LEONARDO
Lá estava eu, mais uma vez sentado àquela mesa, lidando com o mesmo problema de meses atrás. A incompetência daqueles indivíduos era absurda! Como eles não sabiam nem olhar direito para a contabilidade? Mesmo assim, eu estava confiando a segurança da minha família a eles. Às vezes, não sei quem é mais burro , eu ou eles.
"Está tudo bem, senhor?" - Emily me tirou dos meus pensamentos, fazendo-me olhar por cima das armações dos óculos. Apenas acenei com a cabeça e voltei minha atenção para um senhor idoso que não parava de falar um minuto sequer. Ele repetiu umas dez vezes o caminho que a mercadoria ia fazer. Até um bebê de quatro meses teria entendido!
"Sério, pela cara do Leonardo, se você repetir mais uma vez, ele vai te jogar por essa janela!" - Marcos disse, me fazendo suspirar. Talvez fosse um suspiro de alívio, pois não aguentava mais ouvir aquele homem. Acredito que nem mais ninguém na sala estava suportando. Apenas me levantei e olhei ao redor.
"Espero que esse carregamento não seja roubado também. Caso contrário, não serei eu apenas a te jogar pela janela." Depois disso, saí. Marcos ficou rindo; ele era realmente o oposto de mim.
Vivendo numa cidade onde todos parecem querer tirar vantagem, precisamos ser fortes e muitas vezes resolver problemas sem pensar nas consequências do dia seguinte. No entanto, estive afastado por dias, deixando o controle da empresa nas mãos de completos incompetentes que fizeram o favor de vazar uma informação que me fez perder milhões.
"Chegou, Leo?" - minha irmã gritou do quarto e desceu as escadas. Ela estava com um vestido curto e um batom vermelho intenso.
"Não!" Respondi, e ela riu, correndo para me abraçar. Mas logo se afastou ao ver Marcos entrar com um pacote de batatas, falando com a boca cheia.
"Porra!" Ele a olhou de cima a baixo. "Você está linda, mas pode tirar isso aí!"
Ela fez um bico e cruzou os braços, começando o drama. Eu apenas subi as escadas, sem vontade de presenciar uma discussão de casal às duas da tarde. O sol estava mais quente do que o normal em Nova York, então entrei no chuveiro e deixei a água cair sobre mim. Senti um pequeno ardor no braço e percebi que havia feito outra tatuagem. Era uma rosa. Não faço ideia do porquê, mas era bonita. Talvez o Whisky tenha me inspirado naquela noite.
Após o banho, dei de cara com a nova tatuagem, uma rosa insípida que parecia ter aparecido do nada. Não dei muita atenção, não era meu estilo refletir sobre essas coisas. Peguei o celular que vibrava insistentemente com uma mensagem de Emily, indicando que algo estava errado com os planos para o dia seguinte. Respondi brevemente, prometendo lidar com isso pela manhã.
Ao descer as escadas, encontrei Marcos e minha irmã envolvidos numa discussão irritante. "Chega," disse, com um tom que não aceitava argumentos. "Não tenho tempo para dramas."
"Olha só quem desceu do pedestal para nos salvar do tédio." Fala minha irmã, com seu típico tom mimado
"Chega disso," repeti, sem emoção na voz. "Temos problemas reais para resolver."
Eles se calaram, compreendendo a seriedade em minhas palavras. "Vamos focar no que importa," concluí, antes de me afastar. De volta ao meu quarto, ignorei a rosa no braço. Amanhã seria apenas mais um dia para enfrentar, com ou sem símbolos misteriosos.
Minha família nunca foi das mais convencionais. Criado pela minha mãe até os 10 anos, vi quando ela mergulhou no mundo das drogas e do álcool, deixando-nos à "tender" mercê de nossa tia. Esta mulher tinha a brilhante ideia de nos negar comida e nos vestir como mendigos para pedir dinheiro nas ruas.
Minha irmã era o alvo preferido, não apenas dos abusos psicológicos de nossa tia, mas também das mãos errantes dos homens que ela trazia para casa.
Aos 16 anos, cheio de tanta "hospitalidade" familiar, decidi mudar nossa sorte. Depois de quase matar um dos nobres amigos da minha tia, porque ele resolveu explorar demais minha irmã, vi que era hora de vazar daquela cidade. Levei minha irmã comigo, afinal, quem deixaria uma dama em tão distinta companhia?
