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Operação Black Wings

Operação Black Wings

Simon

2018

— Fiquei a par de uma operação no mínimo intrigante e pensei em você para resolvê-la.

Clinton com seu largo moletom entrou na minha sala eufórico, fechando a porta logo em seguida. Ainda não sabia como um agente como ele se vestia como um adolescente de 15 anos.

— Como se as coisas funcionassem assim.

— Cooper, me escuta; tem que ser você. Acredite, é o destino.

— Eu sou obrigado a ouvir a Pen falar todo santo dia sobre “destino” e agora você também? Primeiro; que essa coisa não existe. Segundo; lembra que estou focado na promoção para Diretor de Departamento?

Não precisei convidá-lo para se sentar, o que ele fez em automático se inclinando para frente em seguida.

— Se você conseguir pegar essa operação e resolvê-la, com certeza conseguirá está promoção.

Ele sabia como me fazer prestar atenção em algo.

— Se ela está a esse nível, como você teve acesso?

— Prior me enviou para Londres, precisavam de alguém confiável para analisar um chip intradérmico achado em um cadáver. O que não mostrou muito além da rota que a mulher seguiu até o lugar onde a acharam.

— Seja mais direto, senhor Brown. Vamos, faça o meu tempo valer a pena.

— Enquanto estava fazendo as análises, descobrir que a Canadian Security Intelligence Service (CSIS) está trabalhando diretamente com o MI5. Tudo indica que a morte da mulher encontrada foi para tráfico de órgãos.

Ele estava certo, a coisa era grande.

— Nenhuma repartição está encarregada?

— Aparentemente estão em tramites para escolher quem ficará encarregado da operação dentro do MI5. Pelo que entendi, não é uma quadrilha qualquer. Eles são muito organizados, então requer muito empenho e agilidade para lidar com a situação.

— Okay, me convenceu de que é importante e seria ótimo para minha carreira, mas o Prior não vai me passar esta missão só porque eu pedi e acredito que ele não vai gostar nada de saber que você anda compartilhando informações cruciais por aí. Eu sou o segundo no comando, Gordon teria que ser o interessado para que a operação viesse direto para nós. O conhecendo como conheço, ele não vai se interessar. — Clinton levantou a mão e jogou uma pasta bem na minha frente — O que é isso?

— Não estou “jogando informações por aí”, e esse é o motivo! Eu tenho certeza que ao ligar para o Prior agora mesmo e contar que está a par da situação e se oferecer para essa operação, ele vai concordar antes mesmo de perguntar para o Gordon o que ele acha.

— Você ficou louco! Ele não quebraria a cadeia de comando assim, você o conhece bem.

— Abre a pasta e olha o nome da operação. Simon… tem que ser você.

A conversa estava intrigante ao mesmo tempo que estava me levando a máxima irritação.

Ao abrir a pasta o nome em negrito se sobressaiu “Operação Black Wings”.

— Se isso for alguma brincadeira sua…

— Foram o CSIS que deram o nome. Eu também fiquei sem reação quando vi. Entende o porquê tem que ser você?

— É só uma coincidência bizarra. — murmurei incrédulo ainda encarando a folha.

— Okay! — ele concordou sem paciência e se levantou — Não é uma coisa do destino e sim uma coincidência bizarra! Ótimo! Então não tem motivos que o impeçam de ligar para o Prior agora mesmo.

— Tudo bem, eu ligo! Mas só vou ligar para provar o quanto é cansativo ser o seu amigo e que provavelmente você será advertido por isso.

Peguei o telefone e iniciei a ligação observando Clinton fazer caretas enquanto começava a andar de um lado para o outro.

— Senhor… espero não estar atrapalhando. — Prior atendeu e parecia estar irritado com algo. Provavelmente eu me meteria em confusão por causa daquilo — Sei que não é uma boa hora e que seria mais adequado termos esta conversa pessoalmente, mas estou a par da Operação Black Wings e gostaria de solicitar o meu requerimento como um dos responsáveis pela investigação dentro do Reino Unido.

A linha ficou totalmente silenciosa, olhei para frente e Clinton estava parado me encarando com olhos vidrados.

— Sim, o agente Brown me trouxe a informação.

Mais silêncio, e quando por fim ele começou a falar, parou e encerrou a ligação. Sentir uma leve tontura em meio a negação instantânea que me atingiu ao ter a resposta.

