— Maldito. — falei saindo do quarto enquanto tentava segurar
as lágrimas.
Meu mundo desmoronando diante de mim, em questão de segundos.
O choque caiu sobre mim como um soco no estômago, tirando meu fôlego e me
deixando atordoada.
— Amihan, por favor, espera. — Olhei para trás a tempo de vê-lo
enrolando o lençol na cintura. — Posso explicar… não é o que você está
pensando. — Sua voz tremia, e cada palavra dele revirava meu estômago.
Minha cabeça girava e meu coração palpitava sem parar, eu
queria e precisava sair dali.
Acelerei o passo sentindo as primeiras gotas da chuva me
tocarem, enquanto ele, ainda despido, tentava me alcançar. Ao avistar um táxi,
o interceptei sem hesitação, ordenando ao motorista que m levasse para a casa
da minha mãe.
Enquanto o táxi avançava pelas ruas molhadas da cidade, me
encolhi no banco traseiro, abraçando meus próprios braços em busca de algum
conforto, mesmo sabendo que não viria. Dentro de mim, sentia uma tempestade de
pensamentos me atingindo com a mesma ferocidade que a chuva lá fora atingia o
asfalto.
como ele pode? Me questionava
internamente, sentindo o gosto amargo da traição enquanto cada plano, cada
promessa parecia desmoronar diante dos meus olhos.
Era apenas mentira? Então era isso, eu
realmente não significava nada para ele?
A imagem de Matteo com outra mulher girava em minha mente, como
um carrossel macabro. A dor era aguda e penetrante, como se cada batida do meu
coração bombeasse veneno através das minhas veias.
Ao chegar, a realidade me golpeou com força.
Passei por uma prateleira com algumas fotos nossas. —
Desgraçado! — gritei permitindo que as lágrimas finalmente escapassem.
A raiva começava a borbulhar, fervendo como um vulcão em erupção.
Era a raiva de ser enganada, de ser feita de tola. Era a raiva de mim mesma,
por não ver os sinais.
Derrubei todas as fotos no chão, ouvindo o som dos vidros se
estilhaçando.
Meus joelhos cederam, e eu desabei, buscando meus óculos
entre os cacos, mas só encontrei os fragmentos da nossa história.
Ali, no chão frio, minhas lágrimas se misturaram ao sangue
que brotava de minhas mãos.
Mas a dor física era nada… O verdadeiro sofrimento estava
dentro de mim, no meu coração, agora despedaçado em mil pedaços…
Eu deveria ter visto os sinais. As pequenas
mentiras, as desculpas esfarrapadas… eu estava cega.
Matteo parecia ser tudo que eu desejava: inteligente,
atencioso e com um senso de humor que me fazia rir mesmo nos dias mais difíceis.
Três anos dedicados àquele canalha que, na primeira
oportunidade me traiu com outra qualquer. Os rasgos em minhas mãos não se
comparavam aos rasgos em meu coração, ele estava dilacerado, sangrava sem
parar, meu peito ardia e nele eu sentia uma grande queimação.
Eu só queria que parasse! Eu só queria esquecer a pior cena
da minha vida.
Ele estava lá com ela, na minha cama, no nosso quarto.
Como pude ter sido tão ingênua? Como ele
pôde ter feito isso comigo?
Dediquei-me exclusivamente a ele, o apoiei em tudo, e só
agora consigo ver o grande erro o qual eu cometi.
Senti minhas mãos formigarem, e as movi sobre minhas coxas,
sentindo o pequeno arranhar de minhas unhas.
Eu só queria que o formigamento passasse… só queria que com
aquele sangue também se fosse a dor em meu peito.
Um calafrio percorreu minha espinha e uma angústia avassaladora tomou conta de mim.
Deus, por que essa dor não passa?
Levantei-me e fui ao banheiro, encarando meu reflexo no
espelho.
Olhos inchados e maquiagem borrada, o preto do delineador
escorrendo pelo rosto, e o batom vermelho em meus lábios misturado ao sangue de
meus lábios mordidos.
— Otária. — murmurei, limpando a boca — Sua burra!
Arranhei meu rosto com as unhas, marcando-o com a dor da
traição.
— Eu te odeio Matteo!
— gritei quebrando o vidro do espelho com minhas mãos trêmulas.
— Eu te odeio… te odeio…
Descontrolada, com o coração apertado e a cabeça latejando,
mal percebi minha mãe na porta — Ai meu Deus… Amihan.
— Mãe. — solucei, jogando-me em seus braços. — Ele me traiu
mãe, o Matteo me traiu…
O banheiro tornou-se palco dos meus soluços, e eu detestava
me sentir tão vulnerável.