Foi então que conheci Marcos, a alma mais desprezada de um restaurante chinês, que servia mais como escravo do que como funcionário. Nosso primeiro encontro foi um clássico: um beco escuro, alguns cigarros e uma conversa que jamais imaginaria ser o início de uma parceria mafiosa. Mal sabia eu que esse tolo se tornaria meu braço direito, e que, juntos, elevaríamos a ironia de nossas vidas miseráveis a um verdadeiro império do crime.
Claro, posso adicionar um toque de sarcasmo enquanto mantemos a frieza do personagem:
Deito e fico olhando para o teto. Não sou um homem que acredita em Deus, destino ou, sei lá, milagres, mas até eu teria que ser incrivelmente ingênuo para não pensar que há algo além do acaso envolvido na minha vida. Afinal, como explicar que eu, um mero peão, virasse o braço direito de um velho bilionário, cego e sem herdeiros, que decidiu me legar sua máfia inteira como se fosse um troféu de consolação?
Certamente, algo extraordinário aconteceu. Deus ou não, eu estava gostando da situação. Estava confortável e com comida à vontade, embora mal tivesse tempo para comer.
"Mano?" Ouço batidas na porta e a voz doce da minha irmã.
"Fala!"
"To saindo com o Marcos!" Ela abre a porta e começa a girar como uma maluca. "O que achou?"
"Volta lá e troca a cara, talvez resolva!" Ela me mostra o dedo do meio e sai.
"FECHA A PORTA!"
Grito, mas ela só solta um "FODA-SE". Xingo ela em trinta línguas em minha mente, mas levanto e fecho a porta com tanta "delicadeza" que a parede treme.
Claro, aqui está o texto com um toque de sarcasmo e frieza adicionados:
Olhei para o relógio, eram três horas da tarde. Tinha bastante tempo até as nove, então decidi deitar e tirar um cochilo. Afinal, a festa só começa quando eu chego, então não havia necessidade de me apressar.
Miriam foi para um churrasco com Marcos, mas não se engane, tudo que envolve eu ou nossa família sempre tem um quê de negócios no meio. E nesse churrasco não era diferente, já que eles tinham um encontro com um interessado na nossa mercadoria para fechar negócio. A beleza de Miriam não levantava suspeitas, ao contrário de mim, um cara de 1,90m com tatuagens quase cobrindo todo o corpo, especialmente nas mãos e no braço esquerdo, que certamente chamaria muita atenção.
Me joguei na cama e acabei pegando no sono. Estava precisando daquelas horas de descanso, mas os sonhos me levaram para um lugar estranho, com uma silhueta feminina usando algo parecido com um traje de princesa. Ela me olhava, mas não para mim, como se eu fosse apenas um espectador. Acordei suando e pensativo, eram quase cinco horas da tarde, quase duas horas de sono. Estava faminto, então desci as escadas e encontrei Miriam e Marcos jogados nos sofás da sala assistindo Barbie.
"Quantos anos vocês têm, 5?" Marcos me olhou e sorriu sarcasticamente.
"Senta aí, cara, tem pipoca doce e salgada!" Miriam me olhou com aquela cara de cachorro pidão que já não me afetava há anos. Joguei um travesseiro nela.
"Ai, idiota!" Ela reclamou.
"Da próxima vez, fecha a porcaria da porta!" E saí dali, indo para a cozinha onde encontrei Maria.
"E aí, véia!" A cumprimentei, e ela sorriu.
"O menino quer me matar do coração? Não sabia que você tinha voltado!"
"Passei o dia dormindo, pensei que tivesse adivinhado."
"Eu tenho bola de cristal, Leonardo?" Ela falou de braços cruzados.
"Sei lá, pessoas da sua idade normalmente gostam de uma macumba." Fiz um gesto de cruz com os dedos, provocando-a.
"Deus me livre, meu filho, ta repreendido!" Ela fez o sinal da cruz no corpo.
Dou uma risada, sabendo que isso a incomodava.
"Ei, parece que o sem coração riu ou é só impressão minha?" Marcos gritou da sala.
"Junta você e Miriam e vão procurar o que fazer!" Falei enquanto me sentava à mesa. Maria já sabia do que eu gostava, então me serviu. Ela fazia questão de me dar comida; da última vez que recusei, ela me bateu com um chinelo.