— O que ele disse? — Clinton chegou mais perto enquanto eu processava o que havia acontecido — O que ele falou, Simon?

— Amanhã será feito o requerimento para que formalmente a repartição de Manchester seja a responsável pela Operação Black Wings. Ele… ele me deu a operação sem questionar, Clinton.

— Eu te disse; tem que ser você!

Essa coisa de destino não existe, só coincidências bizarras. Apenas isso.

capítulo 2

Morgan

— Morgan! Na minha sala, agora!

A voz imponente de Melinda preencheu toda a sala, fazendo com que minha amiga desse um sobressalto com a ordem inesperada.

— Se você estiver indo direto para morte, saiba que o seu camaro 69 será meu.

— Vai se foder, Evans! — Morgan se levantou e olhou de soslaio para porta fechada de nossa chefe — Você notou que a Melinda está meio impaciente por esses dias?

— Esse último mês ela passou bastante tempo em ligação e foi duas vezes para Manchester. — minha observação fez com ela franzisse o cenho em uma careta engraçada que me obrigou a rir — Ela não vai descontar em você, seja lá o que for esse problema.

— Espero! E para de sonhar, você nunca terá o meu camaro!

Morgan saiu e pelos passos desengonçados estava arrumando coragem pelo meio do caminho. Uma leve batida na porta e em poucos segundos ela sumia sala à dentro. Não demorou muito para que as duas saíssem da sala, e tudo indicava que era para um passeio.

— Naomi, estamos de saída. Você está no comando até segunda ordem. — enquanto Melinda avisava, olhei para Morgan e automaticamente ela fez nosso sinal de que estava tudo bem, o que me acalmou um pouco. — Tenham um bom dia de trabalho, provavelmente não voltaremos hoje para o escritório.

Daquela informação definitivamente eu não havia gostado.

Como Melinda avisou, elas não voltaram. Estava na calçada em frente a nossa repartição, quando uma mensagem de Morgan chegou.

Morgan – {me encontra no Sushi Waka}

Se ela estava chamando é porque precisava de mim.

Após chegar a encontrei junto com Lívia, em uma mesa mais afastada. Com certeza essa noite renderia.

— Meninas…

Lídia se levantou e me cumprimentou com um beijo no rosto, Morgan se limitou a um sorriso fraco. Ela não parecia muito bem.

Ser um agente tinha seus pontos positivos como ter uma amiga incrível no qual eu dividia o mesmo nome, o negativo que era saber exatamente quando as coisas não iam bem e ela estava se esforçando para esconder.

— Quando cheguei, encontrei com a Lívia e a chamei para nossa mesa. Você se importa?

Morgan avisou e eu sabia que ela estava tentando se livrar do meu julgamento sobre querer nos juntar a qualquer custo. Havia um tempo que acontecia uns flertes entre nós, mas eu nunca deixei que passasse desse ponto, e Morgan vivia me infernizando para avançar o “sinal”.

— Claro que não! — meu aviso as fez sorrir — Vamos pedir algo, estou morrendo de fome.

— Você sempre está com fome. — Morgan ironizou e Lívia gargalhou.

— Sempre achei engraçado vocês dois se chamarem Morgan. Nunca aconteceu de terem problemas com isso?

Lídia perguntou e era a minha vez de sorrir.

— Se a Melinda escutar alguém me chamando pelo primeiro nome, você pode ter certeza de que esta pessoa provavelmente levará um tiro. Desde que cheguei em Leeds, é Evans. Sempre será Evans. Até me esqueço de que a pessoa do meu lado meio que roubou meu nome.

— Você é um ser humano horrível! — Morgan grunhiu me dando um leve soco no ombro — Vamos pedir logo, assim você para de falar besteira.

Um pouco de comida, limitado a duas cervejas, muita conversa e a nossa noite terminou com Morgan indo para o meu apartamento por ser mais perto que a casa dela, e eu indo para casa de Lídia. Em algum momento cedemos aos flertes e decidimos ir em frente. O que Morgan adorou.

— Oi, estranho! — Morgan sibilou assim que fechei a porta atrás de mim.

— Senhorita Turner, achei que estaria dormindo a esta hora.

Justo que eram 2:09 da madrugada.

— Por um momento acreditei que fosse passar a noite na casa da Lívia.

Acendi as luzes observando minha amiga sentada no canto do sofá com uma caneca nas mãos. Deveria ser algum tipo de chá ou whisky.

