...Arthur Medeiros…...
- Sr. Medeiros, o Sr. Espinosa pediu para avisar que todos já estão te aguardando na sala de reuniões.
A minha secretária me informou.
Arthur: Não demoro.
Ela sai e eu me encaminho para a sala de reuniões.
Esta é a primeira reunião desde o escândalo. Entro com a postura de sempre, e embora alguns tentem disfarçar, é impossível não notar que estão pensando no ocorrido da semana passada.
Arthur: Senhores, bom dia! Peço desculpas pela demora, estava preparando alguns materiais importantes para nossa reunião.
- Sem problemas, Arthur. Todos enfrentamos momentos difíceis, não é mesmo?
Só poderia ser ele, o inconveniente do Marcos.
Arthur: Já que mencionou esse assunto, gostaria de começar esta reunião dizendo que estou melhor do que possam imaginar. Portanto, dispensarei comentários sarcásticos e qualquer simulação de apoio.
Termino minha fala olhando para Marcos. O clima fica tenso, mas logo iniciamos a reunião normalmente.
Após a reunião, me despeço de todos e vou direto para minha sala.
É impossível sentar naquela cadeira e não lembrar do que vi. Meu próprio irmão me traindo com minha esposa... Uma esposa que em breve será ex, assim que os papéis do divórcio forem finalizados.
Alguém bate à porta e autorizo a entrada.
- Já está na hora do almoço. Deseja que entreguem algo para o senhor aqui na empresa?
Arthur: Não, irei almoçar fora.
- Entendido, estarei saindo então.
Arthur: Bom almoço.
Ela sai, e eu pego minha maleta para sair logo em seguida. Há um restaurante bem próximo, mas como a maioria dos sócios estará lá, prefiro ir para outro lugar e comer em paz.
Passo em frente a um restaurante e paro ao notar que não está muito cheio. Não é do padrão que costumo frequentar, mas assim que adentro o local, o aroma da comida me conquista.
Sento-me em uma mesa e observo a garçonete recolher os pratos de outra mesa. Ela avisa que logo virá me atender e se encaminha com a bandeja para a cozinha.
- Boa tarde, o senhor já decidiu o pedido para hoje?
Olho para ela e percebo sua beleza; há tempos não olhava assim para uma mulher que não fosse Naomi.
Arthur: Boa tarde, na minha mesa não há cardápio.
Ela prontamente pega o cardápio da mesa ao lado e sugere alguns pratos. Enquanto decido, ela atende um telefonema insistente em seu uniforme e desliga rapidamente.
Arthur: Está tudo bem?
Ela parece nervosa.
- Sim, está tudo bem. O senhor decidiu o pedido?
Arthur: Vou querer o especial da casa.
- Excelente escolha.
Ela leva o pedido para a cozinha enquanto novos clientes adentram o restaurante.
- Aqui está seu prato, senhor. Gostaria de algo para beber? Peço desculpas por não ter perguntado antes.
Arthur: Um suco de laranja.
- Já trago.
Ela volta para a cozinha e quando está saindo com o suco nas mãos, um homem sem muita paciência entra no restaurante e vai até ela, a moça gela na hora.
- Sua vagabund*, porque não atende o telefone!?
Ele grita na cara dela fazendo a mesma deixar o copo com o suco cair no chão.
- Vai embora, aqui é o meu trabalho e você não pode fazer isso!
Ela tentava fazê-lo sair e ele agarra o seu braço.
- Eu não vou sair até você me passar o endereço para eu ir buscar a minha filha!
- A guarda dela é minha, e você não pode se aproximar da gente, vai embora…
- Quero ver quem vai me proibir de ver a minha filha!
Levanto da mesa e vou até os dois.
Arthur: Solta o braço dela agora.
Ele ainda segurando o braço dela, me olhou com certa raiva.
- Se não o quê?
Arthur: Você não vai querer descobrir, eu garanto.
Ele olhou pra ela.
- Tá dando pra ele, não é sua vadia?
- O que você tá dizendo? Me larga!
Ele aperta ainda mais o braço dela e eu perco a paciência que me restava. Viro o rosto dele para frente e dou um soco que o faz soltar o braço dela e cair no chão.
A essa altura os outros clientes estavam de pé olhando toda cena, logo um homem que parecia ser o cozinheiro, saiu da cozinha.
- Que confusão é essa aqui!?
- Levanta e vai embora daqui agora, anda!
