Desde muito pequena eu era obrigada a trabalhar para colocar comida em casa, eu fui criada pelo meu pai, nunca soube da minha mãe e ele nunca fez questão de falar sobre ela mesmo que eu perguntasse.
Estudei até uma determinada época, e depois o meu pai me tirou da escola sem explicações.
Ele é viciado em jogos e bebidas, nossa casa é alugada, e eu não sei como ele consegue pagar o aluguel, não trabalha e quase nunca está em casa.
Eu vivo trancada no meu quarto, ele me prendeu aqui já tem uns três anos, não me dá comida sempre, não me deixa tomar banho todos os dias, e muito menos permite que eu veja a luz do sol.
Me sinto a Rapunzel presa no castelo, mas a única diferente, é que eu não tenho um príncipe encantado que vai vir me tirar da torre.
Já faz uns três dias que estou sem comer, estou pesando uns quarta e cinco quilos, minha boca está seca e ferida, e eu já não tenho forças para levar da cama e nem gritar por ajuda.
- pai, me dá um pouco de água, por favor! - ele está parado na minha frente, me observado sem nenhum pingo de sentimento nos olhos.
Como eu queria morrer para acabar com todo esse sofrimento, será que é pedir muito?
- por que está fazendo isso comigo? O que foi que eu fiz a você? - eu me faço essa pergunta todos os dias! O que eu fiz para o meu pai? Por que me trata dessa maneira?
- você nasceu, é isso que você fez! - ele pegou o copo de água que estava em suas mãos e bebeu bem na minha frente - anda, vai tomar banho, um amigo vai vir te ver hoje a noite.
- o que?
- um amigo vai vir te ver hoje a noite, e ele vai pagar uma boa grana por isso - ele me levantou da cama e me levou até o banheiro - vê se bota um sorriso nesse rosto, não quero que dê uma má impressão para ele.
Eu ouvi bem? Ele vai trazer um amigo para...
Eu vomitei só de imaginar o que está me esperando essa noite.
Coloquei tudo que não tinha no meu estômago para fora, apenas um pouco de água e uma gosma verde.
Como ele teve essa coragem? Ele é meu pai! Por que tanto sofrimento? Por que toda essa dor?
Juntei as últimas forças que tinha e entrei debaixo do chuveiro com roupa e tudo.
Estou fraca, me sinto tonta e com a visão turva.
Deixei a alguma cair sobre mim, e aproveite para beber o máximo que pude, aos poucos fui tirando a roupa e aproveite a água que estava bem fria por sinal, cair sobre o meu corpo.
Desligue o chuveiro e me enrolei na toalha que estava na pia e sair do banheiro.
Olhei para o corredor e corri para o meu quarto trancado a porta logo em seguida.
Me vestir com presa e procurei algo que pudesse me defender do tal amigo do meu pai.
Me olhei no espelho e chorei sentindo medo do que possa acontecer comigo hoje a noite.
Eu tenho vinte anos, me chamo Jaiane e gostaria muito de um dia conhecer alguém que me amasse o suficiente ao ponto de me tirar dessa vida, alguém que me protegesse e não deixasse mal nenhum me atingir.
***
Às horas se passaram, e junto com elas a noite chegou, minutos depois eu ouvir vozes lá em baixo e alguém subindo as escadas.
Eu peguei um prego que achei debaixo da minha cama e segurei na minha mão pronta para atacar quem ousasse mexer em mim.
A porta foi aberta pelo meu pai, e junto com ele estava um homem barrigudo, que aparentava ter uns cinquenta anos de idade, usava uma calça jeans, camisa de manga preta, tênis meio velho e tinha uma barba bem grande.
- mas a sua filha é uma gracinha, apesar de estar bem magra e mal tratada, ainda sim é bonita - ele sorriu para mim, e como uma tentativa de pedir socorro, olhei para o meu pai implorando para que isso fosse um pesadelo.
Ele deviou seu olhar do meu e olhou para o homem.
- ela nunca esteve com nenhum outro homem, e sabe que nessas circunstâncias o valor é maior.
- pensei que já tínhamos acertado o preço - eles ficaram discutindo por alguns segundos até que entraram em um acordo, logo em seguida o meu pai saiu do quarto e fechou a porta me deixando sozinha com o homem.
- moço, por favor, não faz isso! - talvez se eu implorar ele possa me deixar em paz - eu estou fraca, não me alimento a dias e não tenho forças nem mesmo para andar ou falar - deixei o desespero tomar conta de mim - a gente pode fingir, eu não sei.
