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Destinos Traçados

capítulo 1

Um céu carregado por negras nuvens e rasgado por inúmeros relâmpagos é tudo que consigo ver nesse momento. Olho ao redor e vejo o vultos das árvores e o sons dos seus galhos estalando com o toque do vento forte que sopra por todos os lados, dando-me a certeza de que uma tempestade impiedosa se aproxima.

Estou assustada e o meu corpo treme por inteiro.

Como vim parar aqui?

Eu não sei.

Mas sei que preciso encontrar um lugar seguro o quanto antes.

As cenas daquele terrível pesadelo ainda são vívidas na minha mente, e o meu coração ainda bate de forma disregular por conta de todo o terror que me atormenta.

Há muitos anos, todas as noites a mesma cena se repete diante de mim, deixando-me completamente perdida em desespero, pois, de repente, não mais que de repente, vejo-me escondida entres os escombros de um acampamento completamente destruído.

Há corpos espalhados por todos os lados, enquanto as tendas então em chamas e muitos ainda lutam por suas vidas tentando fugir daqueles homens que nos atacaram de forma tão covarde.

De onde estou consigo ver o corpo de uma mulher estirado ao chão, após ter sido brutalmente violentada por aqueles homens perversos e sem alma. No sonho a visão de seus rostos não é nítida para mim, pois consigo destinguir apenas o reluzente brilho dos botões dourados de uma espécie de fardamento militar que usam, e brilham refletindo as chamas espalhadas por todo local. Tenho quase certeza que eles pertencem a esquadra de polícia da cidade, já que essa não é a primeira vez que nos atacam e, hoje, parecem felizes com todo o mal e terror que espalham, pois se embebedam e riam, caçoando do sofrimento de todo um povo.

A dor que cresce dentro de mim, é tão grande, que sinto vontade de acabar com eles e vingar o sangue dos meus irmãos mortos, com minhas próprias mãos, porém, nada posso fazer.

Nesse cenário sou apenas uma criança assustada escondida atrás dos destroços daquilo que um dia chamei de lar, enquanto o resto é destruído ao meu redor.

Despertar de toda essa agonia nem sempre é tranquilizante, pois há momentos em que a minha realidade é tão angustiante, quanto o desespero daquele pesadelo. Como agora, por exemplo, já que estou sozinha numa floresta escura e fria, com o céu prestes a desfazer-se em águas sobre a minha cabeça.

Não sei porque durante anos sofro com o mesmo pesadelo, mas agora preciso acalmar o meu coração e tentar encontrar uma saída dessa floresta antes que a tempestade que se anuncia pelos fortes ventos e raios pelo céu, comece a cair.

Tento mais uma vez lembrar como vim parar aqui, mas nada parece fazer sentido dentro de mim. Lembro-me somente que me chamo Kaila, e sou uma Ronin, mas sinto como se as últimas horas da minha vida tivessem sido apagadas completamente da minha memória e não consigo recordar nada de como, ou muito menos o porque estou aqui agora.

Kaila Ronin 24 anos.

Estando com o coração já mais calmo e tendo a certeza que preciso sair daqui o quanto antes, pois as primeiras gotas de uma chuva fina começam a cair, levanto-me de maneira abrupta na intenção de seguir meu caminho, porém, não consigo sequer dar o primeiro passo.

Uma dor aguda atravessa minha perna de forma que não consigo manter-me de pé, e só então, dou-me conta de que estou ferida.

Mas como?

Tento novamente lembrar-me o que aconteceu até esse momento, e mais uma vez não encontro nenhuma explicação de como vim parar aqui, e nesse estado, mas preciso continuar.

Avalio o ferimento rapidamente, e logo noto que há um corte profundo em minha perna. Pode ter sido causado por um tiro de raspão ou por uma adaga, não consigo saber ao certo agora, mas sei que por não ser tratado de forma adequada já está infeccionando. Meu corpo ainda treme, e agora percebo que não são vestígios do descontrole por conta do pesadelo que sempre tenho, mas sim, por conta da febre alta que me queima de dentro pra fora.

Mas não posso desistir.

A chuva, que antes era fraca está cada vez mais forte. Os raios continuam a rasgar o céu em todas as direções e os trovões assustadores ecoam por todos os lados, trazendo a certeza que a tempestade vai piorar a cada segundo, e eu preciso encontrar um lugar seguro antes que seja tarde.