CAPÍTULO 2
Isabel
Ali estava eu, acenando para uma multidão de súditos, com meu pai ao meu lado, radiante ao apresentar sua herdeira a todos os nobres do reino. Era como se eu portasse uma placa ao pescoço, num leilão de gado, pronta para ser arrematada ao maior lance. Não passava de uma bezerra premiada, mal sabiam os ofertantes que, além de meu título, nada mais possuía. Exausta estava eu; o vestido apertava, o espartilho roubava-me o fôlego, e uma fome voraz me consumia. Após uma eternidade, consegui enfim retirar-me daquela exibição.
"Maria, prepare meu banho", ordenei, enquanto caminhava, entregando-lhe minhas luvas. Ela, seguindo-me às pressas, assentiu.
"Alguma outra instrução, senhorita?" Neguei com a cabeça e desci as escadas, passando por meu pai sem proferir palavra. Por onde andava, os criados inclinavam-se e murmuravam elogios.
Adentrei a cozinha e, sem cerimônia, abocanhei um pedaço de bolo. O cozinheiro, testemunhando meu ato, não pôde conter um sorriso.
"Bom dia, Isabel!" saudou-me, estendendo-me um lenço para limpar a boca.
"Ah, Fábio , este bolo está divinal", exclamei com a boca ainda cheia, provocando seu riso.
"Se seu pai descobre que está aqui, é minha cabeça que ele corta!"
Mal ele terminou de falar, a voz de meu pai ecoou, furiosa, pela cozinha. Eu prontamente me agachei atrás do balcão, em completo silêncio.
"Onde ela está? Isabel!"
"Não a vi por aqui, senhor. Já procurou no jardim?" Joe tentava distraí-lo, manuseando panelas, enquanto meu pai vasculhava o lugar.
Aproveitei para me esgueirar até uma passagem secreta e escapar dali. Era revigorante ter esse espírito rebelde, embora soubesse que tal ímpeto ainda me custaria caro.
"Passei longos minutos contemplando as rosas do jardim; era reconfortante estar ali, longe do tumulto do castelo e das damas de honra, além das obrigações para cada refeição. Estava cansada daquela vida e pensava em um pó mágico que me fizesse sumir, ou ao menos me transformasse em uma camponesa. Não queria ser tão rica a ponto de lidar com o alvoroço do noivado.
"Ah, achei você!" Maria me olhou com os olhos semicerrados enquanto eu suspirava profundamente. "Sim, me encontrou! Que alegria!" Gesticulei com as mãos, fazendo-a rir.
"Seu pai está furioso, Isabel!" Revirei os olhos e me joguei no banco de forma dramática. "Queria que o fogo o consumisse de uma vez."
"ISABEL!" Ela me repreendeu. Meu pai, mais do que um rei, era alguém a quem obedecíamos cegamente. O papel de pai estava longe dele.
"Ande logo, Isabel!" Ela me puxou, embora soubesse que receberia bronca de qualquer jeito. "Vou inventar uma desculpa para o rei. Pelo amor de Deus."
Ela parou quando ouvimos gritos na sala do trono. Meu pai estava furioso com meu atraso de talvez 20 minutos? Não era minha culpa se ele organizou um encontro com os solteiros ricos dos reinos.
"Vossa alteza." Maria abriu a porta e meu pai sorriu ao me ver, embora ainda estivesse furioso. Homens se curvaram à minha passagem, alguns parecendo confundir a sala com uma creche real.
"Que bom que a princesa se juntou a nós." O padre apareceu, e eu me curvei a ele. "Sua benção, padre." Meu pai sentou-se em sua poltrona, e a formalidade começou.
Todos os pretendentes se apresentaram com seus títulos e terras. "Até quando esse castigo, pai?" Sussurrei, recebendo um olhar gélido em resposta. Voltei a sorrir, embora minhas bochechas doessem de tanto forçar o sorriso.
Foram horas intermináveis tendo que presenciar aquela tortura. Não importava o quanto eu desejasse escapar, meu pai insistia em me manter ali, submetida a todos aqueles pretendentes intermináveis com suas piadas e poemas tão medíocres que muitas vezes me faziam rir de vergonha.
