Há muitos séculos, exatamente seis mil anos, surgiu um pequeno lampejo de resquício de esperança, vindo de uma pequena cidadezinha no centro-oeste, mas ele acabou se perdendo no meio das grandes brisas suaves da neve.
No ano três mil seiscentos e pouco, ainda existia na terra de Lunizs as duas profecias relacionadas ao dominador que seria escolhido para finalmente despertar o espírito elemental. Assim, cumprindo aquilo que estava reservado para o destino do mundo, onde o grande mal seria liberto nas terras e haveria guerras atrás de conflitos.
Mas, como em toda boa história, o bem não venceu o mal, e não houve paz e harmonia durante anos. Entretanto, séculos se passaram e as linhagens antigas foram esquecidas, e aqueles que tinham a missão em suas mãos para manter o bem se recusaram a tal honra, sucumbindo ao mal.
As histórias das dinastias das realezas se passaram com o tempo, e novas foram criadas, deixando de lado tudo aquilo que antes existia e que era mantido pelos antigos reis e rainhas. O mundo então se transformou em pura maldade, e as poucas pessoas que escolhiam o bem tinham que viver escondidas e longe de olhos perigosos.
Ainda existiam aqueles que tinham esperança de que o bem um dia retornaria a brilhar e reinar nas terras de Lunizs, mas havia uma profecia a respeito de um escolhido que iria completar de uma vez por todas o império do mal, deixando assim de lado qualquer pingo de mudança.
Essa não é uma história em que o bem venceu o mal, mas que o mal se tornou um bem…
— Queima ela! Queima ela! — dizem vários homens, dando gargalhadas.
Homens alvoroçados estavam gritando de alegria e felicidade por terem conseguido finalmente capturar uma mulher que estava causando prejuízos para a maioria dos comerciantes locais.
Ela era muito sagaz, mas ultimamente estava tão confiante em si mesma que acabou sendo imprudente demais e foi pega em flagrante delito.
Tinha uma péssima reputação com os homens e, por ser uma mulher vivida, sabia bem como funcionavam as coisas pelo mundo. Mas, fora isso, ela era muito esperta e inteligente, embora poucos soubessem dessa sua qualidade. O que conheciam dela mesmo era que era uma mulher totalmente do mal e que, quando ficava irritada, matava por puro prazer e satisfação.
— Sua bruxa malvada! Te pegamos, gracinha! Agora vai queimar até os ossos para nunca mais roubar na vida! — Todos presentes ali no local gritam em acordo com aquela atrocidade insana e cruel.
Mas, quando todos menos esperavam, uma flecha certeira atingiu em cheio a tocha que seria usada para acender a lenha. E, quando todos olharam para a direção de onde ela foi disparada, só havia escuridão.
Aos poucos, uma sombra começou a surgir de repente, vinda do mesmo lugar do objeto que acertou seu alvo com perfeição. Um homem de aparência meio jovem e velho ao mesmo tempo, usando um capuz negro com pelos escuros ao redor, apareceu dando passos lentos, se aproximando dos homens que ficaram assustados com o ato repentino.
Eles olharam entre si e começaram a rir e dar gargalhadas, quando o homem de casaco preto parou, levantou a cabeça lentamente e olhou atentamente para eles.
Um dos homens perguntou o que ele queria e se aquela flecha era dele, e por qual motivo estava atrapalhando o ritual de morte de uma bruxa. O velho homem não respondeu nenhuma palavra, apenas ficou observando a mulher com um semblante de medo em seus olhos intensos e penetrantes.
Passados alguns segundos sem falar nada para os homens, um deles decidiu matá-lo por falta de respeito, e então dois deles correram em sua direção para atingi-lo com um machado na cabeça. Quando se aproximaram, duas flechas atingiram as cabeças dos dois homens, que caíram para trás de costas no chão.
Os outros ficaram surpresos, mas com raiva do acontecido. Então, puxaram suas espadas da bainha e gritaram alto, dizendo para pegá-lo e matá-lo sem dó. Logo em seguida, o jovem de aparência velha rapidamente retirou sua espada das costas e cravou no chão com força, e uma onda de energia das trevas foi liberada, jogando os homens com força contra o chão e deixando-os desmaiados com o impacto do poder.
