NovelToon NovelToon

O Espectro

O Espectro de Amélia

Há uma pequena cidade no interior, quase esquecida pelo tempo, chamada Vila Nova. Ela era conhecida por suas lendas e histórias assustadoras que rondavam as colinas e florestas ao seu redor. Mas nenhuma era tão temida quanto a história do Espectro de Amélia.

Amélia fora uma jovem bela e cheia de vida, com longos cabelos negros e olhos profundos e penetrantes. Ela se apaixonou perdidamente por um jovem fazendeiro chamado Joaquim. Eles se encontravam todas as noites na clareira da floresta, longe dos olhares curiosos dos moradores da vila. Contudo, o pai de Amélia, um homem rígido e autoritário, não aprovava o romance. Determinado a separar o casal, ele forçou Amélia a se casar com um rico comerciante da cidade. Desesperada, Amélia fugiu para a floresta na noite anterior ao seu casamento arranjado, esperando encontrar consolo nos braços de Joaquim. Mas ele não apareceu. Acreditando que ele a havia abandonado, Amélia foi consumida pelo desespero e pela dor. Naquela noite, ela tirou a própria vida na clareira onde costumavam se encontrar, pendurando-se em um velho carvalho. Desde então, os habitantes de Vila Nova começaram a relatar aparições de uma figura fantasmagórica vagando pela floresta. Diziam que seu espírito estava preso, procurando por Joaquim, que nunca mais foi visto.

O Espectro de Amélia era conhecido por sua obsessão; qualquer homem que entrasse na floresta à noite estava destinado a nunca mais sair. Décadas se passaram, e a história de Amélia se tornou uma lenda local, contada para assustar crianças e manter os jovens longe da floresta após o anoitecer. Mas havia um jovem, Pedro, que sempre foi fascinado por essas histórias. Ele acreditava que, como muitas lendas, a história do Espectro de Amélia era apenas um mito exagerado ao longo dos anos. Decidido a provar que tudo não passava de uma farsa, Pedro planejou uma expedição à floresta. Na noite de lua cheia, ele se armou com uma lanterna e uma câmera, determinado a documentar sua aventura. Conforme adentrava na floresta, a atmosfera ao seu redor parecia mudar. O ar estava mais frio, e um silêncio opressor dominava o ambiente, interrompido apenas pelo som ocasional de folhas secas sendo pisadas. Pedro encontrou a clareira, o velho carvalho ainda estava lá, suas ramas estendendo-se como braços retorcidos contra o céu iluminado pela lua. Ele montou seu acampamento e esperou. As horas passaram lentamente, e Pedro começou a duvidar de sua própria coragem. Mas então, ele ouviu um sussurro.”Joaquim...”Pedro congelou. O sussurro parecia vir de todas as direções, ecoando entre as árvores. Ele olhou em volta, mas não viu nada. A lanterna tremeu, e por um breve momento, Pedro viu uma figura esbranquiçada entre as sombras. Seu coração disparou. Ele sabia que tinha visto algo – ou alguém.”Joaquim, você voltou para mim?”A voz era triste, cheia de uma melancolia que fez Pedro estremecer. Ele tentou responder, mas sua garganta estava seca de medo. A figura se aproximou, flutuando suavemente sobre o chão. Era uma mulher, seus longos cabelos negros esvoaçando como se estivessem submersos em água. Seus olhos eram vazios, mas fixos em Pedro.”Você me deixou... Por que me deixou?”Pedro finalmente encontrou sua voz. “Eu... Eu não sou Joaquim.”O espectro parou, seus olhos vazios de repente cheios de uma raiva fervente. “Mentiroso! Você me abandonou naquela noite! Eu esperei por você!”

Pedro recuou, tropeçando em suas próprias palavras. “Eu não sou ele! Meu nome é Pedro!”O espírito de Amélia avançou com uma velocidade assustadora, sua raiva crescendo a cada passo. “Você prometeu que me amaria para sempre! Você mentiu!” Desesperado, Pedro tentou correr, mas seus pés pareciam presos ao chão. A figura fantasmagórica estendeu a mão, seus dedos longos e frios como a morte envolvendo o braço de Pedro. Ele sentiu uma dor lancinante e gritou. A última coisa que ele viu foram os olhos furiosos e tristes de Amélia, antes de tudo escurecer.

