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Marcas De Um Grande Amor

A fuga

 Flora

  Há muitas razões para não desistir quando se está no fundo do poço, apesar de ter tentado apegar-me a essas razões, não foram o suficiente. E aqui estou eu, na beira de um penhasco prestes a jogar-me, na esperança de que em questão de segundos tudo isso acabe, todas as dores e decepções, todas as marcas, as marcas de um grande amor, um amor que só eu vivi, que só eu senti, um amor que eu gostaria de nunca ter vivido, pois, essa droga destruiu a minha vida, e fodeu o meu psicológico.

 Tudo começou a quase cinco meses atrás, eu era uma jovem como todas as outras, cheia de sonhos, planos, a tristeza quase era inexistente no meu rosto. Estava entrando na faculdade de psicologia, estudei muito para conseguir essa bolsa de estudos.

Era manhã de uma segunda - feira, acordei com a minha companheira inseparável, Mali, ela era uma senhorinha peluda que sempre me acordava com doces lambidas gosmentas.

- Mali, sua danada, eu quero dormir mais um pouco.

Mali sabe que eu não posso me atrasar para a faculdade, ela parece entender as horas, e insiste em lamber meu rosto.

- Ahhh Mali, tá bom! Você venceu.

Meu rosto cansado, parecia que tinha sido atropelada por um ônibus.

Na verdade, acho que nem deveria ter levantado daquela cama.

- Ah não, são 07 horas, estou super atrasada.

Visto uma roupa qualquer, logo após escovo os dentes, pego minha mochila e saio às pressas.

- Tia, não vou  tomar café, estou muito atrasada, te amo muito!

- Flora, você precisa acordar mais cedo, você perde muito tempo durante a noite escrevendo, é sempre a mesma coisa.

— Tia, a senhora sabe o quanto eu sonho em ser escritora, eu não quero parar, mas agora não tenho tempo para sermão. Dê-me um beijo!

Nesse momento ela beija minha testa, seu cheirinho de colônia me tranquiliza a alma, a partir daí estou sempre pronta para começar o dia.

Minha tia era a única pessoa que me amava, ela cuidou de mim desde que minha mãe foi embora e nunca mais voltou, eu tinha uns 4 anos de idade, e meu pai, bom, meu pai morreu um ano antes.

- Boa aula, meu anjo!

Ela fala com um grande sorriso, acenando, enquanto eu saio de casa para pegar um ônibus.

- Ah, tia! Já ia me esquecendo. A Mali precisa tomar o medicamento às 10, é muito importante que não atrase.

- Não se preocupe, meu anjo. Eu cuidarei de tudo.

Segui andando em destino ao primeiro ponto de ônibus. A caminhada era um pouco longa, morávamos um pouco distante da cidade.

- Essa estrada parece não ter fim, meus pés já não aguentam mais.

Sussurro para mim mesma enquanto o cansaço me consome.

- Que lugar solitário...

Confesso que tinha medo de seguir por esse caminho, era vazio, alguém poderia me atacar e eu nem sequer seria ouvida, caso pedisse socorro.

- Nossa... Ahh... ( Calafrios )

Durante o caminho escutei vozes, e a minha maldita curiosidade  tomou conta, eu precisava saber o que era, mas ao mesmo tempo me tremia de medo.

- Isso são vozes?!

(Gritos abafados)

- Tem alguém precisando de ajuda. Aí meu Deus, o que eu faço?!

Eu poderia ter continuado a andar, mas sou especialista em arranjar problemas. Então eu fui em direção aquelas vozes. Vinha da mata, o som não era nada agradável.

Conforme eu me aproximava, mais alto eu ouvia.

- Por favor, eu não aguento mais! (Grito)

- Essa será a última vez que você verá a luz do sol.

Essas eram as frases que eu conseguia ouvir, mas apesar do medo, eu continuei indo em direção, até que...

— Alguém ajuda-me, por favor!

— Aí meu Deus, ele... Ele está em cima de brasas, sussurrei.

— Cala boca, seu verme! Você vai virar espetinho.

(Gemidos de dor)

Ali mais distante, atrás de uma árvore estava eu, assustada com aquela cena aterrorizante.

— Será que devo ligar para a polícia?! Ahh, eu tenho que ligar! (Sussurro)

— Que droga! Não tem sinal. Aiiii! (Sussurro)

— Tomás, não faça isso comigo, cara! Somos amigos, vamos resolver de outra forma, as minhas costas estão se queimando!