A mulher que estava presa ficou em choque com toda aquela ação, mas seu medo de morrer desapareceu instantaneamente. Sabia que ele não a mataria, pois as bruxas eram conhecidas como mulheres que não tinham pena de ninguém e matavam sem piedade alguma.
Se aquele homem a tivesse salvo, ele teria um bom motivo para ter feito tal coisa inusitada. Mas, graças a ele, a jovem iria sobreviver por mais tempo do que podia imaginar, e quem sabe tomar outro rumo na vida.
Um jovem rapaz de rara beleza surgiu atrás do homem velho, sorrindo elegantemente e caminhando em direção à jovem mulher.
— Você está com sorte, bonitinha. Não é todo dia que o senhor Kelvisk salva uma bela dama das garras dos homens perversos.
— Humpf... quem são vocês? E por que me salvaram? — pergunta, sem entender os reais motivos dos dois.
— Não olhe para mim. Se dependesse da minha autoridade, você tinha morrido aqui mesmo. Se quiser agradecer, fale com ele — diz o jovem rapaz.
— Senhorita? Saia logo daqui enquanto esses homens não acordam. Você não tem muito tempo. Vamos, Vilkus — fala o homem, montando em seu cavalo marrom.
— Esperem! Não podem me deixar aqui sozinha. Mesmo que eu consiga sair dessa floresta, posso ser pega novamente por outros da mesma raça que esses imprestáveis.
— Isso não é problema nosso. Salvamos você da morte, agora siga o seu caminho — diz o homem, grosso e direto, dando ordem ao seu cavalo para andar.
— Tem certeza de que ela não pode vir com a gente, Kelvisk? Ela é muito bonita. Sabe quanto tempo estou esperando para encontrar uma mulher assim? Você não faz ideia, meu amigo! — Vilkus conta, todo animado.
— Silêncio... vamos indo! — Quando Kelvisk diz isso, ele bruscamente para o cavalo ao olhar de longe uma criatura horripilante, um escorpião-negro da Floresta Escura, do tamanho de um elefante gigante.
Vilkus, quando percebe, também fica calado e apavorado, e a jovem mulher, ao notar a presença do bicho, se aproxima rapidamente dos dois e toca em suas pernas, dizendo:
— Não se mexam!
A criatura então começa a se aproximar lentamente dos três, e quando Kelvisk se prepara para pegar sua espada, ele passa ao lado deles e nem olha, indo em direção aos homens caídos no chão.
Os três ficam aliviados, observando o escorpião comendo um dos homens. Até que eles começam a acordar, gritam alto com medo e começam a fugir, mas o bicho vai atrás deles para matá-los. Então, a jovem monta no cavalo de Vilkus e os três aproveitam para correr na direção contrária dos homens, escapando do animal.
Depois de alguns minutos correndo, eles conseguem deixar a floresta e caminham pela estrada que leva até uma grande cidade ali próxima, onde há muito movimento e comércio aberto o tempo todo.
Descendo dos cavalos, eles os deixam no celeiro e pagam algumas moedas para o capataz cuidar dos animais. E os três vão em direção à taberna mais próxima para tomar um drinque e aliviar a mente e o corpo.
— É estranho um elfo tão longe de suas terras. É a primeira vez que vejo um em minha presença — diz a mulher, tomando um gole de vinho.
— Não sou apenas um elfo comum, sou da realeza. Mas fui banido depois de ser flagrado beijando a princesa do reino. Nunca mais pude retornar para minha casa — Vilkus conta, também bebendo. — Qual é o seu nome, bela dama? E por que te chamaram de bruxa? O que fez?
— Me chamo Halayna. Os nomes de vocês são bem antigos, viu? Muito cafona. Seus pais deveriam ter escolhido nomes melhores.
— Três moedas de prata pelas bebidas. Vou querer aquele amolador também, se possível, por apenas uma moeda de ouro — Kelvisk pediu, entregando as moedas.
— Desculpe, meu velho, mas o amolador custa cinco moedas de ouro. Não vendo por menos do que isso — olhando de lado para o atendente, Kelvisk pega mais quatro moedas e entrega na mão dele, deixando o balcão e indo sentar em uma cadeira nos fundos.
— Agradece ao seu amigo por mim, dar bebida. Foi uma delícia. Mas agora tenho que ir a um lugar — Halayna diz, soltando um beijo e soprando com a mão.
