Fazenda Nova Esperança – 12 anos antes...
— Ruth, saia já de onde está!
— Não pense que desta vez vai se safar! Eu vou te dar uma lição da qual vai se arrepender de ter nascido, sua ferinha ordinária!
Gritava uma mulher furiosa na entrada do estábulo. Enquanto ela esbravejava, um menino de uns onze anos chorava, o rosto coberto de picadas de insetos.
Sem obter resposta, a mulher pegou o menino pela mão e seguiu em direção à casa, sem notar a menina escondida no alto da árvore, observando-os. Ruth arrancou uma maçã do galho, esfregou na roupa e deu uma mordida. A fruta era suculenta e levemente adocicada.
Ela sabia que teria de voltar para casa antes do anoitecer e também tinha consciência de que sua madrasta, Ariane, não deixaria barato o que fizera. Ruth sabia que seu pai, Sérgio, demoraria dois dias para retornar — ele fora se encontrar com o antigo dono da fazenda, o senhor Telmo Vieira, e depois teria uma reunião com o novo proprietário.
Meu pai estava preocupado com os rumores de que a fazenda seria transformada em um hotel-fazenda. O que seria das famílias que trabalhavam e moravam aqui? Mesmo que recebessem indenização pelo tempo de serviço, ficariam sem emprego e sem moradia.
O senhor Telmo lutava contra uma doença e vendeu a fazenda de porteira fechada. Até aí tudo bem, mas começaram os rumores sobre as intenções do novo dono — por isso papai foi até Curitiba, para confirmar a verdade.
Amo muito meu pai; ele me apoia em tudo. Até deixou eu instalar meu projeto de ciências na caminhonete dele!
Tomás é filho da minha madrasta Ariane. Nós brigamos porque ele estava arrancando as flores que a minha mãe adorava. Pedi que parasse, mas o idiota não me ouviu. Então, peguei alguns cupins no fundo do quintal e coloquei na cama dele. Eu sei que ele é alérgico a insetos — o simples contato faz com que sua pele fique coberta de bolhas vermelhas, parecidas com brotoejas, mas cheias de líquido. Desta vez acho que exagerei... Gosto dele, mas o Tomás é muito mimado e chorão. Claro que isso é culpa da mãe dele.
Ariane sempre o impediu de fazer qualquer esforço, alegando que o menino era fraco e tinha problemas de saúde. No início, papai até tentou dissuadi-la desses cuidados exagerados, mas, por causa das brigas, acabou desistindo.
Quando não se tem mãe, a gente aprende a se defender e cuidar de si mesma — é o meu caso.
Apesar da minha aparência frágil, sou forte. Nem me lembro da última vez que fiquei resfriada. Segundo Ariane, vaso ruim não quebra. Sou magra, pareço uma tábua, ao contrário das meninas da minha idade que já têm corpo formado. O que me salva são meus cabelos negros, que contrastam com a pele muito branca — herança da minha mãe, que era alemã.
Tenho olhos cor de âmbar e cílios volumosos. Meu pai sempre diz que tenho rosto de boneca... mas ele é suspeito.
Meu pai nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais. Na juventude, foi para a América e depois para a Alemanha, onde conheceu minha mãe. Quando voltou ao Brasil, trouxe-a junto. Casaram-se, e eu nasci.
Mas então tudo mudou. Papai diz que um presidente prendeu o dinheiro de todo mundo e, sem emprego para sustentar a família, ele acabou virando capataz da Fazenda Nova Esperança.
Mamãe morreu quando eu tinha nove anos. Durante um tempo, éramos só nós dois... até ele casar com a bruxa má.
Alguns podem achar que é ciúme do meu pai, mas não é. Sempre fui a favor de ele ter alguém. Quando um amigo apresentou a irmã viúva, meu pai — que vivia triste desde a morte da mamãe, há três anos — voltou a sorrir. Até retomou as piadas horríveis que só ele achava engraçadas.