Ela ajudou ele a levantar e ele sai com a mão na boca me olhando atravessado. Ela rapidamente fechou a porta, secou as lágrimas e olhou para o homem na porta da cozinha.
- Meus queridos, eu sinto muito pelo ocorrido, sentem-se e fiquem à vontade por favor, a sobremesa hoje é por conta da casa.
Ele diz em voz alta. Os clientes voltam a se sentar e eu olho para a moça que tremia de cabeça baixa.
- Lis, você pode vir aqui?
Lis: Sim…
Ele volta para a cozinha e eu coloco a mão no ombro dela.
Arthur: Lis, você está bem?
Lis: Eu vou ficar, obrigada por ter…
Antes dela terminar a fala, ele gritou o nome dela mandando ela ir logo para a cozinha. Ela foi sem olhar para trás.
Voltei para a mesa e logo outra menina saiu da cozinha com a cara amarrada, ela limpou o chão e o cozinheiro trouxe um suco novo para mim.
- Meu senhor, eu sinto muito pelo que aconteceu hoje, nunca aconteceu isso aqui antes…
Arthur: Eu compreendo, não se preocupe. E a moça, como ela está?
- Decidi adiantar o dia da folga dela.
Arthur: Fez bem, ela parecia nervosa… Meu único receio é aquele homem encontrá-la na rua e fazer alguma coisa.
- Não, eu mandei um rapaz acompanhar ela, eles saíram pelos fundos. Quanto ao senhor, bom… sua refeição completa será por conta da casa hoje.
Ele foi falar com os outros clientes e eu terminei de comer.
Volto para a empresa e o ocorrido no restaurante ainda está na minha cabeça, queria ter ido falar com a moça ou até mesmo ter levado ela embora em segurança, mas não deu.
Arthur: Lis…
Desligo o computador quando chega o horário de ir pra casa e vou embora.
...Mansão Medeiros…...
Chego em casa depois de uma semana dormindo em um hotel. Não queria chegar e ver as coisas da Naomi, por isso pedi para o meus empregados tirarem tudo que era dela de casa, as roupas, nossas fotos, os quadros, qualquer coisa que lembrasse ela…
Entro no meu escritório antes mesmo de ir para o quarto, pego um copo, me sirvo com a minha bebida mais forte e sento na poltrona.
Por mais que eu tentasse não lembrar, era impossível não pensar no quanto a Naomi acabou comigo…Eu sempre fui um homem fiel, romântico, ajudei a família dela a sair da lama, abri mão do meu sonho de ser pai durante anos apenas para esperar o momento em que ela se sentisse pronta, dava a ela os presentes mais caros que uma mulher poderia desejar…Mesmo assim fui traído.
Vejo o porta retrato na mesa e pego, provavelmente esqueceram de tirar este. É uma foto minha e da Naomi com a mão na barriga dela, descobrimos a gravidez no início do ano e hoje ela estaria completando quatro meses, porém no mesmo dia que descobri a traição, ela contou que tinha perdido o bebê. Pego o porta retrato e jogo na parede.
Eu estava doente, fazia dias que ia para a empresa sentindo dor e o meu irmão como vice presidente, disse que ficaria tomando conta de tudo até eu melhorar…Aceitei que não estava bem e fiz até uma reunião com os funcionários para avisar que o Rogério ficaria no comando até eu melhorar e poder voltar. Fui ao hospital com a Naomi e lá descobri que era uma bactéria no estômago, eu sentia muita dor.
Foram dias em casa tomando medicação e nada de melhorar, cheguei a pensar que os remédios que o médico receitaram foram para me matar de uma vez por todas, não para ajudar. Depois de chegar num estado crítico onde nem conseguia mais levantar, decidi voltar ao hospital e fiquei internado um tempo.
A Naomi não ia me visitar por conta da gravidez, o médico já havia dito que era uma gestação de risco e o hospital não era o melhor lugar para ela ficar. Me recuperei com mais ou menos três semanas internado e os médicos chegaram a falar que eu não tomava os remédios que eles receitaram, caso contrário eu já estaria bem e não teria chegado a aquele estado. Eu fiquei furioso, até mesmo ameacei processar o hospital por estarem insinuando que a minha mulher havia trocado a medicação, mal sabia eu que ela realmente havia trocado os remédios, tudo para ter mais tempo com o Rogério.
