu sabia que não seria fácil, mas esse era o começo do meu recomeço. Eu estava determinada a mostrar que podia superar qualquer coisa, até mesmo o que aconteceu com Miguel e Tatiana.
Agora, era hora de deixar o passado para trás e abraçar o futuro, um futuro que eu construiria com minhas próprias mãos. Manhattan era grande, mas eu estava pronta para enfrentar o que viesse pela frente. Um passo de cada vez, eu iria me reconstruir.
E assim, com o coração batendo acelerado, dei meus primeiros passos em direção ao que seria, espero, a minha nova vida.
DOUTOR MURILO ALMEIDA, 35 ANOS.
Murilo Almeida andava pelos corredores do Memorial Hospital com passos firmes e controlados, sua presença intimidando até os mais experientes entre os profissionais de saúde. Com uma expressão séria e olhos frios, ele era o retrato da eficiência, um homem cujo coração parecia tão fechado quanto as portas de aço da sala de cirurgia. Murilo não era apenas um médico; ele era o chefe de cirurgia do hospital que, ironicamente, pertencia à sua própria família.
O Memorial Hospital foi fundado por seu avô, um visionário que acreditava em servir à comunidade com os melhores cuidados médicos possíveis. Com o passar dos anos, a instituição cresceu, tornando-se um dos hospitais mais respeitados de Manhattan. A responsabilidade de continuar esse legado estava nas mãos de Murilo e de sua irmã mais nova, a Dra. Evelyn Almeida, ou como todos a chamavam, Dra. Evans.
Evelyn sempre foi a luz da família, com uma alegria contagiante e um otimismo que parecia inabalável. Era como se nada pudesse derrubá-la, mesmo após a tragédia que devastou Murilo. Ela era a única pessoa que ainda ousava tentar quebrar as barreiras que ele ergueu em torno de si após a morte de sua esposa, Larissa. Mas, apesar de todos os seus esforços, Evelyn nunca conseguiu alcançar o coração endurecido do irmão.
Naquela manhã, Murilo estava no seu escritório, revisando os prontuários de pacientes antes de iniciar mais um dia de cirurgias. O silêncio era interrompido apenas pelo som rítmico do relógio na parede. Ele gostava dessa rotina, desse controle absoluto que tinha sobre sua vida profissional. Era o único lugar onde ele ainda sentia que tinha algum domínio sobre as coisas. Fora daquelas paredes, o mundo era caótico e imprevisível, algo que ele não estava disposto a enfrentar.
Evelyn, por outro lado, tinha uma visão diferente. Enquanto caminhava pelo hospital, cumprimentando funcionários e pacientes com um sorriso caloroso, ela fazia questão de passar pelo escritório de Murilo, mesmo sabendo que a recepção não seria das mais calorosas. Ela bateu na porta levemente antes de entrar.
— Bom dia, irmão! — disse ela com uma voz alegre, entrando no escritório sem esperar convite.
Murilo ergueu os olhos de suas anotações, dando-lhe um aceno de cabeça quase imperceptível.
— Evelyn, se é algo importante, vá direto ao ponto. Tenho uma cirurgia em trinta minutos.
Ela ignorou o tom frio, como sempre fazia. Estava acostumada àquela resistência.
— Na verdade, é algo importante sim, Murilo. — Ela caminhou até sua mesa, colocando as mãos sobre o vidro impecável. — Você precisa sair dessa bolha em que se enfiou. Há quanto tempo não sai com amigos, não vai a uma festa, ou mesmo a um jantar que não seja relacionado ao trabalho?
Ele franziu a testa, claramente incomodado com a direção da conversa.
— Evelyn, você sabe muito bem por que prefiro me focar no trabalho. Este hospital precisa de mim e dos meus esforços constantes. Eu não tenho tempo para essas futilidades.
— Futilidades? — Ela balançou a cabeça, frustrada. — Murilo, você está se enterrando vivo! O que Larissa diria se te visse assim? Ela odiaria ver o homem que você se tornou, um homem que não permite que a vida o toque mais. Ela sempre acreditou que você era mais do que isso.