Tomás

— Aaaaaaaah! (Gritos e gemidos de dor)

— Você já teve a sua oportunidade, agora é tarde para chorar! Você vai virar um maldito churrasco.

— Carlos! Pode derramar a gasolina, dê-lhe um delicioso banho.

— Não, não, naaaaaaaao... (Gritos)

(Gemidos)

— O que é isso? aí meu Deus.

Sussurrei assustada assistindo aquela cena perturbadora, parecia que eu estava num filme de terror, até conseguia sentir o cheiro da carne queimando, mas o que mais me deixava horrorizada era a frieza daqueles três homens, eles não se importavam, pareciam estarem acostumados com tal situação.

“Eu preciso dar o fora daqui, ah eu preciso sair daqui agora, pensei”

O medo instalou-se no meu corpo, aquilo parecia um pesadelo.

Eu tinha que sair daquele lugar sem que ninguém visse, e assim eu fiz, se não fosse por um pedaço de madeira eu teria conseguido.

- Aí, aiiiii... (Gemidos)

No desespero, pisei num pedaço de madeira, desequilibrei-me e caí, acabei a machucar o joelho.

— Chefe, tem alguém nos observando!

— Vasculhem a área, seja quem for, tragam-no para mim. Os senhores têm 10 minutos.

Os meus olhos arregalaram durante o susto que levei ao ouvir essas frases.

— E agora?! Eles vão me achar, preciso sair daqui... Aiiii... (Sussurros e gemidos)

— Aparece! (Grito)

— Seja quem for, nós vamos te achar! (Grito)

Eu corri como nunca naquele dia, o meu corpo começou a liberar bastante adrenalina, isso fez-me não sentir mais dor, eu só queria fugir dali.

(Passos correndo)

— ãn, ãn... Por onde eu vou agora?! Esquerda, vou pela esquerda.

Eu corria mais que um atleta durante uma corrida, eu no fundo, sabia que se eles me encontrassem fariam comigo o mesmo que fizeram com aquele homem.

— E agora, por onde nós vamos? Esquerda ou direita?

— Vocês dois irão pela direita e eu sigo de carro pela esquerda, nos encontraremos nesse mesmo lugar, entenderam?

- Sim senhor!

- Vão! ( Grito)

Quando eu pensei que aquele caminho não tinha mais fim, consegui avistar de longe carros passando, eu estava perto da estrada, ali talvez ninguém pudesse me fazer mal.

- Ah, finalmente! Estou quase lá!

( Som de carro)

- Tem alguém vindo! Meus Deus, eu preciso correr mais! Eles vão me pegar... (Sussurro)

- Ah, então é você.

Conforme aquele Jipe vinha atrás de mim, naquele caminho de terra que mais parecia uma trilha, eu corria além do meu limite.

- Estou quase lá, não posso parar!

(Passos correndo)

“Ah! um ônibus, pensei”

Meus pés já não aguentavam mais correr, a adrenalina foi meu combustível.

“Quem será você, hein?! Mesmo que consiga fugir, eu irei te achar, pensou ele."

— Pare o ônibus, eu preciso entrar, por favor, pare o ônibus! (Gritos)

Aquele carro estava quase me alcançando, se não fosse o ônibus naquele momento, eu seria uma mulher morta.

— Oh, consegui!

Senti um enorme alívio, e lancei os meus olhos em direção àquele carro, sejam quem forem essas pessoas, elas não estavam de brincadeira.

— Ah! Então essa é você?! Voltaremos a nos encontrar, e se arrependerá de ter se metido no meu caminho... (Sussurrou)

O REENCONTRO

Eu parti daquele lugar, e fui em direção a uma delegacia, precisava fazer uma denúncia, talvez assim eu teria proteção.

“Onde eu me meti?! Eu vi um homem morrer e não fiz nada, isso não pode ficar assim, eu preciso procurar a polícia, pensei.”

(Telefone tocando)

— Alô! Paulo, meu amor! Você não sabe o que me aconteceu, foi horrível…

Paulo era Meu namorado, estávamos juntos desde a nossa adolescência, ele estava preocupado, pois, eu não havia ido à aula pela manhã. Precisava compartilhar com ele o que aconteceu.

— Flora, não conte nada a polícia, você pode arranjar mais problemas, vamos esquecer isso e fingir que nada aconteceu.

— Eu não posso, eu não serei omissa a uma barbárie.

— Querida, esses caras podem ser mafiosos, eles têm contato com pessoas fortes, até a polícia pode estar envolvida, pense na sua tia, ela também pode ficar em perigo.

