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Meia-Noite

Capítulo 1

Moro em um prédio em decadência.
Somente aqueles com problemas financeiros — principalmente imigrantes — recorrem a este lugar.
Os moradores são estranhos, então evito compartilhar conversas ou ficar no mesmo ambiente por mais que poucos minutos.
Sinto que há algo de errado com esse lugar. Uma energia sinistra.
Mas mesmo que tenha essa sensação, ainda não sou capaz de afirmar o que seja.
Prefiro me manter seguro no meu próprio canto. Saio somente quando necessário, ou seja, apenas para trabalhar.
E, às vezes, no silêncio da noite, sinto que estou enlouquecendo.
Talvez eu realmente esteja enlouquecendo.
Eu deveria sair de uma vez daqui, mas não posso. Não posso porque não tenho para aonde ir.
“Toc toc”.
O barulho chama a minha atenção.
Estou sentado no sofá, arrumando minha mochila para o trabalho no dia posterior, com o estofado rangendo a cada curto movimento que dou.
Olho para o relógio na parede e contato que já se passa das onze da noite. Mas, ainda assim, há alguém batendo na minha porta.
O toque de recolher já havia soado, mas ainda assim alguém veio me ver.
Engulo em seco, me levantando um tanto temeroso.
Em passos cuidadosos, caminho até ela, mas é quase em vão, porque a madeira do piso não é a mais silenciosa que existe.
Quando olho no olho mágico, vejo a velha que mora ao lado.
Eu a odeio. Não sei dizer o motivo, mas a odeio.
Ryota
Ryota
Boa noite...?
Ela pisca com seu único olho para mim, e não consigo evitar olhar para aquele com a pálpebra fechada.
Rumores dizem que ela mesma o arrancou, mas claro, não acredito.
É impossível tamanha insanidade.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Há um rapaz novo no prédio.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha vê-lo.
Fico em silêncio, sem acreditar que seja isso.
Não pode ser.
Ryota
Ryota
Eu não...
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha vê-lo.
Ela repete.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Há um rapaz novo no prédio.
Eu me encolho involuntariamente e um calafrio percorre a minha espinha.
Seus olhos parecem me encarar severamente, o que é difícil ter certeza, já que apenas um continua aberto.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha vê-lo.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Tic tac.
E então, sem mais nem menos, ela se vira e vai embora.
Imediatamente fecho a porta e a tranco, como se minha vida dependesse disso. E talvez dependa. Não confio em ninguém desse prédio.
Checo uma, duas, três vezes para me certificar de que ela realmente foi embora e enfim suspiro aliviado.
Sinto que terei pesadelos essa noite.

Capítulo 2

No dia seguinte, eu me esforço ao máximo para levantar da cama.
Parece que todos os meus ossos foram triturados, e eu não fiz simplesmente nada para me sentir assim.
Ryota
Ryota
Provavelmente é culpa desse colchão. Inflexível que nem uma pedra.
Mas assim que coloco meu pés no chão, sinto todo meu corpo falhar.
Perco as forças por um segundo e acabo indo de encontro ao chão, mas consigo me apoiar no joelho bem a tempo.
Ryota
Ryota
Mas que porra...?
O que aconteceu?
Me sinto totalmente exaurido, e eu nem ao menos fiz algo.
Respiro fundo e, com passos vacilantes, consigo chegar até o banheiro.
Não importa o quão lascado o meu corpo esteja, preciso trabalhar.
[ ... ]
Quando chego na loja de conveniência, tudo está silencioso, como sempre.
O tempo está nublado.
Eu não quero voltar para casa na chuva.
Mesmo se tratando de uma loja de conveniência, quase não temos clientes. Ser um dos bairros mais pobres é um dos fatores.
Estou conferindo o computador quando ouço o sino acima da porta balançar de um lado para o outro, anunciando um novo cliente.
Engulo em seco ao ver que se trata de um dos moradores do prédio em que moro.
Ele anda de um lado para o outro, vasculhando todas as prateleiras, caçando algo. Quando parece enfim achar, vem na minha direção.
Ergo as sobrancelhas ao ver que se tratava de uma fita isolante.
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Anda logo, rapaz. Eu não tenho o dia inteiro.
Olho para ele, me segurando para não dizer algo indecente.
Passo a fita no caixa, mas a máquina a laser falha.
Ryota
Ryota
Um momento...
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Merda, esses jovens de hoje em dia sendo incompetentes...
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Na minha época não era assim.
Suspiro internamente e continuo a não dar ouvidos.
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Éramos o orgulho da nação, mas agora sequer conseguem passar uma mercadoria barata.
Meu punho se aperta, se tornando difícil me controlar.
Ryota
Ryota
O senhor está a um passo do caixão, então não precisa se preocupar em ter de nos aturar por muito mais tempo.
Ele empalidece, parecendo estar chocado com a minha atitude.
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Mas que bestialidade...!
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Se eu soubesse que seria tratado assim, não teria vindo nessa espelunca.
Quando enfim consigo passar o produto, ele retira a fita da minha mão.
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Me dê isso logo, não preciso passar por isso.
E então, ele joga uma nota no balcão que sequer cobre o preço da mercadoria.
Ryota
Ryota
Ei!
Mas é tarde demais, ele já foi embora.
Ryota
Ryota
Porcaria!
Ryota
Ryota
Maldito velho!
Terei que resolver isso mais tarde, por enquanto tenho que focar no trabalho, mesmo que eu tenha sido praticamente roubado.
Eu detesto as pessoas daquele prédio.
Detesto. Detesto.
Reconheço que não tenho um caminho de fuga, mas às vezes só consigo pensar que...
Eu transformaria aquele edifício em cinzas.