— Você sabe que eu não durmo fora de casa. E a sua noite, como foi?

— Me sentei ao seu lado no sofá, agarrando a primeira almofada pela frente.

— Conversei com uma garota legal e marcamos de sair qualquer dia desses.

— "Qualquer dia desses"?

— É, mas não muda de assunto; como foi a noite com a Lívia?

— Boa!

Respondi começando a me arrepender de ter saído no meio da semana sabendo que no outro dia precisaria trabalhar.

— Já percebeu que o seu vocabulário se limita a: "boa" e "tranquila" sempre que eu pergunto sobre como foi a sua transa? Quando você vai decidir que é hora de dormir uma noite inteira com alguém? — meu olhar de soslaio foi o suficiente para desencadear um gemido de reclamação — Prometi nunca julgaria o seu “estilo” de vida social, mas para tudo existe um meio termo. Você não pode passar o resto da vida seguindo essas regras bestas.

— Gosto da minha cama e da minha individualidade na hora de dormir. Não vejo motivos para compartilhar a cama com outra pessoa se no dia seguinte provavelmente não vamos nos falar. E essas “regras” bestas, são necessárias.

— “Não dormir mais que três vezes com a mesma pessoa”, sabe o que isso parece? Coisa de homem fútil.

Ela debochou e eu sorri.

— Você sabe que eu não sou assim, na verdade, você sabe muito bem como vejo o sexo na minha vida.

— Verdade — ela murmurou aceitando — Não sei como consegue passar meses sem transar apenas porque surgiu algo interesse no trabalho. Seu hiper foco é quebrado, sabia?! Mas me conta, como foi com a Lívia? Vocês estavam flertando o maior tempão, não consigo entender por que demorou tanto para sair com ela.

— Esqueceu que ela trabalhar no andar abaixo do nosso? Se envolver com outros colegas no impulso pode virar uma puta dor de cabeça. A noite foi legal, mas combinamos que seria a única.

— Você precisa perder esse medo de relacionamento sério. Imagina você casado, dormindo e acordando todos os dias com alguém que você ama e te ama também. Talvez pense em ter filhos ou decidam viajar sem rumo nas férias. Não é tão ruim.

— Esse é o seu sonho, e o meu é trabalhar. Agora para de me encher com essa tagarelice.

O silêncio pairou pela sala e por um segundo achei que tivesse vencido o round.

— Eu ainda tenho meu bilhete dourado! As regras são claras, você não precisa contar os detalhes, mas se eu perguntar você precisa me contar alguma coisa interessante.

— Maldita hora que deixei essa brecha aberta. — ela sorriu ainda esperando — Está bem! Ela foi… acho que a palavra seria; dominadora. Em partes.

— Ah, meu Deus! — seus olhos brilharam com a resposta. Parecia que eu havia descoberto a origem de toda a vida no universo. — Você é um filho da mãe sortudo! E então, você deixou que ela te amarrasse?

Ela provocou entre um sorriso presunçoso.

— Quê?! Claro que não!

— Você é muito chato. Sabe, durante o sexo as pessoas podem e devem ficar vulneráveis e está tudo bem. Você estar em alerta no seu trabalho é algo bom, mas no restante pode ser problemático. Tudo bem, o sexo não ser importante ou necessário para você, mas quando decidir que vai estar com alguém, o certo seria aproveitar o momento como se o mundo não existisse. Qualquer dia desses, tenta seguir o meu conselho e talvez o seu vocabulário monossilábico, mude.

— Vou me lembrar, mas não me vejo em um futuro com outra pessoa.

— Se permitir sentir e experimentar sensações com outras pessoas não tem a ver com futuro. Tudo bem que você não quer algo sério e tem seus motivos, mas isso não deveria impedi-lo de se jogar. Engraçado que quando se trata de correr atrás de suspeitos você nem hesita, mas para transar fica nessa neura toda. Haja paciência.

Ela não estava errada e se não fosse pela forma como estava tão brava, continuaria com a conversa focada em mim, porém, seu estresse não era necessariamente comigo e com a minha reluta em transar.

— Sabemos da importância de separarmos amizade do profissional, mas se estiver precisando desabafar sobre alguma coisa que aconteceu na agência, lembre-se que eu sou o seu amigo e está segura comigo.

— Está tão na cara assim?

— Seja o que for, a deixou preocupada a noite inteira.

