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A Órfã II - Ironias Do Destino

Capítulo 1- Parte I

Por Vincent

Acordei sentindo-me completamente zonzo. Minha cabeça chegava a latejar de dor. Meu corpo inteiro doía principalmente minhas costelas. Fiz um esforço hercúleo para conseguir me levantar. Sentei-me na cama e olhei ao redor, meus pensamentos se organizando lentamente. A emboscada, a surra que levei dos capachos de Matthew, o confinamento em seu apartamento. Clary... Só em lembrar seu nome, sentia-me cegar de raiva. Como é que Ally e Lora puderam metê-la nisso tudo? E porque ela tinha que ir até lá, e voluntariar-se para ficar em meu lugar? Mas também, fui culpado. Eu quis que Ally e Lora, mesmo novatas, e sem ter passado por nenhum caso prático, participassem de minha equipe. E agora devia assumir meu erro, e aceitar a ingenuidade das duas, que não tiveram a maturidade necessária no caso.

Levantei-me com cuidado, e ainda me apoiando um pouco na cama caminhei lentamente até o banheiro, precisava lavar meu rosto e tomar um banho. Tinha que voltar à ativa o quanto antes. Agora não só por Katherine, mas também por Clary. Parei ao perceber uma caixa jogada dentro da pia, e peguei-a assustando-me ao identificar o que era. Também vi um copinho com líquido amarelado e uma haste, parecendo um palito achatado. Respirei fundo não querendo acreditar no que estava vendo, mas ao ver a haste e o que dizia na caixa do teste eu petrifiquei.

Como eu pude ser tão irresponsável com Clary. Eu era o mais velho, o mais experiente e ainda assim agi como uma droga de um adolescente, não usando preservativo em nenhuma de nossas relações. Mas eu simplesmente não conseguia me conter. Quando estava com Clary, tudo parecia sumir. Era como uma explosão em minha mente, eu não conseguia raciocinar, e agora seria pai. Pai! A palavra repetia-se em minha cabeça.

Deixei-me cair no chão sentindo todo meu corpo anestesiado. A única coisa que eu sentia eram as lágrimas quentes descendo por meu rosto. Como eu pude ser tão tolo! Tão cego ao ponto de não enxergar o tamanho do amor daquela garota. Ela tinha dado sua vida pela minha, e ainda esperava um filho meu! Uma emoção totalmente nova e estranha tomou conta de meu peito. E percebi que gostei da ideia de ser pai, mas sentia-me completamente devastado de culpa e tristeza por Clary estar em perigo agora!

Como não percebi antes. Tudo que ela vinha sentindo ao longo dos últimos dias. A tontura no bar, o enjoo na noite anterior, até seus seios tinham aumentado. Ela estava mais sensível e emotiva também. Todos os sinais estavam ali, eu só não conseguia enxergar. A dor física não era nada diante da dor que tomava meu peito. Clary agora estava em perigo, e levara em seu ventre nosso filho. Porque eu não a dei ouvidos esta manhã? Tanto que ela pediu, chegou a comentar que estava com um mau pressentimento. Mas eu nunca acreditei muito nessas coisas de sexto sentido. Se tivesse escutado pelo menos dessa vez... Clary ainda estaria aqui!

Segurei-me na pia e ergui-me tentando tirar forças de onde eu sequer sabia existir. Liguei a ducha e joguei-me embaixo, de roupa e tudo, tentando livrar-me da letargia que sentia. Fechei os olhos deixando que a água lavasse meu rosto, e por uma fração de segundos consegui vislumbrar o sorriso de Clary. Apoiei-me com as duas mãos nos azulejos, sentindo meu corpo fraquejar diante a dor que eu sentia. Era diferente da que eu sentia em meu corpo, essa me rasgava por dentro levando-me de volta as lágrimas.