Kelvisk apenas ficou observando a atitude dela e tudo que conversava com Vilkus. Por algum motivo, ela chamou a sua atenção, caso para tê-la salva da morte iminente.
— Eu não disse que ela devia ter vindo conosco? Ela é muito linda! Já pensou se ela fica comigo, Kelvisk?
— Se eu fosse você, abriria o olho em relação a ela. Acha que foi sorte aquele escorpião-negro ter passado do nosso lado e não ter feito nada?
— O quê? Acha que ela realmente é uma bruxa? — Vilkus pergunta, com os olhos arregalados.
— Ela é uma feiticeira. Diria que apenas uma aprendiz, mas tem talento. Você fica cego demais quando fica atraído por uma mulher. Isso ainda vai te matar qualquer dia desses — Kelvisk se levanta da cadeira e vai até o balcão pegar mais uma bebida, e Vilkus fica parado, pensando no que acabou de ouvir.
— É ele! — Halayna diz em voz alta, apontando com o dedo para Kelvisk. Os soldados começam a rodeá-lo com suas espadas nas mãos, dizendo:
— Você vem com a gente, seu velho! Tem algo de muito precioso com você que nos interessa muito. Vamos, rapazes! — dizendo isso, os homens levam Kelvisk, amarrando suas mãos e derramando a sua bebida no chão. Vilkus fica apenas parado, olhando para Halayna pelo seu ato de ingratidão.
Deixando a taberna, Vilkus vai atrás de Kelvisk, mas andando um pouco longe, apenas para saber onde iriam levá-lo e deixá-lo preso. Depois de alguns minutos caminhando, ele chegou a uma prisão que ficava no centro da cidade, repleta de bandidos e assassinos.
Halayna, depois de beber algumas, decidiu parar antes que ficasse tonta e desnorteada com o efeito do vinho, deixando a taberna. Ao caminhar pela cidade, ela avistou um comerciante rico que tinha deixado o cofre cheio de moedas aberto em cima da bancada. Então, se aproximou, pegou o objeto e saiu correndo para fora da cidade, sem que ninguém percebesse a sua fuga.
O dono da riqueza notou rapidamente a falta, olhou para os lados rapidamente, mas não viu ninguém com o cofre na mão. Então, começou a gritar que tinha sido roubado, e alguns guardas que estavam ali por perto se aproximaram dele, perguntando o que havia acontecido.
Com alguns minutos passados, Halayna já tinha deixado a cidade e estava caminhando pela estrada que levava a um vilarejo pequeno, que ficava a algumas horas dali. Toda sorridente e alegre, ela parou por um momento para contar as moedas e ver quanto havia lucrado, mas, quando menos esperava, uma pessoa surgiu na sua frente.
— Ah! Kelvisk?! Como, como conseguiu fugir da prisão? E como apareceu aqui do nada?
— Se acha muito esperta, não é, Layninha? Mas o Kelvisk é um bruxo e tem a capacidade de se teletransportar. Você não faz ideia do que ele vai fazer com você agora, não é? — Vilkus conta, todo alegre e debochando.
— Eu não podia ficar sem fazer nada com você! Você tinha a espada da lâmina de Coldbreath. Sabe quantos imperadores morreram tentando achar essa espada?! Muitos! — Halayna conta, assustada.
— E você pensou que, me entregando, a espada seria usada para o bem, pensou? — Kelvisk indagou, olhando dentro dos olhos de Halayna.
— Eu... eu não sei quem você é! Pode ser um homem tirano e horrível. Sua aparência é de maldade nos olhos. Vai saber por qual motivo você me salvou, mas a intenção não foi boa da sua parte — Halayna diz, olhando para o chão com raiva.
— Hmm... eu sei que você é uma feiticeira. Tem a capacidade de ficar invisível, além de tudo aquilo que toca. Um poder de nível comum entre os sobrenaturais. Mas você não faz ideia de quem eu sou, então não tem o direito de falar qualquer coisa ao meu respeito. Estava livre para viver a sua vida como bem entendesse, mas agora é minha prisioneira!
— Ah! Temos uma prisioneira em nossas mãos! Se ferrou, Layninha! — Vilkus diz, todo contente.
Kelvisk vai até o seu cavalo, pega algo na sua mochila e coloca no braço de Halayna. Era um bracelete que anula qualquer poder sobrenatural a ser usado pelo usuário. Um objeto muito raro de se encontrar.