Tento continuar arrastando-me pelo chão enquanto as forças do meu corpo ainda me obedecem, mas sei que não terei êxito na minha empreitada. O meu corpo inteiro dói a cada movimento e sinto como se a alma fosse arrancada de mim, e algo prendesse-me a esse lugar, impedindo-me de prosseguir.

Quero manter-me consciente acreditando que conseguirei escapar desse fim, mas penso que é inútil lutar contra isso agora. Não tenho forças e, por mais que eu queria, o meu corpo não obedece mais aos comandos da minha mente, já que esta, sequer consegue passar comando algum.

Estou sem forças e o monte de folhas encharcadas pela chuva, certamente será meu último repouso.

Nunca pensei que a minha vida fosse terminar assim. Mesmo não tendo certeza do que aconteceu comigo, sinto que não posso morrer. Tenho uma missão a cumprir, e ela não estar concluída.

Não posso deixar que me vençam, pois, não lutei tanto para aceitar que esse seja o meu fim.

Uma onda de revolta cresce dentro de mim, mas infelizmente não posso fazer nada diante da minha completa incapacidade.

Meu corpo está inerte, e enquanto observo a chuva fria me congelar e o céu sendo rasgado pelos raios incandescentes, sinto que a inconsciência domina minha mente, a ponto de fazer tudo desaparecer por completo.

...******...

continua...

capítulo 2

Me chamo Feliphe Veranese, tenho trinta e nove anos e voltar para São Martim depois de tudo o que me aconteceu nesse lugar, não foi uma decisão fácil, porém necessária.

Os anos que passei longe, fugindo de um passado doloroso, alheio a tudo e a todos aqui, me trouxeram muitos problemas, aos quais não posso mais evitar e preciso resolvê-los antes que a minha inércia e despreocupação, me lancem em profunda ruína.

Possuo terras e negócios importantes nessa região e deixei todos abandonados, quando a tristeza de uma dor profunda tomou conta de mim e precisei partir para não deixar o ódio e desespero destruírem a minha alma. No entanto, é hora de voltar, embora eu pense que ainda não estou preparado.

A perda que sofri nesse lugar marcou-me para sempre, e não sei se, serei capaz de superar o ódio, caso encontre no meu caminho, aqueles que causaram-me tamanho sofrimento.

Hoje é um dia festivo, pois se comemoram os quinze anos desse pequeno vilarejo, e infelizmente, cheguei justo nesse dia.

Há comemorações em várias partes e no início da noite, costuma-se fazer uma grande passeata em desfile pelas ruas da cidade, longe de mim querer participar, no entanto, preciso comparecer, pois, tenho que refazer os meus laços de amizades e influência, para reerguer os negócios que não andam nada bem.

Bento é o meu fiel escudeiro, esta comigo desde o início, e sabe que está de volta não é nada fácil para mim, por isso, o trouxe para acompanhar-me nessa noite maçante e nada agradável para mim, pelo menos teria um amigo sincero ao meu lado, já que terei que socializar com tantos outros com os quais, não tenho o mesmo sentimento.

Após participar de um desinteressante sarau no início da tarde, onde estavam presentes as pessoas mais importantes desse pequeno lugar, como, banqueiros, grandes proprietários de terras, e até os representantes da cúpula de governo, com os quais conversei por um bom tempo, sobre a situação das minhas terras, e consegui uma boa oportunidade de solucionar alguns dos meus problemas.

Porém, não encontrei, quem mais desejava essa noite. Imaginei que numa comemoração tão importante para cidade, o comandante de polícia estaria presente, e tinha um interesse pessoal e urgente em encontrá-lo essa noite, no entanto, ele não compareceu.

Disseram-me que tinha um trabalho importante e isso frustrou-me bastante, pois encontrá-lo, talvez tenha sido o principal objetivo que me fez encarar essa festa hoje.

Depois de algumas horas, enfim era chegado o momento da passeata e muitas das pessoas presentes no sarau saíram para participar, no entanto, preferi ficar apenas observando.

Bento quis apreciar um pouco a festa, e não achei justo arrastá-lo comigo para o lado obscuro da minha tristeza.

Dexei-o participar enquanto o aguardava a tomar algumas doses de uísque na taverna quase enfrente a praça principal, por onde a passeata certamente passaria.

Enquanto observo as pessoas felizes, comemorando por toda a parte, sinto-me um tanto revoltado, pois todos parecem seguir a vida tranquilamente e nem sequer se lembram da grande tragédia de anos atrás.