Abri os olhos e quando senti meu corpo mais vivo, sai do banho. Tirei a roupa molhada e enxuguei-me. Vesti uma roupa seca, só então lembrando o que Clary havia me dado. Peguei a calça totalmente encharcada e procurei nos bolsos até encontrar um par de brincos e um colar. Delicado e bonito, com certeza ficaria lindo nela! Suas palavras vieram à minha mente: “Quero que dê isso a Katherine quando encontrá-la! ”. O que ela queria dizer com isso? Coloquei as joias em meu criado mudo sentindo minhas forças se renovarem, e sentindo-me mais determinado a encontrá-la.

Abri a gaveta do meu lado do guarda-roupa, retirando o fundo falso e pegando minha arma calibre 38. Coloquei-a presa no cós de minha calça, nas minhas costas e sai de meu quarto ainda andando com dificuldade, a dor em minhas costelas era intensa. Fui para a sala, encontrando Rachel. Ela correu para abraçar-me e gemi de dor com o aperto de seus braços.

– Desculpe! – Ela falou soltando-me e começou a me analisar dos pés à cabeça. – Você está horrível! – Observou meu rosto. – Nossos pais querem vê-lo. – Escutei-a e somente assenti.

– Tudo que preciso agora! Um colo de mãe! – Falei triste.

– Mark enviou um médico para lhe examinar, e dei graças a Deus quando ele confirmou que você estava bem. Somente hematomas e escoriações. – Ouvi-a falar já caminhando até a cozinha. Minha boca totalmente seca. – Ele deixou esses comprimidos. – Rachel me seguiu e entregou-me um vidrinho repleto de comprimidos. – Disse que é para você tomar caso sentisse dor. – Abri o vidro retirando um comprimido, e guardando o vidro no bolso da frente de minha calça. – No máximo dois por dia. – Alertou ela, e concordei.

Mal terminei de beber água e Rachel já me arrastava para a porta da sala. Descemos as escadas com dificuldade, cada degrau que eu descia, sentia uma fisgada em minhas costelas. Não queria nem imaginar como eu subiria todos aqueles degraus de novo. Afinal, como eu subira as escadas quando cheguei? Porque não lembro de subir para meu apartamento, sequer lembro de chegar aqui! Parei segurando a mão de minha irmã.

– Rachel! – Ela me olhou. – Como eu cheguei aqui? Eu, não consigo lembrar! – Levei as mãos à cabeça sentindo-a novamente latejar. – A última coisa que lembro é de Clary deixando-me no carro em que Ally e Lora estavam, e que saímos de lá, depois disso... nada! – Encarei-a.

– Você apagou Vincent! – Ela falou baixinho. – Ally chamou o Steve e o Kevin para tirar você do carro. Venha! – Disse levando-me ao seu carro.

Rachel me deixou ao lado da porta e com muita dificuldade entrei no carro, e logo ela nos tirou dali. Tudo que eu queria era chegar o mais rápido possível à casa dos meus pais. Só então olhei para o céu percebendo que já era o final do dia.

– Por quanto tempo fiquei apagado? – Perguntei angustiado, sem saber ao certo quanto tempo perdi.

– Umas cinco horas. – Rachel respondeu acelerando ainda mais.

Não demorou muito, logo chegamos à casa de nossos pais. Eu sequer saí direito do carro. Minha mãe já vinha correndo em minha direção, e abraçou-me. A dor voltando a alastrar-se por todo meu corpo. Encostei-me ao carro para não cair e levar ela junto.

– Ai! – Gemi de dor com seu aperto.

– Que bom que está bem! – Ela se afastou chorando e olhando-me dos pés à cabeça. – Nem acredito que está vivo! – Falou voltando a me abraçar.

Capítulo 1 - Parte II

Meu pai apareceu na porta e sorriu ao ver-me. Seus olhos cheios de lágrimas. Caminhei com ajuda de minha mãe até a varanda e parei a sua frente. Nos olhamos por alguns segundos e então ele me puxou em um forte abraço. Meu corpo inteiro reclamando de dor com seu aperto, mas trinquei os dentes e abracei-o em resposta. Minha mãe nos abraçou e logo Rachel também se juntou a nós em um grande abraço de família.