— O que é isso? Sua marca? Agora sou sua propriedade particular ou escrava? — Ela pergunta, toda irritada.
— Silêncio... Vamos indo!
— Não vai me contar?! Como conseguiu essa espada? Quem é você? Me responda!
— Ele não vai falar. Kelvisk só fala o necessário. Já tentei muitas vezes puxar assunto com ele, mas não sai nada daquela boca fechada. É bom guardar sua saliva — Vilkus fala, acompanhando os dois. — O que vamos fazer com ela, Kelvisk?
— Não percebeu? Ela gosta de roubar. Vamos nos aproveitar disso por um tempo. Assim que chegarmos ao vilarejo, compre uma carroça. Vamos precisar.
— Pode deixar! — Vilkus concorda, todo sorridente.
E assim, os três viajaram juntos, um do lado do outro. Foi uma rápida aventura entre eles, mas ainda havia muito mais para acontecer. Será que algo bom pode vir desse trio esquisito? Apenas o tempo poderá responder.
— Sério, pensei que você fosse cortá-la em pedacinhos para depois assar a carne numa brasa quente para os cavalos comerem...
— Vilkus? Fica calado.
Os três aventureiros viajaram bastante pelas terras do oeste, tanto que chegaram à última e grande cidade daquelas partes e decidiram repousar um pouco para descansar.
Vilkus veio o caminho todo incomodando Halayna, fazendo-lhe perguntas o tempo todo e querendo saber sobre sua vida particular, mas ela nem lhe deu atenção alguma. Kelvisk ficou apenas observando tudo; ele se incomodava com qualquer barulho, principalmente com conversas sem importância para ele.
Halayna tentou tirar algumas palavras da boca dele e, de vez em quando, lhe perguntava para onde eles estavam indo naquela direção, ao leste dali. Mas ele apenas fazia uma careta e ficava com raiva.
A cada pequena cidade que passavam, tentavam chamar a menor atenção possível, tanto que, quando Kelvisk disse que ela era sua prisioneira, ele cortou o longo cabelo negro dela e disse que aquilo iria tirar os olhos sobre ela.
Halayna chorou por duas noites inteiras pela perda do seu véu precioso; ela nunca o havia cortado em sua vida e amava cada fio. Vilkus tentou conversar com ela várias vezes, mas ela não queria ser incomodada. Kelvisk apenas ficou sério e lhe ordenou que acabasse com o escândalo.
O barulho era tão alto que os vizinhos que moravam ao lado foram até eles perguntar o que estava havendo. Kelvisk apenas liberou uma bola de energia roxa na mão e mandou-os embora assim que a mostrou. Ninguém era doido de confrontar um mago.
E pelas madrugadas, foi o auge do barulho. Halayna estava tão irritada que acabou aprendendo um novo poder sem querer; fez com que uma faca se teletransportasse em direção a Kelvisk, que estava no andar de baixo, ao lado de Vilkus.
Os dois ficaram surpresos com a capacidade dela, mas Kelvisk já esperava isso vindo de Halayna; sabia que a jovem tinha talento para se tornar uma grande feiticeira. Mas até ela mesma ficou chocada com o que fez; apesar da raiva e do ódio que estava sentindo, ela ficou muito feliz por dentro com o que aprendeu.
No terceiro dia, ela ficou treinando a nova habilidade e, em apenas uma semana, já conseguia controlar o poder com maestria. Vilkus ficou elogiando-a o tempo todo, querendo que ela lhe desse alguma atenção, mas ela apenas lhe dava fora e fugia de sua presença. O que ela queria mesmo era chamar a atenção de Kelvisk pelo menos uma vez; ele sim era um mistério de pessoa.
Entretanto, surgiram alguns imprevistos durante a viagem. Alguns bandidos estavam incomodando um pequeno vilarejo e roubando todo o sustento dos cidadãos. Halayna decidiu ajudá-los, mesmo contra a vontade de Kelvisk, mas como conseguiu convencer Vilkus, Kelvisk não teve escolha a não ser ajudar.
Depois de uma estratégia bem planejada para surpreender os homens, eles foram cercados por uma barreira mágica que Kelvisk criou. Assim, Halayna apenas lançou as facas no ar e usou seu feitiço para acertá-los no coração. Halayna não queria matá-los, mas Kelvisk disse que, como ela resolveu intervir no trabalho deles, seria necessário arrancar o problema pela raiz, pois, se os deixassem vivos, poderiam avisar as realezas sobre eles.