Lembro como hoje, saí do hospital bem contente, passei na floricultura para comprar flores e fazer uma surpresa para ela…Mostrar que eu havia finalmente me recuperado. Enquanto dirigia para casa eu resolvi passar na empresa primeiro, fazia tempo que não tinha notícias de como as coisas estavam indo e o Rogério não havia ido me visitar um só dia no hospital. Chego na empresa animado, passo falando com todos os meus funcionários, que ficaram felizes com a minha volta.
Era horário de almoço e eu me encontrei com a minha secretária saindo para almoçar. Falei com ela e ela acabou me avisando que a Naomi estava na empresa, fiquei surpreso já que ela não costumava ir lá, mesmo assim aproveitei a oportunidade e voltei no carro para pegar o buquê de flores. Subi de elevador até a sala do Rogério, mas ele não estava, então imaginei que a Naomi fosse tá na minha sala, provavelmente matando a saudade vendo as minhas coisas. E ela realmente estava na sala, mas não da forma que eu esperava.
Lembro bem dela no colo dele, de costas para a porta… e ele me olhando com a cara de surpresa, ela perguntou porque ele havia parado e quando percebeu minha presença ficou com a cara pálida. Joguei aquelas flores no chão e fui pra cima do desgraço que ainda teve a ousadia de tentar me bater. Ela tentou me fazer parar de várias formas, até que gritou que havia perdido o bebê, e eu realmente parei por um instantes, mas logo voltei a bater na cara do Rogério com ainda mais fúria. Depois de deixar ele no chão com o rosto deformado, peguei a Naomi pelo braço e saí andando com ela nua por toda empresa.
...Flashback on…...
Naomi: ME SOLTA!
Arthur: Vocês estão vendo essa mulher aqui?
Todos ficaram de pé olhando a cena, ninguém parecia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.
Arthur: Essa mulher aqui é uma cadela, ela estava trepando com o miserável que tenho vergonha de chamar de irmão! Ainda por cima na minha sala!
Naomi: SEGURANÇA!
Arthur: É ir embora que você quer?
Arrasto ela até o lado de fora da empresa e fecho a porta. A porta é de vidro então todos nós conseguíamos ver a cena dela pelada sem saber o que fazer do lado de fora.
Um homem que passava na rua entregou o casaco pra ela e eu pedi para que a minha funcionária fosse pegar a bolsa dela na minha sala.
Naomi ficou no chão chorando, e um amigo pediu que eu parasse, dizendo que ela estava grávida e que eu me arrependeria depois. Nesse momento, minha funcionária veio com a bolsa e eu a joguei para a Naomi, que continuava no chão lá fora. O Rogério apareceu com o rosto sangrando, e todos olharam para ele boquiabertos.
Rogério: Não, ela não está mais grávida… E só para constar, o filho era meu.
Nesse instante, ninguém me segurou. Dei um soco tão forte no Rogério que vi um dente dele voar para fora da boca.
...Flashback off…...
Arthur: Vão me pagar, seus desgraçados…
Aperto o copo com tanta raiva que acabo quebrando-o com a pressão.
...Nota aos leitores…...
Bem-vindos a "Um Filho para o Bilionário". Esta obra é um drama que aborda temas sensíveis e complexos, como violência doméstica, violência psicológica, assédio sexual e outras questões delicadas.
Reconheço que esses assuntos podem despertar gatilhos e provocar emoções intensas, então se em algum momento você se sentir incomodado(a), meu conselho é que pare a leitura.
Agradeço por embarcar nesta jornada comigo e espero que a história possa gerar reflexão e empatia.
Pontos importantes:
- Quem fizer comentários inapropriados, de xingamentos ou ódio, será bloqueado.
- Lembre-se de curtir e comentar para me ajudar na divulgação da obra.
- Minhas histórias não costumam dar detalhes ou descrever momentos íntimos; no entanto, nesta pode haver cenas mais quentes.
- História concluída
Capítulo sensível ⚠️
...Lisandra Taylor…...
Lis: Bom dia!
Chego no trabalho tentando forçar simpatia para disfarçar o cansaço.
- Meu pai pediu para você cortar essas verduras antes de abrir.
Lis: Claro.
Começo a descascar e cortar as verduras, meu celular na bolsa não para de chegar notificação, ela me olha com cara feia e eu vou até lá desligar. Nem me dou o trabalho de olhar, já sei que é o Marlon me ameaçando.
