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Ousado Amor

Capítulo 1: O Passado de Maria

Maria cresceu em uma pequena e pacata cidade no interior,

cercada pelas colinas e pela rotina simples. Ela tinha os cabelos loiros sempre

soltos e uma expressão de quem carregava o mundo nos ombros. A única figura

constante em sua vida era sua avó, Dona Carmem, uma senhora de coração

generoso, mas de palavras duras. Foi com ela que Maria aprendeu a ser forte e a

esconder as cicatrizes emocionais que o abandono de seus pais lhe deixara.

Desde muito nova, ela se perguntava o motivo pelo qual seus

pais a haviam deixado. Não se lembrava deles claramente, apenas de flashes: o

cheiro de perfume da mãe e a risada distante de seu pai. "Eles não estavam

prontos para você", dizia Dona Carmem, toda vez que Maria tocava no

assunto. E assim, Maria cresceu se perguntando se algum dia alguém estaria.

A vida na cidade era monótona, e Maria já estava acostumada

com a rotina. Ela trabalhava na padaria local, ajudava sua avó com os afazeres

de casa, e nos finais de semana, encontrava seu amigo de infância, JK, que

sempre a arrastava para aventuras duvidosas. Embora soubesse que JK não era o

melhor dos amigos, Maria sentia que ele era a única pessoa além de sua avó que

ela tinha de verdade. Ele estava sempre presente, mesmo que fosse um pouco

impulsivo e metido em encrencas.

Tudo começou a mudar numa tarde de outono. O sino da porta

da padaria soou, e Maria, distraída, nem sequer levantou o olhar. Estava

perdida em seus pensamentos, até que uma voz baixa e um tanto tímida pediu um

café. "Com leite e açúcar, por favor."

Quando ela olhou para cima, viu um rapaz de óculos, cabelo

castanho bagunçado e uma camiseta de algum filme que ela não reconhecia. Ele

parecia deslocado, mas tinha algo intrigante nele. Era como se ele estivesse

ali, mas sua mente estivesse em outro lugar. "É para viagem?", ela

perguntou, tentando disfarçar o incômodo que sentia ao ser observada por ele

com curiosidade.

"Não, eu vou beber aqui", respondeu o jovem com um

sorriso discreto, que fez Maria sentir algo estranho, como se uma leve brisa

tivesse invadido o lugar.

Maria não sabia o que pensar sobre ele. O rapaz parecia

completamente diferente das pessoas que costumavam frequentar a padaria, e mais

ainda de JK, com seu jeito atrevido e sempre em busca de confusão. Lemuel — ela

descobriu seu nome logo depois — era o oposto de JK. Ele era calmo, discreto,

introvertido. Passava mais tempo lendo livros do que interagindo com outras

pessoas. Isso despertou uma curiosidade inusitada em Maria.

Enquanto ela o observava discretamente, algo dentro dela

questionava o que aquilo poderia significar. Talvez fosse apenas curiosidade,

ou talvez, pela primeira vez, alguém estava conseguindo quebrar a muralha que

ela havia construído ao redor de si mesma.

Dona Carmem, do outro lado da padaria, assistia à cena com

um olhar atento. "Menina, cuidado com o que o coração deseja",

murmurou ela, mais para si mesma do que para Maria.

Lemuel permaneceu na padaria por mais alguns minutos,

tomando seu café e observando o movimento. Maria, inquieta, não conseguia parar

de pensar naquele rapaz misterioso e no que ele poderia trazer de novo à sua

vida. Por fim, ele se levantou, agradeceu de forma gentil e saiu pela porta,

deixando uma leve tensão no ar.

Maria ficou ali, observando-o ir embora, se perguntando se

ele voltaria e, mais importante, se ela estava realmente pronta para permitir

que alguém entrasse em sua vida.

**Pergunta:** Será que Maria está preparada para se

aproximar de Lemuel?

**Capítulo 2: A Primeira Conversa**

Dias após o primeiro encontro na padaria, Maria não

conseguia tirar Lemuel da cabeça. Aquele jeito quieto e misterioso, o contraste

com tudo o que ela conhecia, mexia com seus pensamentos. Ela se perguntava se

ele voltaria, mas ele não apareceu mais. Até que, num sábado à tarde, enquanto

passeava pela praça central da cidade, seus olhos se cruzaram novamente.

Maria estava na livraria, um dos poucos lugares que oferecia

algum tipo de refúgio intelectual naquele cantinho esquecido do mundo. Era um

lugar pequeno e modesto, mas com estantes repletas de livros empoeirados e

cadeiras confortáveis para leitura. Ela adorava passar as tardes ali, folheando

livros que raramente comprava.

