Maria cresceu em uma pequena e pacata cidade no interior,
cercada pelas colinas e pela rotina simples. Ela tinha os cabelos loiros sempre
soltos e uma expressão de quem carregava o mundo nos ombros. A única figura
constante em sua vida era sua avó, Dona Carmem, uma senhora de coração
generoso, mas de palavras duras. Foi com ela que Maria aprendeu a ser forte e a
esconder as cicatrizes emocionais que o abandono de seus pais lhe deixara.
Desde muito nova, ela se perguntava o motivo pelo qual seus
pais a haviam deixado. Não se lembrava deles claramente, apenas de flashes: o
cheiro de perfume da mãe e a risada distante de seu pai. "Eles não estavam
prontos para você", dizia Dona Carmem, toda vez que Maria tocava no
assunto. E assim, Maria cresceu se perguntando se algum dia alguém estaria.
A vida na cidade era monótona, e Maria já estava acostumada
com a rotina. Ela trabalhava na padaria local, ajudava sua avó com os afazeres
de casa, e nos finais de semana, encontrava seu amigo de infância, JK, que
sempre a arrastava para aventuras duvidosas. Embora soubesse que JK não era o
melhor dos amigos, Maria sentia que ele era a única pessoa além de sua avó que
ela tinha de verdade. Ele estava sempre presente, mesmo que fosse um pouco
impulsivo e metido em encrencas.
Tudo começou a mudar numa tarde de outono. O sino da porta
da padaria soou, e Maria, distraída, nem sequer levantou o olhar. Estava
perdida em seus pensamentos, até que uma voz baixa e um tanto tímida pediu um
café. "Com leite e açúcar, por favor."
Quando ela olhou para cima, viu um rapaz de óculos, cabelo
castanho bagunçado e uma camiseta de algum filme que ela não reconhecia. Ele
parecia deslocado, mas tinha algo intrigante nele. Era como se ele estivesse
ali, mas sua mente estivesse em outro lugar. "É para viagem?", ela
perguntou, tentando disfarçar o incômodo que sentia ao ser observada por ele
com curiosidade.
"Não, eu vou beber aqui", respondeu o jovem com um
sorriso discreto, que fez Maria sentir algo estranho, como se uma leve brisa
tivesse invadido o lugar.
Maria não sabia o que pensar sobre ele. O rapaz parecia
completamente diferente das pessoas que costumavam frequentar a padaria, e mais
ainda de JK, com seu jeito atrevido e sempre em busca de confusão. Lemuel — ela
descobriu seu nome logo depois — era o oposto de JK. Ele era calmo, discreto,
introvertido. Passava mais tempo lendo livros do que interagindo com outras
pessoas. Isso despertou uma curiosidade inusitada em Maria.
Enquanto ela o observava discretamente, algo dentro dela
questionava o que aquilo poderia significar. Talvez fosse apenas curiosidade,
ou talvez, pela primeira vez, alguém estava conseguindo quebrar a muralha que
ela havia construído ao redor de si mesma.
Dona Carmem, do outro lado da padaria, assistia à cena com
um olhar atento. "Menina, cuidado com o que o coração deseja",
murmurou ela, mais para si mesma do que para Maria.
Lemuel permaneceu na padaria por mais alguns minutos,
tomando seu café e observando o movimento. Maria, inquieta, não conseguia parar
de pensar naquele rapaz misterioso e no que ele poderia trazer de novo à sua
vida. Por fim, ele se levantou, agradeceu de forma gentil e saiu pela porta,
deixando uma leve tensão no ar.
Maria ficou ali, observando-o ir embora, se perguntando se
ele voltaria e, mais importante, se ela estava realmente pronta para permitir
que alguém entrasse em sua vida.
**Pergunta:** Será que Maria está preparada para se
aproximar de Lemuel?
Dias após o primeiro encontro na padaria, Maria não
conseguia tirar Lemuel da cabeça. Aquele jeito quieto e misterioso, o contraste
com tudo o que ela conhecia, mexia com seus pensamentos. Ela se perguntava se
ele voltaria, mas ele não apareceu mais. Até que, num sábado à tarde, enquanto
passeava pela praça central da cidade, seus olhos se cruzaram novamente.
Maria estava na livraria, um dos poucos lugares que oferecia
algum tipo de refúgio intelectual naquele cantinho esquecido do mundo. Era um
lugar pequeno e modesto, mas com estantes repletas de livros empoeirados e
cadeiras confortáveis para leitura. Ela adorava passar as tardes ali, folheando
livros que raramente comprava.
Quando ela entrou na loja, logo percebeu a figura familiar
entre as prateleiras. Lá estava Lemuel, com o mesmo ar distraído, segurando um
livro grosso nas mãos, tão absorto na leitura que não notou a presença de
Maria. Ela se aproximou lentamente, tentando disfarçar o nervosismo que surgia
em seu peito.