Termino tudo e volto a pegar o celular na bolsa, o Marlon provavelmente já parou de mandar mensagem e eu preciso deixar ligado caso aconteça alguma emergência com a minha filha e a moça da creche ligue.
O meu chefe que também é o cozinheiro chega, a falta de simpatia parece ser coisa de família então ele nem fala comigo. Abrimos o restaurante e mais um dia de trabalho se inicia.
O movimento hoje foi fraco e quando chega no horário de almoço eu fico surpresa por não tá cheio, finalmente chega um cliente e eu termino de limpar uma das mesas para ir atender ele.
Pego meu celular escondido nesse meio tempo, pois não parava de chegar mensagem.
💬 Marlon: Eu descobri onde você trabalha, tô indo te fazer uma visitinha.
Bloqueio ele, achando que estava mentindo. Acabei de conseguir esse emprego, bem longe da minha antiga casa, ele com certeza não sabe onde fica e só está me testando. Só de pensar que deixei uma casa própria para vir morar com a minha mãe… tudo por medo das ameaças dele. A única coisa que me conforta é saber que agora a Alice e eu estamos seguras em outra cidade, ele não nos encontraria tão rápido, saiu da cadeia há menos de um mês.
Vou atender o cliente e um número desconhecido começa a me ligar. Sou obrigada a desligar o celular novamente e vou pegar o pedido. Na volta, pergunto se ele vai querer alguma coisa para beber e ele pede um suco de laranja. Na saída da cozinha, sou surpreendida pelo Marlon, que começa a gritar que quer ver a Alice.
Foi o momento mais constrangedor da minha vida… Ele já havia feito isso no meu outro emprego, mas essa foi a primeira vez que um cliente me defendeu. Ele deu um soco no Marlon e eu o coloquei para fora. Tentei agradecer a ele, mas meu chefe me chamou na cozinha e eu, mais uma vez, fui demitida de um lugar por causa da maldita perseguição do meu ex-marido.
Saio pelos fundos por vergonha de olhar na cara dos clientes que presenciaram tudo aquilo. Estava me sentindo péssima e, ainda por cima, tive que ir andando até a creche da minha filha, tudo por medo de o Marlon estar me esperando no ponto onde eu costumava pegar ônibus sempre.
Chego na creche e a Alice está no horário do sono da tarde. Resolvo levá-la dormindo mesmo, vou até o ponto e pego um ônibus para ir pra casa. Durante a viagem, ela acorda sem entender o que está acontecendo.
Alice: Mamãe?
Lis: Oi, minha filha. Estamos voltando pra casa.
Alice: Ainda tá cedo, você só chega de noite.
Lis: É que a mamãe saiu mais cedo do trabalho hoje, amor.
Alice: Eu gostei!
Lis: Você gostou?
Faço cócegas nela.
Lis: Chegamos!
Saímos do ônibus e seguimos para o prédio.
- Que mulher gostosa em, ô lá em casa…
A Alice já aprendeu que não podemos olhar quando um desses caras babacas fazem comentários idiotas, então seguimos sem olhar para trás.
Subimos a escada até chegar ao nosso andar e, da porta, já consigo escutar a briga da minha mãe com o marido dela.
Lis: Direto pro quarto, me escutou?
Ela balança a cabeça e eu abro a porta.
Entramos em casa e está tudo revirado. A Alice coloca as mãos no ouvido e corre para o quarto.
Lis: Mãe, o que está acontecendo?
Magnólia: Esse vagabundo está me traindo com uma mulher dez anos mais velha, você acredita!?
Começam com a gritaria novamente e eu só penso em sair dali. Vou para o quarto e a Alice está no canto com as mãos no ouvido.
Lis: Vem aqui, meu amor.
Sento na cama e ela vem correndo sentar no meu colo.
Alice: Mamãe, o tio André vai bater na vovó igual o papai fazia com você?
Eu não consegui responder nada, apenas abracei ela e segurei meu choro.
Eu tenho 24 anos e a Alice tem 5. Tive ela muito nova, não tinha maturidade e foi logo quando meu pai morreu.
Na época, eu ainda não tinha contato com a minha mãe. Meu pai sempre me dizia que ela era uma drogada e as lembranças que eu tinha dela realmente não eram boas.
Eu sempre fui a filha exemplar que não dava trabalho ao pai… Ele era da igreja e me levava de vez em quando também. Infelizmente, depois da morte dele, eu acabei me envolvendo com gente errada e foi quando conheci o Marlon.
