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A Mais Bela Das Plebeias

Elenco

...Serva Plebeia° Eleanor...

...(Protagonista)...

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...Baronesa° Emily Victoria Kensington...

...(Meia-irmã da Protagonista)...

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...Baronesa° Lauren Victoria Kensington...

...(Madrasta da Protagonista)...

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...Barão° Lucas Victoria Kensington...

...(Meio-irmão da protagonista)...

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...Barão° Art Victoria Kensington...

...(Pai da Protagonista)...

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...Arquiduque° Lucien Silverlake...

...(Protagonista Masculino)...

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...Servo do Arquiduque de Silverlake° Lavosk Durien...

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...Príncipe° Maximilian Von Everhart...

...(Filho do Rei)...

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...Princesa° Charlotte Von Everhart...

...(Filha do Rei)...

Minha Santa Deusa!

Meus dias corriam sempre no mesmo compasso tedioso: trabalho, casa, e da casa para a biblioteca. Eu encontrava refúgio nos livros antigos, especialmente nas histórias da era vitoriana. Amava a atmosfera, a linguagem rebuscada, o perfume imaginário de papéis amarelados. Contudo, quase sempre detestava os finais. Eram apressados, vazios de alma.

Foi então que decidi escrever meus próprios romances. O problema, porém, era sempre o mesmo: não conseguia terminá-los. Faltava-me inspiração. Afinal, como narrar experiências que eu jamais havia vivido?

Tudo mudou no instante em que um maldito ônibus me ceifou da realidade. Quando despertei, não estava no hospital — mas em um templo etéreo, envolto por luz dourada. À minha frente, surgia uma divindade de beleza indescritível: a deusa Luminus.

Com voz melodiosa, ela me ofereceu uma segunda chance: renasceria sob o nome de Eleanor Victoria Kensington. Não revelou nada sobre minha nova identidade, mas prometeu conceder-me uma dádiva inestimável — uma beleza arrebatadora, a mente prodigiosa de uma erudita e o poder de manejar a magícula, essência pura da magia.

Sim, magia existia naquele mundo. E eu teria mana inesgotável. Contudo, havia um detalhe que a deusa esqueceu de mencionar: naquele reino, a magia era privilégio masculino, e apenas os nobres a herdavam. Mulheres, raramente, nasciam com tal dom — e, quando o possuíam, suas habilidades eram restritas à cura, à comunicação com animais, ou ao cultivo de plantações.

O que me intrigou ainda mais foi descobrir que Luminus era uma devota dos romances de época do meu mundo. E, para minha perplexidade, ela revelara ser leitora assídua das minhas próprias histórias — aquelas jamais publicadas. Perguntou-me por que eu nunca dera um final a elas. Não soube responder.

Antes de enviar minha alma, a deusa declarou:

"Seus finais não nasceram porque te faltava viver. Agora, como Eleanor, provarás alegrias, dores e dilemas. Só então compreenderás o peso de um desfecho. Este será o presente que te dou: a inspiração que tanto buscaste."

E assim, mergulhei no abismo da reencarnação.

Reencarnei no corpo de um bebê. Minha primeira lembrança foi amarga: diante de mim, uma jovem de cabelos castanhos ondulados e olhos esverdeados exalava seu último suspiro. Minha mãe. Partiu antes que eu pudesse conhecê-la.

O destino, cruel e inflexível, entregou-me à casa dos Kensington, mas não como filha legítima. Fui marcada desde o berço como a bastarda do Barão Art Kensington, sujeita às zombarias dos irmãos e ao desprezo silencioso da baronesa. Cresci como serva, e não como herdeira.

Ainda assim, Eleanor não se curvou. Minha beleza, rara e inquietante, fazia com que até as filhas da nobreza me observassem com inveja. E nos intervalos do serviço, minha verdadeira paixão florescia: entre as estantes da vasta biblioteca da família, eu lia escondida, absorvendo conhecimento como quem bebe um vinho proibido.

Certa manhã chuvosa, um anúncio caiu sobre a mansão como um trovão: o Arquiduque de Silverlake, homem de poder temido, exigia o cumprimento de um pacto antigo. Anos atrás, em uma viagem, salvara a vida do Barão Art; em troca, este lhe prometera a mão de uma de suas filhas.

