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Lina E Catarina

Capitulo 1

Nossa história começa no mês de janeiro. Para ser mais exato, no dia 31.

Começa em uma casa simples, dentro de um quarto. Passando pela porta era possível encontrar um guarda-roupa

cheio de adesivos, uma cama desarrumada, uma parede cheia de fotos, uma janela entreaberta

e uma penteadeira com um espelho enorme. E na frente do espelho uma garota.

Nossa garota. Lina.

Era uma garota comum, como todas as garotas da sua sala. Suas notas eram na média, não era a melhor atleta nem a melhor aluna. Estava sempre dentro da média. Era bonita, mas não se importava muito com isso. Estava sempre rodeada de amigos, saindo juntos para comer ou passar a tarde em algum parque da cidade. Tinha alguns dias que preferia ficar em casa ouvindo música, e outras vezes maratonando suas séries preferidas. Já

tinha namorado um garoto da sala do lado, mas o lance durou pouco tempo, pois ele era muito ciumento, e a Lina não queria ninguém no pé dela.

Tudo isso na outra escola e na outra cidade. Sua mãe era gerente de uma rede de farmácias e depois de longos

anos conseguiu a transferência de volta para uma filial na cidade onde toda sua família morava. Foram 17 anos longe dos tios, avós e primos. As visitas de final de ano eram sempre curtas demais para matar a saudade. Agora os almoços de domingo seriam com todos reunidos.

Lina estava olhando para o espelho pensando em todas as possíveis situações que enfrentaria na nova escola

no dia seguinte. Escola nova, no último ano do Ensino Médio. Estava feliz por estar perto da família, mas muito chateada de ter que abandonar tudo o que tinha, faltando tão pouco para sua formatura. Mas Lina não era de baixar a cabeça. Iria enfrentar tudo o que viesse. Ela e a mãe, Catarina, sempre foram guerreiras. É importante dizer que Lina fazia parte do grande grupo de brasileiros que não conhecem o pai. No registro só constava o nome da mãe e, quando ela perguntava sobre o pai, Catarina desconversava. Então, depois de muito insistir, Lina decidiu só deixar o assunto morrer. As duas se bastavam, pensava ela. Isso seria o suficiente para enfrentar qualquer mudança e novidade que viesse.

O material estava separado na mochila, o uniforme dobrado em cima da cadeira, o dinheiro para o lanche na

carteira e só faltava agora dormir. Mais uma vez Lina olhou para o espelho, respirou fundo e pensou: “Bora Lina, amanhã é um novo dia.”

O despertador tocou exatamente às 06 horas. Lina abriu os olhos, desejou mais cinco minutos, mas ainda assim

levantou e foi se arrumar. Finalizou seus cachos, colocou seu uniforme, tomou um café, recolheu seu material e foi pra nova escola. O caminho era curto, então ela chegou com folga, bem antes do sinal. Conseguiu encontrar sua sala e achou um lugar encostado na parede, no fundo da sala. Ali conseguiria observar tudo e entender a rotina da sua nova escola. Aos poucos os alunos foram entrando, se apresentando e ela foi se sentindo menos ansiosa. As aulas começaram e os professores pareciam bem legais. O intervalo ainda foi um pouco solitário. Algumas meninas puxaram papo, mas ela ainda se sentiu um pouco deslocada.

Esse não era um cenário muito promissor, Lina pensou. Mas também não era terrível.

Capítulo 2

Na hora da saída, Lina recolheu suas coisas e se preparou para sair. O corredor estava lotado, parecia que

todos os alunos resolveram sair correndo ao mesmo tempo. Observando aquela loucura, Lina decidiu esperar um pouco para conseguir caminhar até o portão. Em cinco minutos a movimentação diminuiu e ela saiu da sala. E trombou com alguém.

Se fosse um dorama, veríamos vários closes da cena em ângulos diferentes e com efeitos cor de rosa e vermelho. Por quê a cena foi exatamente assim. Lina trombou com um cara.

Ele era O cara. Alto, moreno com cabelos encaracolados em um penteado meio bagunçado. Tinha olhos brilhantes e alegres, num castanho claro. O sorriso era de modelo e na hora do encontrão, Lina pensou que o rapaz poderia facilmente ser ator de novela, desses que são considerados os galãs.

Ele olhou para ela surpreso, e pediu desculpas. Exatamente como uma cena clássica, ele ajudou a recolher o

material da garota que havia caído no chão. E ela se sentiu perdida olhando para os olhos dele.

- Me desculpa\, estava distraído\, não te vi...

- Sem problemas\, eu também não vi você.

- Você é nova aqui? Acho que nunca te vi.

- Sou. Eu me mudei pra cá\, hoje foi meu primeiro dia aqui.

- Ah\, que desajeitado te receber na escola desse jeito... Olha\, seu material. Foi mal mesmo. Espero que não

fique com raiva de mim.

- Não\, de verdade\, sem problemas.

E Lina ficou perdida olhando o rapaz saindo pelo corredor. Ele chegou perto da porta, virou e gritou:

- A propósito\, meu nome é João Pedro. Sou do 3º B. Qual é seu nome?

- Lina...

- Legal! Bem-vinda Lina!

E ele saiu pela porta, e Lina ficou parecendo uma estátua de boca aberta. Foi necessário a tia da limpeza

pedir licença para que ela acordasse do transe.

Enquanto isso, João Pedro se segurava para não voltar e ficar olhando para a garota nova. Ela era linda. E tinha um sorriso encantador. Ele se sentiu instantaneamente atraído. Mas afinal, ele era o João Pedro, não se prendia a nenhuma garota.

Assim que percebeu já estar a uma boa distância, se virou e viu a menina saindo pelo portão da escola. Estava sozinha.