Novamente voltei a lembrar de Clary. “Você tem uma família Vincent. Pessoas que se preocupam com você! Que lhe amam! Aceite isso! ”, ela falara mais cedo. E só agora nos braços de minha família entendi o que ela quisera dizer com aquilo. Comecei a chorar sem nem perceber. O que eu faria agora? Eu tinha que encontrá-la. Prometi que a acharia, principalmente agora, que eu serei pai. Meu coração apertou ao pensar onde Clary estaria naquele momento!

Rachel nos soltou e olhou-me também chorosa. Minha mãe e meu pai ajudaram-me a entrar e sentar no sofá. Esperei o choro acalmar e meu corpo relaxar da dor que ainda se alastrava formigando por minha pele. Olhei ao redor procurando por Kevin ou algum dos meus companheiros naquela missão, mas não encontrei nenhum deles. Então Rachel sentou-se ao meu lado.

– Onde estão Kevin e os outros? – Perguntei em um sussurro. Percebi que minha irmã ficou inquieta remexendo-se no sofá. – Rachel! – Ela me olhou. – Onde?

– Eles falaram com Mark, Vincent! – Arregalei os olhos tentando processar o que ela dizia. – E ele ordenou que eles invadissem o apartamento de Matthew.

– O quê? – Vociferei sentindo-me impotente. – Como Mark pode fazer isso? – Olhei para Rachel. – Clary está lá! – Ela assentiu. – Eles não podem fazer isso!

– Foi uma ordem do chefe de vocês, Vincent! – Eu assenti contrariado. – E Ally e Lora sabem sobre Clary. Eles vão ter cuidado! – Ela tentou me acalmar.

– Droga! – Bati o punho com força sobre o braço do sofá. – Porque aquela maluca tinha que ir lá? – Questionei-me angustiado.

– Ela te salvou irmão! – Rachel falou rapidamente, e encarei-a.

– Mas a que preço? – Minha voz soou cansada.

– Ela fez por te amar meu filho! – Minha mãe falou aproximando-se e ajoelhando-se a minha frente. – E devo dizer que foi uma prova de amor e tanto! – Seus olhos voltaram a lacrimejar.

– Eu sei! – Acariciei seus cabelos. – Mas ela não merecia acabar assim! – Encarei-a. – Sabe o que vai acontecer com ela? – Minha mãe assentiu. – Eu não consigo conviver com essa ideia, mãe! – Meus olhos voltaram a encher-se com lágrimas. – E a culpa é toda minha!

– Pare de se culpar Vincent! – Meu pai falou olhando para a lareira.

– Mas é verdade! – Ele me encarou. – Ela me pediu para não sair essa manhã. – Desabafei. – Falou que estava com um mau pressentimento e ainda assim não dei ouvidos! – Rachel e minha mãe ficaram surpresas com o que falei.

– Mas você saiu de madrugada, Vincent! – Minha mãe falou tentando entender tudo. Assenti. – Como falou com Clary antes de sair? – Engoli em seco.

– Nós estávamos namorando, mãe! – Todos me olharam chocados, exceto Rachel. – Estávamos juntos há uma semana. – Minha mãe sorriu voltando a chorar.

– Meu Deus, Vincent! Porque não nos contou isso antes? – Minha mãe questionou. – Teríamos ficado muito felizes em saber que finalmente está se abrindo para o amor novamente! – Respirei fundo.

– Eu queria vir aqui, mas tudo aconteceu tão rápido! – Olhei para o meu pai. Ele continuava sério. – Passei a semana inteira saindo e tentando encontrar pistas de Katherine. E quando finalmente pensei que a acharia, fui surpreendido numa emboscada. Preciso pensar um pouco. – Falei começando a me levantar.