- não precisa se preocupar, docinho, eu prometo que vou ser bem carinhoso com você - ele tirou a camisa, e automaticamente levantei da cama indo para o canto do quarto.
- não se aproxime, não chegue perto de mim! - joguei o meu abajur em sua direção sentindo meu coração acelerar.
- está louca? O seu pai disse que você era bem tranquila! - ele fechou a cara e avançou na minha direção com violência.
Ele segurou os meus braços com força os machucando, e me jogou na cama enquanto eu gritava para que me deixasse em paz.
Ele rasgou parte da minha blusa deixando o meu sutiã exposto, e sem pensar duas vezes e em uma tentativa de me proteger, eu enfiei o prego em seu olho, foram várias vezes até que ele me soltasse de uma vez.
Ele caiu no chão gritando enquanto o seu olho jorrava sangue por todo o quarto.
Meu pai subiu e abriu a porta do quarto com violência e o semblante preocupado.
- o que você fez sua vagabunda? - ele correu até o homem no chão que berrava e gritava de dor, e depois veio até mim, dando um tapa no meu rosto - está louca? Ele é um policial importante sua desgraçada! Está vendo em que situação nos colocou? - ele chacoalhou os meus veia com força.
Eu não consigo acreditar que estou vivendo isso, meu pai, que deveria me amar e proteger está me tratando pior do que um pedaço de pano velho ou carne podre.
Ele ajudou o homem a se levantar, e juntos saíram do meu quarto.
Eu corri para a porta e a tranquei.
Empurrei a minha cômoda com o resto da força que tinha e coloquei atrás dela.
Troquei a minha blusa, e sentei na cama olhando os roxos que as mãos dele deixou nos meus braços.
Deitei na cama sentindo a minha barriga doer por causa da fome e chorei sem que houvesse amanhã.
Eu só queria sair desse sofrimento, e se a morte for a solução, eu vou ficar aqui até que isso aconteça.
Essa é a nossa personagem principal, vai ficar um pouco mais madura com o tempo, mas, por enquanto, ela está assim.
Meu pai voltou para casa ainda na madrugada, eu não consegui dormir com medo de algo me acontecer ou ele acabar voltando com aquele homem, eu não sei se conseguiriam me proteger outra vez.
Ouvi os passos dele pelo corredor, e ouvi também ele falar alguma coisa no telefone.
Quando foi de manhã, ele entrou no quarto empurrando a porta com força, eu voltei a pegar o prego, e mesmo que fosse o meu pai, eu não iria excitar em mim proteger. Ele não teve pena de mim, e nem amor o suficiente para me manter longe das coisas e pessoas ruins do mundo, ao contrário, ele me mantém trancada nesse quarto, doente, sem conseguir ver a luz do sol, sem comer e completamente fraca.
- pai, por quê não me deixa ir embora daqui? - estou no canto do quarto, encostada na parede e sem forças para lutar - ou deixa eu sair um pouco? Eu posso te ajudar nas contas, posso arrumar um emprego.
Ele está com uma garrafa de bebida na mão, consigo sentir o cheiro forte do Álcool e cigarro.
- você deixou o cara cego, e agora ele vai acabar comigo! - ele jogou a garrafa no chão - tem noção do que fez? Aquele dinheiro era para comprar comida e pagar a merda do aluguel! - ele veio até mim, e com força me pegou pelo cabelo e me tirou do quarto.
Ele me arrastou pelo corredor até que estivéssemos na sala.
Faz tanto tempo que não venho até essa parte da casa que chega a ser estranho.
- o que é isso, pai? - tem três homens na sala, estavam sentados no sofá até chegarmos, eu os olhei assustada, com a visão turva e um pouco fraca, mas pude vê-los perfeitamente.
- o significa isso, Maximiliano? - um dos homens olhou para o meu pai parecendo não entender o que estava acontecendo.
Ele é bonito, forte, parece ter lá para os seus trinta anos, cabelos pretos e perfeitamente jogados para trás, um olhar marcante, está bem vestido, barba bem feita e uma pela de dar inveja a qualquer um.
- ela tem vinte anos, e é um enorme sacrifício o que estou fazendo, mas eu não tenho muito o que fazer - ele me soltou e me jogou para cima do homem, eu cambiei um pouco, mas os seus braços fortes me seguraram.
Ele me olhou de forma estranha, tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, enquanto a sua outra mão segurava a minha cintura.
- está vendendo a sua filha? - ele olhou para o meu pai, e me jogou para cima dos outros homens.
