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ANTES QUE VOCÊ VÁ

PRÓLOGO

Daiane Morgott ninava seu pequeno filho nos braços tentando o acalmar após vim ao mundo. Karan continha lágrimas nos olhos ao ver sua companheira e seu primeiro filho, eles tinham passado por tantas dificuldades na gravidez que oravam aos céus para que os amores de sua vida pudessem sobreviver ao longo e complicado parto.

"Meu doce menino, você é um grande ômega." Daiane sussurrou farejando o nariz vermelho do recém nascido. "Vou lhe chamar de Julian, meu grande Julian. Será forte como seu pai."

Karan sorriu ao ver sua doce amada mimando aquele filhote. Tão maravilhado com o momento teve que se levantar da cama e dar um belo beijo em sua companheira. Se nesse mundo os ouros valesse mais do que aquele momento, ele jamais trocaria a riqueza de ter sua família depois de muito tempo suportando as normas de sua vida.

"Ele cheira bem." Karan disse suspirando o doce perfume do bebê.

"De leve cheiro doce de margarida." Daiane riu para Karan e logo seu olhar caiu novamente para o filho.

"Amo vocês", Karan confessou apaixonado.

Depois de tanta felicidade, o rei Karan Morgott concedeu ao reino três dias de festa pela chegada do príncipe Julian. E durante esses três dias veio a infelicidade de Daiane e Karan quando a Casa Principal dos Reinos decretou a eles que um ômega não poderia subir ao trono, apenas grandes alfas e para isso eles deveriam tentar outro filho o mais rápido possível.

Karan sabia que Daiane era forte, decidida e orgulhosa. Uma ômega irresistível tanto indestrutível. A mulher não deixaria que o preconceito daqueles velhos idiotas tirasse a coroa de seu filho, qual o problema de um ômega reinar?

Até para a felicidade do casal, Daiane engravidou de outro filhote, uma gravidez fácil e com muito amor. Julian estava com um ano e meio, corria e descia o palácio, deixando tudo alegre e divertido. Todos adoravam a criança, ajudavam e alimentavam a criança quando Daiane não podia.

Quando chegou em uma noite escura e congelante, a ômega gritava na sala com tamanha dor. Karan e seus servos corriam de um lado para o outro enquanto a parteira e o médico tentavam fazer o parto.

Jesse Morgott nasceu sem choro nenhum, apenas respirando fortemente. Daiane olhou para seu outro filho com uma dor abaixo do ventre insuportável. Ela sabia que não resistiria por muito tempo até dizer ao seu companheiro:

"Alfa, cuide deles, não deixem eles por nada, lhe peço..." Daiane tossiu, com seus olhinhos já se fechando. "Eu amo você e nossos filhos, sempre amarei..." E assim a rainha faleceu após ter o segundo príncipe.

Karan gritou e chorou tão alto pela morte da amada que todos que estavam presentes e ouvindo, choraram dolorosamente pela tamanha tristeza.

A serva de Julian ninava em sua cama, com o coração sangrando ao saber da morte da mãe do pequeno. Pedia aos deuses a proteção que aquele manto negro que caia sobre o reino desaparecesse logo.

Que leigo engano, Julian se permitiria a uma terrível escuridão...

01. LÁGRIMAS DE DIAMANTES

Suas asas marrons com tom avermelhado destacavam na terra branca, as asas quebradas impediram seu voo. Droga, Julian sussurrou abaixando-se colocando sua mão macia sobre a borboleta caída no chão. O inverno sempre foi um inimigo cruel, os animais fogem dele como foge de um predador.

"Calma, vou acabar com sua dor." Julian esmagou a borboleta com as mãos escondidas dentro das luvas felpudas. Não era uma pessoa má, ele não fazia mal a uma mosca, e como odiava o sofrimento não permitiria que a pequena borboleta agonizasse diante de seus olhos.

Julian sacudiu seu casaco antes de voltar para o palácio. Sorriu para seu amigo Patel que caminhava ao seu lado divagando diversos assuntos, com uma palavra certa, sobre fofoca.

"Eu te disse, Julian, aquele alfa acabou engravidando a Nayn, seus pais estão surtando."