Morgan se inclinou colocando sua caneca em cima da mesa de centro, depois tomou minha almofada voltando a se encolher no canto do sofá. Ela estava péssima.

— Aceitei um trabalho como infiltrada. É uma coisa grande, lenta e perigosa. — precisei tomar fôlego. Um longo e denso fôlego — Eu sei que você gosta da zona de conforto e que nunca se interessou em nada além de ser um agente de campo, mas...

— Ei, você não está errada em procurar melhorias e promoções. Não é porque eu escolhi essa vida que não vou torcer por você e o seu sucesso. Imagino que esteja com medo e é normal. Trabalhar como infiltrado não parece ser fácil, porém, não conheço ninguém melhor para fazer algo nesse nível com tanta excelência quanto eu sei que você vai fazer.

Seu rosto se suavizou aparecendo um sorriso tímido em seguida.

— Obrigada!

— Quando começará?

— Ainda não tem uma data específica, mas posso contar que vou ser a esposa de um ricaço. — a informação acabou dando leveza ao momento, o que nos fez sorrir — Sei também que ao iniciarmos, vamos precisar cortar qualquer interação com familiares e amigos, então necessariamente eu vou "sumir" até tudo acabar.

— Acredito que sem um aviso prévio.

— Sem avisos. — seu rosto voltou para expressão preocupada de antes enquanto encarava o nada — Bem, é isso; vou ser uma dondoca metida a besta acompanhada do seu marido perfeito e rico. Ele tem esse ar misturado de italiano com europeu. Roupas assimétricas, cabelo assimétrico, olhar e expressões assimétricas. Tipo, o cara e quase uma estátua de porcelana.

— Olha, você já conheceu o seu marido postiço e aparentemente ele vai ser um engomadinho.

— Não, Morgan — entre os risos ela jogou a almofada em mim — Esse é o verdadeiro estilo dele. Hoje quando saímos, fomos encontrar os responsáveis direto pela missão. O meu marido postiço é nada mais nada menos que o coordenador interno da operação. Resumindo: vou estar infiltrada com o meu próprio chefe.

Foi automático a crise de gargalhada em que me afundei enquanto recebia tapas e mais almofadas contra o meu corpo.

— Desculpa! — berrei e ela parou — Mas você é muito azarada. — tentei me recompor ainda esperando por um novo contra-ataque, o que era até justo — Essa missão parece ser bem complexa. Não é comum ter um chefe infiltrado na linha de frente com um subordinado, não desta forma.

— Não é, por isso estou com medo de não me sair bem. Talvez tenha dado um passo maior do que minhas pernas poderiam aguentar.

Ela voltou a murmurar descrente.

— Você vai conseguir e vai mostrar para os chefões que é muito foda!

— Não sei se dá para impressionar caras como Gordon e Cooper. — tudo dentro e fora de mim se agitou. Minha respiração cortou fazendo o tempo parar por alguns segundos — Você os conhece? Marcel Gordon e Simon Cooper?

É... — em algum momento da minha vida tive certeza de que nunca mais ouviria aquele nome novamente. Estava enganado. — Já ouvir falar neles sim...

Meu corpo se levantou no automático, porque meu espírito ainda estava no mesmo lugar processando aquela informação.

— Espera — ela pediu me acompanhando até a cozinha onde eu tentava beber a maior quantidade de água possível na esperança de engolir aquela sensação espinhenta junto. — Estou com a impressão de que tem mais nesta história. De onde você os conhece?

Encostei no pequeno balcão e encarei seu pequeno corpo se encostando na parede. Os braços cruzados indicavam a espera pela resposta.

— Não conheço o Gordon, já ouvir falar nele algumas vezes, mas nunca vi o homem na vida, mas conheço o Cooper.

— Da época que você morava em Manchester?

Há quase cinco anos eu havia me mudado e além da cidade, abandonei outras coisas, começando pelo meu passado. Recomecei sem questionar, me agarrando a minha nova realidade. Morgan e eu compartilhávamos muito mais que o mesmo nome, nos tornamos amigos e confidentes. Sabia quase tudo sobre ela, mas ela se contentou com as meias informações quando o assunto era eu.

— Lembra que um tempo atrás a Naomi estava comentando sobre uma operação de drogas que deu errado em Manchester e o suspeito principal morreu em uma troca de tiros?

— Claro. Não cheguei a pesquisar sobre, mas era algo grande e foi um desastre. A Naomi disse que o agente infiltrado perdeu uma promoção importante por causa do fracasso. Você era policial naquela época, não era?! Sua unidade viu o que aconteceu?