— Tudo bem, eu vou tentar esquecer isso.

Um mês depois…

Eu ainda tentava esquecer aquele episódio traumatizante da minha vida, mas não conseguia, me sentia sendo vigiada, não sei se era apenas uma sensação pelo trauma ou se era verdade.

Aquele março começou diferente, a minha companheira não me acordou naquele dia, Mali já não estava mais conosco a duas semanas, ela lutou muito, mas sua partida era inevitável, a minha doce Mali se foi.

Como sempre, saio atrasada para a faculdade.

— Tia, estou saindo, até mais tarde!

- Meu anjo, vá com Deus! Compre um lanche na escola.

Enquanto esperava o ônibus, percebi um carro preto passar devagar na minha frente, eu não conseguia ver quem era, os vidros eram escuros demais.

“Ah não, eu vou morrer! São eles... Pensei.”

 Meus olhos ficaram saltados e minha boca ficou extremamente seca e mais uma vez me vi paralisada, naquele carro estavam meus algozes.

— Estou perdida! Af. (Murmuro e suspiro)

Aquele carro que passava devagar diante de mim de repente acelera e segue o seu caminho.

-oh, não eram eles, aaar...

Sussurrei aliviada, ofegante, coloquei as mãos nos joelhos e abaixei minha cabeça.

— Biiip (Buzina)

-oh! o ônibus, finalmente.

Chegando na faculdade me senti segura.

— Flora!

— Vivi!

— Amiga, você precisa ser mais pontual!

— Vivi, eu tenho focado no livro, você sabe, é importante para mim.

— Eu entendo, mas você lutou tanto por essa bolsa, cuidado!

— Amiga, eu estou começando o último capítulo. Depois disso eu focarei apenas na faculdade, tá bom?

— Está bem! Vamos?

— Vamos!

Após o intervalo, eu saboreava um delicioso hambúrguer vegano, não havia comido nada a manhã inteira. Aquele hambúrguer parecia o melhor do mundo

— humm, que delícia! Ammm…

Pequenos sussurros enquanto a minha boca estava cheia.

— Flora!

Alguém me chamou no refeitório, era Alice, uma colega de outra turma.

— Oi, tudo bem?

— Flora, eu preciso te mostrar algo, vem comigo!

— Mas eu estou comendo, posso terminar antes?

— É urgente.

— Vai lá, amiga, eu fico aqui. Disse Vivi.

Ela lanchava comigo.

— Está bem, vamos!

Eu estava sem entender a insistência de Alice, parecia nervosa.

Ela levou-me para o ginásio.

- Flora, você precisa ver algo, só peço que fique calma.

— Ver o que, Alice?

— Venha, vamos entrar.

-Ah não, não pode ser…

- Seu filho da puta! Canalha...

— Flora, posso explicar!

- Explicar o que, Paulo? Que você está me traindo com outra?

Bom, meu namorado, aquele que eu pensei que me amava, estava aos beijos com outra, eu vi cada detalhe daquela cena nojenta, ele beijava-a com vontade, parecia devorar ela enquanto as suas mãos a acariciavam.

- Você é um covarde, eu confiei em você!

— Flora, vamos conv... (Interrupção)

— Cala essa boca, não fala nada! Eu já vi o suficiente. Adeus.

Virei as costas para ele e fui embora. Eu não fiquei ali, estava sem cabeça para nada, queria apenas sumir daquele lugar.

— Vivi, estou indo!

— o que aconteceu, amiga? Você está bem?

— Depois nós conversamos, eu não consigo falar agora.

Saí sem deixar explicações, apenas queria ficar sozinha um pouco.

Havia um lugar que eu sempre ia quando precisava reconectar-me comigo mesma, é um campo de paisagem apaixonante, parecia um enorme jardim, verde, cheio de flores, árvores e muito calmo.

Eu respirava profundamente com os meus olhos fechados, e por uns 2 minutos me desconecto de tudo, era como se o meu espírito não estivesse dentro do meu corpo. Somente a leveza daquele lugar traria minha paz de volta.

Aquele silêncio e aquela sensação de paz foram rasgados por um barulho de passos, meus olhos fechados abriram-se lentamente enquanto eu tentava escutar melhor os sons.

“O que é isso?! São passos, tem alguém aqui, pensei.”

Me virei lentamente, aqueles passos pareciam estar cada vez mais perto.