Capítulo 3

Estou voltando para casa após uma manhã exaustiva.
Meus olhos estão pesados e meus ombros parecem estar carregando um peso imensurável.
‎
Uof!
‎
Uof, uof!
Ryota
Ryota
Merda...!
Ryota
Ryota
Vaza daqui, cachorro!
Me afasto dele, mas ele se aproxima mais.
‎
Uof!
Tento driblá-lo, mas parece nem isso é o suficiente para dispersá-lo.
Eu realmente estou sem sorte hoje.
‎
Uof! Uof!
Ryota
Ryota
Seu...!
E então, com um chute, ele se afasta.
‎
Ain, ain, ain!
Mas o chute não veio de mim, veio de um homem que se aproxima com uma sacola em mãos.
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Esse cão bastardo!
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Merda... Cadê os responsáveis... Fica assustando os moradores!
Franzo o cenho, em dúvida se devo agradecê-lo.
Ryota
Ryota
Não precisava ter feito isso, eu estava bem.
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
E quem disse que eu fiz isso por você?
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Amostradinho...
Tamura Jinpei
Tamura Jinpei
Talvez eu devesse te chutar também!
Ele resmunga mais algumas coisas desconexas, e eu não sei o que dizer.
Esse velho é pirado.
Mas, sem precisar novamente, ele se vira e vai embora.
Até mesmo esqueci de cobrá-lo sobre o dinheiro da loja.
Resolvo ignorar e lidar com isso mais tarde.
Enquanto isso, olho para o céu e as nuvens continuam escurecendo, anunciando uma futura tempestade.
Eu trabalho pela parte da manhã e inicio outro turno no começo da noite, então à tarde tenho algumas horas livres. É um horário irregular e esgotante, mas ao menos me dá algum sustento.
O trajeto chega a ser cansativo, já que repito duas vezes por dia.
E agora, voltando para a casa, fico pensativo.
Ele esteve a manhã inteira perambulando por aí?
Velhos realmente são desocupados e imprevisíveis.
[ ... ]
Assim que chego, me jogo no sofá endurecido e mofado.
Ryota
Ryota
Tenho algumas horas para descansar e comer algo.
Ryota
Ryota
Comer...
Eu deveria cozinhar algo?
Ryota
Ryota
Minhas táticas culinárias são péssimas.
Opto por um macarrão instantâneo sem tempero, assim não corro o risco de ficar sem almoço.
E incrivelmente consigo queimá-lo.
Mas pelo menos dá para engolir.
“Toc toc”.
O som chega até mim, me fazendo arquear as sobrancelhas.
Não é possível que seja aquela velha novamente.
Bufo, mas mesmo assim levanto da cadeira e, sem olhar no olho mágico, abro a porta.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha vê-lo.
Ryota
Ryota
O quê?
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha, rapaz.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha vê-lo.
Me seguro para não fechar a porta na cara dela, me firmando no batente.
Ryota
Ryota
Sinto muito, mas não posso. Eu estou...
Penso um pouco em qual resposta devo dar.
Ryota
Ryota
Trabalhando.
E então, algo estranho acontece.
Seu único olho aberto se arregala e me encara fixamente, enquanto sua cabeça pende para o lado.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Não me faça de boba, garotinho mau!
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Todos os dias antes do Sol nascer você sai e volta por volta do meio-dia.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Sei que trabalha naquela loja de conveniência no final da rua.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Pouco antes do anoitecer você faz o mesmo. Mas, durante a tarde, sei que está aí dentro.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Eu observo você todos os dias. Sei que está aí dentro.
Sinto minhas pernas bambas e minha parte superior trêmula, mas tento não demonstrar meu medo.
Merda, isso nunca aconteceu antes.
Como eu deveria reagir a isso?
E então, subitamente ela parece voltar ao normal, sua cabeça deixa de pender para o lado e a intensidade do seu olhar diminui.
Ela age como se não estivesse sendo esquisita momentos atrás. Pelo menos, não tão esquisita.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Venha vê-lo.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Se apresse, não demore, venha vê-lo.
Yoshida Hitomi
Yoshida Hitomi
Ele não gosta de atrasos.
Ela volta a me encarar fixamente, provavelmente esperando por uma resposta.
Mas, somente dessa vez, deixo o medo tomar conta de mim e fecho a porta na sua cara.

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