Maria
O vento gelado corta o ar enquanto saio de casa ainda de manhã e monto em minha bicicleta em direção à escola. O céu escurece rapidamente, anunciando a chegada iminente de uma tempestade. De repente, um carro surge à minha frente, cruzando a rua com uma rapidez assustadora. Meus reflexos são testados ao máximo, e mal tenho tempo de frear.
Meu coração bate acelerado quando coloco os pés no chão para evitar o impacto iminente. A poucos centímetros de distância, o carro freia bruscamente, e nossos olhares se encontram através do vidro. Neste instante fugaz, sou capturada pelos olhos intensos do rapaz no banco do motorista.
Ele tem cabelos escuros bagunçados pelo vento e uma expressão que parece misturar surpresa e preocupação. Para mim, ele é simplesmente o homem mais bonito que já vi, como se tivesse sido esculpido por um artista talentoso. Uma faísca de eletricidade parece dançar entre nós, fazendo-me esquecer tudo ao redor.
Mas logo volto à realidade, sacudindo meus pensamentos. "Maria, acorda! A escola, lembra?" A voz interna tenta me trazer de volta ao chão. "Além disso, você só tem 17 anos, e ele deve ter uns 27! Olhe para ele e olhe para você... não precisa dizer mais nada, não é minha filha?"
Movida por essa realização, monto rapidamente em minha bicicleta e saio pedalando pela rua de Silverwood. Uma distância segura se abre entre nós, e olho para trás para vê-lo sair do carro e começar a gritar algo para mim. O vento forte e os trovões abafam suas palavras, mas seu gesto é claro.
Suspiro e murmuro para mim mesma:
— Maluco.
Enquanto pedalo com determinação, uma vitrine chama minha atenção e decido parar brevemente. Observo meu reflexo na vitrine da loja. Minha pele pálida, cabelos quase alaranjados e as sardas no meu rosto parecem atrair os olhares julgadores dos colegas de classe. Meus óculos também colaboram para o pacote.
— Chega de pensar nisso, Maria — repreendo a mim mesma, retomando o pedal com firmeza.
Pedalando com determinação pelas ruas de Silverwood, o vento agita meus cabelos e as nuvens escuras se acumulam no céu, ameaçando despejar sua carga a qualquer momento. A cada pedalada, tento afastar os pensamentos confusos que surgem.
Chegando à escola, paro minha bicicleta e a prendo com o cadeado habitual. Ao atravessar o portão, sou recebida pelos sons familiares do agito matinal dos alunos. Entre risadas e conversas animadas, tento me mesclar à multidão, desejando passar despercebida.
No corredor, um grupo de garotas populares me lança olhares de desdém. Elas cochicham entre si, e não preciso de superpoderes para saber que estão comentando sobre mim.
— Lá vai a esquisita de novo — ouço uma delas sussurrar, seguido de risos abafados.
Respiro fundo e tento ignorar. Caminho até meu armário e pego meus livros para a primeira aula. No entanto, não consigo evitar de relembrar o homem do carro. Quem era ele? Por que ele olhou para mim daquela forma? E por que ainda estou pensando nisso?
Antes que eu possa mergulhar mais fundo em pensamentos, uma voz conhecida me chama. É a Sra. Martinez, minha professora de inglês.
— Bom dia, Maria — diz ela com um sorriso gentil. — Está pronta para a aula de hoje?
— Sim, Sra. Martinez — respondo, forçando um sorriso.
Tentando afastar todas as distrações, entro na sala de aula e me sento em minha carteira, preparando-me para mais um dia de rotina escolar. E então vejo Théo, meu amigo de infância, entrar pela porta da sala com um sorriso caloroso.
Ele carrega sua mochila nas costas, vestindo uma camisa xadrez preta, calças jeans e tênis esportivos. Seus cabelos lisos estão levemente desgrenhados.
À medida que ele se aproxima, percebo seu aparelho nos dentes e algumas espinhas em seu rosto. Suspiro aliviada ao vê-lo, sabendo que somos os "esquisitos", os "nerds", os "rejeitados" no meio desses alunos que parecem querer nos devorar com seus olhares de julgamento. No entanto, eu e Théo temos um ao outro, e isso é o que realmente importa.
Théo se senta na carteira ao meu lado e não consigo evitar sorrir para ele.
— Pensei que nem viria hoje — comento.
Ele ainda sorrindo responde:
— Quase não vim mesmo... minha vó me fez ficar um bom tempo ajudando ela a mexer na nova televisão.