Na manhã seguinte, os moradores da vila encontraram o acampamento de Pedro vazio. Seus pertences estavam lá, mas não havia sinal dele. A história se espalhou rapidamente, e Vila Nova acrescentou mais um capítulo à lenda do Espectro de Amélia. Agora, todos sabiam que a floresta não era lugar para os vivos após o anoitecer, especialmente para os jovens que ousavam desafiar o espectro de uma alma obsessiva.

E assim, a lenda de Amélia continuou, um aviso sombrio e eterno sobre o poder do amor não correspondido e a fúria de um espírito atormentado. Qualquer um que ousasse entrar na floresta à noite corria o risco de encontrar o destino sombrio que esperava na clareira sob o velho carvalho.

O investigador

O desaparecimento de Pedro abalou a pequena comunidade de Vila Nova. Apesar dos esforços da polícia local, não houve nenhuma pista que levasse ao paradeiro do jovem. A floresta, que já era evitada por muitos, tornou-se ainda mais temida. Os moradores sussurravam entre si, reforçando a crença de que o Espectro de Amélia havia reivindicado mais uma vítima. Entre aqueles que ouviram as histórias estava Lucas, um investigador particular de uma cidade vizinha. Ele tinha uma paixão por casos não resolvidos e lendas urbanas, e a história de Amélia chamou sua atenção. Lucas não acreditava em fantasmas, mas estava intrigado com o desaparecimento de Pedro. Decidido a encontrar respostas, ele se dirigiu a Vila Nova. Chegando à cidade, Lucas encontrou uma recepção fria. Os moradores estavam relutantes em falar com ele sobre Pedro ou a lenda de Amélia. Mas Lucas era persistente. Depois de alguns dias de investigação, ele conseguiu conversar com a família de Pedro. Os pais do jovem estavam devastados, mas forneceram a Lucas detalhes sobre a expedição de Pedro, incluindo a clareira e o velho carvalho. Equipado com um mapa e uma lanterna, Lucas partiu para a floresta ao entardecer. Ele sentia uma mistura de excitação e apreensão. Se houvesse algo ou alguém causando os desaparecimentos, ele estava determinado a descobrir. A floresta era densa e opressiva, e a escuridão parecia engolir a luz da lanterna. Mas Lucas continuou, guiado pelo mapa de Pedro. Chegando à clareira, ele encontrou o velho carvalho, exatamente como descrito. A clareira estava calma, quase serena, mas Lucas sentia uma presença. Ele montou seu acampamento e começou a inspecionar a área. Encontrou os restos do acampamento de Pedro, confirmando que o jovem havia estado ali. Mas não havia nenhum sinal de luta ou pistas óbvias sobre o que poderia ter acontecido. A noite avançava, e Lucas começou a sentir a mesma mudança na atmosfera que Pedro havia sentido. O ar ficou mais frio, e o silêncio era quase ensurdecedor. De repente, ele ouviu um sussurro.”Joaquim...” Lucas congelou, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Ele girou lentamente, iluminando a clareira com a lanterna. Não viu nada, mas a sensação de ser observado era inegável. Ele respirou fundo, tentando manter a calma. “Quem está aí?” Sua voz soou mais fraca do que ele pretendia. A figura esbranquiçada apareceu entre as árvores, como uma bruma se condensando em forma humana. “Joaquim, você voltou para mim?” A voz era triste, e Lucas percebeu a figura feminina com longos cabelos negros e olhos vazios.”Eu não sou Joaquim,” disse Lucas com firmeza. “Meu nome é Lucas. Estou aqui para ajudar.”A figura hesitou, seus olhos vazios parecendo focar nele por um momento. “Você... não é Joaquim?” Lucas balançou a cabeça. “Não, mas quero entender o que aconteceu aqui. Quero ajudar você.” O espectro de Amélia pareceu confusa, sua raiva diminuindo um pouco. “Ele prometeu voltar... Ele me abandonou.””Quem é Joaquim?” Lucas perguntou suavemente. “O que aconteceu entre vocês?”Amélia flutuou para mais perto, e Lucas sentiu um frio intenso em sua presença. “Ele prometeu que me amaria para sempre, mas me deixou. Naquela noite, eu esperei e esperei. A dor foi demais...””Você tirou sua própria vida,” Lucas completou, sentindo uma tristeza profunda por ela. “Mas não foi culpa sua. Você não merece ficar presa aqui.” Os olhos de Amélia pareciam se encher de uma tristeza ainda maior. “Eu só quero encontrar paz. Mas minha dor e minha raiva me mantêm aqui.” Lucas percebeu que tinha uma oportunidade. “Talvez eu possa ajudar você a encontrar essa paz. Mas preciso entender mais. Quem era Joaquim? O que aconteceu com ele?”Antes que Amélia pudesse responder, um grito ecoou pela floresta. Lucas girou a lanterna e viu outra figura – um jovem, claramente perdido e aterrorizado. Amélia recuou, seus olhos cheios de medo e raiva. “Outro... ele não pode ficar.” Lucas correu até o jovem, ajudando-o a se levantar. “Você está bem? O que está fazendo aqui?” O jovem, tremendo de medo, explicou que havia ouvido as histórias e queria provar sua coragem, mas agora estava arrependido de sua decisão.” Precisamos sair daqui,” disse Lucas, olhando para Amélia. “Prometo que voltarei e tentarei ajudar você, mas agora preciso levar esse jovem em segurança.” Amélia observou enquanto Lucas e o jovem saíam da clareira. Seus olhos vazios pareciam seguir cada movimento, mas ela não os impediu. Lucas sabia que ainda havia muito a descobrir, mas estava determinado a ajudar Amélia a encontrar paz e resolver o mistério que envolvia Vila Nova. Enquanto guiava o jovem de volta à cidade, Lucas sentiu uma nova determinação crescer dentro dele. A história de Amélia não era apenas uma lenda; era um grito de ajuda de um espírito atormentado. E ele estava decidido a atender esse chamado, não importando o que fosse necessário.