— Quem é você? Pergunto à misteriosa pessoa que está diante de mim

— Você não reconhece, Flora? Perguntou em tom sarcástico

— Eu... Eu...

A minha voz rouca e trêmula não conseguia completar a frase, pois o medo paralisou o meu corpo, aquela pessoa era nada mais nada menos do que um dos assassinos. Tomás, eu o reconheci, foi assim que aquele homem o chamou antes de morrer.

— Você pensou que estaria livre de mim, não é mesmo? Bobinha…

— Eh... Eu... Eu não contei a ninguém, eu juro! Não me mate, por favor!

— Se você tivesse contado, certamente não estaria mais viva.

— Eu só quero viver a minha vida, não quero meter-me em assuntos que não são da minha conta.

— Interessante. Mas você foi bastante intrometida naquele dia.

Ele era bastante sarcástico, falava enquanto me encarava profundamente, o seu rosto estava a poucos centímetros do meu, fiquei apavorada, as minhas pernas tremiam, as minhas mãos suavam frias, minha respiração acelerava a cada olhar que aquele homem lançava.

Ele era bem apresentável, mas amedrontava com apenas um olhar, tinha braços fortes, e incontáveis músculos.

Sua voz era alta e grossa. Impossível não se sentir intimidada.

— Olha, desculpa! Eu não sei o que deu em mim naquela hora…

(Risos)

— você não precisa se preocupar, eu não vou contar a ninguém.

— Claro que você não vai contar! Eu vou garantir que você não irá contar.

— Como assim? Você vai me... Vo... você vai me matar?

 O pânico tomou conta de mim, meu destino estava decretado.

— Ummm, ainda estou pensando no que fazer com você.

Ele falava enquanto me olhava de cima para baixo, arqueava as sobrancelhas e os seus olhos não desgrudavam do meu corpo.

— O que você quer de mim?

afastei-me, senti medo de ser abusada, eu não iria permitir, ele teria que me matar.

— Você será muito útil para mim e para meus negócios.

— Eu? Mas como? Eu sou apenas uma estudante de Psicologia.

— Não, Flora! Você é apenas uma puta estudante de psicologia que se intrometeu no meu caminho. Agora, aguente as consequências.

— Por favor, não, não…

Minha voz foi abafada e imediatamente silenciada por um pano com clorofórmio, havia alguém atrás de mim, eu simplesmente apaguei.

O ACORDO

— Ouch... Ahh... Minha cabeça! Ufff...

Gemendo de dor, acordei de um sono profundo, os sons melodiosos dos pássaros filtrando-se através das paredes. Olhei ao redor e percebi que estava em um quarto desconhecido, com as mãos e os pés amarrados à cama. O frio cortante fazia meu corpo nu tremer, e a confusão tomou conta de mim.

— Onde eu estou?! Ai, que frio... Ahhh...

— Finalmente acordou!

Um susto percorreu meu corpo ao ouvir a voz masculina que parecia emergir das sombras. Ele estava sentado em uma poltrona, atrás da cama, observando-me.

— Por favor, me solte! Eu preciso das minhas roupas. Não faça nada comigo, eu juro que não falei nada...

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e era evidente o terror que me dominava.

— Xiiiii... Achou que eu ia encostar em você? (Risos) Você está em uma situação deplorável.

— Apenas me deixe ir... Eu prometi, não vou contar à polícia.

— Flora, Flora, Flora... (Ele suspirou) A polícia é o de menos para mim.

— O que você quer dizer com isso? (Soluços)

Ele se aproximou, seu rosto tão perto que pude sentir sua respiração quente.

— Você não faz ideia do buraco em que se meteu.

A cada palavra, meu coração acelerava mais, e as lágrimas continuavam a fluir.

— Vou resumir para você.

Ele começou a caminhar ao redor da cama, as mãos cruzadas atrás das costas, como se estivesse avaliando sua presa.

— Se você me ajudar, eu te deixo viver. Se você abrir a boca, você morre. Entendeu?

— Si... Sim. (Chorando)

— Ótimo! Boa menina!

— Agora eu vou te soltar. Mas se você tentar fugir, eu farei a sua vida um inferno. Não pense que estou brincando. Eu te mato!

— Tudo bem, eu não vou fugir, eu juro! Mas estou com frio, por favor, preciso das minhas roupas.

— Por enquanto, você ficará sem elas. Tenho certeza de que não tentará escapar assim.

— Mas estou morrendo de frio! (Chorando)

— Se controla! Você parece uma criança!

— Se você colaborar, poderá sair disso logo, logo.