Os braços acolhedores de minha mãe me envolveram, mas nem seu
perfume doce de jasmim conseguiu me acalmar. — Tá tudo bem minha pequena, vai
ficar tudo bem. — sussurrou acariciando meus cabelos.
— Faz parar de doer mãe, me ajuda… tira essa dor de mim. Implorei
enquanto nós duas chorávamos.
Matteo era amado por toda a minha família, e essa dor se
espalharia por todos nós.
Fiquei algum tempo ali, sendo amparada, até que minha mãe
preparou um banho para mim. Nunca me imaginei em uma situação como essa, e isso não era nada do qual eu me orgulhava.
Sempre achei ridículo chorar por homem, e agora, aqui estava
eu…
— Vamos limpar esses
machucados. — disse mamãe, observando minhas mãos. — Talvez arda um pouco…
Apenas assenti, nenhuma dor seria maior do que aquela que
estava em meu coração.
(…)
— Não quero. — sussurrei mais tarde, abraçando o travesseiro
enquanto ela trazia um chá.
— Não pode ficar
assim, minha filha
— Como ele pôde fazer
isso comigo, mãe? — as lágrimas voltaram a cair.
— Eu não sei, querida…
mas sei que tudo na vida é aprendizado, e nada acontece sem o consentimento
de Deus. — Ela disse, e eu deitei a cabeça em seu colo. — Essa dor vai passar,
você vai ver.
— Promete que não vai me abandonar? — Meu peito se apertava
com essa hipótese.
— Nunca, minha filha! Você e o seu irmão são meus bens mais
preciosos… se pudesse, tiraria essa dor de dentro de você e colocaria em mim, só
para não te ver sofrer assim.
Naquele momento, tive certeza de que ela era e sempre seria o
meu verdadeiro amor, ninguém jamais me amaria como ela.
Olhei-me no espelho novamente e me entristeci com o que vi.
Meus cabelos pretos estavam desgrenhados, meus olhos azuis,
vermelhos de tanto chorar, e meu rosto marcado pelas unhas.
Isso não era justo… pessoas boas não mereciam sofrer…
A decepção era o que mais doía, era acreditar que alguém jamais faria nada ruim, quando, na verdade, essa pessoa não só era capaz, como
já havia feito.
Matteo me destruiu por dentro, acabou com todas as minhas
forças e esperanças de algum dia ser feliz.
A luz do sol da manhã se infiltrava pelas cortinas, mas não conseguia aquecer o frio que
se instalara em meu coração. Acordei sentindo minha cabeça ainda latejar, com certa dificuldade, abri os olhos, reconhecendo o ambiente em que estava: meu antigo quarto.
No passado, este lugar fora para mim um santuário, meu próprio paraíso particular, mas agora
mais parecia uma prisão de memórias e sonhos quebrados.
O celular ao lado não parava de tocar, era o Matteo.
Eu não quero vê-lo, me conheço bem e sei que sou facilmente manipulada. Ele provavelmente
vai me dizer. “Você entendeu tudo errado, amor.” “Eu te amo, mih”. Enfim,
toda uma ladainha, que tenho medo de cair.
Enquanto ouço o tic-tac do relógio, meus pensamentos giravam em círculos, como se estivessem presos em um ciclo ininterrupto de ansiedade.
E se ele me procurar? Será que está sentindo minha falta?
Levantei-me, envolvida pelo desânimo que se infiltrava em meu ser como o toque gelado de uma
brisa de inverno, arrepiando a pele e congelando meus pensamentos, pelo menos por
um momento. A casa estava silenciosa, exceto pelo som dos pratos que minha mãe arrumava
na cozinha. Arrastei-me para fora da cama, cada movimento pesando como uma tonelada de desgosto em
minhas costas.
Encarei meu reflexo no espelho, e lá estava ela, uma sombra do que costumava ser. Os
olhos que uma vez brilharam com sonhos agora estavam opacos, refletindo a
angústia que se instalara em minha alma. Balancei a cabeça tentando afastar a
crescente de sentimentos ruins que lutavam para me apossar. E ali diante a mim
mesma fiz uma promessa:
Não deixarei essa traição definir quem sou ou o que me tornarei.
Disposta a enfrentar o dia, cobri as olheiras com uma leve camada de corretivo, tentando
disfarçar a fadiga que se refletia em meu rosto. Cada pincelada era como uma
tentativa de apagar os vestígios da minha agonia silenciosa da noite anterior. Vesti-me
e desci para me juntar à minha mãe na cozinha, onde uma conversa difícil me
aguardava.
