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As Esposas

Regime da Arábia Saudita

    Latifah

Said

Layla

Arábia Saudita.

POV's Latifah. 

Hoje é o dia de celebração, minha cunhada começará a usar o hijab. Na religião islâmica o Hijab é um símbolo muito importante para as mulheres, onde nos guardamos. O próprio Alcorão relata sobre isso, nós muçulmanos seguimos fielmente as diretrizes deixadas pelo profeta Muhammad.

Aprendi  que não vale a pena ir contra os princípios da religião, porque Allah condena o pecado e a teimosia é uma autodestruição. 

 Meu país é muito conservador e as penas seguem de acordo com o Alcorão- o livro sagrado dita o que é certo e errado‐. Uma vez quase fui apedrejada em praça pública, mas Said foi um anjo enviado por Allah, em ter me tomado pra ser a sua segunda esposa.

"Sim, o alcorão permite que o homem possa ter no mínimo até quatro esposas e tratá-las todas igualmente."

— Yalla, Latifah! Yalla.— minha irmã apressa-me, para que possamos ir logo pra sala.  

Ela é a primeira esposa.

Levanto-me da cama e pego o véu preto, cobrindo a cabeça. Ando um pouco mais atrás,  e Layla segue  na frente.

Estamos ansiosas para ver como Aisha está.

— Mashallah! — minha voz soa admirada.

Demonstro um sorriso, não sendo capaz de conter a felicidade que sinto em vê-la se preparando para receber o hijab.

Em volta da Aisha há algumas senhoras muçulmanas dizendo a ela o porquê do hijab fazer parte do islamismo. Meus olhos estão lacrimejados, quase não consigo conter as lágrimas. Olho de relance para Layla, que também sorri, estamos juntas presenciando essa cena tão emocionante.

— Que Alá a abençoe e a traga um marido rico que a dê muito ouro! Inshallah! — sorrio de leve ouvindo a minha irmã profetizando, enquanto levanta os braços para cima.

Minha irmã pensa já no casamento da Aisha, principalmente no dote. O dote é crucial para o casamento muçulmano.

— Layla! — a repreendo.

"Aisha ainda é a uma criança, ainda há muito tempo para se pensar em um casamento" analiso a feição inocente da menina, enquanto penso.

— Latifah, o habib já está atrás de procurar famílias do nosso poste para casar a nossa Aisha, não há idade específica no Alcorão. E o profeta Muhammad casou muito novo com a Khadija— minha irmã alega.

— Preciso atender, só um instante.

Me afasto, retirando o aparelho, ao sentir o celular vibrando na abaya preta que uso.

Nossas vestimentas são bem largas e existe uma lei na Arábia que proíbe sair na rua com roupas curtas e que marcam o corpo. Quem desobedece, acaba sendo punido e até mesmo preso.

— Deixa o habib ver você desse jeito, ele vai brigar com você quando souber que tú estas conversando no celular igual aquelas estrangeiras, Latifah — avisa-me, expressando um tom de exagero— Que Allah tenha piedade dos teus harans!

Balanço a cabeça levemente pelo que acabo ouvindo e a ignoro. Layla é muito tradicional.

Não somos rivais e nem brigamos pela atenção do Said, ele só casou comigo por pena e eu sou grata pelos dois terem me acolhido em sua casa.

— Ah, esqueci de te contar.... Habib arrumou uma terceira esposa. 

— Terceira esposa?— fico de boquiaberta, com a notícia.

— E já está planejando a quarta.

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Todas as quatros esposas são as protagonistas, então desde de já, serve como aviso, *;)

Casamento arranjado

Zahra.

Zafira

*********

  Arábia Saudita.

POV's Zafira.

Aldeia.

Enquanto minha irmã conta sobre o casamento arranjado que yába está ajeitando para mim, sinto os meus olhos marejarem. 

– E um tal de Said.— ela acrescenta e levanto a cabeça para cima, encarando a minha fisionomia triste no reflexo.— O que foi, Zafira? Não está feliz?