— Tá, mas o que eu preciso fazer?

Cada passo que ele dava em minha direção era como um eco de desespero.

— Flora, aquele homem... Ele fez algo que eu considero inaceitável. Desviou uma quantia exorbitante. Seis milhões de euros de uma das minhas Empresas. Eu precisei dar um fim a ele, mas aquele desgraçado é cunhado de um dos meus sócios, que está atrás do assassino. Não posso deixar que isso interfira nos meus negócios. Tudo correu como planejado, exceto por um detalhe: você viu.

— Mas como?! É impossível, eu não fui vista por ninguém! (Soluços)

— (Risos) Ah, Flora, você é mais ingênua do que eu pensei.

— O que você está dizendo?

— Você contou para alguém, use um pouco a cabeça.

— Eu não contei! Eu só comentei com meu namorado... Quer dizer, ex-namorado. Mas ele não sabe quem foram. Ele só sabe que eu os vi.

— Aquele idiota do seu namorado fez comentários sobre você.

— Ele comentou? Com quem?

— Parece que você não conhece bem as pessoas com quem se relaciona. (Risos)

O desconforto crescia à medida que Tomás falava, e a confusão se intensificava.

— Flora, seu querido namoradinho, fez negócios com pessoas ligadas ao meu sócio. Essa coincidência colocou meus negócios em risco.

— Eu não sabia! Ele nunca me colocaria em perigo. (Chorando)

— Mas te colocou!

A revelação sobre Paulo me deixou em choque. Ele estava bêbado em um bar e comentou sobre aquele dia fatídico com amigos que trabalhavam para o sócio de Tomás. Coincidência ou não, eu estava agora em um beco sem saída. O corpo foi encontrado no mesmo lugar, e as conexões foram feitas.

Um dia depois, a atmosfera na casa estava carregada de uma inquietação palpável. Embora não pudesse ver claramente, os sons que ecoavam pelo ambiente me deixavam em alerta. Era como se a casa respirasse, e eu era a única que estava presa em seu interior.

A porta se abriu com um rangido, e uma figura familiar apareceu.

— Boa noite! — disse Tomás, sua voz soando ao mesmo tempo cordial e ameaçadora.

— Boa noite... — respondi, a voz trêmula, mal conseguindo articular as palavras.

— Quero te propor um acordo.

— Como? Que... que acordo? — minha respiração se acelerava, e o pânico começava a se instalar em meu peito.

Ele se aproximava lentamente, e quanto mais eu tentava recuar, mais me via encurralada contra a parede. A sensação de impotência era avassaladora. Ele se posicionou de forma que não havia como escapar, suas mãos firmes apoiadas em cada lado da minha cabeça, criando uma barreira intransponível. Nossos olhares se encontraram, e por um breve momento, o mundo ao nosso redor pareceu se silenciar. O ar estava pesado, e percebi que ambos respirávamos de forma ofegante, como se o espaço pequeno entre nós estivesse carregado de tensão.

— Pode se sentar. O assunto será longo — ele disse, gesticulando para uma cadeira próxima.

— Ok... — murmurei, a voz quase um sussurro.

— Você já está envolvida, não tem outra saída — sua expressão se tornou sombria, e eu senti um frio na espinha. — Dê-me um nome, ou eu mesmo te elimino.

As lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto, quentes e salgadas, enquanto a realidade do que ele estava pedindo se instalava em minha mente. Eu estaria condenando um inocente, e a coragem me abandonava a cada batida do meu coração.

— Flora, não há outra alternativa — ele insistiu, a determinação em sua voz era inegável.

— Mas eu não posso fazer isso! Não tenho coragem! — eu implorei, a voz embargada pelo desespero.

— É tão simples, Flora. Eu te darei um nome, e você apenas precisará dizê-lo. Dessa forma, estará livre.

Meus olhos se fixaram em seu rosto, tentando decifrar as emoções que se escondiam por trás daquela máscara de controle. Havia uma intensidade em seu olhar que me deixava paralisada, e o silêncio que se seguiu parecia ensurdecedor. A pressão sobre mim aumentava, e o peso da decisão que eu tinha que tomar se tornava insuportável. O que eu faria?

— Por sua causa, eu não consegui finalizar o serviço e fazer aquele corpo sumir. Precisei sair do lugar antes que a polícia chegasse.

As lágrimas escorriam sem controle, minha mente girava, tentando processar todas aquelas informações. Tomás saiu do quarto, deixando-me.

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