A clareira e seus segredos

Lucas estava determinado a descobrir a verdade por trás da maldição de Vila Nova e o que estava prendendo os espíritos de Amélia e Joaquim. Depois de dias pesquisando na biblioteca e conversando com os habitantes mais antigos da cidade, ele sentiu que estava se aproximando de algo importante. A clareira, onde Amélia havia tirado a própria vida, parecia ser o epicentro da atividade sobrenatural.

Uma noite, armado com sua câmera e gravador de voz, Lucas decidiu explorar a clareira sozinho. O ar estava denso e pesado, carregado com uma energia que ele não conseguia explicar. À medida que ele se aproximava, os sons da floresta diminuíam, como se até os animais evitassem aquele lugar amaldiçoado.

Ao chegar à clareira, Lucas montou seu equipamento e começou a explorar. Ele sentiu um arrepio na espinha quando percebeu que o local onde Amélia havia sido encontrada estava marcado por um círculo de pedras antigas, cobertas de musgo e raízes. Ele acendeu uma lanterna e começou a examinar as pedras mais de perto, notando símbolos gravados nelas, símbolos que ele reconheceu de seus estudos de ocultismo.

Enquanto ele examinava os símbolos, sentiu uma presença atrás de si. Virou-se rapidamente e viu a figura de uma mulher, translúcida e etérea, flutuando no ar. Era Amélia. Seus olhos tristes e angustiados fixaram-se nos dele, e ela começou a falar, sua voz como um sussurro no vento.

"Por favor, ajude-me. Estou presa aqui, presa pelo ódio e pela tristeza. Não consigo descansar."

Lucas tentou acalmá-la, perguntando como ele poderia ajudar. Amélia começou a contar sua história, e Lucas ouviu atentamente, gravando cada palavra.