“Você não vai conseguir ler esse de pé, vai quebrar as
costas,” Maria disse, apontando para o livro enorme nas mãos dele, com um
sorriso malicioso.
Lemuel se virou de repente, claramente surpreso. Ele ajustou
os óculos e olhou para Maria, envergonhado. “É... você tem razão. Talvez eu
devesse sentar.”
Maria riu de leve, e eles se sentaram lado a lado em uma das
cadeiras da livraria. O embaraço inicial logo se transformou em uma conversa
cheia de humor, repleta de pequenas piadas e momentos de desconforto
engraçados. Lemuel, embora tímido, tinha uma inteligência afiada e um humor
sutil que fazia Maria rir sem esforço. Ela se sentiu confortável ao lado dele,
algo raro para alguém que sempre construía muros ao redor de si.
Enquanto conversavam sobre livros, filmes e até as
peculiaridades da pequena cidade, Maria percebeu algo diferente em Lemuel. Ele
não tentava impressioná-la, nem usava artifícios para parecer interessante. Ele
simplesmente era. Sem pretensões, sem segundas intenções. E isso a fazia
relaxar.
No meio da conversa, porém, algo inesperado aconteceu. O
celular de Maria vibrou em seu bolso, trazendo-a de volta à realidade. Era uma
mensagem de JK. Ela suspirou ao ler: “Encontro marcado. Traz o que pedi. Sem
perguntas.”
JK estava sempre metido em algum tipo de encrenca, e
ultimamente suas atividades estavam ficando cada vez mais sombrias. Maria, por
mais que tivesse uma amizade antiga com ele, sabia que estava se envolvendo em
algo perigoso, mas se sentia presa por uma lealdade que não conseguia explicar.
Ela guardou o celular rapidamente, tentando esconder a tensão que a mensagem
trouxe, mas Lemuel notou a mudança de expressão.
“Tudo bem?” ele perguntou, genuinamente preocupado.
Maria sorriu, tentando disfarçar. “Sim, só um amigo me
chamando para... resolver umas coisas.” Ela mudou de assunto rapidamente,
tentando afastar JK de seus pensamentos, pelo menos por um tempo. Mas, mesmo
enquanto ela falava com Lemuel, sabia que logo teria que lidar com o lado
sombrio da vida de JK.
Lemuel, por outro lado, parecia alheio ao mundo de Maria
fora daquele encontro. Ele falava sobre como era difícil se adaptar a uma
cidade pequena como aquela, vindo de um lugar maior. Não conhecia muitas
pessoas e passava grande parte do tempo estudando, algo que Maria considerou
intrigante e, de certa forma, reconfortante. Ele era diferente de todos os
outros rapazes que ela conhecia.
Quando finalmente se despediram, Lemuel sorriu de um jeito
tímido e genuíno, deixando Maria com uma sensação de leveza. Enquanto ele se
afastava, ela percebeu que gostava daquele jeito desajeitado dele, daquela
calma que ele trazia.
Mas a realidade voltou a bater em sua porta logo em seguida.
Assim que saiu da livraria, ela encontrou JK encostado em uma moto, o olhar escuro
e um sorriso de canto de boca. Ele parecia perigoso, como sempre.
“Está atrasada”, disse JK, olhando para ela com uma mistura
de diversão e impaciência. “Vamos logo, temos um trabalho para fazer.”
Maria hesitou. Por um momento, quis dizer a ele que não
iria, que estava cansada de se meter em encrenca por causa dele. Mas as
palavras ficaram presas em sua garganta. A lealdade que ela sentia por JK a
segurava de um jeito que ela mesma não entendia.
Enquanto seguia JK pelas ruas da cidade, a mente de Maria
vagava de volta para Lemuel. Seria ele capaz de entender essa parte de sua
vida? E o que ele pensaria se descobrisse no que ela estava envolvida?
**Pergunta:** Lemuel vai descobrir a verdadeira natureza de
JK?
Nos dias seguintes ao encontro na livraria, Maria se viu
cada vez mais dividida entre dois mundos: o de Lemuel, cheio de calma e novas
descobertas, e o de JK, sempre envolto em mistério, adrenalina e perigo. Sua
lealdade a JK era antiga, construída em anos de amizade, mas o que antes
parecia uma amizade genuína agora estava cheio de segredos sombrios que Maria
preferia não enxergar.
Enquanto isso, Lemuel começava a notar os sinais. Ele não
era ingênuo; a cidade era pequena, e logo soube por rumores que JK não era
apenas um jovem encrenqueiro, mas alguém envolvido em atividades perigosas.
