Sofia cresceu rodeada de luxo e privilégios, mas nunca experimentou o calor de um amor verdadeiro vindo de seus pais. Eles sempre priorizaram o dinheiro e a fortuna acima de tudo. Aos 18 anos, Sofia teve sua vida virada de cabeça para baixo quando perdeu os pais em um trágico acidente de avião. Apenas um mês após a tragédia, ela foi forçada a assumir as empresas e os negócios da família, sendo filha única e herdeira direta.
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Anos Depois
Sofia
— Flávia, selecione as melhores babás e funcionárias. Quero entrevistar todas pessoalmente.
— Sim, senhora.
— Ah, e eu vou sair mais cedo para buscar o Benjamin na escola.
— Se a senhora preferir, posso buscá-lo para você.
— Não, eu mesma vou.
— Certo. E, para o último compromisso, como está minha agenda hoje?
— A senhora tem um julgamento às duas horas da tarde.
— E só isso?
— Sim, senhora.
— Então, pode se retirar.
— Sim, com licença.
Mal Flávia saiu, o celular de Sofia começou a tocar. Ela suspirou e atendeu.
— Alô?
Uma voz da escola informou que precisavam falar sobre Benjamin. Faz apenas um mês que nos mudamos, e ele já está dando trabalho. Mesmo assim, algo que aprendi na minha profissão é ouvir os dois lados da história antes de tomar qualquer decisão. Sempre eduquei Benjamin com diálogo, e acredito que esse seja o melhor caminho.
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Érico
Eu não tenho um minuto de paz. Se não é o trabalho, é a escola do meu filho.
Sou médico, especializado em cirurgias, e trabalho exaustivas 16 horas por plantão. Meu tempo livre é raro, mas sempre dedico ao meu filho. Agora, estou a caminho da diretoria da escola para entender o que aconteceu.
Ao chegar, fiquei surpreso. Além de mim, havia três mulheres e quatro homens na sala.
— Bom dia — começou o diretor. — Chamei vocês porque seus filhos passaram de todos os limites possíveis.
— Mas o que eles fizeram? — questionou Luísa, com impaciência.
— Senhora Luísa, eles tentaram fugir da escola.
— Meu filho jamais faria isso! — defendeu Júlia, incrédula.
— Senhora Júlia, foi o Miguel quem planejou os horários e os locais para que todos pudessem sair do colégio.
— Meu filho dificilmente participaria de algo assim — disse Gael.
— Estranho — comentou Ravi. — Meu filho gosta da escola. Isso não faz sentido.
— Senhor Ravi, o seu filho foi quem apagou as imagens das câmeras de segurança.
— E o meu filho? O que ele fez? — perguntei, preocupado.
— Doutor Érico, o seu filho tentou invadir o sistema da escola para apagar as imagens, mas, como não conseguiu, ele ajudou a invadir a sala de segurança.
O diretor continuou:
— E o filho do senhor José foi quem abriu a porta da sala de segurança.
Então, Júlia apontou para uma mulher que eu ainda não havia notado completamente.
— E o filho dela? O que ele fez?
De repente, minha atenção foi para a mulher. Ela era linda, não só de rosto, mas de corpo também. Sua postura era firme, e sua voz demonstrava autoridade.
— Não precisa perguntar, eu já sei o que meu filho fez — respondeu Sofia. — Diretor, posso imaginar que ele foi o responsável pelo plano, mas quero saber: em qual aula eles estavam quando isso aconteceu?
— Era na aula de natação.
Sofia soltou um suspiro.
— Agora entendi. Fugir dessa aula só podia ser ideia dele. Aceito a punição, desde que seja proporcional ao que fizeram.
O diretor assentiu.
— Conto com a compreensão de todos.
Quando saímos da sala, as oito crianças estavam sentadas juntas, e Sofia se abaixou na frente de um menino, presumivelmente seu filho.
— Filho, sei que você não gosta de nadar, mas fugir dos problemas não é a solução. Sempre há outras formas de resolver as coisas.
Enquanto ela e o menino se afastavam, notei que ele acenou para o meu filho. E, naquele momento, tudo começou a fazer sentido.
Sofia
Ser mãe solteira nunca foi fácil, e comigo não foi diferente. Quando fiquei grávida do Benjamin, meu melhor amigo, Arthur, foi meu maior apoio. Ele ficou ao meu lado durante toda a gravidez e até assumiu o Benjamin como se fosse seu próprio filho. Nós dois sabíamos quem era o pai biológico do meu filho, mas Arthur não se importou. Ele fez o melhor trabalho que alguém poderia fazer, dando ao Benjamin o amor e a figura paterna que eu, sozinha, não conseguiria proporcionar.