— O que aconteceu foi que um policial apaisana passava pelo local e jurou que que tinha ouvido tiros e entrou no lugar onde estava acontecendo a negociação. O agente infiltrado era o Cooper, e o policial, eu.

Seu rosto ficou estático e seus olhos se esbugalharam levemente.

— Se for uma piada, essa é a hora que você diz a verdade e eu não te espanco até a morte.

— Tem mais, depois da merda feita fomos levados para um distrito, lá eu acabei o achando em uma sala sozinho e quando tentei puxar assunto, ele me deu um soco que consequentemente virou uma briga feia.

— V-vocês se estapearam dentro de um distrito?

Ela estava em negação.

— Vamos dizer que eu meio que mereci. Meu erro foi o motivo do tiroteio e a carga que estava sendo negociada era cocaína. Um dos tiros acertou um ventilador industrial e com os diversos sacos rasgados pelo confronto, voou droga para todos os lados. Além do Cooper, mais 6 apoios foram cobertos pelo pó branco e todos precisaram de atendimento médico imediato.

— Por que você nunca me contou isso?

— Foi um erro é passado e eu paguei por ele. Não achei que ouviria falar novamente do Cooper, e não é algo que dê para se orgulhar ao contar. Fui afastado e em seguida a Melinda me ofereceu a vaga na repartição e aqui estou até hoje.

— Você acha que o Cooper esqueceu dessa história ou de você?

— Com certeza, não! — rir de desespero das minhas próprias palavras — Não é algo que dê para se esquecer, apenas ignorar e deixar o tempo passar. Ele me odeia e nunca escondeu isso de ninguém, mas você é outro caso e mesmo que eu o ache um babaca, narcisista e egocêntrico, não será burro ao ponto de não reconhecer o seu talento e comprometimento.

— Aparentemente vocês compartilham do mesmo sentimento. — ela debochou se aproximando, arqueando seus braços em minha cintura em um abraço apertado. — Obrigada por ter me contado.

— Vai dar tudo certo e quando sua missão acabar, vamos naquele bar que você ama para encher a cara de tequila e cachorro-quente.

— combinado!

Capítulo 3

Morgan

Dois meses depois

Folga!

Um dia inteiro para fazer vários nadas.

Olhei novamente meu telefone, e nada de notícias da Morgan. Dois dias sem vê-la e sem notícias. A missão com certeza havia começado. Melinda havia pedido para manter distância que no momento certo saberíamos o que estava acontecendo, mas era difícil apenas concordar, estávamos falando da minha parceira e amiga.

Liguei a cafeteira e enquanto a esperava fazer o seu trabalho, liguei a televisão. Nada de novo. A campainha tocou e pelo olho mágico reconheci o síndico com a minha correspondência em mãos. Merda.

— Bom dia, senhor Evans!

O homem com cara de poucos amigos cumprimentou.

— Bom dia, senhor Davies!

— Aqui, sua correspondência! O senhor está ciente que está é a terceira e última vez que ressalto a importância do senhor esvaziar sua caixa de correspondência. Não está?!

— Estou sim, senhor Davies! Desculpe, minha semana foi corrida.

— O senhor quer dizer o seu “mês”! — ele frisou e eu sequer podia discutir. Eram as normas e eu sempre esquecia que precisava pegar minhas correspondências antes que elas começassem a pular para fora da caixa — Sinto avisar que se houver uma quarta vez, vou precisar aplicar a multa.

— Tudo bem! Eu entendo e prometo ficar atento.

— Entendido! Tenha um bom dia, senhor Evans.

Ele não havia acreditado, nem mesmo eu acreditava que faria isso.

Ao fechar a porta observei os envelopes se misturarem entre contas, informativos e promoções, mas um chamou minha atenção. Maior e mais encorpado que todos os outros. Provavelmente este era o culpado pela bronca logo de manhã. Deixando o restante para depois, o abrir ficando surpreso com o conteúdo. Uma passagem de avião para Londres, um telefone, uma carteira com documentos, dois cartões de banco com o nome de Morgan Harris e dinheiro. Puxei a identidade e lá estava meu rosto com esse mesmo nome.

— Que porra é essa?! — continuei a destrinchar o conteúdo verificando que a passagem estava marcada para hoje. Necessariamente daqui a duas horas. — Como assim?