"Um casamento os salvará." Julian afastou a mecha de cabelo de seu rosto avistando o palácio no meio de um grande jardim coberto pela neve, criou uma nota na primavera para plantar novas flores que seu amado pai adorava.

"Um casamento? Ninguém casa sem amor, Julian." Patel tampou a boca imediatamente.

"Está tudo bem, estou acostumado." O ômega, mais velho, deu de ombros ignorando o comentário sem noção de Patel.

"Oh!? Amigo. Que droga, eu nunca irei aceitar essa sua vida, que miséria!" Patel bradou fazendo Julian olhar tristemente para baixo. Uma coisa tão evidente aos olhos de quem via, uma família caindo aos pedaços, um irmão maldoso, um amigo desbocado, e um amor... não correspondido. Às vezes Patel estava tão certo, Julian carregava muita carga nas costas em toda a sua vida. "Olha, desista, diga ao seu pai que você não aceita essa merda."

"Eu não posso, estamos comprometidos desde que somos crianças, a Casa Real não..." Julian não completou, pois Patel o empurrou apontando o dedo em seu peito.

Ele estava enfurecido.

"Que se foda A Casa Real, você é tratado como um merda por aquele idiota, sua mãe deve está revirando no túmulo." Julian não revidou, estava miseravelmente cansado. "Desculpa, eu só... Não consigo aceitar ver você assim, olhe para você, sempre cabisbaixo por aí, enquanto aquele..."

"Senhor, seu pai almeja sua presença no palácio." Gari, um servo apareceu no jardim. Jonas assentiu dando graça a Gari por ter o salvado daquela conversa com Patel. Julian olhou para o outro ômega e sorriu:

"Está tudo bem, Pa. Estou bem."

Não, ele não estava nenhum pouco bem.

Sob um olhar acusador de Patel, Julian saiu a andar com o servo em direção ao palácio, encontrando o seu pai na biblioteca. Um lugar recheado de livros, mapas, escrituras e paisagens naturais.

"Pai!" Julian o chamou, tirando a atenção de Karan. O rei abaixou o óculos sorrindo para o ômega. "Está tudo bem?"

"Sim, querido." Karan apontou para a cadeira diante da mesa com vários livros espalhados. Julian imediatamente se acomodou. "Estou preparando um baile para anunciar seu casamento, filho." O coração de Julian parou por um momento, seu futuro casamento chegaria algum dia e ele não tinha se decidido se gostaria de viver uma vida sem amor...

Quer dizer, da parte dele havia amor até demais.

"Farrel Farian gostaria que acontecesse logo, e ele está certo. Fortalecerá o reino e as fortalezas ficaram muito mais fortes." Karan continuou olhando para Julian intensamente, o homem adoecia ao ver seu filhote crescido e tão maduro para sua idade. "Concordamos que os príncipes Declan e Sea ficarão na primavera conosco. Assim poderão se conhecer melhor e eles o ensinará a divergência do governo." Ah, não...

Se seu pai soubesse, cairia morto de tanta decepção.

"Tudo bem, papai." O ômega se levantou para dar um beijo suave na bochecha do rei.

🌑🌑🌑

Quando a primavera chegou, com ele veio o dia da chegada dos príncipes Declan e Sea. O reino se alegrou fazendo uma festa de boas vindas. E para a tristeza de Julian, seu coração doía ao ver seu irmão Jesse se arrumando sorridente para as servas que o ajudavam. Até parecia que ele era o próprio noivo.

Jesse é um ômega tão lindo, com a pele macia e pálida. A maquiagem caía bem em seu rosto, o batom vermelho destacava em sua boca e claro, a roupa apertada o deixava incrivelmente lindo.

Já Julian vestia um terno vermelho com colar de pedrinhas, ele não era tão bonito quanto Jesse, seu cabelo caído e desarrumado, odiava deixá-lo penteado. A pele branca e pálida podia fazer uma leve comparação com a neve.

"Irmão, esse colar está ridículo em você." Jesse como sempre diminuiu Julian, se deslocou até o ômega mais velho retirando o colar que era de sua mãe. A serva correu com a caixinha para colocá-lo dentro. "Bom, agora está melhor, realça mais seu pescoço." Deu uma piscada ao irmão. Julian fechou os olhos, seu irmão era tão mesquinho. Ardiloso.

