Era uma noite chuvosa. Eu sentia frio, fome e medo dos barulhos que nem imaginava o que seriam. Eu tinha apenas dias de vida.
Um barulho diferente e logo sinto que estou sendo carregada num colo. Não sinto o cheiro de leite, então continuo a chorar.
Logo me sinto aquecida e não tenho mais fome. Aí vem o sono. E nesse sonho os anjinhos querem me pegar.
💭 sonho off
💭Lembranças on
Dezenove anos depois
_Bom dia papai_ dou um beijo na cabeça do meu pai que já mostra sinais de calvície precoce_ mamãe ainda está dormindo?
_ Bom dia princesa. Ela está fazendo as suas panquecas preferidas.
_ Uau. Que delícia. Por que essa regalia?
_ Porque a minha princesa vai para a faculdade hoje_ diz a mãe sorrindo chegando com uma bandeja de panquecas de queijo_ Bom dia filha.
_Bom dia mamãe. Obrigada pelo carinho.
Eles comeram entre risadas. Todas as manhãs eram assim. Conto a eles o meu sonho com o orfanato. Eles estavam relutantes em me levar lá. E evitam novamente o assunto. Logo ouvem a buzina estridente do carro de Heloisa.
Eloá sai comendo uma panqueca e manda um beijo para os pais.
Tchau, meus amores. Não quero chegar atrasada no primeiro dia.
💭 Lembranças off
Aqui nessa cama de hospital, a única coisa que afasta a minha tristeza é lembrar desses momentos com aqueles que me amam.
Ainda fico me perguntando como deixei as coisas chegarem a esse ponto. E a resposta que me vem a cabeça é porque sou burra.
A história que o amor cega é meia verdade. Ele também emburrece. As lágrimas caem pela sua face.
Quem pagou pelo sua burrice foi um anjinho e ela nunca iria se perdoar. Deveria ter ouvido os avisos, visto os sinais que cada dia ficavam mais explícitos.
Mas não. Decidi usar a velha estratégia de pessoas egoístas e burras de remendar um estrago irreparável com um desejo que só pertencia a mim.
Os meus pais chegaram com um buquê lindo de flores brancas. E a minha mãe trouxe a sua sopa deliciosa. Ela era fantástica na cozinha. Fez um curso de culinária para aperfeiçoar os seus dons.
_Como está a minha princesa hoje?
_Agora estou melhor, papai. Vocês sempre conseguem melhorar o meu dia.
_Que bom, minha filha. Fiz a sua sopa preferida. Ou não gosta mais de minestrone?
_Adoro mamãe. Obrigada.
Eles ficaram um bom tempo ali comigo, assistindo vídeos engraçados. Quando foram embora, a enfermeira veio e me aplicou o sedativo.
Ainda fiquei uma semana no hospital. E todos os dias os meus pais iam almoçar e jantar comigo. Helô vinha a tarde. Todos se esforçavam para que eu não ficasse sozinha.
Depois do que fiz eles passarem, eu entendia essa preocupação. E agradecia de coração todo esse carinho.
Quando saí do hospital, a minha mãe me convenceu a ficar uns dias na casa dela. Eu aceitei, pois não tinha ainda uma casa para ir.
Apesar de ter recebido alta, o médico ainda recomendou repouso. E nem era preciso ele recomendar, pois eu só queria mesmo ficar deitada.
Mas os planos da minha mãe não incluíam cama. Não o dia todo. Ela me convencia a banhos de piscina, assistir vídeos de culinária.
Até aprender a fazer tricô ela tentou me ensinar. Mas definitivamente eu não levo jeito para trabalhos artesanais.
Uma condição para eu ter alta, era fazer a terapia. Mas a psicóloga concordou em ir até em casa para as sessões. As primeiras eu não falava nada. Ficava olhando o teto.
Ela esperou pacientemente o meu tempo de abrir o coração. Comecei a falar da minha infância. Apesar de ter sido deixada na porta de um orfanato, numa noite chuvosa, fui acolhida por freiras bondosas e logo me entregaram para os meus pais. Cresci num lar amoroso e feliz.
A minha adolescência foi tranquila. Os meus pais impunham regras mas conversavam muito e não houve nenhum conflito.
Eu sei que os meus pais se orgulhavam de mim. Eu era uma ótima aluna. E muito popular. Tratava a todos com respeito.
Fui aceita em Harvard, junto com Heloisa. Estava indo muito bem. Adorava o curso de designer de modas. Heloisa fazia designer de joias.
O meu inferno começou no meu último ano da faculdade. Queria apagar esse ano da memória.
Quando minha mãe descobriu que eu me recusava a falar nas sessões, usou a melhor arma que tinha. A chantagem emocional.
_ Eloá, quer me ver arrasada? Como posso ajudar a minha única filha se ela é tão teimosa?