—Na a'm. — minto.— Mafi Mushkila.

— Não parece. — se senta ao meu lado.— Bismillah!— expressa um tom de descrença.— Ainda está pensando em Ömer?

— Não repita esse nome.— a repreendo, fazendo sinal de silêncio. Entreolho para porta do quarto, com medo que alguém nos ouça. 

— Yába quer o melhor para você, Zafira, você sabe dos costumes. É a família que deve arranjar o casamento, não podemos escolher.

Levanto, atormentada. 

— Eu sei disso.— sôo, angustiada.— É por isso que eu e Ömer vamos fugir.

—Bismillah! Que Alá tenha misericórdia da tua alma. Irá jogar o nome da nossa família ao vento! — expressa espanto, com os olhos arregalados.

— Não vou me casar com um homem que eu não amo.— a olho, decidida a lutar— Yába não irá dizer por mim.

— Zafira, por Allah, não cometa essa loucura! — me aconselha, e resisto, com as lágrimas escorrendo. 

— Se eu me casar, Zahra, serei uma mulher morta.— confesso, com muito medo.

— Não me diga que….

A confirmo que sim. E a minha irmã paralisa, em total choque. 

Somos interrompidas por yáma que aparece nos chamando.

— Yalla, não fiquem aí paradas. yá bínti se cubra, seu futuro marido está na sala falando com seu pai. Vá servir café! Ande.— minha mãe ordena e ando de vagar. 

Pego o niqab, deixando apenas uma pequena brecha que dá para ver os meus olhos. Aqui nessa região a mulher é proibida usar apenas o hijab, devemos usar também o niqab que cobre todo o rosto.

 Caminho pelo corredor, indo até a cozinha preparar o café. Coloco muita açúcar e misturo com sal. Mexo com a colher, ouvindo yába gritar por mim. Peço forças a Allah e sigo, carregando a bandeja.

Entro e recebo toda atenção com a minha chegada na sala. Neste momento, me direciono para entregar a xícara de café ao tal prometido e propositadamente derrubo a bandeja, sujando-o. 

O tal “Said” se levanta, se limpando. 

— Não, tudo bem Zein.— ameniza, ao ouvir meu pai se desculpar.

— Que m’ssíbe! — meu yába lamenta, com a mão na cabeça, carregado de vergonha. 

Enquanto isso, meus olhos por trás do niquab analisa o convidado, que possui olhos intensos. Não sei explicar essa sensação, mas no fundo dessa troca de olhares que ocorre, sinto uma coisa esquisita. Seu olhar penetrante, exala um ar de mistério.  

Ele se retira para ir se limpar. Fico tão mexida com tal momento, que sinto o meu coração disparar. 

Saio do transe, ao levar um tapa no rosto do meu pai, que me repreende por ter lhe causado esse vexame. 

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No quarto.

Pov's Zahra 

Allah seja misericordioso e não deixe que nada de ruim aconteça. 

Termino de fazer oração de joelhos, estava pedindo Allah que der sabedoria a Zafira e que ela não cometa nenhuma besteira. Essa fixação por Ömer, só vai lhe causar problemas.

Ligo o som, dançando. Giro-me, rodando o meu véu sobre as mãos. Sorrio, rebolando a cintura, assim como os braços ao seguir o ritmo da dança do ventre.

Todas as tardes, faço isso. Gosto de fechar os olhos e pensar nos meus sonhos…. Quero poder ter a chance de ir numa escola e aprender a ler um dia. Eu sei que é um sonho muito distante, visto que a religião restringe. 

— Me desculpe.— a voz masculina adentra e acabo deixando o meu véu cair no chão.

Penso em gritar ao ver o estranho parado na porta do quarto. É proibido, um homem ver uma mulher descoberta, sem que seja algum membro da família. É considerado um haram! O alcorão diz que devemos nos mostrar apenas para o marido. 

— Não me toque!— afasto apavorada. 