Eu era virgem, o tipo de garota que pensava em casamento, família grande, um lar confortável. Infelizmente, acabei caindo na lábia do Marlon, que em poucos meses já estava dentro da casa que era do meu pai, morando junto comigo.
Descobri a gravidez poucos meses depois de começar a me envolver com ele. Hoje, minha filha está quase com 6 anos e tudo que consegui oferecer a ela até agora foi um lar sem afeto e de pura violência.
O Marlon passou a me bater durante a gravidez, ele bebia, ficava com mulheres, não queria colocar comida em casa. Depois que comecei a trabalhar para comprar comida e as coisas da bebê, começaram as agressões. No início, ele me convenceu de que eu era a errada. Não sei o que se passava pela minha cabeça, mas eu sempre entrava na dele.
Com o tempo isso foi piorando, ele sempre me ameaçava de morte. A Alice pequena vendo tudo aquilo me destruía… todos se afastaram de mim por medo dele e eu fiquei só. Foi aí que decidi procurar pela minha mãe e comecei a conversar com ela virtualmente… a Alice tinha acabado de completar cinco anos. A gente passou a se falar por telefone e ela me encorajou a denunciar ele e vir morar com ela.
Fiz isso! Separei todas as provas e fui até a delegacia mais próxima fazer a denúncia. Prenderam ele, que ficaria detido por apenas alguns meses. Depois disso eu já não tinha psicológico para continuar naquela casa, ainda mais sabendo que ele iria sair uma hora e viria atrás de nós. Foi aí que decidi aceitar o convite da minha mãe, mesmo com as inseguranças e o medo dela não ter mudado.
Vim morar com a minha mãe e mesmo o local não me causando boa impressão, era o que tinha no momento. O problema mesmo foi quando ela começou a trazer vários homens pra casa. Eu tentei conversar, mas acabei sendo humilhada por estar morando debaixo do teto dela com a minha filha.
Depois disso fiquei na minha, arrumei um emprego e coloquei a Alice na creche. Durante a manhã ela está na escola, depois da escola vai pra creche, aí depois de sair do trabalho vou buscá-la e então vamos pra casa. Com essa rotina, a gente não presenciava tanto as coisas que aconteciam em casa.
Com um tempo, minha mãe começou a namorar o André e ele veio com as malas dias depois. Achei que fosse melhorar, pelo menos ela não estaria todos os dias com um cara diferente. Porém, não foi bem assim… O André e ela brigam muito e o álcool não ajuda.
Foi aí que comecei a pensar na possibilidade de alugar um quarto e sala aqui no prédio mesmo… Mas agora sem emprego as coisas ficam difíceis, além disso não tenho móveis e o carreto da minha cidade até aqui é uma fortuna. Se não fosse isso eu pagaria para que trouxessem as coisas da casa do meu pai.
Consigo colocar a Alice para dormir e a briga ainda continua, escuto um barulho parecido com tapa e saio do quarto furiosa! Me coloco na frente da minha mãe para que o André não continue batendo nela e recebo um tapa.
André: Tá maluca?
Lis: Você não vai bater na minha mãe!
Empurro ele.
Magnólia: Lisandra, para com isso!
André: Você é uma vadia como sua mãe, eu vou embora dessa porra!
Ele sai de casa e minha mãe vai atrás.
Sento no sofá e quando me dou conta a Alice está na porta do quarto me olhando.
Lis: Alice…
Ela vem correndo me abraçar.
Alice: Eu quero ir embora mamãe, por favor!
Ficamos juntas chorando no sofá.
Acordo com alguém tocando no meu ombro e vejo que era minha mãe. O dia estava nascendo e o André estava sentado à mesa, comendo feito um ogro.
Levantei-me e deixei a Alice no sofá.
Lis: Mãe, você foi buscar ele?
Magnólia: Olha Lisandra, eu tive uma conversa com o André e chegamos à conclusão de que é melhor continuarmos sozinhos na nossa casa.
Olho para ele que continua com a cara cínica enquanto come a comida que eu comprei.
Lis: Eu entendi bem? Está me colocando pra fora por eu ter te defendido desse escroto?
Magnólia: Você bateu nele dentro da casa que ele sustenta!
Lis: Eu só empurrei ele, ele me deu um tapa no rosto! Será que você tá cega? E tem mais, o André só sustenta seu vício pela bebida, ele nunca comprou um pão para essa casa nem nos ajuda com o aluguel!