Eu detestava ver a minha mãe triste e prometi que faria o que ela quisesse.
Na próxima sessão, eu olhei bem para a minha psicóloga e tive vontade de enganá-la.
_ Não existe mais o sigilo entre paciente e médico.
_ Existe sim.
_ Não é o que parece. Como a minha mãe ficou sabendo que fiquei calada nas primeiras sessões?
_ Ela perguntou como você estava. Eu apenas disse que ainda não sabia dizer.
_ Eu estou bem. Não preciso de terapia. Na verdade já sei o que quero.
_ E o que faz você pensar que está bem?
_ Eu não penso. Estou bem. O problema não é você.
_ Eu sei disso. E não é você. Não estou aqui para apontar problemas, Eloá. Estou aqui para ouvir.
_ Mas eu não quero falar.
_ Por que? Não lhe passo confiança?
_ Não é isso. Acordei com uma vontade hoje. E talvez depois eu possa fazer essa terapia.
_ Eloá, você sabe que a terapia foi recomendação do seu médico?
_ Sim. E muitas vezes deixei de tomar remédios receitados por ele.
Quando a psicóloga viu que Eloá não iria mudar de ideia, juntou as suas coisas e saiu. Os pais dela estavam na sala e se levantaram ao mesmo tempo.
_ Aconteceu alguma coisa, Andréa?
_ Desculpe Julia. Eloá me dispensou. É melhor conversarem com ela. Parece que tem outros planos.
Depois que a psicóloga foi embora, Eu apareço sorrido na sala.
_ Eu sei que estão preocupados. Podem estar até bravos. Mas eu não quero terapia. Eu vou fazer uma coisa que sempre sonhei.
_ Podemos saber o que?_ Greg pergunta com o semblante fechado _ a terapia é recomendação médica.
_ Eu sei papai. Não se preocupe. O que quero fazer é uma terapia alternativa. Quero viajar para a Sardenha.
_ Viajar?_ Perguntam os dois juntos _ não acha cedo demais Viajar agora? Você ainda está frágil.
_ Eu sei mamãe. Mas ontem assisti um filme. E sonhei com a Sardenha. Sabem que sempre quis ir lá.
_Sim. Mas você pode ir depois. Primeiro faça a terapia.
_Mamãe, eu não me sinto segura em fazer terapia com a sua melhor amiga, pois sei que você sempre consegue fazê-la falar.
Greg olha sorrindo para a esposa. Era exatamente por isso que ela tinha escolhido Mary.
_ Eu prometo a vocês que farei terapia lá.
_ Então você vai demorar lá?
_ Pretendo morar lá. Sei que tem um castelo maravilhoso numa comuna que está precisando de designer de interiores.
_Mas minha filha, é tão longe!_ Choraminga a mãe_ você sabe que não consigo ficar muito tempo sem te ver.
_ Mamãe, a senhora quer que eu siga a minha vida, não é?_ A mãe assentiu_ e eu vi como quero seguir.
_ Meu bem. Eloá está certa. Vejo o brilho de desafio nos olhos dela. Vamos incentivar. E podemos sempre ir visitá-la.
Eu abracei o meu pai e fiz cócegas na mãe até vê-la sorrindo. Depois fomos almoçar.
Depois subi para o meu quarto e enviei o meu currículo para o hotel. E era só torcer agora.
Heloisa passou na minha casa e ao ficar sabendo, não gostou muito da ideia.
_ Você tem certeza que está bem para enfrentar esse desafio Eloá?
_ Tenho. Você sabe como tinha essa vontade de viajar e principalmente para a Sardenha.
_Viajar é ótimo. Mas morar numa comuna?
_ Eu andei olhando fotos e vídeos e já estou apaixonada pelo lugar.
_ Espero que esteja fazendo a coisa certa.
Depois que Heloisa foi embora, para se trocar pois iríamos ao shopping, eu fiquei deitada olhando para o teto.
💭 lembranças on
Era o último ano na faculdade e eu fui praticamente arrastada por Heloisa para uma festa numa fraternidade. Estava cheio e preferi ficar na varanda. Bebia um refrigerante quando ouvi uma voz suave.
_ Está perdida?
_ Não. O barulho está muito e me incomoda.
Ele sorriu e perguntou se poderia sentar-se perto de mim. Eu dei de ombros.
_ Oi, eu sou Karl. Fraternidade Beta.
_ Prazer, Eloá, fraternidade Lótus.
_ É caloura?
_ Não. É meu último período.
_ Nunca a vi. Eu também estou no último período. Curso advocacia. E você?
_ Designer de interiores.
_ Você foi ao jogo hoje?
_ Não curto jogos. Fiquei estudando.
_ Então está explicado. Eu geralmente sou famoso e fiquei encucado por não mostrar entusiasmo ao me apresentar.