Não tinha tanta importância com beleza, jóias ou roupas, ele só queria ser amado pelo homem que não o amava.

Quando o servo anunciou que os príncipes chegaram, Julian limpou a palma da mão na calça, o suor de nervosismo o deixou ansioso. Ele deixou Jesse para trás saindo do quarto indo até o encontro de seu pai que conversava alegremente com os príncipes. A roupa escura de Declan deixava seus ombros firmes e suculentos, o cabelo que antes era curto agora estava longo acima do ombro com mechas repicadas. Ele estava maravilhosamente lindo. Mas do que já era.

"Filho!" Seu pai falou fazendo Declan e Sea o olharem. Sea, sorriu correndo para abraçar Julian, enquanto o olhar de seu irmão era frio e duro.

"Julian, você está incrível. Olhe só, Declan, você é um sortudo." Julian viu Declan fazer uma careta repentina antes que seu pai pudesse perceber.

"Obrigado, meu príncipe. Como foi a viagem?" Julian perguntou cruzando suas mãos quando Sea o soltou do abraço.

"Tirando a parte de meu irmão reclamando e sobre a minha bunda dolorida, foi ótimo." Julian riu mostrando as suas covinhas. "Você é muito lindo, Julian."

"Irmão, pare de ser tagarela." Declan olhava aquela cena ridícula fazendo o coração de Julian doer. Ele o despreza e fazia todos o desprezar.

Toda atenção foi arrancada para Jesse que descia a escada com elegância.

Sorrindo, Jesse disse:

"Que bom que chegaram, espero que tenha sido uma viagem agradável."

"E foi." Declan sorriu.

Declan sempre sorria quando Jesse estava por perto. Declan sempre olhava com amor para Jesse. Declan nunca olhou assim para Julian.

"Bom, vamos jantar?" Jesse continha aquele sorriso presunçoso.

Julian se perguntava se seu próprio pai se fazia de cego diante de toda a cena, ou para ele era normal já que Jesse sempre foi bastante comunicativo com todos. Seu irmão se aproximou abraçando Declan e depois Sea que gemeu. Sua olhar caiu no pescoço de Jesse que usava o colar que ele mesmo tinha dito que ficaria horrível nele. Deuses, o que aquilo significava?

Julian tremeu, o choro querendo saltar para fora, seu corpo todo tremia de tanta raiva que sentia. Não faria um escândalo diante dos convidados, deixaria essa conversa para depois. Como um bom príncipe educado, Sea agarrou a mão de Julian o arrastando para a sala de jantar, entraram numa conversa calorosa sobre as diversas aventuras que obtiveram durante as temporadas de caça.

Declan como sempre ganhando todas, nenhum outro alfa era capaz de ganhar o título de caçador. Quando Karan pediu para que se servisse, Julian olhou para Declan e Jesse que conversavam plenamente sobre algum assunto. Com a mão trêmula fez um talher cair e rapidamente se ergueu no chão para pegar, mas seu olhar caiu abaixo da mesa vendo Declan alisando a coxa de seu irmão. Sério que eles estavam se tocando diante de todos? Diante de seu pai?

Respirou fundo, deixaria o choro para depois.

"Julian, conte-nos como foi suas aulas de espadas." Sea perguntou sorridente.

Julian se perguntava porque não poderia se apaixonar por Sea, ele era doce e amável, além de ser um alfa lindo. Mas seu coração era estúpido por gostar de um alfa arrogante. Droga de coração.

"Bem, foi divertido." Forçou um sorriso.

"Ele é ótimo nisso." Karan riu. "Ele é meu doce filho."

"Pai, mimando seu filho diante dos convidados?" Julian sentiu a amargura na voz de Jesse com seu comentário. O que eles queriam? O humilhar? Já não bastava as mãos bobas abaixo da mesa?

"Oh, querido. Não seja ciumento. Você se casará em breve e vou te mimar diante de todo mundo." Karan soltou uma gargalhada. Jesse fez beicinho, olhando para Declan enquanto seu pai não olhava.

Julian estava tão cansado daquilo, Patel estava certo, se ele soubesse de tudo que passou até aqui o julgaria até o último fio de cabelo.

O jantar foi longo e estrondoso, Julian gostaria de correr para seu aposento e chorar na sua cama o quanto ama aquele homem doía. Droga, doía como nunca doeu antes. Ele nunca o olharia para Julian com outros olhos.