— Ei, Kelvisk? Acho que hoje ela pode me dar uma chance de ficar com ela. Faz tempo que venho tentando, mas ela não me dá nenhuma abertura — Vilkus fala todo ansioso.
— Você não consegue ficar sossegado quando está ao lado de uma mulher bonita? Tem que aprender a controlar seus desejos; essa sua vontade só te impede de conseguir o que quer — Kelvisk responde seriamente.
— Como assim? Eu não entendi, me explica direito isso, por favor, Kelvisk! — Ele diz quando Kelvisk se levanta e vai se deitar no andar de cima da taberna.
— Tudo bem? — Halayna pergunta e senta-se em uma cadeira ao lado de Kelvisk. — Olha, sei que gosta de ordenar as coisas, mas queria entender seus planos. Não poderia me contar nada?
Kelvisk apenas fica em silêncio, olhando fixamente para o teto, e depois fecha os olhos lentamente.
— Kelvisk?! Kelvisk? — Vilkus o chama, subindo as escadas correndo e parando em sua frente. — Olha! Recebemos um convite para participar do baile dos elfos negros. Pode ler a carta e me dizer quem vai estar presente dessa vez?
— Você não sabe ler? — Halayna questiona, olhando estranha para ele. — Você não disse que era da realeza e não sabe ler?
— Não brinca, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar do que ficar o dia todo aprendendo algo simples demais…
— Mais importante? Por exemplo, beijar a princesa? Me poupe das suas desculpas, me dá essa carta — ela lê atentamente. — Vão estar presentes o Imperador Goldon e a sua esposa Sheyla, além dos seus dois filhos, a princesa Luyza e seu irmão Wylzer, assinado o rei Tauron, rei dos elfos negros.
— Minha nossa, Kelvisk! Essa é uma das famílias mais importantes do continente leste. Sabe quantas riquezas eles têm? Muitas! Foi por um evento assim que eu me preparei a minha vida inteira; como queria estar presente.
— Você só pensa em riquezas e luxo? — Halayna lhe perguntou, fazendo careta.
— Se preparem… — Kelvisk diz, levantando-se da cama e descendo as escadas.
— Para quê? — Halayna pergunta.
— Para o baile, óbvio.
Os três então foram comprar roupas apropriadas para a ocasião. Vilkus queria logo algo extravagante, mas Kelvisk não queria chamar muita atenção. Halayna pegou algo simples, mas bem caro. Como todos tinham moedas de sobra, compraram tudo que precisavam. Kelvisk foi até uma barraca de armas e escolheu as facas mais finas e leves para Halayna usar, além de uma bela espada afiada para Vilkus.
Além de Kelvisk pegar algo simples para ele, mas meio chamativo, pois essa era a sua intenção, ele lhes disse que seria o tio de Halayna e Vilkus, seu conselheiro. E os três fariam parte de um reino muito forte do povo sombrio, onde viviam os antigos vikings.
Halayna não entendeu quais eram os motivos para essa grande mentira; achava que não daria certo, mas, para convencê-la, Kelvisk lhe disse que existiam muitos reinos poderosos entre o povo sombrio e que não seria difícil passar despercebido entre as realezas.
— Você está bonito, mas parece um velho — Halayna diz para Kelvisk.
— Minha aparência não é algo que me incomode; já você parece que se preocupa demais com isso. Para mim, é algo fútil.
— Você é chato mesmo… — Ela diz, saindo da sua presença.
— Oh, Kelvisk? Você teria algum objeto mágico que eu poderia usar, tipo um bracelete como o da Halayna? — Vilkus pergunta, um pouco agitado.
— Humpf… não acho que tenha algo de especial, mas posso te dar esse anel.
— O quê ele faz? — Pergunta, bastante curioso.
— Eu usei em algumas missões antes de te conhecer; espero que goste — diz, saindo do quarto do andar de cima.
— Mas espera, o que ele faz?
Depois de uma longa caminhada na carroça de beleza simples, simples até demais, eles decidiram comprar uma mais elegante e digna de um rei. Não queriam chegar e aparentar serem simples demais.