André: Já que você banca tudo, porque não pega seus panos de bunda e vaza com sua filha?
Lis: Não fala da minha filha seu escroto! Deixa ela quieta!
Volto a olhar para minha mãe.
Lis: Eu só não faço o que esse vagabundo falou porque fui demitida! E sabe o motivo? O Marlon mãe… Ele nos achou!
Magnólia: Você tem medida protetiva, ele não vai atrás de vocês!
Lis: É claro que vai mãe! Ele quase me bateu dentro do restaurante cheio de clientes ontem!
Magnólia: Então procura a polícia de novo, eu não posso fazer nada, você sabe bem…
Lis: Acabo de dizer que estou desempregada correndo risco de ser morta! E mesmo assim você ainda quer que eu saia às cinco da manhã com uma criança? Sem ter pra onde ir?
Ela coloca o cabelo atrás da orelha um pouco sem jeito e balança a cabeça.
Magnólia: É Lisandra… É isso mesmo. O papel de uma mãe acaba quando o filho já tem idade suficiente para se cuidar sozinho.
Lis: Você nunca foi uma mãe! Não abra a boca para falar isso de nós mulheres que realmente amamos e cuidamos dos nossos filhos! Eu posso dizer que tive um grande pai, mas mãe eu não tive! Você nunca esteve lá Magnólia! Meu pai tinha toda razão quando disse que você era uma alcoólatra que só pensava em si mesma… Mas você pode ter certeza de uma coisa… vou sair da lama! Você ainda vai precisar muito de mim… e quando chegar esse dia você terá minha ajuda, porque eu não sou como você!
Começo a acordar a Alice que abre os olhos assustada.
Lis: Alice levanta e calça suas sandálias, vamos embora daqui.
Olho uma última vez para ela e sigo para o quarto com minha filha. Arrumamos nossas poucas coisas em uma só mala, visto uma roupa quente nela e saímos.
Personagens apresentados até agora…
Naomi…(Esposa de Arthur)
Rogério…(Irmão de Arthur)
Marlon…( ex marido de Lis/pai de Alice)
Alice…( filha de Lis)
Magnólia…( mãe de Lis)
Lis narrando…
Saio sem destino certo, o único lugar que consigo pensar agora é na casa de uma amiga que fica na cidade onde eu morava, aqui eu não conheço ninguém além da minha mãe.
Alice: Mamãe, estou com fome.
Só então me dou conta de que saí sem pegar ao menos algo para ela comer, afinal de contas tudo que tem naquele armário e geladeira quem comprou fui eu, aquele gigolô só compra bebida e cigarros.
Lis: Meu amor, você aguenta esperar só mais um pouquinho? Daqui a pouco os lojas começam a abrir e eu compro algo pra você, tá?
Ela balança a cabeça.
Paramos no ponto de ônibus e eu coloco a mala no chão para ela sentar.
Alice: Olha lá mãe, um ônibus!
Entramos no ônibus em destino ao terminal rodoviário.
Alice: Mamãe, estou com muita fome agora.
Escuto a barriga dela roncar.
Lis: Nossa filha, acabamos ficando sem café ontem à noite, não foi? Mas já tá chegando.
Ela fica com aquela cara que parte o coração de qualquer um. Quase uma hora depois chegamos no terminal e vamos direto para uma lanchonete.
Alice: Bom dia, eu vou querer um bolo e um suco de laranja! E você mamãe?
Lis: Só um café, por favor.
Quando ela pede o suco de laranja eu só lembro do cara que me defendeu no restaurante.
Enquanto ele separa o nosso pedido eu tento achar o contato da minha amiga no telefone.
- Prontinho.
Lis: Obrigada…é, o senhor sabe dizer se já saiu algum ônibus com destino à Boston?
- Ainda não, mas ouvi dizer que os ônibus foram reduzidos hoje, se eu fosse a senhora ia logo comprar as passagens.
Lis: Obrigada. Alice, segura o seu lanche e vamos comprar as passagens.
Alice: Mamãe, eu não consigo comer em pé.
Lis: Claro que consegue.
- A cabine fica logo ali, deixa a menina aí que eu passo o olho nela.
Olho bem para ele.
Lis: Não…ela vem comigo.
Mesmo com a Alice resmungando eu faço ela levantar e seguimos até a cabine.
Lis: Eu vou querer duas passagens para Boston, por favor.
- Sinto muito, só temos uma sobrando.