"Pessoal, a princesa precisa se retirar agora para sua aula de francês", eu olho para Maria com um olhar extremamente grato. "Muito obrigada pela presença de todos."
Ao me levantar, todos se curvam. Meu pai permanece na sala, avaliando seus candidatos, pois até agora nenhum deles despertou qualquer interesse em mim. Houve um ou outro que conseguiu arrancar um sorriso, mas eu preferiria casar com um cabrito do que com qualquer um deles. Fico imaginando como seria ser uma pessoa comum, sem obrigações reais, reinos para governar ou títulos para carregar. Como posso ter tanto poder ao meu dispor e, ao mesmo tempo, não ter nenhum poder sobre minha própria vida e escolhas? Nem sequer posso escolher casar com alguém minimamente decente, pois isso poderia desencadear uma guerra entre a igreja e os povos de todo o mundo.
Por um momento, suspiro profundamente, talvez alto demais, pois meu professor me olha por cima das armações dos óculos e se senta ao meu lado.
"Algum problema?", ele pergunta com seu belo sotaque francês. "Sim, senhor", respondo com um sorriso, mas é pura mentira, já que minha mente só pensa em ser livre.
"A lição de hoje é sobre h...", ele começa, mas o interrompo olhando-o nos olhos. "Podemos apenas revisar a matéria da última aula?" Ele me encara surpreso.
Em um dia normal, eu estaria fazendo piadas e o provocando, como faço com todos os meus outros professores ou escritores.
"Essa ideia de noivado está realmente te incomodando, não é, princesa?" Eu assinto com a cabeça. Apesar de os cervos não poderem se intrometer na vida de seus senhores, eu não dou importância, pois logo após a morte de minha mãe, meus cuidados foram atribuídos a tutores e babás.
"Fábio, vamos lá, Isabel precisa copiar a matéria", ele me olha e revira os olhos. "Eu odeio francês", eu digo, e ele ri.
"Sua mãe costumava dizer a mesma coisa, acredita?" Ele começa a falar sobre minha mãe, mas logo pigarreia e para. "Ah, vamos lá, Fábio, continue! Não sei quase nada sobre minha mãe, todos sempre fogem dessa história."
Tudo o que sei sobre minha mãe é que ela morreu no meu parto, o que deixou meu pai incrivelmente triste, pois além de perder sua esposa, ele não obteve um herdeiro ao trono, apenas uma princesa. Assim, minha única salvação é me casar com um príncipe, um rei ou alguém quase tão poderoso quanto um dos dois.
"Seu pai proibiu qualquer menção sobre sua mãe, e você sabe disso, Isabel", ele sorri.
Fábio era bonito, com cabelos negros, olhos cor de mel e cachos, seus braços eram fortes e sempre se vestia impecavelmente, o que destacava sua beleza. Ele tinha cerca de um metro e oitenta, muito mais alto do que eu. Fábio era casado e tinha duas filhas, quatro anos mais novas que eu; as gêmeas davam a ele bastante trabalho.
"Só queria saber algo sobre ela", murmuro, apoiando minha cabeça na mesa de estudos. Ele não diz uma palavra, nem mesmo sobre a aula. Acho que ele percebeu que eu estava cansada e apenas queria dormir, então foi o que fiz, cochilei e só acordei quando a doce voz de Maria me chamou.
"Senhorita?", ela me avisa. Eu me ajeito na cadeira, ainda sonolenta. "Está quase na hora do jantar", ela diz enquanto olho pela janela e vejo que já está escuro.
"MARIA!" Eu me levanto abruptamente, "Hoje jantarei com as princesas de Rosalina". Saio quase correndo, e Maria ri do meu desespero.
"Calma, senhorita. Seu pai cancelou o jantar com as jovens e marcou um chá da tarde para amanhã", ela me informa. Eu paro no meio da escada, perplexa. "O que meu pai está planejando?"
Ele nunca desmarcava nada; geralmente, o rei determinava tudo. Então, mudar de ideia tão bruscamente indicava algo sinistro, algo que me deixava completamente assustada e desconfiada nessa competição para ver quem leva minha mão em casamento.
"Você está bem, princesa?" Maria me traz de volta à realidade. Concordo, embora sem entusiasmo. "O rei mandou sua costureira trazer esses dois vestidos para você." Ela me mostra um vestido azul com pedras, mangas abertas e detalhes delicados, e outro vermelho que me atraiu ainda mais, com seu tom vibrante.