A tragédia que me tirou o meu bem mais precioso, e com a qual, ninguém parece importar-se mais, mesmo sabendo que os culpados ainda não pagaram pelo mal que fizeram.

Sentindo uma grande angústia no meu coração, decido ir embora e não esperar mais por Bento, afinal, ele já é bem grandinho, e pode muito bem voltar para casa sozinho, porém, lembro-me que viemos em uma única carruagem, por isso, levanto-me rapidamente e entro no meio da multidão, para encontrá-lo e poder voltar para casa, no entanto, não vai ser fácil.

Há muitas pessoas nas ruas e caminhar está um tanto difícil, pois todos cantam, dançam e comemoram à sua maneira enquanto caminham lentamente, e esbarrar uns nos outros é quase inevitável, no entanto, de repente sinto um choque intenso contra o meu corpo, e antes mesmo que eu consiga raciocinar, estou a segurar uma mulher pela cintura, para evitar que ela caia ao chão bruscamente.

Ela parece confusa e perdida, e quando encaro os seus olhos amendoados cor de mel, parece que aquela surpresa transformar-se em fascinação, deixando-me apreendido naquele olhar puro e aflito.

__A senhorita está bem?

Pergunto tentando posicioná-la no chão com segurança, ainda segurando em suas mãos por precaução. Ela não responde, apenas continua encarando-me ainda confusa e, confesso que algo nela me atrai de forma diferente.

A sua pele é clara, o seu rosto é pequeno, escondido por trás dos cabelos longos caídos sobre os ombros e os seus olhos emanam certo fascínio que me deixa intrigado, pois embora eu não a conheça, sinto que algo nos une intensamente.

__Se machucou? Por favor, perdoe-me!

Tento novamente chamar a sua atenção, pois suas roupas estão sujas, e mesmo sem ver perfeitamente, parece que está ferida, porém ela continua em silêncio, o que me faz pensar que talvez não fale, ou não consiga entender o que digo, pois, continua encarando-me de forma intensa.

Parece assustada, confusa e com medo. Pessoas passam por nós a todo instante, mas parece que eles não existem agora, estamos os dois ali, no meio da multidão e quando encaro aqueles olhos amedrontados, sinto uma enorme vontade de envolvê-la nos meus braços e protegê-la, seja lá do que for, que esteja a aterroriza-la daquele forma.

__Venham, seus parlemas... Ela não deve estar longe!

Esse grito ecoa não muito longe de onde estamos, e finalmente vejo alguma reação dela, que não seja encarar-me daquela forma enigmática.

Ela parece ainda mais assustada do que antes, e após olhar para todos os lados, parecendo procurar a melhor direção a seguir, solta as minhas mãos rapidamente e segue na direção leste da praça principal, saindo do meio daquela multidão, mas antes de desaparecer por completo, volta-se para trás, e encara-me uma última vez, dando-me um sorriso tímido, como se quisesse agradecer por algo, que nem eu mesmo sei se fiz, e logo segue seu caminho, desaparecendo na escuridão.

Não demoro a descobrir o motivo de tanta pressa e pavor, pois alguns guardas surgem entre a multidão, e junto com eles o comandante Ivo Malta, esbravejanto para todos os lados que deveriam encontrá-la, ou então pagariam caro por deixá-la escapar.

Não é preciso ser um gênio para saber que estava falando daquela moça, por isso, mesmo sem saber quem ela era, e tão pouco qual crime havia cometido para deixar o comandante tão irado, senti que devia ajudá-la e dar a ela uma chance de escapar, pois, se o comandante continua sendo tão implacável com seus prisioneiros, como, quando era apenas um soldado, me incomodou a ideia de imaginar o que fariam caso a capturassem, por isso, tentei impedi-los de seguirem na mesma direção que ela se foi.

__Com licença, senhor, está me atrapalhando!

O comandante diz um tanto nervoso, quando fico parado na sua frente, e sempre me movo na mesma direção que ele.

__Perdoe-me, não tive a intenção. Está procurando por alguém?__pergunto ainda disfarçando, fingindo não saber do que se trata.

Eu o conheço, mas ele pareceu não me reconhecer, e não o culpo, o conheci anos atrás quando era apenas um soldado, e embora ele não tenha mudado muito, eu sou um homem completamente diferente.

__Sim. Acaso viu uma moça de olhos claros e cabelos longos passando por aqui?__ele pergunta olhando para todas as direções tentando avistar o seu alvo.