Assinto, recordando da querida Vovó Nena, avó de Théo, que cuida dele desde sempre, especialmente após a trágica morte dos seus pais em um acidente de carro anos atrás. Nena é uma figura carinhosa em nossas vidas.
— Espero que tenha sido uma missão bem-sucedida — brinco, tentando aliviar a tensão.
Ele ri e então seu olhar cai sobre mim, percebendo minha expressão pensativa.
— O que foi, Maria? Algum problema?
Penso no encontro inesperado com o homem do carro mais cedo, mas decido não compartilhar meus pensamentos com Théo agora.
— Nada demais — respondo rapidamente. — Só um daqueles dias...
Théo assente compreensivo.
— Entendo... bem, pelo menos estamos juntos nessa. Vamos enfrentar mais um dia de batalha escolar, o que acha?
Sorrio para ele, grata por sua presença reconfortante.
— Com você ao meu lado, sei que podemos lidar com qualquer coisa.
Nosso diálogo é interrompido pelo início da aula, e voltamos nossa atenção aos estudos. Mas mesmo com os desafios que o dia nos reserva, sei que tenho um amigo leal ao meu lado. E o mundo lá fora parece um pouco menos assustador.
Enquanto a aula prossegue, me esforço para me concentrar nos estudos, mas meus pensamentos continuam vagando. O homem do carro ainda paira em minha mente, um enigma que desejo desvendar.
(....)
Ao soar o sinal do intervalo, saímos da sala e Théo e eu nos dirigimos ao pátio da escola. Ainda perdida em pensamentos, sinto meu celular vibrar no bolso. Ao pegá-lo, vejo uma mensagem de texto do meu pai:
📱PAI: Filha, não se esqueça de passar no mercado após a escola. Preciso de sua ajuda hoje. Beijos.
Guardei o celular e Théo perguntou:
— Era o tio Vicente?
Suspirando, respondi:
— Sim, preciso ir ajudá-lo depois da escola.
Théo assentiu compreensivamente.
— Sem problemas. Posso te acompanhar até lá depois das aulas, se precisar.
Agradeci pelo gesto amigável dele.
— Não precisa, obrigada!
Enquanto caminhávamos pelo pátio, observando outros alunos jogando bola e conversando, um misto de remorso e culpa me atingiu. É uma sensação recorrente, por mais que eu tente esquecer... nunca consigo. Minha mãe morreu dando à luz a mim, e essa culpa dilacera meu interior. É um fardo do qual jamais vou me esquecer.
— E a propósito, o que você acha daquele novo filme que está estreando este fim de semana? — Théo pergunta, tentando desviar meu pensamento das preocupações.
Sorri, agradecida por ele me conhecer tão bem e saber quando essas emoções pesam nos meus ombros.
— Parece ser legal! Podíamos combinar de ir assistir.
Ele concorda animadamente, e logo estamos discutindo os planos para o fim de semana. Esta interação simples e descontraída com meu amigo era exatamente o que eu precisava para acalmar os nervos.
O restante da tarde na escola passou rapidamente. Quando a última aula terminou, me despedi de Théo e, montando na minha bicicleta, me dirigi até o mercado.
Ao chegar ao mercado e entrar, deparo-me com meu pai, Vicente, ocupado dando ordens aos funcionários. Observo por um momento sua postura firme, usando seus óculos com seriedade, o cabelo perfeitamente alinhado e trajando uma roupa social impecável, como sempre.
Enquanto absorvo a cena, desvio o olhar para mim mesma. Estou vestindo uma calça jeans confortável, uma camiseta preta de manga curta e amarrei minha jaqueta na cintura, pois o clima que começou com a promessa de tempestade pela manhã mudou ao longo do dia, ficando mais quente do que o esperado. Nos pés, mantenho meus inseparáveis tênis, pronta para ajudar meu pai no que for preciso.
Assim que ele termina de falar com os funcionários, seus olhos se voltam para mim e, vindo rapidamente em minha direção, ele diz:
— Que bom que chegou, querida. Está com fome? Se precisar, posso pedir algo para você...
O interrompo, respondendo prontamente:
— Não, pai, estou sem fome. O que devo fazer?
Ele então me indica as prateleiras e continua:
— Pegue os produtos nas caixas lá no estoque e abasteça as prateleiras, por favor.
Assinto, pronta para cumprir minha tarefa. Saio em direção ao estoque, determinada a ajudar meu pai com as demandas do mercado.