Os meses passaram, e no aniversário dela, ele a pediu em casamento. Duas semanas depois, se casaram.
No início, Ariane era gentil comigo. Mas, como dizem, o diabo quando quer te ganhar promete tudo; depois que te fisga, mostra a verdadeira face. Foi o que aconteceu.
Depois que se casou com o senhor Sérgio Souza, ela não precisou mais fingir. Logo começaram os maus-tratos — principalmente quando papai não estava em casa. Desde que Tomás veio morar conosco, ela piorou. Antes, ele vivia com os avós paternos.
Quer saber? Eu não me importo.
Meu nome é Ruth Souza, e ninguém pisa em mim. Posso ser uma fera, como ela diz, e guardo muitos segredos que não são meus.
Tenho o hábito de subir nas árvores e ficar escondida. Assim, fico invisível para quem não se importa com a minha presença — e acabo ouvindo conversas.
Os funcionários são os piores: sabem de tudo, quem namora quem, quem trai quem.
Descobri até o nome do verdadeiro pai da Ana Maria, mas é claro que nunca contei.
Sim, às vezes escuto o que não me diz respeito — e nunca usei nenhuma informação a meu favor. Nem usarei. Eu juro.
Apesar de conseguir me virar sozinha, às vezes gostaria de ter alguém que cuidasse de mim, como a mãe do Tomás cuida dele — mas de um jeito saudável.
Só tenho uma amiga: Ana Maria Fraga, filha da dona Ana Luísa, que trabalhava na pensão da cidade de Barretos. Ela fazia os churros mais deliciosos do mundo, e Ana sempre dividia comigo.
Enfio a mão no bolso, pego uma barra de cereal que Ana me deu, desembrulho e como, pensando em uma maneira de me safar. Ariane está furiosa.
Curitiba – Mansão Waladares, 14:45
Alfred se encolheu ao ouvir mais uma discussão dos pais, que se agridem ,com palavras. As brigas eram constantes e sempre terminavam com o pai, Alberto, saindo de casa e a mãe, Roberta, trancando-se no quarto.
Curitiba quinta-feira as 12:52
Curitiba, quinta-feira, 12h52
Sérgio Souza saiu de sua caminhonete no estacionamento subterrâneo do prédio onde fica o grupo Waladares Corporation. Tinha uma reunião marcada com o CEO, Jonas Waladares, mas uma movimentação estranha chamou sua atenção.
Escondido atrás de uma enorme pilastra, observou seis homens rendendo o motorista de um carro de luxo. Antes que pudesse entender completamente o que estava acontecendo, Sérgio ligou um aparelho que sua filha havia instalado na caminhonete. Um som ensurdecedor ecoou pelo local, assustando os criminosos, que imaginaram estar cercados por várias viaturas policiais.
A invenção maluca da filha havia funcionado.
Sérgio se aproximou do carro com cautela. De longe, percebeu que o homem havia sido encapuzado, amarrado e jogado dentro do porta-malas, que estava trancado. Voltou rapidamente à caminhonete, procurando algo que pudesse usar para libertá-lo.
Jonas Waladares era conhecido no meio empresarial como uma verdadeira raposa — capaz de enxergar potencial onde ninguém mais apostaria um dólar.
Embora soubesse do aumento dos casos de sequestro em Curitiba nos últimos anos, não via necessidade de contratar segurança reforçada, como seus amigos haviam feito.
Naquela manhã, porém, Jonas notou algo estranho: seu motorista parecia nervoso. Uma sensação ruim o invadiu, mas ele a ignorou — afinal, nunca acreditou em intuição; “isso é coisa de mulher”, costumava dizer.
Pouco depois, já no estacionamento da empresa, o carro foi cercado por homens armados. Eles renderam Dirceu, o motorista, e arrancaram Jonas de dentro do veículo.
Tudo aconteceu rápido demais, sem tempo para qualquer reação.