__Sim, acredito que vi uma moça com essa descrição, um tanto assutada correndo para lá!__digo, apontando na direção oeste da praça principal, sentido oposto ao qual aquela misteriosa moça verdadeiramente desapareceu, assim ela teria tempo de encontrar um lugar seguro para esconder-se.

__Obrigado. Se me permite?

Ele diz já despedindo-se e segue com seus homens na direção que indiquei.

Para a minha sorte, depois de todo esse alvoroço não demoro a encontrar Bento no meio da multidão e imediatamente seguimos para casa, embora a minha pressa tenha outro motivo especial nesse momento.

Aquela moça misteriosa tomou o sentido leste da praça principal, e se, o seu objetivo era deixar o vilarejo, com certeza teria que pegar a mesma estrada em que estou agora, por isso, tenho a esperança de que talvez possa encontrá-la outra vez, e quem sabe realmente ajudá-lá, no entanto, são trinta minutos de carruagem até chegar em minha fazenda, e pedi que Bento apressasse os cavalos o quanto pudesse, seguindo sempre atendo a qualquer movimentação na estrada, porém, não avistei ninguém pelo caminho, o que me deixou um tanto preocupado, embora não consiga entender porquê.

Assim que chego em casa já é tarde, por isso, tomo um banho quente, e mais uma dose de uísque e deito-me com a intensão de descansar daquele dia bastante exaustivo, afinal, cheguei de viagem da capital essa manhã, participei de um sarau nada interessante e tratei de assuntos nenhum pouco agradáveis, por isso estou extremamente cansado, isso sem contar naquela passeata um tanto surpreendente, o que me faz lembrar daquela moça outra vez.

Lembro-me perfeitamente das feições de seu rosto miúdo e do seu olhar cativante, embora estivessem envolto numa mistura de medo e coragem, que me deixaram intrigado até agora. Quem ela era para deixar o comandante tão nervoso? E o que será que fez para ele querer tanto prendê-la? Será que ajudei uma fugitiva perigosa?

Não. Penso que não. Ela era tão... Como dizer? Tão frágil, e inocente. Não poderia ser perigosa.

Tento convencer-me de que fiz a coisa certa em ajudá-la, embora uma dúvida ainda mais cruciante me tire o sono esta noite.

Onde ela está agora?

Porque não a encontrei pelo caminho, se o mais certo é que tomou a mesma estrada que eu?

Eu não sei. E pensar nisso está quase me deixando maluco.

Ao menos espero que tenha encontrado um lugar seguro para pernoitar, pois uma forte chuva começou a cair logo que saímos de São Martim, e não seria nada saudável passar a noite numa tempestade como essa, porém, tento aceitar que fiz o que pude, e preciso esquecê-la, pois certamente jamais a encontrarei novamente.

...****************...

continua...

capítulo 3

As coisas ainda estão um caos dentro de mim. Sinto-me perdida e sozinha no espaço escuro e vazio numa luta interna comigo mesma e a linha tênue entre a fantasia e a realidade se misturam deixando-me cada vez mais absorvida na escuridão das incertezas.

Sinto uma dor cruciante percorrendo todo meu corpo e um frio congelante e ardente ao mesmo tempo, de forma que não consigo explicar, e quando abro os olhos, vejo que a vida segue o seu curso tranquilamente.

O dia finalmente já raiou e a floresta antes escura e vazia já não é mais tão assustadora quanto na noite tempestuosa que findara, porém, a minha situação não está muito melhor do que antes, na verdade, está bem pior, eu diria.

Procuro com mais atenção tentando identificar aquele lugar e posso ver que estou numa espécie de galpão velho e abandonado, onde as folhas encharcadas que me serviram por cama nessa noite, devem-se devido aos vários buracos no seu teto.

Olhando para a direita vejo uma pequena parede quase caindo bem próxima de mim, e mais a esquerda, vejo uma porta aberta, por onde certamente passei enquanto me arrastava sem forças até desfalecer naquele monte de folhas.

Quero mais uma vez levantar-me e sair dali o quanto antes, pois agora que já é dia com certeza será mais fácil encontrar um lugar seguro, no entanto, não consigo. Avalio outra vez a ferida em minha perna, e vejo que, realmente está pior do que pensei.

A dor espalha-se por meu corpo inteiro e a febre alta parece queimar-me por dentro de modo a causar-me calafrios, e por mais que eu queira, não consigo mover-me para lugar nenhum.