O Barão gelou. Perder sua preciosa herdeira seria devastador. Mas a jovem baronesa Emily, em sua astúcia venenosa, sugeriu uma solução:

— “Pai, por que oferecer nossa joia mais reluzente quando tens uma… outra filha?”

A malícia de sua proposta era clara: entregar a bastarda em lugar da legítima.

Chamaram-me ao salão principal. Entrei com postura ereta, mas os olhos baixos, as mãos entrelaçadas nas costas.

— Vossa Excelência o Barão mandou me chamar? — minha voz era calma, embora o coração latejasse.

O salão, com seus candelabros dourados e tapeçarias pesadas, ecoou com a voz fria do Barão:

— Arrume suas coisas. Partirás para Silverlake. Serás esposa do Arquiduque.

Meus lábios se entreabriram, incrédulos.

— Mas, senhor… como poderia uma serva tornar-se esposa de tão ilustre senhor?

O Barão cerrou os punhos.

— Não ouses questionar! Obedece!

Inclinei-me em reverência e recuei. No caminho aos meus aposentos, encontrei Emily, encostada com ar vitorioso.

— Deixe esses trapos, bastarda. Providenciei alguns dos meus vestidos. Não podes apresentar-te diante do Arquiduque com ares de criada. — Seus olhos faiscavam de desprezo. — E lembra-te: erguerás a voz e dirás ser filha do Barão. Não me faças passar vergonha.

Assenti em silêncio, mesmo que cada palavra dela fosse uma lâmina contra minha dignidade.

Horas mais tarde, a velha carruagem Kensington rangia pelas estradas molhadas até o território de Silverlake. Quando, enfim, as colinas abriram-se, avistei o castelo — uma fortaleza de pedra negra erguida sobre o lago prateado, imponente como um titã adormecido.

Ao descer, um homem de postura distinta aproximou-se. Seu cabelo grisalho contrastava com a energia nos olhos azuis.

— Seja bem-vinda, Baronesa Kensington — disse, curvando-se levemente. — Sou Lavosk Durien, servo do Arquiduque.

Inclinei-me educadamente.

— A honra é minha, Senhor Lavosk.

Ele sorriu com modéstia.

— Senhora, não sou mais que um servo. O Arquiduque aguarda. Peço que me siga.

E assim, com o coração oscilando entre temor e fascínio, adentrei os portões da corte de Silverlake, sem imaginar que aquele passo era o verdadeiro início da minha história.

Ilegítima

{Lucien}

O Reino de Silverlake erguia-se como uma fortaleza imponente sobre o lago prateado. As pedras negras de seu castelo refletiam a chuva que escorria como lágrimas de aço pelas muralhas. Guardas perfilavam-se nas passagens, e o ar carregava o peso da expectativa: afinal, naquele dia, o Arquiduque receberia a jovem destinada a honrar o pacto firmado anos atrás.

••• Após batalhas infindas e conquistas que transformaram meu nome em lenda, alcancei o mérito que outrora pertencia apenas ao sangue de meu pai. O norte, que chamava os Silverlake de bestas mortais, agora teme o som de meu passo. Fiz de uma cidade esquecida um trono, e de meu povo, guerreiros. Sou Lucien Silverlake, o Arquiduque. E hoje, uma dívida antiga será finalmente cobrada. •••

A lembrança era clara: um barão presunçoso, de valor tão frágil quanto o brilho de suas roupas caras, ousara atravessar os vales proibidos. Uma besta alada quase o partira em dois. Eu o salvei, mas o preço foi selado em sangue: uma de suas futuras filhas seria entregue a mim, como noiva, quando atingisse a maioridade.

Agora, o tempo cobrava sua promessa.

A carruagem Kensington aproximou-se do castelo sob o estrondo dos trovões. O som das rodas contra a pedra ecoou até o salão principal, onde eu aguardava em meu trono.