Minha mãe se ergueu dando-me passagem e logo meu pai apareceu ao meu lado. Ele me ajudou, deixando-me apoiar-se nele, e caminhamos até o pé da escada, mas parei ao ouvir o celular de Rachel tocar. Encarei-a, mas ela saiu indo atender na varanda, minha mãe seguindo-a.

– O que fará agora, Vincent? – Meu pai perguntou puxando uma cadeira da mesa de jantar, e fazendo-me sentar.

– Eu preciso encontra-la, pai! – Ele também se sentou. – Não posso deixa-la nas mãos daqueles marginais. – Ele assentiu.

– E depois? – Olhei-o sem entender. – Depois que encontra-la, Vincent! O que fará? – Balancei a cabeça sentindo-me completamente confuso.

– Eu não sei! – Respondi sincero. – Estou tão confuso com tudo, pai! – Desabafei.

– Você a ama filho? – Fiquei mudo, sem saber o que dizer. – Pelo menos gosta dela? – Voltou a questionar.

– Tem quem não goste daquela garota? – Perguntei e meu pai deu um pequeno sorriso. – Ela é tão inocente, e ao mesmo tempo tão madura! – Respirei fundo.

– E colocou você em primeiro lugar na vida dela! – Ele falou fazendo-me olhá-lo. – Se sacrificou para salvá-lo, Vincent! Se eu já gostava dela antes, gosto muito mais agora que ela salvou meu filho! – Assenti.

– Eu sei! E apesar de todo mundo ficar falando que ela me ama, fiquei completamente paralisado ao ouvir isso da boca dela! – Ele sorriu.

– Ela finalmente falou? – Assenti.

– Ela falou muitas coisas que nunca pensei ouvir! – Contei.

– Posso perguntar uma coisa? – Olhei-o. – Sem querer ser invasivo, mas já sendo! – Assenti. – Vocês transaram? – Balancei a cabeça confirmando, sentindo-me péssimo.

No dia do meu aniversário meu pai e minha mãe, haviam me dado uma bronca tremenda, e encostaram-me na parede. Eles pediram por diversas vezes que eu não a magoasse, e, no entanto, bastou eu chegar ao apartamento e encontrar Clary com aquela lingerie branca, e todas as minhas forças se esvaíram. Eu até tentei me esquivar, mas ela estava determinada, e eu sendo um fraco, como sou, acabei fazendo o que eu e ela queríamos.

– Antes ou depois de começarem a namorar? – Ele perguntou.

– Antes! – Falei levantando-me, e sentindo-me aliviado ao ver minha mãe e Rachel entrando na sala. – Quem era Rachel? – Perguntei preocupado.

– Era o Kevin! – Ela respondeu séria.

– O que ele falou? – Caminhei até parar a sua frente.

– Não tinha ninguém lá, Vincent! – Senti minhas forças cederem. – Eles já tinham saído e não deixaram pistas. – Respirei fundo tentando me recompor.

– Onde vocês deixaram o meu carro? – Perguntei agoniado.

– Kevin está com ele! – Rachel respondeu.

– Não está pensando em sair assim, está? – Minha mãe perguntou e assenti. – Não pode, Vincent! Pelo menos se recupere primeiro!

– Escute sua mãe, filho! – Pediu meu pai.

– Mark está vindo para cá! – Rachel falou fazendo-me olhá-la.

– Meu chefe vem aqui? – Perguntei incrédulo e minha irmã assentiu. – O que ele quer agora? – Questionei pensativo. Algo muito sério deveria ter acontecido, ou do contrário ele não viria à casa dos meus pais, ainda mais sabendo do atentado que sofri.

– Vamos para a varanda, Vincent! – Meu pai falou, ajudando-me a sair de casa.

Capítulo 1 - Parte III

Sentei-me no balanço e tentei relaxar fechando os olhos. Automaticamente lembranças do dia do meu aniversário me inundaram. Eu estava com Clary neste mesmo balanço. Nossa relação era tão confusa. Eu sempre soube que ela gostava de mim, mas nunca imaginei que fosse amor de mulher. Pensei que era apenas uma paixonite, ou até mesmo gratidão por eu tê-la ajudado. Nunca sequer cogitei que ela me amasse. Por isso senti-me tão perdido quando ouvi as palavras. Foi um choque para mim, eu realmente não esperava.