Após o jantar e apenas o som dos animais se ouvia, Julian se levantou para buscar um incenso. Amava sentir o cheiro de incenso que a fábrica da vila criava, lembrava de sua mãe de uma forma acolhedora. Quando era pequeno, seu pai contava histórias de cavalheiros, de alfas e ômegas ferozes e os mocinhos das histórias em perigo, contava como se apaixonou por sua mãe em uma doce primavera num campo de margaridas. Soube por várias histórias que sua mãe era uma mulher terrivelmente desafiadora, amada por muito tempo e hoje lembrada como guerreira. Seu pai nunca se casou novamente por amá-la tão intensamente, nenhum ômega poderia substituir o lugar de um companheiro de verdade. Julian se perguntava se o amor que sentia por Declan era... Demais?

Que talvez seu companheiro verdadeiro apareça algum dia e arranque todo o amor que sentia pelo alfa.

Quando Julian passou pelo corredor do quarto de Jesse, estava escuro e sem nenhum guarda. O ômega ouviu vozes rindo, óbvio que o seu coração acelerou quando se aproximou da fresta da porta e olhou pelo buraco da fechadura. Jesse estava de quatro na cama com a sua bunda empinada e o rosto esmagado pela mão de Declan enquanto o alfa o fodia com velocidade e brutalidade.

"Declan, senti tanta a sua falta." Jesse gemeu um pouco alto. "Mais forte."

"Porra Jes, você é muito gostoso. Você é meu. Para sempre." Para sempre...

Para sempre?

Julian sentiu o chão sumir, doeu, doeu e doeu. Eles estavam fodendo loucamente enquanto seu noivo ômega estava no quarto ao lado.

Julian correu, com as lágrimas descendo desesperadamente pelo rosto. O seu peito apertava dolorosamente, queria gritar tão alto, mas apenas se jogou na cama sufocando o grito da alma no travesseiro.

Deuses, faça isso parar.

Podia ver sua vida passar diante de seus olhos, desde quando era menino até um homem que estava prestes a sentar no trono. O que era um trono diante do seu coração magoado? Como poderia viver um casamento fardado a traições e sem amor?

Julian é romântico a ponto de querer flores, receber carinho e atenção. E o seu irmão recebia tudo isso do homem que amava. Eles nunca tiveram a audácia de esconder o quanto se gostavam, de que se pegavam nos aposentos de quando Declan vinha ao palácio. Não era a primeira vez que Julian os via em momentos assim, mas esta noite doía como nunca doeu antes, e a mente de Julian virou um laço embolado.

Seu pai sempre lhe dizia para ser forte e corajoso, mas Julian não tinha coragem nem de enfrentar seu próprio irmão que zombava de sua face diversas vezes.

Das vezes que Jesse o empurrou, de Jesse jogando lama em suas roupas em seu aniversário, Jesse fingiu um machucado fazendo Karan repreender Julian. De Jesse tirando o homem que Julian amava. Seu irmão nunca demonstrou que gostava do ômega mais velho, causando tanta discórdia que fazia Julian se sentir um fracassado e tolo.

Os soluços tornaram-se altos. É cômico ver que enquanto chorava, seu irmão e seu noivo matavam a saudade um do outro ao quarto do lado.

Quando isso terminaria? Huh?

Talvez nunca, eles só não imaginavam que deixariam o coração de Julian petrificado.

02. UM DOCE SORRISO

Na manhã seguinte, Julian continuou esparramado em meio aos lençóis de seda. Uma dor de cabeça ocorreu assim que abriu os olhos inchados, imediatamente lembrou da noite passada. Como sempre acabava aos prantos nas vezes que se machucava. A porta se abriu causando um barulho insuportável, a luz do sol quase cegou quando as cortinas foram abertas.

"Julian, levante-se!" A voz do seu amigo irritante é algo que não gostaria de ouvi-la depois da crise de choro.

"Patel, por favor." Julian bocejou agarrando o travesseiro.

"Julian, você prometeu que iríamos alimentar os cisnes hoje." Patel bateu o pé indo até à coberta de Julian e arrancando. Quando Julian o olhou, Patel se calou olhando-o assustado. "Que diabos aconteceu com você?"