Depois de ser apertada até a alma pelo espartilho, que limitava meus movimentos devido aos ossos de baleia, Maria termina meu cabelo. Batidas na porta a distraem, e ela volta com uma caixa de joias. Ao abri-la, revela um colar de rubis e dois pequenos brincos em forma de flores, ornamentados com rubis também.
"Seu pai quer que você use isso hoje à noite, aparentemente", Maria comenta. Olho para ela com desconfiança, não dela, mas do meu pai. O que ele está planejando?
Ela coloca as joias em mim, e percebo que combinam perfeitamente com o vestido e o penteado.
"Quer algo nas bochechas esta noite, princesa?" Recuso. Não costumo usar muita maquiagem em jantares informais em nosso castelo. Além disso, não me importo muito com a opinião de quem meu pai esteja tentando impressionar.
Meu pai sempre foi ambicioso, fazendo de tudo para se elevar acima dos outros, mas as condições do reino não estavam boas. Foi assim que surgiu a ideia de me tornar noiva. Embora eu tenha dezenove anos, considerada adulta pela igreja, meu pai não se importava comigo enquanto a escassez de dinheiro não o afetasse diretamente.
Semana passada, ele decidiu anunciar minha mão em casamento, afinal, quem não deseja casar com uma princesa? E assim começou meu pesadelo.
Desço as escadas pronta, e na sala de jantar ouço risadas altas, indicando que alguém importante está presente. Tudo que consigo pensar é: "Que não seja outro pretendente!"
Ao adentrar a sala de jantar, percebo a prataria impecavelmente posta. Na mesa estavam o padre Marcelo, o filósofo Antonio, o ministro e seu conselheiro, além de alguém desconhecido para mim. Ao notar minha presença, todos à mesa se levantam e se curvam, exceto meu pai.
"Querida, está impecável," ele me elogia e vem em minha direção, beijando minhas mãos. O toque de sua barba áspera me causa formigamento, mas mesmo assim o olho com delicadeza. "Venha, sente-se. Quero que conheça o Duque Estaburk, ele é dono de quase toda Elfazema."
Olho para o homem e percebo que pela idade, se meu pai não estivesse louco, não faria o que eu estava pensando. O duque logo se levanta e anda em minha direção.
"É um enorme prazer, Vossa Alteza," ele beija minha mão e se curva, e ao sorrir percebo que lhe faltam dentes, além de cabelo e beleza. "É ainda mais bela pessoalmente, os artistas não acertam seu nariz."
Olho para meu pai incrédula. Este homem realmente estava dizendo aquilo? Tento manter meu sorriso educado, mas seus comentários são cada vez mais desnecessários.
"A princesa tem quadris largos, pode ter muitos filhos, não é mesmo, Rei?" Meu pai concorda, e me limito a sorrir, já que não poderia fazer qualquer comentário com a presença da corte ali. "Mas pela idade..."
"Estou faminta, meu pai," o corto, fazendo meu pai me olhar com certa reprovação. "Perdão pela falta de modéstia, mas estive estudando a tarde toda e estou prestes a desmaiar."
Finalmente aquele homem cala a boca e nos sentamos para jantar. Ele tenta puxar conversa comigo durante todo o jantar, mas sempre desvio de suas perguntas.
"Princesa Isabel, já pensou em se tornar freira?" Olho surpresa para o padre Marcelo, que me viu crescer e odiava esta ideia de casamento arranjado para mim. Concordo lentamente com a cabeça, mas meu pai pigarreia na mesa, fazendo todos o olharem.
"Bem, não os convoquei aqui apenas para um jantar, quero lhes dar um aviso importante," meu coração acelera por um momento. "A vinda do Duque Estaburk aqui não é apenas para falar de suas terras, e sim para uma futura aliança com Isabel."
Minha mente começa a rodar. Aliança com aquele velho? Minha reação não é controlada.
"NÃO!" Grito, olhando para meu pai. Na hora, o sorriso do velho sem cabelos some e meu pai caminha em minha direção com ódio. "Isabel, calada!" Ele segura meu braço com certa força.
"Eu não me casarei com este homem careca, nem mesmo amarrada!" O conselheiro do meu pai solta uma risada com a bebida ainda em sua boca, o fazendo sujar sua roupa de vinho.