Arthur amava o Benjamin como se fosse realmente seu filho. Porém, nosso tempo juntos foi interrompido. Ele faleceu quando Benjamin tinha apenas 3 anos, e até hoje lembro do dia em que contei que estava grávida. Ele prometeu que ficaria ao meu lado e até disse que se casaria comigo para me proteger. No fim, nós realmente nos casamos. Mas foi um casamento de amizade, de apoio. Arthur nunca tocou em mim de forma inadequada ou tentou algo, porque ele era gay. E, mesmo sabendo disso, eu sempre o adorei, e continuo adorando até hoje.
Agora, é apenas eu e Benjamin. Voltamos para casa para nos trocar. Ele estava de uniforme, e minha roupa não era apropriada para o tribunal.
Benjamin
Eu sempre tento ajudar minha mãe, mas, às vezes, parece que só complico as coisas. Hoje não foi diferente.
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Sofia
De volta ao escritório.
— Filho, você vai ficar na minha sala enquanto eu tenho um julgamento, pode ser?
— Tá bom, mamãe.
— E depois a gente conversa sobre o que você e seus amiguinhos fizeram na escola, certo?
— Sim, mamãe.
— Vai ficar com a Flávia no escritório, ok?
— Tá bom.
Deixei Benjamin na minha sala com Flávia e fui para o tribunal.
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Érico
Hoje foi um dia corrido. Eu e Henrique estamos indo para a clínica. Ele ficará com minha secretária enquanto eu vou ao tribunal, onde serei testemunha. Como a babá dele está cuidando de outro compromisso e ele deveria estar na escola até as 17h, tive que trazê-lo comigo.
No carro, tentei conversar com Henrique.
— Filho, por que você fez aquilo?
— Pai, o Benjamin tem pânico de água, e o professor insistiu para ele participar da aula de qualquer jeito.
— Entendo, mas fugir da aula não é a solução.
— Tá bom, pai. Desculpa.
— Foi bonito o que vocês fizeram pelo amigo, mas isso não deve se repetir. Combinado?
— Combinado, pai.
Chegamos à clínica. Minha secretária, Helena, ficaria de olho em Henrique.
— Filho, quando eu terminar no tribunal, venho te buscar, ok?
— Tá bom, pai.
— Helena, cuide dele para mim, por favor.
— Sim, senhor.
Deixei Henrique com ela e segui para o tribunal.
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Érico
Assim que cheguei ao tribunal, fui direcionado para uma sala de espera até ser chamado. Quando finalmente entrei, fiquei surpreso. A juíza do caso era Sofia, a mãe do amigo do meu filho.
— Boa tarde, pode se dirigir ao banco das testemunhas, por favor.
O julgamento foi intenso. Um homem estava sendo acusado de estuprar a própria filha. Casos assim sempre me causam revolta, mas Sofia conduziu o julgamento de forma firme e impecável.
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Tempo Depois
Depois do julgamento, voltei à clínica para buscar Henrique.
— Filho, vamos?
— Vamos, papai. Tchau, Helena!
— Tchau, Henrique.
— Helena, você está dispensada. Pode ir para casa.
— Obrigada, senhor. Com licença.
Peguei Henrique e voltamos para casa.
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Sofia
Após um longo dia, eu e Benjamin entramos no elevador do prédio. Para minha surpresa, Érico e seu filho, Henrique, também estavam no elevador.
Enquanto conversávamos brevemente, notei que ele não apertou o botão para o 36.º andar, o que significa que ele é meu vizinho
Érico
"Então, finalmente conheci minha nova vizinha. Sabia que havia alguém novo no apartamento ao lado, porque Henrique comentou sobre a mudança há um mês. Mas, até agora, não havíamos nos encontrado. Isso só podia significar duas coisas: ou estou mais ocupado do que o normal, ou ela tem uma agenda ainda mais apertada que a minha."
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Sofia e Benjamin
Sofia olhou seriamente para Benjamin enquanto o menino evitava seu olhar.
— Filho, agora me explique por que você e seus amigos fizeram aquilo.
Benjamin suspirou.
— Mãe, eu disse ao professor que não ia participar da aula, mas ele falou que era obrigatório... Mesmo que não fosse uma aula de verdade.
— Entendi. Mas espero que isso não se repita, viu? Não dá para fugir dos seus problemas para sempre.
— Tá bom, mamãe. E desculpa de novo.
Mudando o tom, Sofia sorriu e perguntou:
— Agora, me conta: como você ficou amigo daqueles meninos?