— Perdão.— novamente se constrange.— Não quis viola-lá— lhe encaro de relance— Perdão mais uma vez, não queria desrespeita-lá. — pega o meu véu e me entrega, mesmo sendo uma atitude inapropriada. 

Me cubro, olhando pro fundo dos olhos azuis que estão em minha frente.

Nunca ninguém me olhou assim.

(***********)))))

Arábia Saudita. 

Pov's Layla.

— Salamaleico.

— Aleikum as-salam— respondo de volta,  dizendo: que a paz de allah esteja com você também.— Said foi buscar a terceira esposa.— aviso-a.

— E você está bem com isso?

— Estou ótima! Melhor impossível, Latifah.— viro-me, e sem que veja desfaço o sorriso. — Teremos mais uma, para nos ajudar com os afazeres domésticos. 

— Ei.— me para.— Não precisa mentir para mim.— se coloca em minha frente, olhando-me com pena.— Você não está bem.

Meus olhos se formam em lágrimas, e completamente desmorono, abaixando a guarda.

— O que há de errado comigo?— choro.— Eu sigo os cincos pilares do islamismo, Latifah. Eu faço caridades aos necessitados. Eu jejum. Eu oro cinco vezes ao dia. Todo ano eu vou a Meca fazer a peregrinação. Reconheço Allah como único Deus e que o profeta é o seu escolhido.

— Você é incrível, Layla. — conforta-me, e balanço a cabeça negando.

— Se eu fosse uma boa esposa, pro meu marido, ele não estaria se casando com uma terceira esposa.— choramingo, com a cabeça apoiada em seu ombro.— Meu ventre é seco, Latifah! 

— Não diga isso, Layla. No momento certo Alá vai te abençoar com um bebê.

A fito, desanimada.

— Você deveria consumar o casamento, Latifah.— a sugiro.— Assim essa terceira esposa não terá vez aqui. Se ela engravidar, Said voltará os olhos somente para ela e ficaremos de lado.

Exponho o meu maior medo.

Eu sinto que a chegada dessa mulher só trará desgraça.

******************

Terceira esposa

    Arábia Saudita.

POV's Zafira.

19:45 PM- a noite.

Yába agilizou o casamento. A minha atitude o fez temer que o muçulmano desistisse de me tomar como esposa. Agora os dois estão lá na sala, casando-me. 

— Zafira você está tão linda! 

— E infeliz.— completo a frase.— Zahra, esse homem vai me atirar no poço.

— Não fale isso. Allah vai te proteger.

—  Mas eu não quero me casar. Será que não entende? — contesto.— Eu amo Ömer, iremos fugir assim que ele voltar dos Estados Unidos.

— Ir contra seu destino, Zafira, só te trará sofrimento.— ela seca com o polegar, as minhas lágrimas. — Não jogue ao vento aos nossos valores, por conta de alguém que foi embora. 

— Ele vai voltar, ele prometeu para mim.— afirmo, esperançosa. 

— Que os olhos do profeta te proteja, enquanto isso!

Abraço-a. 

— Eu estou hibla, Zahra. Grávida!— faço a confissão, aos prantos.— Esse é um dos motivos que eu não  posso me casar de forma alguma. 

— Por Allah, o que será de você agora Zafira?— escuto seu tom de preocupação.

— Não sei. — permaneço abraçada.— Zahra....— a chamo.— Por favor, vá no meu lugar.— sugiro, no calor do desespero.

— O quê? Yába nunca vai permitir um negócio desses. Ele prometeu  você, a esse Said. Ele não pode voltar atrás com a palavra, a palavra de um muçulmano é apenas uma.

— Yába não precisa saber.— a olho,  por alguns instantes. — Aquela burca.— aponto.— Cobre todo rosto, assim como os olhos. Você só vai retirar quando tiver no quarto escuro com ele. 

— É uma loucura, Zafira! Seremos mortas.

— Não.  Esse Said parece ser um homem bom, ele vai entender.

(..............)))

Pov's Latifah. 