Enquanto realizo meu trabalho, já algumas horas colocando produtos nas prateleiras, cheguei a um ponto em que precisei usar uma pequena escada para alcançar uma prateleira mais alta. Estou na ponta dos pés, tentando equilibrar o produto, quando de repente me desequilibrei e estava prestes a cair.
A queda teria sido feia se não fosse por um cliente que me segurou firmemente em seus braços fortes. Senti seu cheiro amadeirado invadir meu nariz no momento em que nossos olhares se encontraram, e meu coração acelerou como se quisesse sair pela boca.
Então, segurando-me com firmeza, percebi que era o mesmo homem do carro mais cedo. Em uníssono, nós dois exclamamos:
— Você!?
Damon
Enquanto seguro essa garota, não posso acreditar na ironia do destino ao reencontrá-la tão cedo. Sinto o impacto de seu corpo frágil em minhas mãos antes de soltá-la rapidamente.
— Você precisa ser mais atenta, menina — digo, meu tom mesclando surpresa e advertência. — Hoje cedo quase te atropelei, e agora você quase se espatifa nesse chão.
Seus cabelos levemente desgrenhados caem sobre seu rosto pálido, enquanto ela murmura um pedido de desculpas.
— Desculpe — sua voz é um sussurro. — Eu... eu não estava prestando atenção.
Observo-a por um momento, e é então que a conexão que aconteceu mais cedo se acende dentro de mim novamente. Uma sensação de familiaridade misturada com excitação toma conta. Ela é minha companheira de vida. Não posso negar a ligação entre nós.
— Tome mais cuidado da próxima vez — aconselho, meu tom suavizando um pouco ao perceber sua fragilidade. — Silverwood não é tão grande assim, mas sempre é bom ficar atento.
A garota assente rapidamente, seus olhos ainda presos aos meus, como se buscasse algo que não pode explicar. Seu rubor aumenta, e ela parece prestes a dizer algo mais, mas uma súbita rajada de vento interrompe seus pensamentos.
— Eu... obrigada por me salvar — ela finalmente murmura, suas bochechas cheias de sardas agora coradas.
Uma mistura de emoções me percorre. Ela é minha destinada, mas também é humana. Uma parte de mim quer afastá-la, protegê-la de tudo isso, mas outra parte não consegue ignorar a conexão entre nós.
— Cuide-se, garota — digo, minha voz mais firme, escondendo o turbilhão de pensamentos e sentimentos que ela despertou em mim.
Enquanto me afasto, não posso deixar de sentir um misto de curiosidade e cautela. Ela não sabe, mas é minha companheira, e isso muda tudo.
Saí do mercado, frustrado e sem comprar o que vim buscar. Ao entrar no carro, descontei minha raiva batendo freneticamente no volante, tentando processar a realidade do que está acontecendo.
Havia inúmeras barreiras entre mim e aquela garota que nos impediam de ter qualquer tipo de envolvimento. Além da diferença de idade, meu clã jamais aceitaria uma humana como minha parceira. E ela, bem... é apenas uma jovem, uma pirralha.
— Que merda, isso não podia acontecer — murmurei para mim mesmo, sentindo a frustração tomar conta.
Enquanto eu estou imerso nesses pensamentos, meu celular começa a tocar. Irritado, olho para a tela e vejo que é Lupi, minha parceira sexual do clã. Respiro fundo antes de atender.
📱*LIGAÇÃO ATENDIDA*
— Fala, o que foi, Lupi? — perguntei, minha voz carregada de irritação.
Sua voz melosa ressoou do outro lado da linha.
— Nossa, que mau humor é esse? Eu só pensei que, como você se mudou para uma casa nova, quisesse estreá-la em grande estilo... Sabe, podemos começar estreando o quarto, o que me diz?
Reviro os olhos, sabendo exatamente aonde ela quer chegar.
— Não, Lupi, hoje não estou com disposição para isso. Preciso resolver algumas coisas — respondo, tentando manter a calma.
Houve um momento de silêncio antes que a mesma retrucasse com um tom levemente desapontado.
— Tudo bem, Damon. Mas não demore muito para se juntar a nós. A Lua está crescendo, e você sabe o que isso significa.
📱*LIGAÇÃO ENCERRADA*
Antes que eu pudesse responder, ela desligou. Fechei os olhos por um momento, tentando afastar a confusão que se instalara em minha mente. Entre a garota e Lupi, meu mundo está prestes a se tornar ainda mais complicado.
Eu jogo o celular no banco do carro com um gesto brusco e solto um suspiro de frustração.
— Vai para o inferno, Lupi — murmuro para mim mesmo, cerrando os punhos.