– Está pensando na Clarysse? – Meu pai questionou, fazendo-me abrir os olhos.

– Eu não consigo parar de pensar nela! – Respondi. – Não sei o que está acontecendo a ela agora. E o pior é saber que a culpa é minha! – Falei com a voz baixa, quase um sussurro.

– Você não tem culpa filho! – Tentou consolar-me. – Ela fez uma escolha!

– Vincent! – Ouvi uma voz grossa me chamando. Mark estava entrando na varanda. – Como está meu melhor agente? – Perguntou sorridente.

– Me recuperando! – Levantei-me devagar. – Mas o que o traz aqui? – Perguntei sem rodeios. – Espero que boas notícias! – Ele se aproximou cumprimentando meu pai, e parando ao nosso lado.

– Ótimas notícias eu diria! – Mark respondeu-me sério. – Katherine conseguiu nos contatar esta tarde! – Sorri olhando para o meu pai que parecia incrédulo. – Ela está voltando, Vincent! – Senti-me avivar por dentro, finalmente uma boa notícia.

– O que mais ela disse? – Sentia-me curioso.

– Aceita algo para beber? – Meu pai perguntou parecendo aliviado.

– Não! Obrigado Andrew! – Mark sorriu.

– Vou deixá-los conversar! – Meu pai saiu deixando-nos a sós.

– Ela estava na Europa, Vincent! Conseguiu se infiltrar entre eles, e hoje é o braço direito de John! – Arregalei os olhos. – Ela disse que houve um problema com alguém da equipe dele, aqui de Nova Iorque. – Continuou Mark.

– Qual o problema? Ela falou? – Perguntei interessado, poderia ser algo sobre Clary. Matthew deve ter informado sobre a investigação.

– John comentou com ela sobre uma mercadoria, que tinha dado problema, e o FBI estava envolvido. – Sorri fechando os olhos ainda sem acreditar. Era Clary, tenho certeza. – Sabe algo sobre isso? – Assenti.

– Provavelmente ele estava se referindo a Clarysse! – Falei sério.

– A moça que conseguiu tirá-lo de lá? – Confirmei com a cabeça. – Diga-me, Vincent! Ela era uma das garotas de programa que moravam no prédio?

– Não, Mark! – Ele ficou sério. – Lembra aquela papelada que solicitei a respeito de Thomas e Lisa Parker? – Ele assentiu. – Eram os pais dela. Ela é só uma garota, inocente demais para estar no meio de tudo isso!

– E porque ela se sacrificou no seu lugar? Eu não entendo! – Mark estava curioso.

– Ela estava morando no meu apartamento! – Confessei. – Estávamos namorando! – Ele sorriu.

– Depois de tanto tempo! – Falou animado. – É bom vê-lo finalmente esquecer o passado, e recomeçar! – Fiquei sério.

– Agora me diga! Quando Katherine chega? – Perguntei voltando a sentar no balanço. Meu corpo ainda reclamando de dor.

– Ela não falou o dia. – Baixei a cabeça sentindo-me derrotado. – Mas ficou de entrar em contato novamente. – Assenti. – Espero que amanhã esteja melhor agente Jones! – Mark falou sério. – Precisarei de você no escritório.

– Eu não posso ir, Mark! – Retruquei rapidamente, fazendo-o me encarar.

– Porque não? – Ele questionou.

– Preciso encontrar Clarysse! – Eu estava determinado.

– Deixarei essa tarefa com os demais. Os agentes, Anderson e Williams, podem fazer isso! – Arregalei os olhos.

– Vai me tirar dessa investigação? – Levantei-me, e mesmo com o corpo inteiro queixando-se de dor, esqueci-a por alguns instantes, e vociferei. – É isso?