"Joaquim e eu éramos apaixonados, mas nosso amor era proibido. Fomos traídos por alguém em quem confiávamos, alguém que não podia suportar a ideia de nos ver juntos. Foi ele quem tirou a vida de Joaquim, e a dor de sua perda foi mais do que eu podia suportar. Eu me entreguei ao desespero, mas agora estamos presos neste ciclo interminável de sofrimento."

Lucas sentiu uma onda de empatia e tristeza por Amélia. Ele prometeu a ela que faria tudo o que pudesse para libertá-la e a Joaquim. Mas ele sabia que precisava de mais informações. Voltou à cidade, determinado a descobrir quem havia traído Amélia e Joaquim.

No dia seguinte, Lucas foi até a casa de Dona Irene, uma das moradoras mais antigas da cidade. Ela o recebeu com um sorriso cansado e um olhar compreensivo.

"Eu sabia que você voltaria," disse ela. "Você tem um bom coração, Lucas. Eu posso ver isso."

Lucas contou a ela sobre sua experiência na clareira e sobre o que Amélia havia lhe dito. Dona Irene suspirou profundamente e começou a falar.

"Há algo que a maioria das pessoas nesta cidade prefere esquecer. Naquela época, Amélia estava noiva de um homem chamado Álvaro, um fazendeiro rico e influente. Ele era obcecado por ela, mas ela não o amava. Quando ele descobriu sobre Amélia e Joaquim, sua raiva não conheceu limites. Ele jurou que se não pudesse tê-la, ninguém mais poderia. Foi Álvaro quem orquestrou a morte de Joaquim, e a dor que ele causou levou Amélia ao desespero."

Lucas ficou chocado com a revelação. Ele sabia que precisava confrontar o espírito de Álvaro se quisesse libertar Amélia e Joaquim. Mas ele também sabia que isso não seria fácil.

Naquela noite, Lucas voltou à clareira, desta vez preparado para confrontar Álvaro. Ele trouxe consigo uma cruz antiga e um livro de orações que Dona Irene havia lhe dado, itens que ela acreditava ter o poder de afastar espíritos malignos.

Ao chegar à clareira, Lucas sentiu novamente a presença de Amélia. Ela parecia mais calma, mas ainda presa. De repente, uma sombra densa e opressiva começou a se formar diante dele, tomando a forma de um homem de aparência severa – Álvaro.

"Você ousa desafiar-me?" Álvaro rosnou, sua voz cheia de ódio. "Eu não permitirei que destrua o que construí."

Lucas firmou sua posição, segurando a cruz diante de si. "Não foi amor o que você tinha por Amélia. Foi posse. Você destruiu duas vidas por causa do seu egoísmo e agora deve deixar que encontrem paz."

Álvaro avançou, mas a luz da cruz e as palavras das orações de Lucas o mantiveram afastado. Lucas sentiu uma energia poderosa crescendo ao seu redor, como se a própria clareira estivesse ajudando na luta.

Com cada palavra, Álvaro parecia perder força, até que finalmente, com um grito de raiva e desespero, ele desapareceu, dissipando-se na noite. A clareira ficou em silêncio, a atmosfera pesada dissipando-se gradualmente.

Amélia apareceu novamente, mas desta vez, seu semblante era de alívio. "Obrigado, Lucas. Você nos libertou. Agora podemos finalmente descansar."

Enquanto Amélia desaparecia, Lucas sentiu uma profunda paz. Ele sabia que havia cumprido sua promessa. Na manhã seguinte, a cidade de Vila Nova despertou para uma nova era, livre do passado sombrio que a atormentava há tanto tempo.

Lucas se despediu de Dona Irene e dos outros moradores, sabendo que sua jornada estava longe de terminar. Mas ele também sabia que, onde quer que fosse, carregaria consigo a lembrança de Vila Nova e das almas que ajudou a libertar. Com um coração leve, ele partiu, pronto para enfrentar novos desafios e mistérios em seu caminho.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!