— Said ligou.— sorrio, ao contá-la.— Ele disse que vem hoje.

— Inshallah! — minha irmã vibra.— Já estava morrendo de saudades do  habibi.

— Ele mandou a gente preparar o quarto.— sôo receosa, notando sua reação de chateação.— Mas não significa que ele dormirá com a terceira esposa todas as noites. É apenas obrigação, como manda o alcorão. 

—  Tem razão.— assente.

— Você não deixará de ser a primeira esposa.

— E nem você a segunda.

Rimos.

— Eu não acho que um dia, Said, vá me olhar com outros olhos, Layla. Ele te respeita, e só me tomou como esposa a pedido seu.— comento, por alto.

— Que nada, Latifah!— segura na minha mão.— No momento certo, habibi vai se apaixonar por você também.

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Algumas horas depois...

Pov's Layla 

—Yalla, Layla! Yalla! — é o primeiro nome que ele  grita assim que chega. 

Corro, indo até a sala.

— Habibi!— meus olhos brilham.— Que bom que você chegou!

Nos encaramos e demonstramos nossos sentimentos através do olhar. Não podemos nos abraçar em público e muito menos nos beijar, condutas assim é vista como imoral. Por mais que eu queira abraçá-lo, é impossível, pois não estamos sozinhos. Ele está acompanhado, e vê-lo com outra deixa meu coração tão inseguro.

— Leve Zafira, até os aposentos.— pede, e chamo minha irmã para fazer isso.

Bate uma certa curiosidade para saber como é o rosto da mulher que está coberta por uma burca preta.  Será que ela é bonita ou feia? 

Prefiro seguí-lo e ajudá-lo se limpar. Gosto de lavar seus pés todas as noites, já virou um costume. 

— Não precisa, Layla.— me interrompe, ao me vê  pegando a macia com água— Leve pro quarto, quem fará isso hoje será Zafira.

Sinto um ciúmes, pela forma de como a menciona. Mas... engulo aquilo, obedecendo-o.

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Alguns minutos depois....

Pov's Zahra. 

Adentro no quarto perfumado, sendo deixada a sós. 

Olho para cama de casal, sentindo medo.... 

— Espero que tenha gostado do quarto.— viro em direção a voz.

Ele se encaminha até a beira da cama, onde está uma macia com água. Vagarosamente vou, ficando de joelhos em sua frente. Lhe sinto me observar, é estranho, porque antes mesmo desse momento acontecer, o destino já tinha pregado peças quando ele me viu sem o véu. 

— Não precisa ficar assim—  segura no meu pulso, ao perceber que estou tremendo.

Lhe olho por um instante, mexida.

Quando termino, as luzes são apagadas e fico tensa quando chega a hora.

Meu coração está muito acelerado, eu nunca estive na presença de um homem.

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Pov's Layla 

Espio por detrás da porta, querendo ouvir algum barulho. Estão calados demais, essa hora habibi já está consumindo o casamento. 

Me frustra pensar nisso. Eu não fui capaz de cumprir com as minhas obrigações como esposa e agora preciso dividi-ló.

Se ela engravidar na primeira noite.... Sinto que perderei a minha posição como primeira esposa. 

Said abre a porta e expõe o lençol sujo de sangue, informando que ele tirou a pureza dela. Entreolho para Latifah, e ele volta novamente, para ficar a noite inteira com a noiva.

Depois, eu e minha irmã seguimos para os nossos quartos.

Na manhã seguinte, acordo com gritos. Muitos gritos e choro. Levanto, colocando o  hijab  para verificar o que está acontecendo. 

No corredor, encontro habibi muito alterado, dizendo que foi enganado.  E a mulher no qual tomou como esposa está jogada no chão, chorando, usando apenas um traje íntimo.

— Eu te repúdio!— o mesmo profere as palavras, com muita raiva. — Eu te repúdio!

— O que isso significa?— minha irmã pergunta, confusa.

— Se ele disser uma terceira vez, ela será uma mulher divorciada. 

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