Lupi pensa que só porque somos parceiros sexuais, ela tem algum tipo de controle sobre mim. No nosso clã, aqueles que ainda não encontraram sua parceira de vida geralmente têm pelo menos uma parceria sexual como uma medida temporária.
Respiro fundo, tentando acalmar a raiva que se acende dentro de mim. A situação toda é um lembrete doloroso das responsabilidades e pressões do meu papel no clã. Eu sinto o peso das expectativas que o clã dos Willians coloca sobre mim.
Eu sei que, como herdeiro do clã e lobisomem, é meu dever respeitar as tradições e as regras estabelecidas, mesmo que algumas delas sejam difíceis de engolir. Mas agora, com a descoberta da minha companheira de vida entre os humanos, tudo parece mais complicado do que nunca.
Ao dar partida no carro e seguir em direção à delegacia, reflito sobre o cargo de delegado. Este papel não é apenas uma ocupação; é também um disfarce cuidadosamente escolhido para me camuflar neste mundo humano.
Ser delegado me oferece uma cobertura conveniente para minhas atividades sobrenaturais. Enquanto lido com os assuntos cotidianos da lei e da ordem na cidade de Silverwood, estou constantemente ciente da influência e do poder do nosso clã nos bastidores.
Os Willians são uma família influente e antiga, e não limitamos nossa presença apenas ao mundo sobrenatural. Estamos profundamente enraizados em várias esferas deste mundo humano, desde os negócios até a política. Esta dualidade entre minha identidade humana e minha verdadeira natureza como lobisomem exige equilíbrio e discrição constantes.
Enquanto dirijo pelas ruas da cidade, observo o cenário familiar passando pela janela do carro. Por fora, pareço apenas mais um representante da lei, mas por dentro carrego os segredos e responsabilidades de um clã milenar.
(....)
Ao chegar na delegacia, avisto meu único amigo humano, Carlos, fumando do lado de fora do prédio. Carlos é um dos poucos humanos em quem confio, mas ele permanece completamente alheio à minha verdadeira identidade lupina.
Estaciono o carro e me aproximo dele, cumprimentando-o com um aceno de cabeça.
— Tudo certo por aqui, Carlos?
Ele me lança um olhar casual, terminando de dar uma tragada no cigarro antes de jogá-lo no chão e pisar em cima para apagá-lo.
— Tudo certo, chefe — responde ele, exalando uma nuvem de fumaça enquanto sorri de lado. — Você parece preocupado com alguma coisa.
Carlos sempre foi observador, mesmo sem perceber. Sinto um leve desconforto ao esconder uma parte importante de quem sou de alguém que considero um amigo, mas sei que é necessário manter meu segredo para protegê-lo.
— Só pensando em algumas questões da delegacia — respondo, tentando disfarçar minha inquietação. — Temos algum caso novo?
Carlos balança a cabeça, apagando completamente o cigarro.
— Nada demais. A rotina de sempre por aqui.
Respiro aliviado ao ouvir sua resposta. Embora a vida na delegacia possa ser imprevisível, essa familiaridade traz um senso de normalidade que eu aprecio.
— Bom saber. Vou dar uma olhada lá dentro — digo, me preparando para entrar.
Carlos acena com a cabeça, retornando à sua postura relaxada.
— Qualquer coisa, estou aqui fora.
Assinto e me afasto, sentindo a tensão se dissipar lentamente. Mesmo com meus segredos, é reconfortante saber que tenho alguém como Carlos ao meu lado, mesmo que ele não saiba a verdade por trás da fachada.
Então, a lembrança da menina surge novamente em minha mente. Será que a verei novamente? Essa pergunta ecoa em meus pensamentos, despertando uma curiosidade inesperada.
Maria
Já é tarde quando pedalo de volta para casa, deixando meu pai fechar o mercado enquanto sigo na frente. A brisa refrescante agita as folhas das árvores ao longo da rua, balançando meus próprios cabelos em sintonia.
O céu está tingido com cores espetaculares do entardecer, mas minha mente está longe, perdida nos olhos profundos e nas mãos grandes e firmes que me seguraram momentos antes. Enquanto pedalo, sinto minhas bochechas esquentarem ao pensar nele. Quem será ele? Nem mesmo trocamos nossos nomes.
Ao chegar em casa, percebo uma movimentação estranha na casa ao lado. Estava vazia há anos, mas agora parece que alguém voltou a morar lá. Ignorando isso, desço da bicicleta e a guardo no quintal antes de entrar em casa, onde o aconchego do lar me envolve.