O nome de sua falecida esposa foi como um golpe direto no peito de Murilo. A dor era antiga, mas ainda pulsava com força sempre que era mencionada.
— Evelyn, não traga Larissa para isso — ele respondeu, a voz baixa e carregada de uma raiva contida. — Ela não está mais aqui, e nada vai mudar isso. O que eu faço é manter sua memória intacta. E isso significa focar no que é importante.
Evelyn suspirou, sentindo que estava, mais uma vez, falando com uma parede de pedra.
— Tudo bem, Murilo. — Ela recuou, percebendo que não conseguiria convencê-lo naquele momento. — Mas, por favor, pense no que eu disse. Você merece mais do que essa existência vazia. Larissa não quereria isso para você.
Murilo permaneceu em silêncio, seus olhos já voltados para os papéis em sua mesa, encerrando a conversa unilateral. Evelyn saiu do escritório com o coração pesado, preocupada com o irmão. Ela sabia que ele se escondia atrás do trabalho, mas temia que um dia, quando fosse tarde demais, ele percebesse o quanto de vida deixou passar.
***
No hospital, Murilo era conhecido por ser um excelente cirurgião, mas também um chefe difícil. Ele exigia perfeição, não aceitava erros, e era notoriamente difícil de agradar. No entanto, ninguém duvidava de sua competência. Sob seu comando, o Memorial Hospital havia alcançado novos patamares de excelência, e ele era, sem dúvida, um dos responsáveis por isso.
Mas o que poucos sabiam, e o que ele nunca admitiria, era que seu perfeccionismo obsessivo era uma forma de evitar o caos interno que o consumia. Trabalhar até tarde, passar noites no hospital, e evitar qualquer tipo de interação social eram maneiras de não enfrentar a dor que o assombrava desde a morte de Larissa.
Antes do acidente, Murilo era o CEO de uma grande empresa alimentícia, herança de sua família materna. Ele conheceu Larissa através de Evelyn, que estudava medicina com ela. As duas se tornaram grandes amigas, e foi assim que Murilo conheceu a mulher que viria a mudar sua vida. Eles se casaram pouco tempo depois, e tudo parecia perfeito. Porém, o destino tinha outros planos. Quando Larissa morreu em um acidente de carro, Murilo sentiu-se impotente e inútil. Foi então que decidiu largar o mundo dos negócios e se juntar à família na medicina, buscando uma maneira de preencher o vazio deixado pela perda.
Murilo deixou o comando da empresa nas mãos de seu amigo de confiança, Edward, que continuava a mantê-lo atualizado sobre os negócios, trazendo-lhe papéis para assinar sempre que necessário. No entanto, o interesse de Murilo pelo mundo empresarial havia praticamente desaparecido. A única coisa que o movia agora era o trabalho no hospital, onde ele sentia que estava tentando compensar por não ter conseguido salvar a vida de Larissa naquele fatídico dia.
Evelyn sabia que o trabalho no hospital era tanto uma bênção quanto uma maldição para Murilo. Era onde ele se sentia no controle, mas também onde se isolava. Ela sabia que ele precisava de algo – ou alguém – que o tirasse desse ciclo de autodestruição. Mas cada tentativa de ajudá-lo parecia empurrá-lo ainda mais para dentro de sua concha.
Ao final daquele dia, Murilo se encontrou novamente em seu escritório, a única luz vindo do abajur sobre a mesa. Ele olhou pela janela, vendo as luzes de Manhattan brilhando ao longe. Havia uma beleza fria e distante naquela visão, algo que espelhava sua própria existência. Mas enquanto as luzes da cidade piscavam, algo dentro dele permanecia apagado.
No fundo, ele sabia que precisava fazer algo para mudar. Mas a dor do passado ainda era forte demais. O fantasma de Larissa estava sempre lá, lembrando-o do que ele perdeu, do que ele nunca mais permitiria que alguém tirasse dele. E assim, ele continuou, uma alma perdida em meio à grandiosidade de Manhattan, buscando redenção em uma rotina sem fim.