"PARA SEU QUARTO!" Meu pai araste-me escada acima.
Leonardo
Já se passou uma semana desde a reunião sobre a carga e, desde então, tive que reforçar ainda mais a segurança da minha família, pois estávamos recebendo ameaças de todos os lados. Membros da máfia francesa estavam nos pressionando, e há quatro dias explodiram o carro de Miriam, o que me deixou extremamente preocupado. Se eles chegaram tão perto da nossa casa, o que os impedia de entrar e me atingir?
"Aqueles comilões de macarrão mandaram outra carta," Marcos entrou e jogou a carta em cima da minha mesa, desabando no sofá logo em seguida. "O que eles querem agora?" Peguei a carta e comecei a abri-la.
"Não sei, não tenho visão de raio-X," respondi, revirando os olhos. "E são os italianos que são conhecidos pelo macarrão, seu ignorante."
Ele riu e deu de ombros. Abri a carta lentamente – vai saber se não tinha algo ali que pudesse detonar uma bomba atômica ou algo do tipo.
"Se for abrir mais devagar, me avisa que vou até a cozinha preparar um lanche," Marcos falou, arrancando a carta das minhas mãos e a abrindo de uma vez, fazendo um gravador voar na minha direção e me dando um susto.
"Se fosse uma bomba, você já era, irmão," ele falou rindo.
Que maravilha, os franceses talvez não consigam me matar, mas Marcos vai acabar fazendo o serviço por eles. O gravador era simples, bem antigo também. "Caramba, minha bisavó tem um desses, moleque," ele pegou o aparelho e começou a examiná-lo, e logo apertou um botão antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
A voz que saiu era grossa, com um sotaque francês, o que indicava um modificador de voz. "Daqui a pouco vão surgir ninjas na janela," Marcos fez mais um comentário inoportuno.
No áudio, a pessoa falava que aos poucos eu perderia todos que amava, e para evitar isso, eu só precisava entregar a carga do próximo mês para eles. No final, ouvi uma voz familiar.
"Meu filho, está tudo bem, eu vou em paz, cuida desses cabeças de vento," e logo depois um som de tiro. Marcos largou o gravador na minha mesa e saiu correndo da minha sala. Sabíamos que aquela voz era de Maria.
Minha única reação foi ficar ali sentado, sem expressão, sem saber o que fazer. Como sabiam que Maria trabalhava para mim? E como tiveram coragem de matar uma idosa?
Levantei da cadeira e a chutei com força. "MIRIAM!" Desci as escadas correndo e comecei a chamá-la pela casa, entrei em todos os quartos e nada.
"ONDE ELA ESTÁ?" Passei por Marcos, que também a procurava.
"Não sei, senhor, não a vi o dia todo!" um dos seguranças gritou do topo da escada. Já tínhamos revirado a casa toda e nada dela.
Estávamos todos à beira do desespero, incapazes de chamar a polícia, pois, caso o fizesse, eu seria o primeiro a ser levado. Se Miriam tivesse sido sequestrada, provavelmente já estaria morta a estas alturas.
"Onde ela está, Leonardo?" Marcos se aproximou com um semblante mais pálido que o de um fantasma.
"Eu não sei," foi tudo o que consegui murmurar, sentindo o peso da situação me esmagar.
Os seguranças já estavam em alerta máximo, decididos a encontrar Miriam, viva ou morta. No entanto, a tensão foi quebrada quando a porta se abriu bruscamente e a sala foi invadida por sacolas de compras, antes mesmo dela aparecer com aquele típico sorriso radiante.
"Ah, oi, meninos," ela disse animada, enquanto Marcos corria em sua direção, a envolvendo em um abraço apertado. Ela não reagiu de imediato. "Eu fiz algo?"
Caminhei em sua direção com um discurso inteiro preparado na mente, mas tudo que consegui fazer foi abraçá-la. Só de pensar que poderia não tê-la protegido, meu mundo por um momento esteve completamente desfeito. Eu precisava protegê-la, assim como Marcos. Eles eram o mais próximo que eu tinha de uma família.
"O que houve?" Ela soltou as sacolas e me abraçou de volta.
"Nunca mais saia sem avisar," sussurrei em seu ouvido, e ela apenas concordou com a cabeça, apoiada em meu ombro.