Junto com aquilo havia uma carta com um selo da agência “confidencial” bem estampado na frente. Abrir a carta e nela havia uma única frase “disque #0001”. Peguei o celular e fiz o que estava escrito e após alguns segundo de discado uma voz surgiu com orientações.

“Caro Morgan Evans, este é o seu memorando. Siga as instruções a seguir com extrema atenção. Está mensagem não será repetida. Leve consigo apenas o necessário dentro de uma pasta ou bolsa de mão. Se atente a não levar nenhum dispositivo além do fornecido nesta correspondência. Tudo o que você precisará estará na localização final que será enviada para este telefone. A partir de agora sua única comunicação será com a central de comando. Desejamos boa sorte.”

— O que foi que a Melinda me meteu desta vez?

Enquanto resmungava e sentia todas as minhas entranhas se contorcerem, fiz a tal mala de mão, seguindo todas as orientações. Seria uma viagem de poucas horas e se eu estava sendo acompanhado, então logo eu saberia qual era o motivo para aquilo tudo. E como eu conhecia muito bem a minha chefe, seu rosto provavelmente seria o primeiro que veria ao chegar no ponto de encontro.

A viagem havia sido tranquila, mas a passagem me deixou ainda mais confuso; primeira classe. Como informado, ao chegar em Londres busquei por um taxi e segui rumo ao endereço informado. Um residencial de classe alta. O motorista estacionou e prontamente um senhor se pôs ao lado do carro abrindo a porta para mim.

Quanta gentileza.

— Senhor Harris? — o homem me fitou de cima abaixo quando o encarei perplexo — Alguma bagagem?

— Não…

— Vou levá-lo ao seu apartamento. — ele avisou e seguiu rumo a entrada.

Era só seguir em frente. O hall nos levou para um dos elevadores, o homem acionou o botão do terceiro andar e logo a porta se fechou. Em pouco minutos chegamos e quando a porta abriu, o homem fez o sinal para frente. O lugar possuía apenas um apartamento por andar e aquela era a tal localização final.

— Obrigado!

Agradeci ao homem e ele acenou sumindo após a porta do elevador voltar a se fechar. Olhei em volta, para o aparador com um grande vaso com lírios brancos, paredes com detalhes brancos e dourados e apenas duas portas de acesso para o lugar. No primeiro passo rumo a porta com o número 43, meu novo telefone tocou e o nome na frente me deu um certo alívio. Era Melinda.

— Acabei de chegar, onde...

— Sai daí! — ela me cortou antes mesmo de terminar a frase — Saí daí agora Evans!

— Do que você está falando? Estou aqui como você ordenou.

— As ordens não são minhas e você não deveria estar aí. Alguém te viu? — olhei em volta e não havia ninguém, não sabia se o porteiro contava, mas era isso — Houve um erro nos papéis. Sai daí agora!

— Tudo bem!

Confiava em Melinda com a minha vida e se ela dizia que era para correr, então eu correria, mas não houve tempo o suficiente para isso. A porta se abriu e uma mulher saiu de dentro do apartamento, seguida de uma silhueta alta e imponente logo atrás dela.

Com certeza isso é algum tipo de punição cármica.

Este foi o último raciocínio do meu maldito cérebro quando reconheci o rosto de Simon Cooper logo atrás da mulher.

O semblante endurecido se desfez, dando a lugar a um sorriso forçado. O cretino tinha músculos faciais. Jurei que ele fosse incapaz de esboçar alguma emoção.

— Bella, este é o Morgan Harris. — Simon avisou e a mulher ficou surpresa — Meu marido!

Meu corpo congelou e parou de funcionar seguindo o mesmo ritmo do meu cérebro. Que desgraça estava acontecendo aqui?

Ela deu um passo adiante e estendeu a mão em cumprimento e de alguma forma bizarra meu corpo reagiu e retribuiu o gesto. Talvez se eu fingisse um desmaio, conseguiria fugir. Poderia pula pela janela também e torcer para morrer com a queda.

— Morgan, está é a nossa vizinha do andar debaixo, Bella Andreev.

— Um prazer conhecê-la! — se era para fingir, que seja.