– Ainda não, Vincent! Mas se achar que seu emocional está atrapalhando irei mudá-lo de caso. Estamos entendidos? – Assenti. – Esteja no escritório amanhã às dez. Katherine ficou de ligar por volta desse horário. Quem sabe dá sorte e consegue falar com ela! – Voltei a concordar. – Talvez consiga mais informações sobre Clarysse com ela, do que se estivesse na rua procurando-a, coletando informações.

– Ok! – Falei deixando-me ser convencido. – Estarei lá às dez.

– Então! Até amanhã agente Jones! – Ele estendeu-me a mão.

– Até Sr. White. – Falei apertando sua mão.

Mark saiu rapidamente e deixou-me mais animado ao saber notícias de Katherine, e talvez conseguir o paradeiro de Clary! Andei com dificuldade até a porta de casa, e entrei encontrando meu pai ainda na sala. Minha mãe e Rachel não estavam lá, deveriam estar na cozinha. Fui até o sofá e sentei-me fazendo companhia a ele.

– Vincent! – Olhei-o. – Faça o que for preciso para encontra-las, mas, por favor, não se coloque em risco novamente! – Assenti.

– Irei fazer o possível e o impossível para sairmos todos bem dessa! – Falei sério.

– Clarysse merece mais que isso! – Ele falou parecendo preocupado. – Ela merece ser amada, filho! – Encarei-o. – E se você não puder dar isso a ela, acho que, depois que resgatá-la, seria melhor deixa-la ir. – Assenti surpreso. – Quanto a Katherine! Traga-a de volta para nossas vidas! Eu confio em você para isso! – Senti-me mais vivo, com as palavras de meu pai. Ele se levantou e caminhou até perto da mesa. – Sua mãe está terminando a janta! É melhor esperar, sabe que ela não gosta que fique sem se alimentar! – Concordei. – E precisará de forças para encontrar Clarysse! – Sorri fraco.

– Obrigado, pai! – Falei encostando-me completamente no encosto do sofá.

– Agradeça-me não magoando-a mais! – Ele falou triste e respirei fundo.

– Porque está tão preocupado com que eu a magoe? – Perguntei sentindo-me frustrado com seu repertório sobre eu deixar Clarysse.

– É o que tem feito ha cinco anos. Magoa cada uma das mulheres com quem se envolve. Você a desonrou sem sequer namorá-la, Vincent! – Arregalei os olhos. – Pode ser meu filho, mas o que fez foi errado!

– Ela também quis! – Retruquei.

– Claro que quis! – Ele falou encarando-me. – Ela te ama! Faria qualquer coisa por você! Como fez hoje! Sacrificando-se no seu lugar! – Levantei-me. – Quem mais terá que se sacrificar ou morrer para que você pare de se martirizar e volte a confiar em alguém? – Perguntou-me furioso.

– Preferia que ela não tivesse ido? – Perguntei num sussurro, mas ele não respondeu. – Eu também não queria que ela fosse, pai! – Confessei. – Mas não pude fazer nada. Estava de mãos e pés atados diante de sua escolha! – Respirei fundo. – Se acha que não sofri com isso, está enganado! Não teve um só minuto desde que acordei, que não tenha pensado nela, e como deve estar agora! – Meus olhos encheram-se de água. – Se acha que não mereço todo carinho que me dão, desculpe! Mas já estou de saída! – Comecei a caminhar para a porta.

– Por Deus, Vincent! Pare! – Pediu meu pai, fazendo-me parar diante da porta. – Eu não quis dizer isso! Só acho que agiu errado com Clarysse! – Virei-me olhando-o. – Ela merecia ter tido sua primeira vez com alguém que a amasse! – Assenti.

– Acho que ela escolheu amar, ao invés de ser amada, pai! – Ele me encarou.

– Percebe o quão frio está sendo? – Perguntou-me sério.