••• Não sabia o que esperar. Se a jovem herdara o caráter do pai, seria uma praga em minha casa. Mas havia em mim uma centelha de curiosidade — uma expectativa estranha, quase incômoda, de ver o rosto daquela que chegava não por escolha, mas por pacto. •••

As portas abriram. Eleanor Kensington caminhou pelo salão, seus passos medidos, a cabeça inclinada em reverência. Os ministros, mercadores e nobres presentes prenderam a respiração. Afinal, aquele era o dia em que eu, Lucien Silverlake, revelaria diante de todos a mulher que, por obrigação do destino, deveria se tornar minha esposa.

••• Ela não me fitava. Seus olhos permaneceram baixos, e a cada passo, eu ansiava que levantasse o rosto. Quando enfim parou diante de mim, pude vê-la. Seus cabelos castanhos ondulavam como se guardassem o perfume da chuva, e seus olhos, quando ergueram-se por um instante, eram como o céu do amanhecer — belos e inconstantes, azuis e cinzentos ao mesmo tempo. Naquele instante, percebi que ela não era apenas uma moeda de troca. Não. Havia nela algo que faria tremer o curso de minha própria vida. •••

O vestido que usava era simples, quase modesto diante da opulência do salão, mas nela assumia a dignidade de uma rainha. O contraste era um desafio, e aquele desafio despertava em mim algo quase selvagem.

— Vossa Excelência, Arquiduque — anunciou Lavosk com solenidade —, apresento-vos a Baronesa de Kensington, filha mais nova do Barão Art Victoria Kensington.

Ergui uma sobrancelha.

— Filha mais nova? Não imaginava que o Barão entregaria justamente a caçula. Ainda assim… — meus olhos se estreitaram, comparando-lhe os traços — há semelhança. Especialmente nos olhos. Diga-me, senhorita, qual a sua idade?

Eleanor ergueu-se com firmeza inesperada.

— Meu senhor, completo dezoito anos hoje.

Sorri de canto.

— Dois motivos para celebração, então. Levem a Baronesa aos seus aposentos e preparem-na para a cerimônia.

A ordem ecoou pelo salão. Todos se curvaram em reverência antes que eu deixasse o trono.

......................

No quarto, o barão encontrava-se pensativo. Enquanto os servos o ajudavam a vestir-se, sua mente estava fixada nos incríveis olhos azuis da baronesa. Nunca havia visto um céu tão azul, mas ao mesmo tempo tão cinzento. Era uma mistura de tons que o deixava sem o que pensar. Logo, sua atenção voltou-se para os lábios pequenos e esculpidos da jovem, sem mencionar o rosto que traçava uma linha curva, tornando-a ainda mais delicada.

Antes que seus pensamentos o dominassem completamente, o barão dirigiu-se aos aposentos da baronesa, onde a encontrou ainda mais bonita do que em seus vestidos simples.

Eleanor estava diante do espelho, envolta no vestido que os criados haviam preparado para a cerimônia. O cetim cor de champanhe refletia a luz das velas, e cada dobra parecia desenhar um segredo antigo. A renda rendilhava-lhe os ombros nus, expondo a delicadeza de sua pele, mas havia algo de desafiante naquela exposição — como se a própria vulnerabilidade fosse sua arma.

...{Eleanor}...

••• A cada ajuste das fitas, a cada botão fechado, eu sentia como se estivesse sendo selada dentro de um destino que não escolhi. O vestido era belo, sim, talvez o mais belo que já vesti. Mas não conseguia deixar de vê-lo como uma prisão bordada em fios dourados. Ainda assim, quando o tecido pesado se abriu em ondas na saia, e vi meu reflexo erguido em nobreza, compreendi: se era para ser peça em um jogo, eu escolheria ser a peça que mudaria as regras. •••

Quando a porta rangeu, revelando a figura do Arquiduque, Eleanor permaneceu imóvel, como se o encarasse já de pé num campo de batalha.

Lucien não disfarçou. Seus olhos percorreram o traje, descendo das rendas sutis no colo até a imponência da saia volumosa. A rigidez habitual em sua expressão se quebrou, por um instante, num olhar quase faminto.