Quando a sirene começou a tocar, o barulho era ensurdecedor. Jonas, com as mãos amarradas e um saco escuro sobre a cabeça, não conseguia entender o que se passava. Sua audição era seu único aliado.
Tomado por um medo profundo, pensou que talvez nunca mais tivesse a chance de aproveitar a vida. Sua mente o fez refletir sobre quanto tempo desperdiçar, apenas acumulando dinheiro — sem desfrutar do que conquistara.
Dentro daquele porta-malas, prometeu a si mesmo que, se saísse vivo, se aposentaria e viajaria o mundo com sua esposa, Lucinda.
Enquanto isso, Sérgio encontrou uma ferramenta que poderia abrir o porta-malas. Depois de três tentativas, conseguiu destravá-lo. Aliviado, viu o homem, ainda de terno, sair cambaleante. Sérgio ajudou a desamarrá-lo e retirou o capuz.
— O senhor está bem? — perguntou.
O homem aparentava cerca de sessenta anos e, embora assustado, não estava ferido. Aliviado, Sérgio esperava uma resposta, quando foi surpreendido por um abraço.
— Estou bem, apenas assustado. Jonas Waladares, ao seu dispor — disse o homem, apertando sua mão.
Sérgio sorriu, percebendo que estava diante de seu novo patrão. Ambos seguiram para o escritório, onde a polícia foi chamada e o retrato dos criminosos, feito.
Jonas, profundamente grato, sabia que devia sua vida ao capataz e desejava retribuir o gesto — mas não sabia como.
Três dias depois, Sérgio voltou à fazenda. Recebeu um chamado de Jonas para ir à empresa. Lá, encontrou o CEO acompanhado do filho, Alberto, e do advogado e amigo, Alexandre Duarte.
— Sérgio, meu amigo — disse Jonas, sorridente —, este é meu filho Alberto e meu advogado, Alexandre.
Após os cumprimentos, Jonas mostrou-lhe um documento. Ele havia descoberto que a invenção que o salvara fora criada pela filha de Sérgio.
Por isso, propôs unir suas famílias através do casamento entre seu neto, Alfred, e a jovem Ruth. Como sinal de gratidão, prometeu ainda 2% das ações da empresa como dote.
Naquele dia, foi assinado um acordo que selaria o destino de duas pessoas de personalidades fortes — unidas por um ato de coragem e por uma invenção improvável.
Vera Lemos – atriz e namorada de Alfred Waladares
Meu nome é Vera Lemos, e o meu lema é: “me dar bem enquanto estou atuando.”
Mas, naquele momento, meu pensamento estava em um homem — o mesmo que permeia, a minha mente nos últimos meses. Ter conseguido chamar a atenção de Alfred Waladares era como ganhar na loteria.
Meus olhos passeiam furtivamente pela plateia em busca dele. E o vejo.
Meu coração acelera — não por amor, mas por interesse.
Hoje, decidi perguntar a Alfred quais são as suas reais intenções.
Este é o último espetáculo da temporada, e depois ficarei novamente sem trabalho. Preciso garantir que ele continue interessado em mim. Viver de dramaturgia é complicado: surgem muitos novos talentos, e o público é seletivo e volúvel.
Quando olhei novamente para o lugar onde ele estava, não o vi.
Alfred já havia se retirado.
Não vê-lo ali me entristeceu; senti-me desprezada.
Saí do palco louca para me refrescar, mas, ao abrir a porta do camarim, fui recebida por inúmeros buquês de margaridas brancas — minhas flores preferidas.
Enquanto as cheirava, embriagada pelo perfume, ele entrou.
Sem dizer uma palavra, me puxou para os seus braços musculosos. Estreitou o espaço entre nós, beijando meu pescoço e pressionando o corpo contra o meu com força.
Senti sua excitação.
Fingindo uma inocência ensaiada, estremeci, afastando-me ofegante, evitando olhar em seus olhos.