Lis: Ela vai no meu colo então.
- Quantos anos ela tem? O limite é três.
Lis: Ela tem cinco, é bem pequena olha…
- Não posso senhora, sinto muito.
Lis: Moço, por favor…precisamos ir embora hoje.
- Eles olham a carteira de identidade quando entram no ônibus, eu perderia meu emprego.
Suspiro.
Lis: Tudo bem, obrigada…
Saio da cabine sem saber o que fazer.
Lis: Senta aí e fica quieta.
Volto a procurar o número da minha amiga e lembro que na verdade estava no outro celular que o Marlon quebrou antes de ser preso.
Alice: Mamãe, você está bem?
Lis: Não muito filha.
Alice: Eu não vou pra escolinha hoje?
Quando ela diz isso eu tenho uma ideia.
Lis: Termina com o seu café meu amor, você vai pra creche, sem escola por enquanto.
Depois que ela termina vamos para o ponto de ônibus e pegamos o transporte em pouco tempo, chegamos na creche e eu toco a campainha.
- Oi Alice, oi Lis.
Lis: Oi, trouxe a Alice mais cedo hoje, espero que não seja um problema.
Ela olha o relógio.
- duas horas e vinte minutos, não tem problema…Vou adicionar no valor da mensalidade. Onde estão as coisas dela?
Abro a mala, tiro tudo que ela vai precisar e entrego.
- Alice meu amor, entra.
Lis: Tchau meu amor.
Alice: Tchau mamãe.
Ela pede para a Alice entrar e eu já sinto um frio na barriga. Essa mulher não pode nem desconfiar que eu perdi o emprego, lembro que da última vez que atrasei o pagamento ela cobrou o juros para voltar a aceitar a Alice na creche. Amanhã quando eu conseguir comprar a passagem eu vou embora e assim que conseguir um emprego lá eu envio o dinheiro desse mês pra ela, sei que ela vai me odiar e achar que fui embora pensando em dar o calote, mas eu vou pagar assim que possível.
- Lis, você não quer me dizer nada?
Lis: Você está falando da mala?
Ela balança a cabeça.
Lis: Tive uma briga com a minha mãe…ela me colocou pra fora de casa, mas tudo bem, eu vou me virar.
- Nossa, eu sinto muito…pelo menos você tem um emprego e pode pedir um adiantamento para alugar uma casa.
Balanço a cabeça sem jeito. Eu não podia correr o risco dela mandar eu levar a Alice comigo. Pelo menos na creche ela pode comer, tomar banho, e o principal, não está na rua correndo o risco junto comigo.
Lis: Olha, se vier alguém buscar a Alice você não libera ela, tá?
- Claro que não, tá maluca?
Lis: Eu sei que você não faria isso sem me ligar, mas é que o pai da Alice não pode chegar perto da gente, ele tá procurando por mim e se achar ela vai querer levá-la.
- Você pode ir trabalhar despreocupada, espero que encontre logo uma casa para alugar.
Me despeço dela e vou embora.
Entro no ônibus e quando vou passar o cartão mostra uma mensagem de bloqueio.
Lis: O que aconteceu?
Cobrador: O cartão está bloqueado, senhora.
Lis: Eu usei hoje cedo, tem menos de uma hora.
Cobrador: Mas está bloqueado agora. A senhora vai pagar com dinheiro? Caso não, é melhor sair e deixar o pessoal passar.
Olho para trás e todos estão reclamando da demora. Abro a bolsa e vejo que o dinheiro que tenho não é suficiente, só estou com o meu cartão de crédito.
Lis: Licença, eu vou descer.
- Até que enfim, né moça? Fica aí atrapalhando os outros.
Desço do ônibus chateada, pois terei que ir andando com essa mala.
Eu só queria ir até o restaurante pegar o dinheiro que ainda tenho. Confesso que estava com medo de encontrar o Marlon e nem ia buscar esse dinheiro, mas como não conseguimos pegar o ônibus hoje, terei que pagar um quarto de hotel pelo menos para passar a noite com a Alice. A merreca que meu ex-chefe mandou eu ir buscar hoje irá servir.
Chega um certo ponto em que não aguento mais, minhas pernas reclamam e eu me sinto tonta. A verdade é que eu nem havia andado tanto assim ainda, mas com o desgaste emocional e a falta de alimentação, acabei ficando fraca.
Lis: Vamos, Lisandra.
Levanto e continuo, dessa vez mais devagar.
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