Patel via seu amigo com olhos vermelhos e inchados, muito inchado. Parecia uma alergia ocular ou sabe lá o que.

"Um voador atacou meu olho, não se preocupe." Julian sorriu disfarçando a tristeza.

"Ugh! espero que esse voador não seja o idiota ao lado." Patel apontou a fazer Julian arregalar os olhos. "Ah! por favor, Julian? Você pensa que não fui xeretar? E adivinha, estava certo." Patel sentou-se ao lado de seu amigo acariciando a beleza que aquele garoto frágil possuía. "Cancele o casamento." Patel desceu o olhar triste, queria poder arrancar aquela tristeza de seu amigo.

"Papai espera muito de mim, Pa. Logo logo irei o substituir."

"Foda-se, estou cansado dessa história, quero que você seja feliz com alguém que goste de você." Julian sabia que seu amigo cutucava a ferida de propósito, é um jeito de Patel ajudar. Tão verdadeiro e sincero, talvez seja por isso que são amigos desde a infância.

"Seu pai não permitiria que você casasse tão infeliz, Julian."

"Mas ele... será meu." Julian recebeu um tapa na cabeça. "Aí, por que você me bateu?" Coçou a cabeça zangada.

"Pelo amor, meu príncipe! Você é tão inocente, não sei que mundo vive. Venha, vá tomar banho."         Cansado de discutir com seu amigo, Patel agarrou o braço de Julian, o arrastando para a banheira o largando sem dizer uma única palavra.

Julian com a coragem que lhe restava banhou-se e deu graças em não ver Patel no quarto, arrumou-se para o café da manhã. Gemeu fraquinho ao lembrar que hoje seria a chegada dos cisnes no lago e que Patel o fizera prometer a alimentação dos animais.

Amava a chegada da primavera, as flores brotaram e tudo voltaria ao verde novamente. Os animais sairiam de suas tocas e Julian não se preocuparia com o frio.

Saiu do quarto encontrando Jesse e Declan rindo diante da porta. Eles imediatamente pararam a conversa se afastando um do outro.

"Irmão, bom dia!" Jesse saudou. Como seu irmão podia ser tão descarado?

Julian olhou para Declan com os olhinhos brilhando. O alfa deu de ombros sem se importar, segurou a mão de Jesse e se afastaram sem ter o mínimo de respeito com os sentimentos do ômega.

Por que Declan e Jesse não se casavam de uma vez por todas? Por que ele arriscaria sua vida para salvar seu pai? Por que sua vida era tão odiosa?

Grunhiu com pavor, não abriria a mão de Declan para seu irmão. Declan era dele. Dele e de mais ninguém, mesmo que se submeta a essas cenas deploráveis. Afastou o pensamento seguindo para cozinha, os servos o saudaram. Julian nunca se alimentava junto com seu pai e irmão, desde novo seguia Janine em seus afazeres e comer com os servos era bem mais aconchegante do que toda aquela riqueza que o envolvia. Sentou ao lado de Patel distribuindo um leve beijo em seus cabelos.

"Pronto, majestade. Estou limpo." Brincou Julian recebendo um reviro de olhos do amigo.

"Vamos comer, os cisnes logo chegarão." E com isso comeram entrando numa conversa amigável. A conversa parou quando Sea entrou com uma caneca na mão e um pedaço de pão na outra.

"Você e seus costumes, Pa." Sea riu, sentando em frente aos dois amigos.

"Desculpe por isso." O ômega riu fraquinho.

"Quais são seus planos para hoje? Que tal experimentar seu terno?" Sea perguntou jogando um miolo do pão em Patel quando lançou um rosnado.

"Terno? Ele não vai se casar com seu irmão idiota."

"Eles estão noivos faz dezessete anos, baby." Se algo irritava, Patel, é um sorriso de escárnio que Sea lançava a ele. Deuses, outra briga.

"Julian pode desistir do casamento quando bem entender."

"Ele não vai desistir mesmo querendo." Mesmo querendo...