— Bom dia, querida. Como você dormiu?
Dei de ombros pegando uma torrada. — Dormi, mãe. É um começo,
não é?
Ela me envolveu em um abraço, seu calor tentando preencher o
vazio dentro de mim.
— Você não deve deixar isso te afetar. Você é mais forte do
que pensa Amih. E mais amada do que sabe. — um suspiro escapou dos meus lábios.
Ela sempre acreditou em mim, mesmo quando eu mesma duvidava.
— Como posso ser forte? Não viu a forma deplorável que a
senhora me encontrou ontem?
Baixei a cabeça envergonhada, mas logo senti seus dedos
erguendo meu queixo.
— Força não é sobre como você evita a queda, mas como você se
levanta depois dela. E sobre ontem, você é um ser humano, não é uma máquina, não
se culpe por chorar.
— Às vezes, gostaria de poder voltar, mudar tudo…
— Voltar no tempo não é uma opção querida, infelizmente não
podemos apagar o que passou, mas podemos tomar como experiência para não
acontecer mais. E você não está sozinha nisso.
Abracei-a com toda a minha força. — Obrigada, mãe. Não sei o
que faria sem você.
E é verdade, ela é a rocha da nossa família.
Nossas palavras dançavam no ar, misturando-se ao aroma do
café recém-coado. Eu sabia que, com ela ao meu lado, eu poderia enfrentar
qualquer coisa.
Enquanto minha mãe me confortava, meu celular tocou, quebrando
o silêncio opressivo da casa. Era Atos, meu irmão, sua voz carregada de
preocupação ecoando através do telefone. — Mihan, como você está? — sorri pelo
apelido de infância. — Soube do que aconteceu. Eu vou acabar com aquele desgraçado!
— Atos, não vou mentir, não está nada bem. Mas não precisa se
preocupar, tudo o que preciso é de você e mamãe ao meu lado.
— Estou aqui para o que você precisar.
Senti uma gratidão imensa por ter uma família que me apoia,
mesmo quando o mundo parece desabar.
(…)
Uma semana havia se passado, e não, eu não estou bem, apenas aprendi a disfarçar.
A regra é clara, finja que não sente nada, até não sentir nada.
Já não choro na frente de todos e procuro sempre sorrir quando contam piadas. Mas a
verdade é que meu coração continua quebrado.
Eu me recusava a derramar qualquer lágrima por aquele crápula.
Nessa semana que passou precisei mudar de número, ele não parava de ligar. Em uma das
mensagens ele disse:
“Eu nunca fiz isso antes, foi só essa vez, amor, me perdoa. Prometo não fazer mais.”
Ele também veio algumas vezes em casa, mas em todas pedi para mamãe dizer que não estava. Na última vez, Atos estava em casa e foi ele quem atendeu Matteo, não preciso nem
dizer o que aconteceu, não é?
Meu irmão socou o meu ex, até não poder mais.
E por falar em Atos, ele havia me chamado para uma conversa urgente, e eu podia dizer
pela tensão em sua voz que as notícias não eram boas.
— Amihan, preciso que você veja isso. — ele estendeu uma
pasta de documentos sobre a mesa, sua expressão era sombria.
Eu me aproximei, senti meu coração batendo forte. As páginas
estavam cheias de números, gráficos e termos que eu conhecia muito bem, mas o
que eles revelaram era algo que eu nunca poderia ter imaginado.
— O que é tudo isso? Esses números… eles não fazem sentido.
— São os investimentos que Matteo fez.
— Investimentos? Como assim? Ele não tinha esse poder.
Meu irmão suspirou, pressionando o ossinho entre os olhos,
uma mania já conhecida em momentos de raiva. — Ah, ele tem, desde que você
assinou aquela procuração, ele tem.
— Eu não assinei nada…
Antes que pudesse terminar, uma cena surgiu em minha mente,
como um raio me dando um clarão.
O escritório de Matteo, o sorriso encantador que sempre me
desarmava e os documentos.
— É só uma questão de burocracia, amor. Papéis para o nosso
casamento, você sabe, para dar entrada na papelada.
Eu confiava nele. Peguei a caneta e, sem hesitar, sem ler os
detalhes. Afinal, por que eu leria? Era Matteo, o homem com quem eu sonhava
compartilhar minha vida.
— Tudo bem, se é só isso, vamos acabar logo com essa
papelada.
Desgraçado. Aqueles documentos não
eram simples formalidades.
— Ele disse serem os papéis do casamento… — falei quase
em um sussurro.
— Mas não eram. A questão é que ele arriscou demais, e agora,
estamos em uma situação crítica.