Embora ele não tivesse todos os detalhes, bastava observar o comportamento de
Maria quando falava de JK para saber que algo estava errado. Lemuel gostava de
Maria, mais do que queria admitir, e o pensamento de vê-la envolvida com alguém
como JK o deixava inquieto.
Uma tarde, Lemuel decidiu confrontá-la. Eles estavam
sentados em um café, como haviam começado a fazer com frequência, quando ele
finalmente reuniu coragem para tocar no assunto.
"Maria, posso te perguntar uma coisa? E quero que você
seja sincera", ele começou, com um tom sério que ela não costumava ver
nele.
Ela o olhou, surpresa. “Claro. O que foi?”
Ele hesitou por um momento, mas continuou: "Eu sei que
você é muito próxima do JK, mas... ouvi coisas sobre ele, e estou preocupado.
Ouvi que ele está envolvido com gente perigosa. Não quero te julgar, mas acho
que você precisa ter cuidado. Eu sinto que você está se metendo em algo ruim,
Maria."
Maria sentiu seu estômago revirar. Ela sabia que Lemuel
tinha razão, mas admitir isso seria como trair JK. O que Lemuel não entendia
era que JK era mais do que um amigo de infância. Ele havia estado ao lado dela
nos momentos mais difíceis, quando ela se sentia completamente abandonada por
seus pais. Ele era sua âncora, por mais distorcida que essa relação fosse.
Mesmo sabendo que JK estava indo por um caminho errado, parte dela acreditava
que ele só precisava de alguém para tirá-lo da escuridão, e ela se sentia
responsável por isso.
"JK... ele pode ser complicado às vezes, mas ele não é
o que as pessoas dizem. As coisas são mais complicadas do que parecem",
Maria disse, desviando o olhar de Lemuel, tentando esconder a incerteza em sua
voz.
Lemuel, no entanto, não desistiu tão facilmente.
"Maria, eu entendo que você se preocupa com ele. Mas esse tipo de lealdade
pode te arrastar para o fundo também. E se ele acabar te machucando? Não posso
ficar calado vendo você se colocar em perigo."
Ela sentiu a pressão aumentar. Não queria decepcionar
Lemuel, mas também não podia virar as costas para JK. Ele era como uma parte de
sua vida que ela não conseguia deixar para trás, como se o passado e o presente
estivessem sempre colidindo.
“Eu sei que você quer me ajudar”, disse Maria, com a voz
mais suave. “Mas JK não é esse monstro que todos pensam. Eu sei que ele está
passando por uma fase ruim, mas ele vai sair dessa. Ele só precisa de apoio.”
Lemuel balançou a cabeça, frustrado. "Maria, às vezes,
apoiar alguém significa dizer que eles estão errados. Você está se colocando em
risco por causa dele. Eu... só não quero que algo ruim aconteça com você."
Aquela frase pesou no coração de Maria. Ela sabia que Lemuel
estava sendo sincero, e o fato de ele se preocupar a deixava dividida. Mas a
voz de JK, sua lealdade ao amigo, sempre ecoava em sua mente.
Antes que a conversa pudesse continuar, o telefone de Maria
vibrou. Era uma mensagem de JK: "Tenho algo importante para resolver.
Preciso de você agora." Aquelas palavras a colocaram em um dilema
imediato. Ela sabia que, se fosse, Lemuel ficaria desapontado. Mas, ao mesmo
tempo, a urgência na mensagem de JK fazia seu coração bater mais rápido.
"Eu tenho que ir", disse Maria, se levantando
rapidamente. Lemuel a olhou com uma mistura de decepção e preocupação. Ele
sabia para onde ela estava indo, mesmo sem precisar perguntar.
"Maria, por favor, pense no que eu disse", ele
insistiu, enquanto ela se afastava.
Ela parou por um momento, olhando para ele por sobre o
ombro, sem dizer nada, apenas com um olhar de desculpas. E então, saiu
apressada, deixando Lemuel para trás, com o coração apertado e uma sensação de
que as coisas estavam prestes a piorar.
Ao chegar no local combinado, JK estava à espera, com aquele
sorriso confiante e meio sombrio que ela conhecia bem. Ele se aproximou de
Maria, colocando um braço ao redor dela.
“Sabia que você viria. Sempre posso contar com você, não é,
Maria?”, ele disse, sua voz carregada de um charme perigoso.
Maria sorriu de leve, mas no fundo, as palavras de Lemuel
ecoavam em sua mente. "Será que estou me colocando em perigo por causa de
JK?" Ela sabia que aquela amizade estava se tornando uma faca de dois
gumes, mas a ideia de abandonar JK era algo que ela não conseguia conceber.
Pelo menos, não ainda.
**Pergunta:** Maria vai ignorar os conselhos de Lemuel e
seguir com JK?
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