Ele é o único que poderia salvar o povoado se casando com o filho de Farrel Farian, o rei entre todas as nações. Farrel Farian é forte, habilidoso e praticamente comandava todos à sua volta. Última vez que viu o alfa supremo Julian tremia de medo, não podia negar a genética de Declan e Sea, o alfa supremo tinha uma beleza rara. Com cinco anos de idade, seu pai solteiro e com dois filhos pra criar junto com um povoado, criou a aliança com Farrel Farian para que seus filhos se casassem e Julian pudesse ser o sucessor de seu reinado e assim como Declan Farian também se tornaria o alfa supremo quando o seu pai Farrel lhe passar a coroa. Eles seriam tão fortes que nenhum outro reino desobedeceria as leis. Julian cresceu estudando as leis, as lutas e das histórias por trás de todas as nações, também conheceu Declan e Sea entre os sete anos de idade quando a mãe dos príncipes passou uma temporada no palácio Dazarian.

Para Farrel Farian, os noivos precisavam se adaptar e criar um laço entre eles. Julian sempre foi uma criança doce, amigável, adorável e respeitosa. Já Jesse era decidido, falador e corajoso, diferente de Julian, não foi à toa que Declan se apaixonou por ele. Quando completaram os dezesseis anos a relação dos quatro príncipes pioraram, Julian via tudo aquilo se transformar numa mesmice. Os olhares apaixonados que Declan lançava a Jesse, os toques de carinho em seu rosto, às vezes que Jesse se machucava e Declan estava lá o socorrendo. Jesse recebia os sorrisos e abraços de Declan, os cafunés daquelas mãos ásperas e grandes que na cabeça de Julian faziam loucuras. Ele nunca teve atenção de Declan, uma única vez, além do dia em que Jesse se jogou da escada e culpou Julian. O ômega nunca esqueceu esse dia ao ver Declan agarrando seu pescoço com força deixando as marcas dos dedos, gritou com Julian exalando feromônios que por dias ele se sentiu mal. Seu irmão olhava para Julian satisfeito e orgulhoso.

Ouviu um barulho de prato se quebrando quando Patel lascou-se um na parede atrás de Sea. Segurou a mão do outro ômega exaltado antes de jogar outro.

"Patel!" Bradou Julain. "Parem vocês dois, céus, irão se machucar."

"Deixe-me quebrar esse prato na cabeça desse moleque!" Sea sorria desafiador.

"Acalme-se, se não papai entrará na cozinha. Certo?" Julian lançou um olhar implorando ao Patel um pouco de calma. Respirou fundo apontando para Sea:

"Vocês dois se merecem. Vamos."

🌑🌑🌑

O tempo passou diante do lago cristalino do bosque, aguardavam a chegada dos cisnes. Patel plenamente roncava no ombro de Julian que olhava o céu azul.

Um servo chegou pedindo que Patel fosse até o rei. O príncipe achou estranho já que Karan raramente pedia a presença de seu amigo. Patel é filho de um grande alfa guerreiro que se casou com a melhor amiga de sua mãe. Os dois acabaram falecendo em um navio naufragado, até Karan o criá-lo como um dos filhos, já que o pobre ômega não tinha família sobrando.

"Quando eu poderei ter um pouco de privacidade?" Resmungou se levantando. Patel se espreguiçou espremendo seus braços para cima.

"Volto logo, não assuste os pássaros." Avisou.

Julian riu concordando com a cabeça. E quando o ômega se foi, minutos depois ouviu vozes. Era seu irmão e Declan andando de mãos dadas. O estômago de Julian revirou.

"Irmão, você aqui." Jesse sorriu. "Viemos observar a chegada dos cisnes."

"Nós também."

"Nós?" Jesse reformulou a pergunta olhando em volta.

"Patel, mas logo estará de volta." Julian explicou e seu irmão assentiu, agarrou a cintura de Declan o puxando para um doce beijo. Bem na frente de Julian.

Julian rosnou, seu peito não doía, apenas batendo incontrolável.

"Vocês podem parar?" Soltou a pergunta com raiva.

"Parar?" Jesse perguntou. "Por que?"

"Por que ele é meu futuro marido?"

"Oras, que mal isso tem? Posso aproveitar dele antes de vocês ficarem presos um ao outro." Jesse simplesmente disse aquilo como se fosse fácil.

Declan riu, eles estavam rindo de Julian.

"Você não ficará contente se papai souber." Não era intenção de Julian ameaçar, mas Declan se aproximou de Julian agarrando seu braço com tamanha força.