— Ah, primeiro conheci o Henrique no meu primeiro dia de aula. Os outros vieram depois.
— Fico feliz por você, filho. Confesso que tinha medo de que você não se adaptasse à nova escola, mas vejo que está indo bem.
Ela colocou as mãos no rosto do filho e continuou:
— Sempre que quiser conversar, estarei aqui para você, tá? Não vou te superproteger, mas também não vou deixar que passe por coisas desnecessárias. Você sempre terá o colo da mamãe. Eu te amo muito.
Benjamin sorriu.
— Também te amo, mamãe!
— Que tal assistirmos um filme?
— Sim!
— Eu faço a pipoca e você escolhe o filme, combinado?
— Tá bom, mamãe!
Sofia suspirou, observando o filho correr para a sala. Enquanto preparava a pipoca, pensou em como sua infância havia sido diferente. Seus pais eram ausentes, nunca conversavam ou se importavam com o que ela sentia. Prometera a si mesma que seria diferente com Benjamin. Sempre presente, dialogando, assistindo a filmes, mas sem superproteger ou deixá-lo enfrentar tudo sozinho.
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Na manhã seguinte
Sofia entrou no quarto de Benjamin, abrindo as cortinas.
— Filho, hora de acordar. Tem escola!
— Bom dia, mamãe!
— Bom dia, príncipe! Vai tomar banho e se vestir para o café da manhã.
Mais tarde, enquanto tomavam o café juntos, Sofia olhou para o filho.
— Escova os dentes agora, tá? Vamos sair em breve.
Benjamin assentiu.
— Tá bom, mamãe. Com licença.
Enquanto ele terminava de se arrumar, Sofia recebeu uma mensagem da escola:
"Prezados pais e responsáveis, a punição para os alunos será a participação em atividades voluntárias durante o evento escolar. Contamos com a colaboração de todos."
Benjamin apareceu na sala, já pronto.
— Estou pronto, mamãe.
— Ótimo! Vamos lá.
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Érico e Henrique
Érico apressava Henrique para sair de casa.
— Vamos, filho. Senão você e eu vamos nos atrasar — você para a escola e eu para a clínica.
Henrique sorriu.
— Por mim, podemos ir, papai.
No elevador, encontraram Sofia e Benjamin. Henrique e Benjamin trocaram sorrisos cúmplices.
— Bom dia! — Érico cumprimentou.
— Bom dia! — respondeu Sofia, um pouco sem jeito.
Érico olhou para Benjamin.
— Desculpa pelo que o meu filho fez.
Sofia sorriu, relaxando.
— Não precisa. Sei o filho que tenho. Ele gosta de ajudar os amigos e tem opinião própria. Não concordo com o que eles fizeram, mas entendo a motivação por trás disso.
Os quatro seguiram juntos até a escola.
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Na Escola
Quando chegaram, havia uma reunião de pais para discutir a punição. Alguns estavam visivelmente irritados, como a mãe de outro aluno.
— Na minha opinião, o único que deveria ser punido é o filho dessa mulher. Foi ele que influenciou meu filho a fazer aquilo! — disse a mulher, apontando para Sofia.
Sofia ergueu a sobrancelha.
— Seu filho não tem vontade própria? Porque, pelo jeito que você fala, parece que ele não é capaz de tomar decisões sozinho.
Outros pais concordaram.
— É o que parece — disse um deles.
O diretor interveio, tentando acalmar os ânimos.
— Senhores, por favor. Vamos manter a ordem ou terei que encerrar a reunião.
Érico levantou a mão, buscando esclarecer a situação.
— Diretor, como será a punição exatamente?
— Os alunos participarão como voluntários em um evento escolar, ajudando nas brincadeiras aquáticas.
Sofia interrompeu:
— Diretor, há atividades que não envolvam água? Se houver, pode colocar o Benjamin nessas, por favor.
A mesma mãe de antes ironizou:
— O seu filhinho é tão precioso assim que não pode ficar perto de água? Parece até que é feito de papel.
Sofia a encarou, firme.
— Sim, exatamente. Ele é precioso. E eu tenho os meus motivos.
A seriedade na voz de Sofia fez Érico notar que havia algo mais profundo ali, algo que ela não estava disposta a compartilhar naquele momento.
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Nota do Autor
"Essa história aborda diferentes estilos parentais: autoritário, democrático, negligente ou permissivo. Alguns pais serão tóxicos e complicados, enquanto outros tentarão mudar por seus filhos ao longo da trama. Vamos explorar essas relações de forma sensível e realista. Espero que aproveitem!"
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