- ela nunca esteve com nenhum homem, tem bons modos, parou de estudar no ensino médio para me ajudar em casa, e eu também preferi mantê-la afastada dos males do mundo - ele está completamente embriagado, as palavras nem sequer saem direito da sua boca.
- e pelo visto cuidou muito bem da sua filha, olha só o estado deplorável que ela está! - ele alterou o tom de voz - eu deveria te matar aqui mesmo, sabia? - ele deu um passo para frente, e tirou uma arma da cintura fazendo meu pai cambalear para trás - quanto você quer por ela?
- quinhentos mil, é quanto ela vale? - ele disse decidido - não aceito menos que isso, é uma menina jovem, e sabe que posso achar outras ofertas, é pegar ou largar.
- está maluco? - o homem apontou a arma para o meu pai, e deu um soco no rosto dele - está casa é minha, Maximiliano! Você está me devendo quase seis meses de aluguel, e agora está querendo me vender a sua filha ao invés de pagar a merda da dívida? - o homem está bem alterado, nunca tinha o visto antes e não sabia que era dono dessa casa.
- não faça nada com ele, por favor! - tentei me soltar dos braços do homem que me segurava, mas as minhas pernas fraquejaram - eu posso arrumar um emprego e pagar o aluguel.
Ele me olhou de relance, e depois voltou a atenção para o meu pai.
- eu deveria te matar, é um verme! - ele cuspiu no chão.
- essa garota só me trouxe problemas! Ela deixou o delegado cego, e ele prometeu se vingar de mim! - meu pai me olhou com raiva e fúria, enquanto eu implorava para ele não deixar esse homem me levar embora, mas eu acho que dessa vez não tenho muito o que fazer, já estou sem forças para lutar.
- você fez isso? - o homem veio em minha direção com curiosidade no rosto.
- eu só fiz isso para me defender, o meu pai, ele queria que eu me deitasse com aquele homem por dinheiro! - soltei um soluço de choro - por favor, não faça nada comigo, eu juro que vou tentar arrumar um emprego...
- Você acha que está em condições de fazer alguma coisa? Olha só para você? Está horrível! - ele fechou os punhos, e pediu para que me colocasse sentada no sofá - vamos lá, me conta o que está acontecendo aqui.
Eu olhei para o meu pai, e ele desviou o olhar do meu, e eu pensei bem, e se talvez eu contar tudo que aconteceu comigo nos últimos anos, ele possa ter pena e me deixe ir embora.
- o meu pai me manteve trancada aqui durante alguns anos, ele me tirou da escola, e me trancou no quarto - olhei para os outros homens atrás de mim, enquanto buscava forças para falar, minha garganta está seca e os lábios ressecados - eu ja não me alimento há muitos dias, e é sempre assim - passei minhas mãos no rosto - eu já não aguento mais! Eu tomo banho quase um vez na vida! Eu não bebo água, não saio, não vejo a luz do dia por que o quarto tem grades por dentro e por fora me impedindo de abrir as janelas, o meu estômago dói de fome e eu não sinto vontade de viver, e me faria um grande favor se acabasse logo com o meu sofrimento - minha voz está fraca, minha visão turva, e eu acho que chegou a minha hora, ou está bem próximo de eu partir dessa para melhor.
- eu vou comprar você do seu pai, e a partir de hoje, você é minha! - ele levantou do sofá, enquanto eu negava.
- pai, não faz isso, por favor! - tentei levantar do sofá, mas cair no chão - por favor, não faça isso comigo! - eu estou implorando por misericórdia ao homem que me deu a vida, céus! O que eu fiz de tão ruim para merecer isso? Prefiro ficar trancada no quarto ao ser vendida para um homem que eu nunca vi na vida, apesar de bonito, continua sendo um completo estranho.
- eu vou te dar duzentos mil, e se contente com isso! - ele segurou meu pai pela gola da camisa - não te quero mais na minha casa, saia daqui o quanto antes e não a procure, ouviu bem?
Eu queria protestar, queria poder ter forças para sair correndo daqui e fugir de tudo isso, mas a escuridão tomou conta de mim.
E eu pedi a Deus que me levasse de uma vez.
~ William ~
Eu me chamo William Marquês, acabei de fazer trinta anos, tive que assumir os negócios da família quando o meu pai morreu, eu não queria muito, mas não tive escolha.
Meu tio e o meu irmão são as pessoas que me ajudam em tudo, mas a maior parte das coisas sou eu que tenho que resolver.