Infelizmente, lá se foram todas as suas moedas de ouro; sobraram apenas as de prata e algumas de bronze, o que ainda daria para comprar algumas bebidas durante as viagens.
Assim que chegaram ao portão real, todos os olhares foram fixados neles três, principalmente em Halayna. Vilkus, antes de descer da carroça, colocou o anel que Kelvisk lhe deu e nem percebeu o que aconteceu com ele assim que o colocou. Mas todos, assim que o viram, ficaram admirados com ele, e ele achou muito estranho; sabia que era bonito e elegante, mas Halayna estava realmente deslumbrante.
Logo que adentraram o salão principal, já havia chegado uma das famílias mais importantes, aquela que estava descrita no convite.
— Olá, jovem dama. Posso saber o seu nome? — Pergunta um nobre príncipe.
— Me chamo Halayna, este é o meu tio Kelvisk, e este é o seu conselheiro pessoal chamado Vilkus. Somos uma família de um reino do povo sombrio; prazer em conhecê-lo!
— O prazer é meu; me chamo Wylzer. Gostaria de conhecer a minha família?
— Pode ir, filha; não vamos desagradar o príncipe — Kelvisk diz elegantemente.
— Me acompanhe, por favor — fala o príncipe, pegando em sua mão.
— Kelvisk? É sério que a Halayna vai dar atenção para esse patife? Sabe quanto tempo estou tentando algo como isso? Muito!
— Temos coisas mais importantes para nos preocupar. Quero que me apresente o rei dos elfos e a rainha, além dos seus filhos, claro.
— Não é uma boa ideia. Sabe, caso não se lembre, eu era daqui e servo do rei. Se ele descobrir que estou aqui, com certeza serei morto. Não poderia me pedir algo menos perigoso, meu amigo?
— Não, por acaso você já se olhou no espelho? — Kelvisk o questiona, dando um sorriso de lábio rapidamente. — Acho que não.
— Como assim? Eu olhei antes de sair do quarto; tem alguma coisa estranha em mim — ele vai até um grande espelho e fica surpreso. — Minha nossa! Esse sou eu mesmo?! O que você fez, Kelvisk?
— Eu não fiz nada; você que me pediu o anel.
— Sim, mas não sabia que isso iria acontecer. Admito, eu gostei, mas vou ficar assim para sempre? — Antes de terminar a pergunta, Kelvisk já estava indo em direção ao trono para ficar mais perto das realezas.
— Meu amigo, me espera. Bem… aquele vestido com um sobretudo dourado é o rei Tauron, e aquela ao seu lado é a sua esposa Sariel. Não estou vendo um dos seus três filhos aqui.
— Bom saber…
Kelvisk ficou olhando atentamente para os reis; ele tinha muitos planos em mente para colocar em prática, e aquela realeza era seu alvo principal naquele momento. Por algum motivo especial, ele queria descobrir algo, mas ainda não sabia o que era. Provavelmente, Vilkus e Halayna iriam ajudá-lo a conquistar isso, mas será que iriam conseguir?
Durante o baile, todos dançavam elegantemente, com passos perfeitos, dignos de uma verdadeira realeza. Os convidados eram todos nobres e da alta sociedade, e havia também famílias medianas em termos de riquezas.
Depois de duas horas de pura conversa e refeições, as músicas mais animadas começaram a tocar, despertando o desejo de muitos em desfilar com seus pares deslumbrantes. Um exemplo vivo disso era o príncipe Wylzer, com Halayna ao seu lado.
Kelvisk continuava observando o rei Tauron e sua esposa. Ele também estava conversando com outros nobres e amigos deles para conseguir informações que fossem valiosas para seu grande plano.
E Vilkus, bem… esse não perdeu tempo quando surgiu a oportunidade em suas mãos e na sua frente para aprontar mais uma, que o deixaria em uma enrascada daquelas.
— Quem é você? — pergunta uma bela jovem de cabelos brancos como a neve.
— Arielle, sou eu! O Vilkus… — diz, retirando o anel rapidamente e colocando-o de volta no mesmo instante — foi um amigo que me deu esse anel, queria muito te ver!
— Você é maluco, só pode! Se o meu pai me pegar com você novamente, nem sei o que ele faz contigo — ela fala, segurando seu rosto com as duas mãos.