Quando ela entrou na loja, logo percebeu a figura familiar

entre as prateleiras. Lá estava Lemuel, com o mesmo ar distraído, segurando um

livro grosso nas mãos, tão absorto na leitura que não notou a presença de

Maria. Ela se aproximou lentamente, tentando disfarçar o nervosismo que surgia

em seu peito.

“Você não vai conseguir ler esse de pé, vai quebrar as

costas,” Maria disse, apontando para o livro enorme nas mãos dele, com um

sorriso malicioso.

Lemuel se virou de repente, claramente surpreso. Ele ajustou

os óculos e olhou para Maria, envergonhado. “É... você tem razão. Talvez eu

devesse sentar.”

Maria riu de leve, e eles se sentaram lado a lado em uma das

cadeiras da livraria. O embaraço inicial logo se transformou em uma conversa

cheia de humor, repleta de pequenas piadas e momentos de desconforto

engraçados. Lemuel, embora tímido, tinha uma inteligência afiada e um humor

sutil que fazia Maria rir sem esforço. Ela se sentiu confortável ao lado dele,

algo raro para alguém que sempre construía muros ao redor de si.

Enquanto conversavam sobre livros, filmes e até as

peculiaridades da pequena cidade, Maria percebeu algo diferente em Lemuel. Ele

não tentava impressioná-la, nem usava artifícios para parecer interessante. Ele

simplesmente era. Sem pretensões, sem segundas intenções. E isso a fazia

relaxar.

No meio da conversa, porém, algo inesperado aconteceu. O

celular de Maria vibrou em seu bolso, trazendo-a de volta à realidade. Era uma

mensagem de JK. Ela suspirou ao ler: “Encontro marcado. Traz o que pedi. Sem

perguntas.”

JK estava sempre metido em algum tipo de encrenca, e

ultimamente suas atividades estavam ficando cada vez mais sombrias. Maria, por

mais que tivesse uma amizade antiga com ele, sabia que estava se envolvendo em

algo perigoso, mas se sentia presa por uma lealdade que não conseguia explicar.

Ela guardou o celular rapidamente, tentando esconder a tensão que a mensagem

trouxe, mas Lemuel notou a mudança de expressão.

“Tudo bem?” ele perguntou, genuinamente preocupado.

Maria sorriu, tentando disfarçar. “Sim, só um amigo me

chamando para... resolver umas coisas.” Ela mudou de assunto rapidamente,

tentando afastar JK de seus pensamentos, pelo menos por um tempo. Mas, mesmo

enquanto ela falava com Lemuel, sabia que logo teria que lidar com o lado

sombrio da vida de JK.

Lemuel, por outro lado, parecia alheio ao mundo de Maria

fora daquele encontro. Ele falava sobre como era difícil se adaptar a uma

cidade pequena como aquela, vindo de um lugar maior. Não conhecia muitas

pessoas e passava grande parte do tempo estudando, algo que Maria considerou

intrigante e, de certa forma, reconfortante. Ele era diferente de todos os

outros rapazes que ela conhecia.

Quando finalmente se despediram, Lemuel sorriu de um jeito

tímido e genuíno, deixando Maria com uma sensação de leveza. Enquanto ele se

afastava, ela percebeu que gostava daquele jeito desajeitado dele, daquela

calma que ele trazia.

Mas a realidade voltou a bater em sua porta logo em seguida.

Assim que saiu da livraria, ela encontrou JK encostado em uma moto, o olhar escuro

e um sorriso de canto de boca. Ele parecia perigoso, como sempre.

“Está atrasada”, disse JK, olhando para ela com uma mistura

de diversão e impaciência. “Vamos logo, temos um trabalho para fazer.”

Maria hesitou. Por um momento, quis dizer a ele que não

iria, que estava cansada de se meter em encrenca por causa dele. Mas as

palavras ficaram presas em sua garganta. A lealdade que ela sentia por JK a

segurava de um jeito que ela mesma não entendia.

Enquanto seguia JK pelas ruas da cidade, a mente de Maria

vagava de volta para Lemuel. Seria ele capaz de entender essa parte de sua

vida? E o que ele pensaria se descobrisse no que ela estava envolvida?

**Pergunta:** Lemuel vai descobrir a verdadeira natureza de

JK?

**Capítulo 3: Segredos Revelados**

Nos dias seguintes ao encontro na livraria, Maria se viu

cada vez mais dividida entre dois mundos: o de Lemuel, cheio de calma e novas

descobertas, e o de JK, sempre envolto em mistério, adrenalina e perigo. Sua

lealdade a JK era antiga, construída em anos de amizade, mas o que antes

parecia uma amizade genuína agora estava cheio de segredos sombrios que Maria

preferia não enxergar.

Enquanto isso, Lemuel começava a notar os sinais. Ele não

era ingênuo; a cidade era pequena, e logo soube por rumores que JK não era

apenas um jovem encrenqueiro, mas alguém envolvido em atividades perigosas.