Marcos, sempre com seu sarcasmo à flor da pele, tentou aliviar a tensão. "Vê se não nos mata do coração, Miriam. Já temos inimigos suficientes tentando fazer isso."
Miriam, mimada e acostumada a ser o centro das atenções, sorriu, ignorando o perigo que havia causado. "Eu só fui às compras, gente. Como vocês podem pensar que algo ruim me aconteceu?"
"Porque estamos em guerra, Miriam! Não é momento para passeios casuais ao shopping," retruquei, tentando manter a voz firme e distante, apesar do alívio que sentia.
Ela puxou uma expressão contrariada, claramente insatisfeita com minha falta de compreensão. "Tudo bem, tudo bem, prometo que da próxima vez eu aviso. Mas vocês também não precisam exagerar, tá?"
Marcos riu, balançando a cabeça. "Ela nunca vai aprender, vai, Leonardo?"
Encarei Miriam, reafirmando minha posição. "Isso não é brincadeira. Você precisa entender a gravidade da nossa situação."
Ela suspirou, resignada, mas o sorriso ainda brincava em seus lábios. "Tudo bem, meu guarda-costas. Vou tentar não causar mais sustos."
Apesar da leveza de suas palavras, eu sabia que precisávamos reforçar nossas medidas de segurança. Não podíamos nos dar ao luxo de mais descuidos. A máfia francesa ainda estava à nossa espreita, e a mensagem gravada era um lembrete sinistro de que a qualquer momento, tudo poderia mudar.
Observo Miriam por um momento, seu rosto ainda irradiando alegria pelpras que fez. Mas sei que essa felicidade está prestes a ser dilacerada. Respiro fundo, buscando coragem para dar a notícia que vai devastá-la.
"Miriam," chamo, minha voz soando mais séria do que de costume. Ela vira para mim, seus olhos agora cheios de preocupação. "Preciso falar sobre algo muito sério."
Seu sorriso desaparece, substituído pela ansiedade. "O que houve, Leonardo? É algo com minha família?"
"É sobre Maria, nossa cozinheira... e sua amiga," começo, sentindo um aperto no peito ao ver a expressão de Miriam mudar lentamente, compreendendo aos poucos a gravidade da situação.
Ela coloca a mão na boca, seus olhos se arregalando. "Não... por favor, não me diga que..."
"Sinto muito, Miriam," continuo, lutando para manter a compostura. "Maria foi assassinada. Eles a usaram para nos enviar uma mensagem."
Miriam solta um soluço, suas pernas fraquejando. Eu a seguro antes que ela caia, guiando-a até o sofá. As lágrimas começam a cair, e a dor em seu rosto é quase palpável. "Não... Maria não... ela era tão boa, tão doce. Por que... por que ela?"
Me sento ao seu lado, minha própria tristeza se misturando à dela. "Ela era incrível. Não merecia isso. Vamos buscar justiça para ela, Miriam, eu prometo."
"Como... como vamos viver sem ela, Leonardo?" ela soluça, e eu sinto um aperto no coração. "Ela era parte de nossa vida."
"Eu sei," digo, abraçando-a com força. "Ela sempre será lembrada assim. Vamos honrar sua memória, Miriam. Não vamos deixar que isso fique impune."
Ela se aninha contra mim, buscando conforto. Sinto o peso da responsabilidade ainda mais forte em meus ombros. Prometo a mim mesmo encontrar quem fez isso, custe o que custar. Maria merece ser lembrada como a pessoa incrível que era e, como irmão, devo proteger Miriam de todo mal que nos cerca.
A noite logo chegou então subo para meu quarto, aquele dia havia me destruído por mais que Maria não fosse do meu sangue ela ainda era família e sua perda me atingiu diretamente, abro uma velha caixa que meu antigo chefe havia deixado para mim nela estava o poema que mais me espirava escrito por ele.
No reino sombrio das ruas que comando,
Governo com ferro e fogo, punho pesado.
Mas ao cruzar a soleira de nosso lar sagrado,
Deponho armas, abrindo o coração que tanto guardo.
Filhos meus, joias raras mais preciosas que ouro,
Em vossos olhos brilha a luz que guia meus dias.
Minha força, minha luta, por vós eu imploro,
Proteção divina contra as noites mais frias.
Esposa querida, porto seguro de minhas tempestades,
Teu amor é o bálsamo que suaviza minhas guerras.