_ Desculpe. É famoso?
_ Sim. Sou o melhor quarterback do time de Harvard.
_ Parabéns. Mas nem sei o que é isso.
_ Não tem problema. O importante é nós nos conhecermos.
Desde então no tornamos um casal. E por isso tive problemas com as fãs de Karl. Vivia sofrendo trotes e uns eram humilhantes. Karl ameaçou sair do time se continuasse.
Assim tive sossego e engatamos um namoro. Os meus pais ficaram encantados com Karl, que soube ser educado e galanteador. Eu não tive essa sorte com os pais de Karl. Eles queriam ver o filho se tornar um jogador de futebol profissional.
O namoro foi se tornando sério. Mas eu não me entregava e Karl respeitou. Quando terminamos a faculdade, começamos os planos para o casamento.
Eu deveria ter aberto mais os olhos.
💭 lembranças off
Mais tarde, abri o notebook, mas ainda não havia resposta. Eu tinha um compromisso com a minha mãe e Heloisa. Fazer compras no shopping. Fomos e mesmo com muitas sacolas, eu não estava muito animada.
Quando chegamos em casa, tomei um banho. Desci para o jantar. Estava com um pouco de dor de cabeça e pedi licença.
No quarto abri o notebook e a resposta estava lá. A entrevista seria no dia seguinte em um escritório no centro de Nova York.
Não consegui dormir de tanta excitação e pela primeira vez não fui atormentada mais por lembranças.
Eu sou Eloá, tenho 30 anos. Divorciada. Graduada em designer de modas. Depois de um relacionamento abusivo me tornei uma mulher cética e determinada a vencer todo e qualquer obstáculo.
Sou Julia, 49 anos. Sou advogada e trabalho na empresa do meu marido pelo qual sou muito apaixonada. Eu sou a mãe de Eloá.
Eu sou Gregório, conhecido como Greg, 50 anos. Sou engenheiro e pai de Eloá. Amo as mulheres da minha vida, Julia e Eloá.
Eu sou Heloísa, solteira convicta, 30 anos. Sou a melhor amiga de Eloá. Acompanhei a sua história. Sou graduada em designer de joias.
Eu sou Teresa, 47 anos. Sou artista plástica e mãe de Heloisa.
Eu sou Marcos, 49 anos, sou juiz e pai de Heloisa.
Eu sou Matheo, 30 anos. CEO de uma rede de hotéis espalhados pelo mundo. Sou um romântico à moda antiga, mas encontrar uma mulher que mereça o meu amor está difícil e assim curto as que aparecem.
Eu sou Helena, 50 anos, mãe de Matheo. Sou professora de literatura e amo a minha profissão.
Eu sou Robert, padrasto de Matheo. Sou arquiteto e amo a minha esposa Helena. Matheo é como se fosse o meu filho.
Eu sou Samuel, 51 anos. Sou historiador e pai de Matheo e Thomas, filho que tive do meu segundo casamento com Jill.
Eu sou Jill, 42 anos. Sou ilustradora de livros infantis. Sou esposa de Samuel e mãe de Thomas e madrasta de Matheo, que amo como filho.
Eu sou Thomas, 22 anos. Estudante de medicina. Sou filho de Samuel e Jill, irmão de Matheo. Tenho uma namorada incrível.
Eu sou Diana, 22 anos. Estudo designer de joias. Sou apaixonada por Thomas.
Eu sou Adrian, 31 anos, advogado. Sou o melhor amigo de Matheo. Sou companheiro também das farras.
Eu sou Lily, 27 anos. Sou psicóloga e irmã de Adrian. O meu maior sonho é me casar com Matheo.
Eu sou Paul, 50 anos. Sou advogado da empresa de Matheo. Sou pai de Adrian e Lily.
Sou Zoe, 49 anos. Sou médica, mãe de Adrian e Lily e muito apaixonada pelo meu marido Paul.
Sou Karl, 31 anos. Sou empresário no ramo de esportes, sendo dono de vários times. Divorciado e tenho uma noiva muito linda, a Mia.
Eu sou Mia, 20 anos. Sou modelo e noiva de Karl.
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Esses são os principais personagens que farão parte da história de Eloá. No desenvolvimento pode aparecer mais algum.
A história de Eloá pode despertar gatilhos pois as lembranças dela irão revelar momentos sombrios do seu casamento.
Deixo claro que abomino qualquer violência e se algum(a) leitor(a) souber de relacionamento que contém agressões deve imediatamente avisar a polícia.
A história é fictícia e qualquer semelhança é apenas coincidência. Todas as imagens foram retiradas da Internet. Espero que curtam muito a trajetória de uma mulher que supera a si mesma, depois de tantos dissabores.
Isso é muito importante para todos. Nada é impossível quando colocamos Deus à frente de tudo. Ele é o nosso farol.
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