Subo rapidamente para tomar um banho e preparar o jantar para mim e meu pai. Enquanto a água quente cai sobre mim, minha mente continua voltada para o encontro inesperado. Quem era aquele homem misterioso? Por que ele mexeu tanto comigo em tão pouco tempo?
(....)
Já vestida com roupas confortáveis, desço para a cozinha e começo a preparar o jantar, distraída pelos pensamentos turbulentos. De repente, meu pai entra na cozinha, deixando as chaves sobre o balcão antes de se dirigir à geladeira e pegar uma garrafa de água.
— Filha, acredita que temos um vizinho depois de anos? — ele diz, com um tom animado.
Enquanto mexo na panela, continuo a conversa.
— Eu percebi mesmo, pai. A casa está com as janelas abertas e algumas caixas do lado de fora.
Ele sorri enquanto enche um copo com água e toma um gole.
— Sim, eu conversei com ele enquanto chegava. Adivinha só? Ele é um delegado.
Olho intrigada para meu pai, surpresa com a revelação.
— Nossa, quem diria que um dia seríamos vizinhos de um delegado.
Meu pai assente, guardando a garrafa de volta na geladeira.
— Pois é, ele disse que o nome dele é... como era mesmo... Damon. Isso, Damon.
O nome ressoa em minha mente, e meu coração acelera involuntariamente. Intrigada, me questiono por que meu coração está reagindo assim apenas ao ouvir esse nome.
— Damon... interessante — murmuro, minha mente ainda tentando processar a conexão.
Meu pai observa minha expressão curiosa e sorri.
— Talvez você o encontre na vizinhança em breve. Agora, irei te ajudar a terminar esse jantar.
Nosso trabalho conjunto na cozinha traz um certo conforto, mas meu pensamento continua voltado para o misterioso delegado que acabou de se mudar para a casa ao lado. Há algo em seu nome que despertou uma curiosidade indescritível em mim, algo que não consigo explicar.
Após terminarmos o jantar, ajudo meu pai a limpar a cozinha enquanto minha mente continua vagando, perdida nos pensamentos sobre os acontecimentos recentes. Cada prato que lavo parece uma distração momentânea de um enigma que ainda não consigo resolver.
Meu pai deposita um beijo sobre minha cabeça antes de se afastar.
— Filha, você termina aqui? Preciso de um banho antes de dormir.
Assinto, forçando um sorriso para tranquilizá-lo.
— Claro, pai. Vai lá, eu finalizo tudo por aqui.
Ele assente e sai da cozinha, deixando-me sozinha com minhas reflexões. Enquanto guardo o último copo, a campainha toca estridentemente, me tirando dos meus pensamentos. Pondero por um momento se devo atender ou não, mas opto por ir até a porta. Ao chegar, dou um suspiro profundo antes de abri-la. E então, quase caio durinha no chão.
Não posso acreditar no que meus olhos estão vendo: é ele, novamente ele, parado na minha porta bem diante de mim. Seus olhos estão fixos em mim, como se pudesse ler minha alma. Engulo em seco, sentindo meu rosto corar diante dele.
Sua voz corta o silêncio constrangedor que se segue entre nós.
— Isso só pode ser uma brincadeira. Não vai me dizer que mora aqui? — diz ele, um pouco ríspido para minha surpresa.
Instintivamente, fecho a cara, com uma expressão de poucos amigos, ao responder:
— Se eu estou aqui, é porque moro. E quem parece estar me seguindo é você.
Ele nega com a cabeça, sorrindo de forma desdenhosa diante do meu comentário, e diz, me olhando de forma enigmática:
— E por que eu iria te seguir, garota? Eu me mudei para a casa ao lado. Devo presumir que o senhor Vicente é seu pai, certo?
Arregalo os olhos, ignorando seu comportamento bruto, e digo surpresa:
— Então é você que é o nosso vizinho delegado!? Você que é o Damon!?
Ele franze o cenho e levanta uma das sobrancelhas, me olhando de forma avaliativa, enquanto responde:
— Isso mesmo. Sou Damon, seu vizinho e delegado. E como você se chama? Afinal, encontrar de forma aleatória com uma pessoa três vezes no mesmo dia, acho que no mínimo temos que saber o nome dela, não acha? Aliás, você já sabe o meu, então...
Neste instante, meu pai nos interrompe, aparecendo na sala, e dizendo:
— Delegado, que prazer vê-lo novamente. Só espero que sua visita não seja nada grave.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!