Era uma garota impressionante. Mas o mais interessante é que parecia ser uma pessoa simples. Talvez não percebesse o quanto era atraente, ou simplesmente não ligava. E talvez essa indiferença com relação à sua própria aparência a deixasse mais interessante.

João percebeu que a menina seguia por uma parte do mesmo caminho que ele fazia para sua casa. E foi seguindo devagar atrás, sem pressa. Deu espaço para a garota nova e para seus próprios questionamentos. Achou a menina interessante. Mas era um cara livre e não queria se "amarrar" com alguém agora. Decidiu deixar rolar.

Lina seguia para sua casa ansiando para que talvez, finalmente, encontrasse o aconchego de um lar e uma família, agora que estava na cidade dos seus avós. A vida com a mãe em uma cidade distante, aproximou as duas, mas tinha um vazio, que agora sentia necessidade de preencher.

Capítulo 3

Os almoços na casa de Lina e Catarina eram bem simples. No final de semana elas costumavam cozinhar em

quantidade maior e montar marmitas para os outros dias. Lina pegou uma delas e esquentou no micro-ondas. Enquanto comia, decidiu pesquisar o Instagram para encontrar o João Pedro. Mas foi impossível, pois ela não tinha nenhum amigo em comum. Na verdade, não tinha amigo nenhum nessa cidade. Ela ficou um pouco frustrada e decidiu abrir as caixas que ainda estavam fechadas pós mudança.

Começou por alguns utensílios de cozinha que ainda estavam guardados. Depois abriu uma caixa com alguns álbuns de fotos. Tinham fotos de seu primeiro aniversário, de alguns Natais e festinhas da escola antiga. Encontrou um álbum mais antigo e se deparou com algumas fotos da sua mãe mais nova. Algumas viagens, festas de família e por fim, alguns eventos no que pareceu ser a escola. Parecia muito com a escola que ela frequentava agora. Mas a decoração e as cores eram diferentes.

As fotos que encontrou nesse álbum eram bem interessantes. A mãe estava rodeada de amigos, em um passeio

escolar e então uma foto vestida de noiva numa festa junina. E o noivo... Era o João Pedro? Aquilo foi muito estranho. Era revirou o álbum atrás de mais alguma foto, mas não encontrou nada. Decidiu separar esse álbum e mostrar para a mãe.

Esperou a tarde toda.

E ela chegou trazendo muito barulho pela porta. Catarina era uma mulher bonita. Bem resolvida. Ela alegre, ria alto, andava sempre bem vestida e fazia amizade fácil. Era comunicativa e muito inteligente, o que ajudou a crescer na empresa e virar gerente muito rápido. Tinha os cabelos tingidos de loiro, e sabia se maquiar como profissional. Ela teve Lina cedo. Tinha acabado de fazer 18 anos. A família dela deu todo o suporte, porém por seus próprios motivos seguiu como mãe solo. E assim ela se virou junto com a filha por 17 anos. As duas eram mais que mãe e filha, eram amigas mesmo. Uma batalhava pela outra, e Lina sabia que sempre seria assim.

Só tinha um assunto que gerava desconforto entre as duas: o pai de Lina. No resto, elas eram abertas, falavam

sobre a vida, sobre as fofocas, sobre filmes, davam conselhos uma para a outra e viviam muito bem juntas. No período da mudança, Catarina conversou muito com Lina e, juntas, chegaram à conclusão de que era a melhor decisão. As amigas da outra cidade sempre diziam que queriam ter uma relação com a mãe, como a de Lina e Catarina.

- Mãe\, olha as fotos que eu encontrei.

- Filhota! Que achado! Essas suas fotos de pequena sempre me fazem querer outro bebê! (E bateu três vezes na mesa de madeira). Sabe\, você era uma bebê muito boazinha. Não me dava trabalho. Ainda bem!

- Quando eu nasci\, nós morávamos com a vovó\, né?

- Sim\, e agora podemos visitar sempre.

- Mãe\, e essas fotos suas?

Lina entregou o álbum para a mãe, que folheou tudo com cara de surpresa.

- Nossa\, nem lembrava que essas fotos existiam. Menina!!! Olha a turma! Essa daqui era minha melhor amiga.

Soube que está morando em Portugal, agora. Essa menina se achava. Virou professora, mas na capital. Deve ser bem chata com os alunos. Esse rapaz é o dono do mercado aqui da esquina.  Esse professor aqui, era de matemática, o Cristiano. Ele é excelente. Se aposentou e mora num sítio no interior. Ah, que saudades...

- Mãe\, essa escola parece muito com a minha...

- E é! É a mais antiga da região. Tem ótimos professores.

A mãe ia virando as fotos até que chegou  a que estava com o João Pedro. Ele ficou com as bochechas vermelhas e ia para a próxima quando Lina interviu.

- Mãe! Quem é esse rapaz? Eu o vi hoje na escola. Mas não faz sentido!

- Esse! Ah... Era um... amigo meu. João Carlos...

Catarina ficou pensativa e Lina estranhou.

- Ah\, então quem eu vi deve ser filho dele. O nome é João Pedro.

- Filho? O filho dele deve ter mesmo sua idade. Poxa vida. Como o tempo passa...

- Mãe\, meu pai está em alguma dessas fotos.

- Não sei\, Lina. Por favor\, você sabe que não gosto de tocar nesse assunto.

- Mas mãe\, eu pensei que talvez...

- Pois não pense. Estamos bem\, nós duas. Para com isso.

Catarina levantou, deixou o álbum de lado e foi para o quarto.

- FIlha\, vou tomar banho e vou demorar\, preciso hidratar o cabelo.

E Lina sabia que ficaria quase duas horas sem ter a oportunidade de perguntar qualquer coisa para a mãe.

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