Na suavidade de teus braços, encontro serenidade,
Longe do mundo onde imperam minhas feras.
Mãe e pai, meus pilares, minha base,
Ensinaram-me a ser duro, mas justo e leal.
Por vocês, mantenho firme a minha face,
Mesmo quando o dever me chama ao embate mortal.
Que estas palavras escritas com sangue e alma
Sirvam de testemunho do amor que aqui jaz.
Mesmo envolto em sombras e armadura de calma,
Meu coração pertence à família, nosso eterno e doce lar.
Peço que guardem estas linhas, como guardo vocês,
No mais profundo e seguro cofre, meu peito calejado.
Aqui, na escuridão das ruas, sou rei, senhor das leis,
Mas em casa, sou apenas um homem, por seu amor, abençoado.
Aquele poema, de alguma forma, me mostrava que um homem poderia sim demonstrar que se importa com a família e, ao mesmo tempo, ser forte. No entanto, ainda não sabia como proteger minha família, considerando que os franceses tinham mais informações sobre minha casa e minha família do que eu imaginava. E se alguém estivesse me traindo ali, eu nem mesmo saberia, já que sou completamente ignorante e incapaz de diferenciar até mesmo quem trabalha para mim. Às vezes, penso que os ataques psicológicos de minha tia eram verdadeiros. Coisas como "você é um fracassado!" ficam vagando em minha mente e, como consequência, roubam meu sono.
Por um momento, permito-me observar meu quarto. Tinha uma enorme coleção de moedas de épocas diferentes, não sei o porquê, mas gostava delas. As paredes do meu quarto eram em cinza e preto. A maioria das coisas era preta, mas algo em específico parecia não pertencer ali: um urso azul claro.
Minha mãe havia me dado antes de tudo que aconteceu. Ele me lembrava que pode sim haver algo bom em meio a tanta confusão. Às vezes, penso na vida da minha tia, se ainda está viva ou se já morreu.
Espero que ela não tenha ficado responsável por nenhuma outra criança, já que com toda certeza as teria matado. E se eu e Miriam não tivéssemos fugido, com certeza estaríamos jogados em alguma vala ou em algum mercado ilegal. Ligo a TV e percebo que apenas desgraças acontecem no mundo: enchentes no Brasil, fome no mundo e pessoas brigando por políticas. 2024 não está fácil para ninguém mesmo.
"TOC TOC" A voz de Miriam me faz olhar para a porta e vê-la de pijama do Mickey e pantufas rosa.
Viro a cabeça para o travesseiro e começo a rir.
Sua carinha fica vermelha de ódio e seus olhos azuis ficam semirrados. Estava na minha frente um ser de 1,60m, loira e completamente brava comigo.
"Não ria de mim, seu ignorante," ela me joga alguma coisa que acaba doendo no olho e vejo que foi o controle do ar-condicionado.
"Fala logo o que você quer?" Dou de ombros e pego um balde de pipocas, sentando na minha cama. "Não me lembro de ter deixado você vir para o meu quarto!"
Ergo as sobrancelhas e ela me olha com os olhos marejados. "Só queria um lugar seguro." Ela se levanta para sair, mas a seguro pela mão.
Sabia que a dor de perder Maria a tinha afetado muito mais do que a mim, já que ela a tinha como uma mãe.
"Quer ver o quê?" Ela me dá um leve sorriso.
"O mesmo filme de sempre." Reviro os olhos, já tínhamos visto aquele filme um milhão de vezes, mas não falo nada e o coloco na TV.
A noite estava tranquila até meu celular tocar. Não suporto o som, então atendo logo no segundo toque. Era Marcos, e o barulho de fundo estava muito alto, indicando que ele estava fora de casa.
"ALÔ? MARCOS, O QUE FOI?" Ele soluçava, parecia que estava chorando.
"MARCO?" Levanto e Miriam já começa a apertar meu braço, preocupada.
"Cuida dela, irmão," ele sussurra.
"ONDE VOCÊ ESTÁ? O QUE ESTÁ ACONTECENDO?" E de repente, um som de tiro.
Levanto num pulo da minha cama, e do outro lado só ouço uma respiração pesada e uma risada.
"40 milhões ou a próxima é sua irmãzinha," deixo o celular cair.
Olho para Miriam, incapaz de reagir.
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