Meu pai deixou muitas casas, restaurantes, bares, hotéis, sociedades em empresas na qual as maiores ações são minhas, cassinos e casas noturnas.
Uma das casas está alugada para o Maximiliano, ele já está aqui há muito anos, durante alguns meses o meu irmão veio cobrar o aluguel, mas ele sempre inventava uma desculpa, e hoje eu vim resolver esses problemas.
Para falar a verdade, foi uma boa ideia ter vindo, assim que cheguei aqui, vi o estado deplorável que estava, e pior ainda, é o estado dessa menina.
Não sei o porquê, mas alguma coisa nela me deixou intrigado, os olhos com medo, o rosto doce e suave, a inocência em tudo o que diz e fala.
Ela está bem mal, magra, com olheiras, a boca está seca e os lábios feridos, e sem falar nas marcas em seu braço.
Eu fiz um cheque e joguei em cima de Maximiliano, e espero não ter que vê-lo novamente. Já tenho problemas o suficiente para resolver.
- olha aqui, seu desgraçado, se eu tiver que ver esse seu rosto imundo outra vez, não vou excitar em te matar, ouviu bem? Você é um merda! - dei um soco em seu rosto o fazendo cair para trás - vou mandar virem averiguar se já desocupou a casa, com esse dinheiro da para comprar uma simples ou que você quiser, mas saia daqui.
Olhei a menina, ela está com o olhar assustado, já não tem forças nem mesmo para falar.
Eu a carreguei no colo, e fui andando até o meu carro sobre os olhares dos meninos.
Ela queria protestar, mas acabou desmaiado ainda nos meus braços, é a segunda vez que isso acontece em poucos minutos.
- vai colocá-la para trabalhar no bordel? - Sebastian olhou para mim com as sobrancelhas erguidas e eu neguei.
- ela agora é minha, e ninguém, ouviu bem? Ninguém encosta um dedo nela - coloquei ela no banco dos fundos quanto os meninos iam no outro carro, e pedi para o motorista nos levar para casa.
***
Durante o caminho, liguei para Miguel, é um grande amigo e médico de confiança, ela precisa ser atendida, está fraca e talvez não aguentei passar dessa noite.
- então, Miguel? - assim que chegamos em casa, eu a coloquei em um dos quartos de hóspedes, e pedi para Cecília, a governanta, preparar uma sopa bem forte, e também providenciar roupas novas para ela.
- ela está muito fraca, anemia, desnutrição, precisa fazer alguns exames com urgência! - ele tirou o sangue dela, e também a colocou no soro.
Está desidratada, e isso vai fazê-la ficar um pouquinho mais forte, também me deu a receita dos remédios, e logo mandei alguns homens ir comprar de presa.
- quem é ela? - ele me olhou curioso e eu suspirei.
- eu a comprei do próprio pai, estava me devendo um dinheiro, e o desgraçado vendeu a própria filha - sentei na ponta da cama e olhei para ele.
- você nunca trouxe nenhuma mulher para sua casa, por que traria uma desconhecida?
- eu não sei, alguma coisa nela me intrigou, é apenas uma menina - levantei da cama e peguei minha arma, que desde então estava no criado mudo - quero que deixe a sua melhor enfermeira para cuidar dela até que fique bem, sabe que sou generoso quanto ao pagamento.
Miguel foi embora, e disse que mandaria a enfermeira, e junto os resultados dos exames.
Entrei no meu quarto e fui direto para o banheiro, preciso aliviar toda essa tensão que estou sentindo.
Demorei uns trinta minutos, e logo depois saí com uma toalha enrolada na cintura.
Suspirei pesado e me olhei no espelho, o que está acontecendo comigo? Por que aquela garota me intrigou tanto? Por que estou me sentindo ansioso para vê-la acordada novamente, para vê-la bem?
Suspirei e vesti a minha roupa, passei um perfume e saí do quarto indo em direção ao que ela está.
Suspirei e abri a porta, ela estava acordada quando entrei, ainda deitada na cama, ela me olhou assustado, depois tocou na agulha ligada ao seu braço.
- não tire o soro, está desidratada e precisa dele para ficar bem - ela olhou para as suas roupas que agora estão diferentes das que chegou aqui - Cecília trocou suas roupas, ela é a governanta e vai ajudar você no que for preciso.
Ela tentou levantar da cama, mas o seu corpo acabou fraquejando e eu me aproximei para ajudá-la.