"Você não dirá nada a ele. Entendido?" O olhar negro ameaçador que Declan lançou deixou Julian ainda mais exaltado.

"E por que não? Afinal, sou seu noivo e me deve respeito. Parecem duas prostitutas no cio." Apontou para Jesse e Declan. "Ele logo saberá de qualquer forma e você se arrastará para resolver o problema que causou." Declan rosnou alto, fazendo Julian andar pra trás, seus olhos que antes eram negros ficaram vermelhos como o pôr do sol.

"Não vai acontecer nada, sabe o porquê? Por que eu sempre vencerei, e perder não está no meu dicionário." Cada palavra, Julian dava um passo para trás até encontrar a borda do lago e sentir o empurrão no peito caindo na água congelante.

Ele o empurrou...

Julian não sabia nadar...

O ômega se debateu na água rezando que alguém o salvasse. Ele não sabia nadar e a água estava fria. Ouvia apenas a risada calorosa de Jesse, e em um único olhar viu Declan encarando toda a cena com frieza.

Ele morreria afogado?

Quando Julian começou a perder a consciência, duas mãos agarraram o blusa molhada o levando para superfície da água.

"Príncipe, acorde." A voz de Sea é desesperadora. "Ande, solte a água para fora." Eles tentaram matar Julian...

Eles foram impiedosos...

Julian realmente merecia a dor da rejeição?

"Julian!" Outra voz foi ouvida, é Patel. "O que aconteceu?"

"Ele sem querer caiu no lago, Declan iria o salvar mas Sea foi bem mais rápido." Que bela mentira...

Sea olhou para Declan inacreditável com a ação de seu irmão mais velho. O que ele tinha na cabeça em tentar afogar o seu noivo? Ainda bem que chegou a tempo ao ver Jesse e Declan olhando sem fazer nada enquanto Julian se debatia na água. Deuses, se o rei souber dessa tragédia.

Julian tossiu a água pra fora com o rosto avermelhado, Patel o abraçou.

"Que bom que está bem, o que você tem na cabeça? Por que caiu no lago?" Julian olhou para o casal que lançava um certo 'não conte a eles ou será pior na próxima vez'. Terá outra vez?

"Foi sem querer Patel, eu tropecei." Criou a pior desculpa.

"Te deixo por alguns minutos e você se tenta se matar, vamos." Sea ajudou Julian a se levantar, os três saíram do bosque mas antes Julian olhou para trás, encontrando os olhos frio de Declan lhe encarando como se fosse lhe matar.

A que ponto ele chegou? Permitiu a mentira fazendo os dois escaparem da culpa.

Patel e Sea se olharam, sabia muito bem que aconteceu algo entre os três no lago e Patel descobriria o mais rápido possível. Nem que desse a vida para Julian sair dessa vida, ele daria. Logo ajudou o príncipe manter aquecido, até vim o primeiro espirro.

"Droga, Julian. Um resfriado virá." Sea respirou fundo, saiu do quarto deixando Patel cuidando de Julian.

Arrastou seus pés até o portão principal vendo Jesse e Declan entrando. Deu uma olhada ao irmão dizendo algo para o ômega.

"O que você fez?"

"O que eu fiz?"

"O príncipe quase morreu enquanto assistiam." Reclamou. Declan deu um sorriso de canto.

"Não fizemos nada, não tenho culpa se aquele garoto é burro o suficiente para não saber nadar."

"Você é um idiota, ele se cansará de você um dia e espero que esse dia chegue logo para te ver no fundo do poço. Irmão, quando você abrir os olhos será tarde demais. Desde sempre vocês causam desaventuras desnecessárias com Julian, não cansa?" O rosto de Sea é raivoso a ponto de Declan se irritar com o irmão. Pouco se importava com aquele ômega. Ele tinha Jesse. Jesse é importante.

"Então case com ele se você acha que isso te dará alívio."

E assim Declan deu as costas para Sea voltando para Jesse.

"Está tudo bem?" Jesse perguntou agarrando o braço do alfa.

"Sim, querido. Vamos." Poderia ter um dilúvio sobre ele que não moveria um dedo para salvar aquele ômega.

O destino ria desse pensamento do alfa.

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