Após apertar a mão da mulher, Simon estendeu sua mão em minha direção. Não era para um cumprimento, era para segurá-la. Mesmo relutante e ainda pensando que pular pela janela não seria uma ideia tão ruim, segurei sua mão. O toque quente lançou uma descarga elétrica pelo meu corpo e automaticamente me lembrei da nossa briga há cinco anos. Simon rapidamente me puxou para o seu lado. Eu conseguia lidar com muitas coisas bizarras, mas aquilo havia passado dos limites quando sentir sua mão rodear minha cintura.

— Bem, eu vou indo. — a mulher avisou feliz — Espere que gostem da torta de morango de boas-vindas e se precisarem de algo, estaremos à disposição.

— Agradecemos a recepção, confesso que estamos felizes com a mudança.

Simon cuspia palavras bonitas e educadas enquanto meu corpo se forçava a permanecer imóvel e não revelar o verdadeiro estado de aversão em que eu me encontrava. Não gostava de ser tocado, não gostava de pessoas desconhecidas invadindo o meu espaço e com certeza ele se encaixa em tudo isso e um pouco mais.

— Vocês poderiam jantar conosco nesse final de semana — a mulher sugeriu e eu quis morrer — Meu marido estará na cidade e acredito que será ótimo ter um jantar com os nossos novos vizinhos. E eu não aceito não como resposta.

Maravilha.

— Muito obrigado, podemos ir nos falando? Prometo que vamos pensar com carinho na proposta e acredito que dê para conciliar nossa mudança com o jantar.

Simon respondeu gentilmente o que me fez querer vomitar.

— Ótimo! Vejo vocês em breve.

Sorrimos cordialmente até ela sumir rumo ao elevador. Assim que ela sumiu, Simon me puxou para dentro do apartamento com rapidez e agressividade.

— O que caralhos você está fazendo aqui.

Ele rosnou entre os dentes, se virando rapidamente para mim e me empurrando contra primeira parede que achou. Fechei meus olhos por um segundo e respirei fundo ao ve-lo segurar minha camisa com ira enquanto me prendia.

— Você tem dois segundos para tirar as mãos de mim antes que eu te faça se arrepender de me tocar.

Simon grunhiu irritado se afastando abruptamente. Não era medo da ameaça e quando pediu para o nada “verifique essa merda”, entendi que ele estava usando um ponto em seu ouvido e a pessoa do outro lado deveria ser a sua salvadora.

— O que está acontecendo? — perguntei o observando se mover de um lado para o outro com as mãos na cintura — O que foi esse teatro?

De certa forma eu sabia que era algo com a missão que Morgan havia me contado meses atrás, mas precisava ser esperto e não dedurar minha amiga.

— Quero ver a sua carteira, e eu não vou pedir duas vezes.

Simon exigiu vindo em minha direção e antes que acabássemos rolando no meio daquele carpete, decidi apenas obedecer.

Quando retirou minha identidade e a leu, seu rosto se contorceu em uma careta de ódio e sussurros quase inaudíveis de vários xingamentos.

— Como foi que isso aconteceu? — ele grunhiu se afastando. — Não pensou em falar com a sua superior sobre isso?

A pergunta ríspida veio junto com a carteira sendo jogada sob meu peito.

— Olha aqui, eu estava seguindo ordens e acreditei que a minha superior estivesse aqui. Vai por mim, se eu soubesse que era você, provavelmente teria explodido o prédio.

— Puta que pariu! Esse erro estragou a missão, não vamos conseguir aproveitar sequer este jantar.

Não sabia se ele estava falando comigo ou com a outra pessoa, mas ariscaria mesmo assim.

— Afinal, do que isso se trata? E por que não podemos ir nesse jantar?

— Você deve estar de brincadeira! — a pergunta veio cheia de indignação — Isso é uma missão como agentes infiltrado! Você não deveria estar aqui, a Morgan deveria. Uma mulher! Ela sim, está a par de tudo.

— O que, precisa de treinamento para ir em um jantar agora?

— Qual é a data do nosso casamento?

— Quê?!

— Onde a gente se conheceu? Qual é a data do meu aniversário? A gente quer ter filhos? O que eu sou alérgico? Onde meus pais moram? Você não tem um script! Na verdade, além de não termos nada eu tenho certeza de que você não faz a menor ideia no que foi que se meteu! Não era para você estar aqui.

— Olha Simon, eu recebi um memorando dizendo onde e como deveria me apresentar, eu fiz o que me ordenaram então não fode. — estávamos ferrados — O que vamos fazer agora?

— Gabriel, Gordon e Melinda estão nos esperando no escritório. Essa é a única coisa que você precisa saber agora.

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