- um médico veio te avaliar, ele disse que está bem doente, mas vai ficar boa se seguir os devidos cuidados e tomar os medicamentos em ordem - sentei ao seu lado sobre o seu olhar, e pude perceber o quão lindo são os olhos dela, é de um azul tão chamativo - não precisa ficar assustada, está protegida nessa casa, nem o seu pai ou qualquer outra pessoa vão te fazer mal outra vez - eu iria levantar da cama, mas sua mão frágil me segurou, e uma lágrima caiu do seu rosto.
- não vai, por favor! - ela me abraçou de maneira inesperada, e caiu no choro descontroladamente - muito obrigado, eu juro que não vai se arrepender do que fez, eu vou ser invisível nessa casa, eu sei passar, cozinhar, limpar as coisas - sua voz falha e fraca, agora está rouca e trêmula.
Eu correspondi ao seu abraço, e pude sentir o cheiro do seu cabelo, não sei ao certo do que é, mas apesar de bagunçado, tem um cheiro doce e é muito bonito.
- você que me conta sem pressa tudo que aconteceu? - ela se afastou, e enxugou as lágrimas - você tem mãe ou alguma outra pessoas além do seu pai?
- eu não sei quem é a minha mãe, nunca a vi e ele nunca falou sobre ela por mais que eu tenha perguntado - ela fungou e coçou a garganta, deve está doendo pela falta de água - eu estudei até o ensino médio, faltava pouco para acabar e o meu pai me tirou da escola de uma hora para outra - ela suspirou pesado - ele me trancou no quarto a uns três anos atrás, sempre bebendo muito, viciado em jogos, e eu sempre lá.
- ele não te alimentava?
- não, foram poucas as vezes que comi, bebi ou tomei banho lá naquela casa, foram três anos de sofrimento, três anos sem ver a luz do sol, sem ver outras pessoas - ela sorriu sem graça - eu pensei que fosse morrer naquele lugar, e eu as vezes queria que isso acontecesse - ela fechou os olhos, e levou a mão até a barriga - você se importa se eu me deitar um pouquinho?
- não, eu vou pedir para Cecília trazer algo para comer.
- vai voltar?
- sim, eu vou voltar para comer aqui com você - levantei da cama e saí do quarto fechando a porta.
Desci as escadas e logo pude ver o meu tio e os meninos na sala.
- soube que você comprou uma garota das boas, hein? A casa noturna vai fazer um grande sucesso quando anunciarmos que temos carne nova - ela deu um trago em seu charuto e me olhou com orgulho.
- ela não vai para o bordel - não vou colocá-la naquele lugar, acabou de sair de um pesadelo para entrar em outro? Apesar de que as meninas que estão lá, a maioria são por vontade própria, ou por que tem uma dívida comigo que não conseguiram pagar.
- como assim? Soube que deu duzentos mil por ela, é uma peça de ouro, William, sabe quanto vamos ganhar com ela? Poderíamos fazer um leilão, seria o maior evento dessa cidade! - ele colocou seu charuto em cima do pratinho na mesa - então? O que vai fazer?
- eu já disse que ela não vai para o bordel! - coloquei um pouco de whisky puro para mim e dei um gole - ela é minha, ouviram bem? - me aproximei deles com o olhar ameaçador, e a voz séria - vou pedir a Júlia para que a faça companhia - coloquei o copo de volta na mesa.
- o que está acontecendo, William? Eu nunca te vi dessa maneira - meu tio se chama Luiz, ele me ajudou muito quando o meu pai morreu, tenho um grande respeito e admiração por ele, mas isso não lhe dá o direito de se meter em meus assuntos particulares - você acabou de conhecer essa menina, não vai me dizer que está apaixonado!? Ou é amor à primeira vista? - ele debochou e eu neguei.
- eu não estou apaixonado, como disse, acabei de conhecê-la, e eu a comprei para mim e não para colocá-la no bordel, então o assunto está resolvido!
- tudo bem, já entendemos, a garota está sob a sua proteção, mas eu acredito que a Marisa não vai gostar de saber que você está com essa menina na sua casa. Casa essa que você nunca a trouxe.
- Marisa não tem nada haver com a minha vida, sabe que ela só foi mais uma das minhas diversões, eu não devo satisfação nem a ela, e nem a ninguém sobre a minha vida pessoal.
Deixei eles na sala e fui até a cozinha pedindo a Cecília que leve a sopa que pedi para fazer até o quarto dela, depois subir e fui para o meu, está tarde e eu preciso descansar, o dia foi cheio e amanhã tem muita coisa para fazer.
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