— Hm… — sua voz grave soou como trovão abafado — devo admitir, baronesa, não esperava que um vestido simples carregasse tamanha força.

Ele se aproximou, e o peso de sua presença preenchia o quarto como se fosse impossível respirar.

...{Lucien}...

••• Era impossível negar: havia nela uma beleza que não nascia apenas do tecido ou das pérolas no decote. O vestido não a cobria, a coroava. E isso me irritava. Porque cada detalhe que deveria torná-la submissa, apenas a tornava mais soberana. •••

Lucien parou diante dela, inclinando o rosto como quem avalia uma joia rara.

— Lembre-se, Eleanor… este traje não é apenas para adornar-lhe. Ele anuncia ao mundo quem você será ao meu lado.

Mas quando seus olhos encontraram os dela, a ameaça implícita se transformou em outra coisa — respeito, ainda que velado.

Eleanor ergueu o queixo.

— Pois então que o mundo saiba, meu senhor. Este vestido não me faz pertencer-lhe… apenas prova que eu não sou menos do que ninguém nesta corte.

O silêncio após a declaração foi cortante. Pela primeira vez, talvez, Lucien não respondeu de imediato.

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Por um instante, Lucien sentiu um impulso primitivo de arrancar aquele tecido e despir dela não apenas o vestido, mas cada camada de segredo. Ainda assim, conteve-se.

Aproximou-se devagar, sua voz carregada de autoridade e impaciência:

— Conte-me a verdade, Baronesa Kensington. Por que seu pai enviou a filha mais nova em vez da mais velha? Normalmente, os pais são mais apegados aos filhos mais jovens. Não ouse mentir para mim. O mesmo poder que seu odioso pai usou para entregá-la a mim, eu tenho para reduzir toda a sua linhagem a cinzas.

O silêncio após a declaração foi cortante. Pela primeira vez, Eleanor não desviou o olhar. E, num tom calmo, pediu:

— Mesmo que eu revele a verdade... poderia fazer-me um favor?

Lucien arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— Você ousa me pedir algo quando está à beira de ser desmascarada? Confesso, admiro sua coragem, baronesa. Fale. Talvez eu considere.

Respirando fundo, Eleanor confessou:

— Não sou quem acreditam que eu seja. Sou uma filha ilegítima. Minha mãe era uma criada. Em um momento de fraqueza e bebedeira do Barão Kensington, fui concebida. A baronesa, esposa dele, tentou me matar antes mesmo de nascer. Mas, por capricho da deusa — ou ironia do destino —, nasci com uma beleza que me salvou. O barão decidiu me manter por conveniência política. Nunca fui nada além de um objeto em suas mãos.

O Duque de Silverlake a fitou, atônito. Por um instante, parecia que as paredes do quarto haviam se fechado em silêncio. Então, a fúria tomou-lhe o olhar.

— Esse desgraçado...! — exclamou, num tom que fez estremecer até as velas no candelabro. — Usar a própria filha como moeda? Você não deveria ter suportado tamanha crueldade.

Lucien se ergueu, impondo sua presença como se a própria sombra dele pesasse sobre o ambiente.

— Escute bem, Eleanor. O casamento permanecerá por três anos, até que seja legalmente anulado. Mas eu juro que, enquanto estiver ao meu lado, não será desrespeitada nem tratada como um joguete. Eu lhe darei o status que merece e a proteção que lhe foi negada desde o nascimento.

Ele se aproximou ainda mais, sua voz agora grave, quase como uma promessa e uma sentença ao mesmo tempo:

— Agora me diga... qual é o seu pedido?

Os olhos de Eleanor brilharam com uma determinação que não vinha apenas da dor, mas de um fogo próprio.

— Conceda-me o poder necessário para destruir a família que arruinou a vida de minha mãe... e que transformou a minha em sofrimento desde o primeiro respiro.

O silêncio voltou a dominar o quarto. Pela primeira vez, Lucien não respondeu de imediato. O peso da revelação, o veneno do pedido e a beleza incômoda daquela mulher se chocavam em seu íntimo. O Duque de Silverlake a encarou — e naquele instante, ele sabia que a história dos dois acabara de mudar para sempre.

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