Enquanto a cidade continuava a viver e respirar lá fora, Murilo fechou os olhos por um momento, permitindo-se uma pequena fuga, uma memória de Larissa sorrindo para ele. Mas foi apenas um momento. Ele abriu os olhos, se endireitou na cadeira, e voltou ao trabalho. Afinal, o hospital nunca dormia – e ele também não.
HELENA
Eu saí do escritório da Dra. Evelyn, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. A entrevista havia corrido bem, melhor do que eu esperava. Evelyn – ou melhor, Dra. Evans, como eu precisava me lembrar de chamá-la – era calorosa e acolhedora, o que foi um alívio enorme após todo o estresse que eu estava sentindo. Nova York era um mundo totalmente novo para mim, e conseguir um emprego logo no Memorial Hospital seria uma verdadeira bênção.
Mas agora, eu tinha um novo desafio pela frente: encontrar um lugar para morar. A cidade estava repleta de opções, mas todas pareciam absurdamente caras ou assustadoramente pequenas. Eu não sabia exatamente o que estava procurando, só sabia que precisava ser algo que eu pudesse pagar e que não me fizesse sentir como se estivesse morando em um armário.
Peguei meu celular e abri um aplicativo de aluguel de imóveis. A quantidade de anúncios era esmagadora. Sentei-me em um banco na calçada, olhando para os apartamentos como se estivesse escolhendo um prato em um menu gigante. *Muito caro... Muito longe... Muito pequeno... Isso é um porão?!* Minhas opções estavam diminuindo rapidamente.
Depois de um tempo, um anúncio chamou minha atenção. “Apartamento espaçoso, preço acessível, excelente localização!” Parecia bom demais para ser verdade. *Hum, deve ter alguma pegadinha*, pensei. Mas, ao olhar as fotos, tudo parecia perfeito. O apartamento ficava em um bairro agradável, não muito longe do hospital, e o aluguel estava dentro do meu orçamento. Sem pensar duas vezes, liguei para o número do anúncio.
— Alô? — respondeu uma voz grave e entusiasmada do outro lado da linha.
— Ah, oi! Eu vi o anúncio do apartamento para alugar e queria saber se ainda está disponível.
— Está sim! — respondeu a voz, com um entusiasmo quase contagiante. — Quando você pode vir dar uma olhada?
— Bem... eu estou por aqui. Posso passar em uma hora?
— Perfeito! O endereço é 3425, West 44th Street. Vejo você daqui a pouco!
Desliguei o telefone, sentindo uma pequena onda de excitação. Talvez as coisas finalmente estivessem se ajeitando. Peguei um táxi e fui em direção ao endereço que me deram. À medida que me aproximava, notei que o bairro parecia promissor – árvores alinhadas nas calçadas, cafés charmosos nas esquinas, e pessoas passeando com seus cães. *É, isso pode ser bom*, pensei.
Quando o táxi parou em frente ao prédio, uma construção antiga de tijolos vermelhos com escadas de incêndio decorativas, saí do carro com uma certa expectativa. Mal podia esperar para ver o apartamento.
Fui recebida na porta por um homem de meia-idade com um bigode grosso e um sorriso largo.
— Você deve ser Helena! — disse ele, apertando minha mão com força. — Sou o Sr. Carlo, o zelador e, bem, praticamente o faz-tudo por aqui.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Carlo! — Eu sorri de volta, tentando esconder o quanto sua energia me pegou de surpresa.
— Ah, nada de “Sr.”! Pode me chamar de Carlo. Eu sou só Carlo, a pessoa que faz tudo nesse prédio. Vamos lá, vou te mostrar o apartamento!
Subimos as escadas, e ele foi me contando a história do prédio – que já teve vários inquilinos famosos, incluindo um ator que fez participações em um seriado policial dos anos 80. Eu tentava acompanhar a conversa enquanto ele falava sem parar, até que chegamos ao terceiro andar.
— E aqui estamos! Apartamento 3B, uma verdadeira joia escondida de Nova York! — disse Carlo, abrindo a porta com um gesto grandioso.