Estava apenas seguindo os conselhos da minha mãe, Carlinda, que sempre dizia:
> “Mantenha as pernas bem fechadas. Nunca dê o prêmio antes do tempo.”
Homens como Alfred Waladares são fascinados por mulheres puras; detestam não ser o primeiro na vida da mulher que escolhem para esposa.
Por mais que o deseje, não posso me entregar a Alfred — isso o afastaria.
Preciso de garantias: um diamante no anelar, um belo vestido de noiva e um cartão black.
Quero ser a senhora Waladares, e nada vai me impedir de conquistar esse posto.
Alfred é excêntrico, multimilionário, CEO do grupo Waladares Corporation. Foi eleito, pelo terceiro ano consecutivo, um dos homens mais poderosos do mundo.
Os Waladares são discretos — não se envolvem em escândalos nem gostam de exposição. Por isso, sempre me envolvi apenas com homens simples, para não chamar atenção.
Enquanto fingia ser uma virgem recatada diante de Alfred, deixei que ele me beijasse e, depois, saímos para jantar no seu restaurante preferido.
Naquela noite, quando cheguei em casa, Pietro me esperava — e a “festa” foi completa.
Antes de me casar com Alfred, queria aproveitar bastante com o meu soldadinho.
Vera pesquisou e decidiu fazer uma cirurgia íntima reparadora. Ninguém poderia afirmar com precisão que ela não era mais virgem, mas ela queria ter certeza. Sabia da aversão de Alfred a mulheres sexualmente experientes, e por isso fingia ser pura e recatada.
E o conquistou.
Narradora
Alfred Waladares é um homem astuto e audacioso nos negócios. Desde os dezesseis anos, aprendeu a ser comprometido. Agora, aos vinte e oito, sente que chegou a hora de se casar. Seu avô sempre o lembrava:
> “No aniversário de vinte e quatro anos da sua noiva, vocês devem se casar.”
O único empecilho era o amor que Alfred nutria pela doce e ambiciosa atriz Vera Lemos.
Após deixar a moça em casa, Alfred foi direto para a mansão. Entrou em seu escritório, serviu uma dose de uísque e permaneceu pensativo. O ambiente estava silencioso.
Afrouxou a gravata, retirou-a e, com o copo na mão, girava-o, observando os cubos de gelo dançarem no líquido âmbar.
Após duas batidas na porta, Luís Tigre, seu assessor, entrou e ficou em silêncio, observando o jovem mestre.
— Trouxe o que pedi? — perguntou Alfred, sem levantar os olhos.
Luís hesitou. Trabalhava para ele há cinco anos, desde que o velho mestre se aposentou. Sabia que Alfred estava envolvido com uma atriz — um relacionamento platônico, na opinião dele.
Não via sinceridade naquela mulher, mas não era pago para ter opinião.
Mesmo assim, demorou a responder.
— Não te pago para me encarar, senhor Tigre! — cortou Alfred, irritado. — Trouxe o que pedi?
O assessor, desconcertado, entregou-lhe uma pasta . Alfred a pegou e com um leve aceno, dispensando-o.
Sozinho abriu a pasta e começou a ler as informações, e também haviam fotos anexadas ao relatório que lhe causaram uma expressão enigmática.
Depois de absorver tudo que leu e viu, Alfred fechou e guardou a pasta numa gaveta da sua escrivaninha, trancando-a. Subiu as escadas retirou as roupas deixando sobre uma jor e caminhou lentamente para o banheiro.
Ao passar em frente o enorme espelho que há no seu banheiro olha para o seu corpo atlético resultado de uma dieta balanceada e duas horas de exercícios regulares seus músculos bem definido pele bronzeada, os cabelos castanhos destacavam os seus olhos azuis.
Tomou uma ducha rápida, secou-se e deitou na cama completamente nu adormecendo logo em seguida.
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