Minha mente ainda está perdida tentando encontrar as respostas de como cheguei a essa situação, e as coisas parecem mais claras agora, pois lembro-me que fugia, mais uma vez, daquele maldito, que nos persegue a anos, por puro divertimento, e agora estou assim, prestes a encarar o fim, cada vez mais inevitável, pois começo a ouvir passos e vozes próximos aonde estou, o que só aumenta o desespero dentro de mim.

Deve ser ele que continua a me procurar. Não posso permitir que me encontre, mas não posso fazer nada para evitar.

Não pode ser.

__Por aqui senhor! Penso que vai gostar desse lugar. Está um pouco abandonado, mas, com uma reforma ficará perfeito!

Ouço alguém dizer entrando de repente no velho galpão, e logo tento reconhecer se são os mesmos que me perseguiam, no entanto, não consigo reconhecer essa voz. O que me deixa apreensiva, e um pouco aliviada.

Parece que não é ele afinal.

__Você tem razão Bento. Depois de alguns reparos esse lugar ficará ótimo!

Uma segunda voz é ouvida, e também não a reconheço, o que me traz mais alívio, porém tenho uma leve impressão de já tê-la ouvido antes.

__Tem certeza que vai ficar dessa vez, senhor? Aqueles malditos ainda vivem por essa região!

O homem da primeira voz pergunta ao encostar-se na parede que está próxima a mim.

O meu coração parece que vai saltar para fora do peito nesse momento, pois mesmo tendo certeza de que esses dois não fazem parte daqueles que me perseguiam, não posso deixar que me encontrem.

__Não posso fugir do passado para sempre, Bento, e se, eu encontrá--los... Talvez possa enfim, realizar o meu desejo!

O segundo homem afirma em um tom rancoroso.

Nesse momento tento mais uma vez sair dali, mas sei que não é possível.

Primeiro porque com certeza eles me veriam, e segundo, porque não tenho forças para mover-me sequer um único centímetro.

Por alguns instantes penso em pedir ajuda, pois é mais do que óbvio que preciso de ajuda, no entanto, não sei se posso confiar neles, por isso, encolho-me o quanto posso para mais próximo da parede, tentando evitar que me vejam.

__Fico feliz com a sua decisão senhor, e estou aqui para ajudá-lo no que for preciso!

Aquele homem da primeira voz afirma a surgir diante de mim. Ele é de pequena estatura, um tanto robusto, e não consigo ver o seu rosto, pois está de costas para mim, observando a paisagem de fora do velho galpão parado na porta, no entanto, sei que me verá no instante em que voltar-se para dentro novamente, e isso eu não poderei evitar.

__Saiba que todos na mansão estão...

Ele para de falar no istante em que me vê, imediatamente surpreso, ao virar-se e se deparar comigo ali, e o que eu mais temia acontece.

__O que houve Bento? Parece que viu um fantasma!l

O segundo homem caçoa, certamente estranhando a expressão espantada no rosto rechonchudo do tal Bento. Ele encara-me com os seus olhos estreitos ainda por uns instantes, como se não acreditasse no que vê, enquanto caminha alguns passos na minha direção.

__É que... Tem uma moça aqui senhor!

Ele responde após piscar algumas vezes, como se quisesse ter certeza de que, realmente não está vendo um fantasma.

__Como?

O segundo homem pergunta espantado, também dando a volta na parede que nos separara e surgindo diante de mim.

Tudo acontece tão rápido que mal tenho tempo de assimilar as coisas diante de mim, pois em uma fração de segundos, a imagem daquele homem baixinho e corpulento de barba grisalha no rosto, é substituída pela figura imponente de um senhor alto, alguns anos mais jovem, corpo atlético e olhar intenso, que me atinge como uma flecha.

__É ela Bento! É a moça do vilarejo!

Ele afirma surpreso assim que me vê e logo segue até mim, e até eu me espanto com o fato dele já me conhecer, pois, não me lembro de já tê-lo visto antes, e inutilmente tento manter-me longe encolhendo-me mais para o canto da parede.

__Mas o senhor a conhece?

Bento pergunta surpreso, tanto quanto eu.

__Depois eu explico. Ela está ferida. Vá buscar o médico depressa!

Ele afirma já me colocando nos seus braços e mesmo que eu queira relutar, não tenho forças para isso. Ainda tento lembrar-me de quando o vi, já que ele afirma conhecer-me, mas é inútil. A inconsciência novamente domina-me enquanto sinto o calor daqueles braços fortes que me seguram com firmeza, e mesmo não tendo certeza se posso confiar nele, não há melhor lugar do que esse agora.

...****************...

Continua...

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