– Sou frio por ter dado a ela o que me pediu? – Perguntei agoniado. – O que mais fiz de errado agora? – Alterei-me. – Ela queria um relacionamento sério, e estávamos namorando. Queria que eu desse um fora nas garotas que me perseguiam, e também fiz isso! – Encarei-o. – Ela se entregou pra mim, pai! Eu não pedi! Não nego que a quis, mas quando sai daqui, no dia do meu aniversário, estava decidido a não fazer isso com ela! – Minha mãe e Rachel apareceram ao lado de meu pai, mas minha raiva estava tão grande que continuei falando sem me preocupar. Fechei os olhos. – Ela me procurou. Eu sou ruim por isso também?

– Se acalme, Vincent! – Rachel falou aproximando-se.

– Preciso ir para casa! – Falei virando-me.

– Você não vai a lugar algum! – Minha mãe falou alto e determinada. – Rachel! – Ela chamou e logo minha irmã virou olhando-a. – Faça o prato de Vincent! – Rachel assentiu e minha mãe caminhou até estar ao meu lado. – Irei ajuda-lo a subir as escadas. – Falou abraçando-me, mas continuei parado. – Não deixarei que saia daqui assim.

Olhei para meu pai e ele concordou brandamente com a cabeça. Minha mãe ainda me abraçando, então deixei-a me guiar até as escadas. Subi lentamente, sentindo minhas costelas protestando de dor a cada degrau que eu pisava. Quando finalmente cheguei ao topo da escada, arrastei-me até o meu quarto, minha mãe ainda me auxiliando. Entrei sentando-me na ponta da cama.

 – Vincent! – Minha mãe chamou. – Eu entendi bem? – Baixei o rosto respirando fundo. Não queria brigar com minha mãe também.

 – Não sei o que a senhora entendeu mãe! – Respondi sentindo-me esgotado.

 – Você e Clarysse! Vocês...? – Assenti antes de ela terminar a frase. Fazendo-a sentar ao meu lado. – Foi uma decisão dela? – Minha mãe quis saber. Olhei-a e sorri fraco.

 – Foi! – Respondi e ela assentiu. – Juro que tentei me segurar mãe! – Falei com a voz embargada. – Mas Clary sabe como me seduzir! – Ela sorriu.

 – Eu sei! – Então abraçou-me. – Seu pai também entende, filho! – Afastei-me encarando-a. – Ele só não quer vê-la sofrendo! Ela não tem mais ninguém!

 Voltei a abraçar minha mãe e acabei deitando-me. Guardei a arma e o vidro com os comprimidos para dor no criado mudo ao meu lado, e coloquei a cabeça em seu colo. Suas mãos afagando meu cabelo, deixando-me sonolento. Assustei-me quando a porta do quarto voltou a abrir, e Rachel entrou trazendo um prato em suas mãos.

 – Coma! – Ela falou e minha mãe ajudou-me a sentar.

 Peguei o prato de Rachel e, comi um pouco, mas não consegui comer tudo. A comida não entrava. Devolvi o prato para Rachel, fazendo-a olhar-me feio.

 – Não consigo mais comer! – Falei sério. – Não desce, Rachel!

 – Tudo bem! – Minha mãe falou.

 Voltei a deitar. Minha irmã saiu do quarto e, novamente fiquei sozinho com minha mãe. Ela foi até o banheiro e voltou com a caixinha de primeiros socorros. Sorri lembrando novamente de Clary! No dia que cortei minha mão, ela fez a mesma coisa. Minha mãe limpou os ferimentos de meu rosto e alguns no meu tórax com água oxigenada, fazendo-me contorcer-se de dor. Depois passou uma pomada, e cobriu com gases e esparadrapos. Abracei-a com carinho.

 Ela guardou a caixa de primeiros socorros, e voltou a sentar ao meu lado na cama, suas mãos acariciando meus cabelos. Senti-me um garotinho de sete anos depois de ter um pesadelo de madrugada. Ela sempre fazia isso, quando eu acordava assustado com meus sonhos. Meus olhos foram pesando com o carinho, até que adormeci.

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