— Não podia deixar esse privilégio de tê-la em minhas mãos por alguns segundos. Vem cá, me dá um beijo.
Os dois não esperavam por isso, mas estavam se aproximando dali Halayna e Wylzer para conversar em particular.
— Princesa Arielle? O que faz com esse rapaz? — Wylzer pergunta, estranhando.
— Ah, me desculpe, ele é um conhecido meu de muitos anos, só estávamos aproveitando o momento, apenas isso.
— Creio que o seu pai não pensaria dessa forma, não é mesmo? Bem, rapaz, poderia acompanhar essa jovem até o salão de baile, por favor? Preciso conversar a sós com a princesa.
— Claro, senhor.
Quando os dois se afastaram um pouco do príncipe e da princesa, Vilkus falou:
— Halayna, o que descobriu sobre ele?
— Como assim? Como sabe o meu nome? — ela questiona, sem entender.
— Ah! Sou eu, o Vilkus. O Kelvisk me deu esse anel que deixa o meu rosto diferente, tipo uma transformação, veja.
— Minha nossa, apenas magia mesmo para deixar você tão lindo assim, nem reparei que era você — ela diz, dando uma leve gargalhada — não vai me dizer que aquela era a tal princesa que você beijou e foi expulso daqui, vai?
— Sim, é ela mesma.
— Vilkus?! O que o Kelvisk vai dizer quando ele souber disso? Ele mesmo te mata, menino!
— Eu sei, mas não consegui me conter, entende? Foi mais forte do que eu. Espera, o príncipe está vindo, disfarça.
Quando o príncipe Wylzer se aproxima de Halayna, ele a beija à força, segurando forte em seu rosto, mas, no mesmo instante, ela chuta as partes íntimas dele e se solta das suas mãos.
No mesmo instante, Kelvisk chega ao local e pergunta o que houve, e Halayna, toda embravecida, o chama de louco e aproveitador, mas Kelvisk a manda ficar quieta e deixá-lo resolver.
— Desculpe os modos dela, meu senhor, ela não queria maltratá-lo dessa maneira. Perdoe-a, por favor — Kelvisk fala com uma cara séria e um semblante incomodado.
— Tudo bem, tudo bem. Vou deixá-los em paz — diz o príncipe.
— Com licença, não poderíamos resolver esse mal-entendido conversando em um jantar particular? Creio que o senhor demonstrou um interesse pessoal pela minha sobrinha e gostaria de poder conhecê-lo melhor, entende?
— Claro, seria ótimo. Estão convidados para conhecer o meu castelo. Avisarei ao meu pai da sua vinda, com licença.
— O quê?! Você pediu desculpas a ele por causa de mim?
— Se acalma! Você está muito nervosa — Kelvisk fala, segurando-a com suas mãos.
— Calma?! Calma?! Você me pede calma? Como vou ficar calma com o que acabou de acontecer? Aquele aproveitador me beijou à força e você me pede calma?!
— É verdade, Kelvisk, eu vi tudo. Ele realmente agarrou ela e segurou com muita força — Vilkus confirma, chateado.
— Você não entende, não é mesmo? Eu tenho planos aqui, tanto com o Rei Tauron quanto com a família desse príncipe. E você quase estragou tudo!
— Sério?! Você acha mesmo que eu vou me submeter a algo desse nível apenas para que os seus planos deem certo?!
— Sim! Você vai! E mais, vai obedecer sem reclamar nenhuma vez, a partir de agora — Kelvisk diz, pegando a mão dela e colocando um anel em seu dedo.
— O que está fazendo?! Tira isso de mim, eu não quero outro presente seu! Tira!
— Agora você vai me obedecer sem questionar. Terminamos por aqui. Vem, Vilkus.
— Você acha que pode mandar em mim?! Quer saber a verdade nua e crua? Eu só estou aqui porque sou obrigada! Em nenhum momento desejei viajar ao lado de vocês dois! Muito menos ajudá-lo em seus planos maléficos! E mais! Eu te odeio com todas as minhas forças! Você não presta! E sabe como provo isso? Você tem a lâmina de Coldbreath! Eu sei várias histórias sobre essa espada, as quantas atrocidades que os portadores dela fizeram em vida, quando estiveram na sua posse. Você não será diferente! — Kelvisk apenas fica surpreso com as suas palavras, ficando em silêncio. Ele deixa os dois sozinhos.