Percorri os documentos, cada linha e cada cifra, me
golpeando como um chicote. O déficit era enorme, uma cratera financeira que
ameaçava engolir tudo que nossa família batalhou para construir.
A sala parecia rodar. Traição era uma coisa, mas sabotagem? Isso
era algo que eu não conseguia aceitar.
Eu só posso ter atirado um caminhão de pedras
na cruz…
— E agora, Atos? O que faço?
— Vamos lutar, Mihan. Faremos o que for necessário para
salvar a empresa. Mas preciso que você esteja ao meu lado nisso.
Eu assenti, sentindo uma mistura de medo e determinação. Eu não
sabia se estava pronta para enfrentar essa batalha, mas sabia que não tinha
escolha. Era o nome da nossa família que estava em jogo, e eu faria qualquer
coisa para protegê-lo.
Sinceramente, foi nesse momento que comecei a questionar o
que poderia ter feito de tão mal, para merecer passar por coisas tão cruéis,
como estou passando. Minha vida não anda nada bem, e algo me diz que a tendência é só piorar…
A sala de estar da casa da minha mãe sempre foi um lugar de reuniões familiares e
celebrações. Mas naquela tarde, ela se transformou em um cenário de estratégias
revelações. Sentada no sofá de veludo, eu observava enquanto Atos, com uma
pasta cheia de documentos em mãos, assumia a cabeça da mesa. Minha mãe, com sua
postura serena, sentou-se ao seu lado, pronta para enfrentar o que quer que
viesse.
— Obrigado por virem. Sei que este é um momento difícil para todos nós, especialmente para
você, minha irmã. Mas precisamos discutir a situação da empresa.
Respirei fundo, tentando manter a compostura. A traição de Matteo ainda era uma ferida
aberta, e agora, a possibilidade de perder o patrimônio da nossa família
ameaçava me despedaçar.
— Amihan, você tem todo o nosso apoio. Não importa o que aconteça, estamos juntos nisso.
— minha mãe segurou minha mão, rápido.
Vejo meu irmão afrouxando a gravata antes de começar a falar. Seus olhos azuis, como os
meus, pareciam cansados. Creio que Atos não havia pregado os olhos na noite
passada.
— Como vocês já sabem, Matteo fez investimentos não autorizados que colocaram a
empresa em risco. Estamos enfrentando um déficit significativo e precisamos
agir rápido.
— Como vamos recuperar o que foi perdido? — eu me sentia inútil, tudo isso era
responsabilidade minha, culpa minha.
Se eu não tivesse sido tão idiota, se não tivesse caído no papinho daquele miserável…
— Eu já estou em contato com nossos advogados. Tomaremos todas as medidas legais
necessárias para corrigir essa situação.
— E quanto aos funcionários? Eles dependem de nós. — o tom de voz era preocupado.
Mamãe estava certa, eles eram nossa responsabilidade. E por um erro meus, todos
estavam condenados.
— Vamos garantir que eles não sejam afetados. Nossa prioridade é manter a empresa funcionando.
A conversa continuou, com Atos delineando um plano de ação. Ele falou sobre
reestruturação, possíveis parcerias e até a venda de ativos não essenciais.
Cada palavra dele era como uma lâmina, penetrando minha carne. Permaneci calada
durante toda a conversação, não acredito que estivesse em condição de me impor
a nada!
— E se isso não for suficiente? — senti minha voz falhar. — E se tivermos que… vender
a empresa?
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor, juro, a única coisa audível era o canto dos
pássaros ao lado. A ideia de desistir de tudo pelo que nossa família havia
trabalhado era impensável.
— Não vamos pensar no pior agora. Vamos focar em encontrar soluções.
— Mamãe tem razão, Amihan!
Assenti, sentindo um peso enorme sobre os ombros, ali encerramos nossa pequena reunião
familiar.
(…)
O escritório do Dr. Mendoza, exalava uma mistura intrigante de madeira
envelhecida, notas cítricas e sal marinho. A madeira das vigas e da mesa traz
um aroma terroso e acolhedor, enquanto as notas cítricas flutuam no ar,
lembrando-me de frutas tropicais. O sal marinho, trazido pela brisa que entra
pela janela, adiciona um toque refrescante. A janela é imensa e emoldura uma
vista deslumbrante para as colinas de Chocolate Hills, um dos pontos mais
famosos das Filipinas.
— Dr. Mendoza, obrigada por nos receber em tão curto prazo. — agradeci quando, ele me
deu passagem para entrar.
— Amihan, Atos, é sempre um prazer auxiliar a família. Mas, pelo tom da sua voz ao
telefone, imagino que a situação tenha piorado. — disse, virando sua atenção
para meu irmão.