Embora ele não tivesse todos os detalhes, bastava observar o comportamento de

Maria quando falava de JK para saber que algo estava errado. Lemuel gostava de

Maria, mais do que queria admitir, e o pensamento de vê-la envolvida com alguém

como JK o deixava inquieto.

Uma tarde, Lemuel decidiu confrontá-la. Eles estavam

sentados em um café, como haviam começado a fazer com frequência, quando ele

finalmente reuniu coragem para tocar no assunto.

"Maria, posso te perguntar uma coisa? E quero que você

seja sincera", ele começou, com um tom sério que ela não costumava ver

nele.

Ela o olhou, surpresa. “Claro. O que foi?”

Ele hesitou por um momento, mas continuou: "Eu sei que

você é muito próxima do JK, mas... ouvi coisas sobre ele, e estou preocupado.

Ouvi que ele está envolvido com gente perigosa. Não quero te julgar, mas acho

que você precisa ter cuidado. Eu sinto que você está se metendo em algo ruim,

Maria."

Maria sentiu seu estômago revirar. Ela sabia que Lemuel

tinha razão, mas admitir isso seria como trair JK. O que Lemuel não entendia

era que JK era mais do que um amigo de infância. Ele havia estado ao lado dela

nos momentos mais difíceis, quando ela se sentia completamente abandonada por

seus pais. Ele era sua âncora, por mais distorcida que essa relação fosse.

Mesmo sabendo que JK estava indo por um caminho errado, parte dela acreditava

que ele só precisava de alguém para tirá-lo da escuridão, e ela se sentia

responsável por isso.

"JK... ele pode ser complicado às vezes, mas ele não é

o que as pessoas dizem. As coisas são mais complicadas do que parecem",

Maria disse, desviando o olhar de Lemuel, tentando esconder a incerteza em sua

voz.

Lemuel, no entanto, não desistiu tão facilmente.

"Maria, eu entendo que você se preocupa com ele. Mas esse tipo de lealdade

pode te arrastar para o fundo também. E se ele acabar te machucando? Não posso

ficar calado vendo você se colocar em perigo."

Ela sentiu a pressão aumentar. Não queria decepcionar

Lemuel, mas também não podia virar as costas para JK. Ele era como uma parte de

sua vida que ela não conseguia deixar para trás, como se o passado e o presente

estivessem sempre colidindo.

“Eu sei que você quer me ajudar”, disse Maria, com a voz

mais suave. “Mas JK não é esse monstro que todos pensam. Eu sei que ele está

passando por uma fase ruim, mas ele vai sair dessa. Ele só precisa de apoio.”

Lemuel balançou a cabeça, frustrado. "Maria, às vezes,

apoiar alguém significa dizer que eles estão errados. Você está se colocando em

risco por causa dele. Eu... só não quero que algo ruim aconteça com você."

Aquela frase pesou no coração de Maria. Ela sabia que Lemuel

estava sendo sincero, e o fato de ele se preocupar a deixava dividida. Mas a

voz de JK, sua lealdade ao amigo, sempre ecoava em sua mente.

Antes que a conversa pudesse continuar, o telefone de Maria

vibrou. Era uma mensagem de JK: "Tenho algo importante para resolver.

Preciso de você agora." Aquelas palavras a colocaram em um dilema

imediato. Ela sabia que, se fosse, Lemuel ficaria desapontado. Mas, ao mesmo

tempo, a urgência na mensagem de JK fazia seu coração bater mais rápido.

"Eu tenho que ir", disse Maria, se levantando

rapidamente. Lemuel a olhou com uma mistura de decepção e preocupação. Ele

sabia para onde ela estava indo, mesmo sem precisar perguntar.

"Maria, por favor, pense no que eu disse", ele

insistiu, enquanto ela se afastava.

Ela parou por um momento, olhando para ele por sobre o

ombro, sem dizer nada, apenas com um olhar de desculpas. E então, saiu

apressada, deixando Lemuel para trás, com o coração apertado e uma sensação de

que as coisas estavam prestes a piorar.

Ao chegar no local combinado, JK estava à espera, com aquele

sorriso confiante e meio sombrio que ela conhecia bem. Ele se aproximou de

Maria, colocando um braço ao redor dela.

“Sabia que você viria. Sempre posso contar com você, não é,

Maria?”, ele disse, sua voz carregada de um charme perigoso.

Maria sorriu de leve, mas no fundo, as palavras de Lemuel

ecoavam em sua mente. "Será que estou me colocando em perigo por causa de

JK?" Ela sabia que aquela amizade estava se tornando uma faca de dois

gumes, mas a ideia de abandonar JK era algo que ela não conseguia conceber.

Pelo menos, não ainda.

**Pergunta:** Maria vai ignorar os conselhos de Lemuel e

seguir com JK?

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