— Halayna? — Vilkus a chama.
— Me deixe! Por favor.
— Olha, eu te entendo. Confesso que também não confio no Kelvisk totalmente. Apenas estou ajudando-o por ele ter salvo a minha vida, mas isso não seria motivo suficiente para eu segui-lo. Estou fazendo isso por algo maior. Como você disse, ele tem a lâmina de Coldbreath, e também já ouvi histórias sobre essa espada. Por isso, quando ele me salvou, me veio em mente a oportunidade de poder estar ao lado dele. Só assim eu poderia impedi-lo de fazer alguma atrocidade, entende?
— Isso é sério? — ela pergunta, enxugando as lágrimas.
— Sim, muito sério. Eu não conheço o Kelvisk, não sei de onde ele veio, muito menos seus motivos para fazer o que faz, mas estou disposto a impedir qualquer um que tentar destruir o mundo. E você sabe, não é? O que aquela espada pode fazer…
Kelvisk conseguiu uma parte do que ele queria: um convite direto do filho do imperador para um jantar especial em sua casa. Uma oportunidade que ele aproveitará muito para colocar outros planos em ação. E, para facilitar ainda mais, ele conseguiu conversar com os dois príncipes elfos, depois de uma longa espera por eles.
Ele lhes disse que estava precisando trabalhar na área de conselheiro, pois o seu reinado o estava deixando louco com tanta administração. Então, queria um cargo onde pudesse relaxar mais a mente e poder trabalhar mais tranquilo. Mas os príncipes pediram algo em troca do favor dele, e Kelvisk não pensou nenhum segundo em dizer que doaria metade das riquezas do seu reino para fazer parte da sociedade real.
Os dois concordaram, sorridentes e felizes pelo acordo, e falariam com o seu pai em breve sobre o assunto. Deixando-os em paz, ele foi à procura de Vilkus e de Halayna para poderem ir embora dali, pois já tinham chamado atenção demais.
— Halayna? Vamos.
— Estou indo. Desculpe pelo meu estresse naquela hora. Vou ajudá-lo em seu plano, não se preocupe — ela diz, indo em direção à saída.
— O que você falou para ela, Vilkus?
— Nada demais, só disse que você a tornaria a feiticeira mais poderosa que poderia existir em toda a face de Lunizs. Pode me agradecer depois, meu amigo. Vamos?
— O quê?! — Kelvisk questiona, bastante surpreso.
Depois que deixaram o palácio real, seguiram em direção leste para o mar, onde poderiam viajar para as terras dos grandes impérios. Seria uma longa viagem até lá, e muitas coisas poderiam acontecer.
Halayna veio o caminho inteiro calada, sem falar nada, apenas pensativa em tudo que ouviu da boca de Vilkus sobre a sua missão importante. Ela queria entender melhor os planos de Kelvisk e compreender os seus reais motivos para fazer o que faz. Seus modos eram simples, mas havia algo sombrio emanando dele. Quando falava, parecia que um poder saía de seus lábios. Além de que sabia sobre coisas demais a respeito dos eventos que ocorreram enquanto estiveram juntos.
E quando ela sempre perguntava algo pessoal, ele recuava e ficava calado. O seu semblante sempre mudava quando ouvia coisas sobre a espada ou os objetos que tinha, como os criou ou como os conseguiu. Tudo isso se passava na cabeça de Halayna e lhe incomodava demais ficar sem resposta alguma.
Teve uma vez que ela decidiu vasculhar na bolsa pessoal dele, e quando abriu e mexeu nas coisas, viu uma caixa preta que brilhava de várias cores, mas não conseguiu identificar o que era. Quando tentou abri-la, Kelvisk a pegou no flagra e lhe deu broncas.
Depois dessa tentativa, ele passou a desconfiar mais dela e ficou mais atento em relação a ela, observando seus passos. Cada movimento que ela fazia, ele estava de olho, fixando suas preocupações nela. Pelo menos ela conseguiu chamar a sua atenção, mas não era o tipo de atenção que ela queria realmente. No fundo, o que ela mais queria era algo que desejava desde que era pequena, de tão precioso que jamais poderia encontrar em nenhum lugar naquela era de maldade, muito menos alguém poderia concedê-la. Mas continuaria insistindo até conseguir o que almejava tanto. No final, ela sempre conseguia o que queria.
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