Entrei no apartamento e, à primeira vista, parecia realmente tão bom quanto nas fotos. A sala era ampla, com janelas grandes que deixavam entrar muita luz natural. A cozinha, embora pequena, era funcional e charmosa. Eu estava começando a me imaginar ali, quando um som estranho chamou minha atenção.
— Err... você ouviu isso? — perguntei, tentando identificar o barulho.
— Ah, isso? — Carlo deu uma risadinha. — Provavelmente são os vizinhos. Eles são bem... como posso dizer... animados.
Antes que eu pudesse perguntar o que ele queria dizer com "animados", um grito abafado seguido de uma risada estridente veio do apartamento ao lado. Eu olhei para Carlo, que apenas deu de ombros.
— Você se acostuma. A Sra. Matilda e o Sr. Barnaby têm uma vida social bem ativa, se é que me entende. — Ele piscou, como se estivesse compartilhando um segredo. — Mas são adoráveis, você vai adorar conhecê-los.
Eu tentei não rir, mas não pude evitar. Quem eram essas pessoas? Estava prestes a descobrir, porque antes que Carlo pudesse continuar o tour, a porta do apartamento ao lado se abriu com um estrondo.
— Carlo! — gritou uma mulher idosa, com cabelos brancos e um vestido de bolinhas vermelho e branco. — Você me prometeu que consertaria a torneira da cozinha hoje! Eu não posso continuar lavando louça no banheiro!
— Já vou, já vou, Sra. Matilda! — Carlo respondeu, claramente acostumado com o ritmo enérgico dela. — Só estou mostrando o apartamento para a nossa possível nova inquilina.
Matilda olhou para mim com olhos astutos, e em um segundo estava ao meu lado, segurando minha mão.
— Ah, então você é a nova vizinha! Bem, seja muito bem-vinda! — Ela me puxou para um abraço inesperadamente forte. — Meu nome é Matilda, e você deve ignorar qualquer coisa que Barnaby diga, ele é um rabugento de primeira, mas tem um coração mole.
— Er... prazer em conhecê-la, Sra. Matilda — murmurei, ainda tentando processar o que estava acontecendo.
— Nada de “Sra.”, querida! Me chame de Tilda, todo mundo aqui chama. E você vai amar morar aqui, é como uma grande família! Não é, Carlo?
— Isso mesmo, Tilda! Agora, vamos deixar a jovem terminar de ver o apartamento antes que ela desista de nós, hein? — Carlo disse com um sorriso, tentando desviar a atenção.
Mas Matilda estava longe de terminar. Ela começou a me dar um tour improvisado do apartamento, apontando tudo o que achava que eu devia saber.
— Essa parede aqui, Carlo diz que está sólida, mas eu aposto que ouvi um rato atrás dela semana passada. Mas não se preocupe, Barnaby tem um gato chamado Tigrão, que resolve qualquer problema de roedores por aqui! E o banheiro... bem, o chuveiro pode ser temperamental, mas basta bater no cano com uma chave inglesa, e pronto, água quente!
Eu tentava acompanhar a enxurrada de informações, enquanto tentava imaginar como seria minha vida ali. E então, como se as coisas não pudessem ficar mais surreais, a porta do apartamento ao lado se abriu novamente, e um senhor magro, com uma calça de pijama listrada e um boné de beisebol, apareceu.
— Tilda, pelo amor de Deus, deixa a moça respirar! — ele resmungou, embora houvesse um brilho de humor nos olhos dele.
— Esse é o Barnaby — sussurrou Carlo para mim. — E não ligue para o mau humor, ele só precisa do café da manhã.
— Oi, Barnaby — disse, tentando não rir. — Eu sou Helena.
— Bem-vinda ao manicômio — ele respondeu, dando uma olhada em Matilda antes de voltar para dentro.
Eu não pude me conter mais e soltei uma gargalhada. Tudo naquela situação era tão ridiculamente cômico que não havia outra reação possível. Quando finalmente me recuperei, Matilda estava me olhando com um sorriso satisfeito.
— Viu? Eu disse que você ia adorar aqui!
E naquele momento, percebi que, apesar de todas as peculiaridades – ou talvez por causa delas – aquele lugar poderia ser exatamente o que eu precisava.
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