Atos passou os documentos para o advogado, que os examinou com uma expressão cada
vez mais grave.
— Esses investimentos que Matteo fez… são preocupantes. E essa procuração que você
assinou sem saber, Amihan, deu a ele muito mais poder do que deveria.
Senti meu rosto queimar. É tudo minha culpa.
— Eu não fazia ideia…
— A confiança é uma faca de dois gumes no mundo dos negócios. — ouvi a voz distante
de Atos, sei que por mais que não me culpe, ele está frustrado.
Mas também quem não estaria?
— Vamos ver o que podemos fazer para mitigar os danos.
O Dr. Mendoza começou a traçar um plano, falando sobre medidas legais, possíveis
ações judiciais contra Matteo e estratégias para estancar a hemorragia
financeira.
— E quanto tempo temos para resolver isso?
— Tempo é algo que não podemos comprar, mas vou trabalhar dia e noite para encontrar a
melhor solução. Precisaremos de toda a documentação possível e, claro, sua
total cooperação.
— Faremos o que for necessário. Amihan e eu estamos juntos nisso. — meu irmão segurou
minha mão, passando um pouco de confiança.
— A primeira coisa é bloquear qualquer movimentação adicional de Matteo na empresa.
Depois, prepararemos uma auditoria completa.
Eu assenti, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade.
— Agora, deixando os termos jurídicos de lado, se querem um conselho de amigo, corram
atrás de empréstimos e investidores o mais rápido possível. Não sabemos quanto
tempo o processo irá levar, e nem o quanto da perda conseguiremos reaver.
A questão é, qual banco irá conceder um empréstimo milionário a uma empresa beirando a
falência?
(…)
Mamãe já foi e voltou na empresa, não só uma ou duas vezes, mas várias, e nelas todas as
notícias não são nada boas.
Dessa última vez, a informação trazida por ela é de que alguns funcionários já
começaram a ser despedidos.
Olimpos já começara a sentir os efeitos da minha burrice.
Atos estava sentado à minha frente, a mesa entre nós coberta de papéis e a luz do
abajur lançando sombras sobre suas feições preocupadas. Eu podia ver a
engrenagem de sua mente girando, buscando a solução onde parecia não haver
nenhuma.
— Amihan, temos que considerar todas as opções. Não podemos deixar o orgulho nos cegar
para as soluções que estão diante de nós.
— E o que você sugere? Já cortamos todos os gastos desnecessários, estamos tentando
renegociar com os fornecedores, e o banco recusa todas as solicitações de empréstimo.
O buraco é muito mais profundo do que pensamos.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos em um gesto de decepção. Eu podia
afirmar que, nesse movimento, pude ver em meio aos fios castanhos alguns poucos
fios brancos.
Isso com certeza era resultado de tanta aflição.
E então seus olhos encontraram-se com os meus, e uma faísca de esperança começou a
brilhar.
— Gabriel Castillo.
O nome caiu no ar como uma pedra na água, causando ondas de tensão entre nós. O homem
é famoso em nosso meio, apesar de ser sempre bem falado, nunca o vi
pessoalmente.
— O magnata das empresas Castillo? Atos, esse cara é conhecido por ser
implacável nos negócios. Por que ele nos ajudaria?
— Porque ele também é conhecido por investir em empresas com potencial. E a nossa tem
potencial, sempre teve.
— E quem nos garante que ele não vai se aproveitar da nossa situação?
— Você nem o conhece. Castillo pode não ser tudo o que dizem…
Mordi o lábio inferior, ponderando a ideia.
Sei que não podia reclamar.
Gabriel Castillo era uma lenda no mundo dos negócios, alguém que transformava pedra em
ouro. Mas ele também era conhecido por ser um tubarão, alguém que não fazia
nada sem garantir nada em troca.
— E se ele quiser assumir o controle da empresa?
— Estabeleceremos termos claros. Um empréstimo, não uma aquisição. Manteremos a
maioria das ações e a direção da empresa. Eu não vou deixar um estranho tomar o
que é nosso.
Havia uma firmeza em sua voz que me deu coragem. Atos sempre foi o estrategista, o que
via além dos problemas imediatos.
— Tudo bem. Vamos falar com Gabriel Castillo. Mas faremos isso juntos.
Sei que a obrigação era exclusiva minha, mas eu estava com medo. Sem Atos ao meu lado, eu
não conseguiria nada.
Meu irmão assentiu e um novo plano começou a tomar forma. Talvez houvesse uma luz no fim
do túnel, afinal.
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