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S.I.B: Serviço De Inteligência Brasileiro

A Garçonete

— Mais café senhor?- pergunta a garçonete

— Pro gentileza.- falo posicionando a xícara para que a garçonete a complete de café. Enquanto a moça completa a xícara, mostro a moça um recorte de jornal.

Este recorte retratava um galpão, ali até pouco tempo atrás funcionava uma fábrica de roupa.

— Poderia me informar onde fica este endereço?- pergunto.

— Avenida Olímpio Nogueira, número 1100, Parque industrial. - fala a garçonete apenas reconhecendo o galpão.— Porque quer saber? Você é policial ou algo assim?- complementa a garçonete.

Nesse momento um súbito calafrio percorreu minha espinha. Por um segundo acreditei que meu disfarce tinha pegado o primeiro vôo da NASA para a Lua. Mas o que veio em seguida fez com que retomasse a confiança.

— Já sei! Você é um jornalista?- perguntou a jovem me lançando um sorriso de canto.

— Acertou na mosca. Na verdade sou repórter investigativo, cubro crimes como este por todo o Brasil. Os quais a polícia não consegue solucionar.

— A é! Que bacana. Para qual emissora trabalha.

A moça era mais esperta do que o esperado, parecia que estava atirando verdes para colher maduras.

— Trabalho para a CNN Nacional.- falo bebericando o café.

— O que sabe sobre o caso?- quais saber a moça.

— Muito pouco, fui mandado para a cidade depois que um repórter foi assassinado nesse galpão.- falei apontando para o recorte sobre a mesa.

— Assim como seu colega, perdi meu irmão, faz alguns meses, o corpo foi encontrado na fábrica de roupas abandonada. E não só meu irmão e o jornalista outra pessoas foi morta no mesmo endereços que pediu informação. A polícia diz que os crimes continuam sem solução. Talvez você possa fazer com que isso se esclareça.- balbuciou a garçonete mostrando-me um olhar Franco.

Seu semblante era de preocupação.

— Meus pêsames pela perca de seu irmão!- falei antes que a garçonete fosse chamada até o caixa.

A fábrica se chamava J.J jeans. Pertencia a dois irmãos gêmeos os quais segundo minha investigação se chamavam Juliano e Júlio, nasceram e cresceram na cidade de Patos de Minas em 1999 e mudaram se para Liliance em 2019 com vinte anos, descobriram o setor de tecidos após perceberem que a pequena cidade trazia peças de roupas de outro estado, o que demandava altas despesas.

Até então estava indo muito bem, até que a empresa começou a decair por falta de funcionários e só as próprias demandas da cidade não eram suficiente para manter as contas. Depois de dez anos com a fábrica aos trancos e barrancos, os irmãos decidem levar a empresa para a cidade natal que era o triplo do tamanho de Liliance, o prédio foi abandonado e foi quando tudo começou. Acho que montar uma fábrica em uma cidade de pouco mais de quatro mil habitantes não foi uma boa ideia.

Quanto aos assassinatos as três vítimas foram encontradas por moradores de rua que passaram a habitar o local.

Até então não tinha muita coisa, tive acesso aos depoimentos dos moradores de rua e as fotos das cenas do crime.

Alisson, um rapaz de vinte e três anos foi encontrado no poço do elevador. Pela autópsia foi constatado que Alisson foi morto com uma pancada na cabeça depois já no local o assassino abriu seu abdômen. Alisson foi a segunda vítima.

A primeira vítima foi Geam, um rapaz de vinte e oito anos de idade, este morto com um tiro de calibre trinta e oito na parte da frente da cabeça. Gean quando foi trazido para o galpão já estava morto, mas o assassino teve a audácia de desmembrar o corpo na altura dos ombros e quadril e pescoço.

Já a terceira vítima era o jornalista, este por nome de André, contava com trinta e cinco anos de idade, este esfaqueado até a morte na altura do tórax e pescoço, ao total a autópsia contabilizou mais de trinta perfuração.

— Há quanto tempo está na cidade?- pergunta a moça. Quando voltou do caixa

— Cheguei hoje pela manhã.- respondi.

— Espero que consiga uma boa reportagem para sua emissora, aliás. Posso anotar seu pedido?

Já sabia o que pedir dês de que sai do laboratório mantado as pressas na capital.

— Vou pedir um ovo Irlandês - falei devolvendo o cardápio a garçonete.

— Boa escolha. - devolveu a moça antes de sair.

A partir de agora teria que ter atenção redobrada por qualquer lugar que andasse na cidade, um jornalista foi morto não custava o assassino dar fim em mim pensando que eu realmente era um jornalista incherido ou suspeitar do meu disfarce.

Meu pedido chegou por as mãos de outro funcionário, desta vez um garçom, muito bem apresentado e educado pediu se eu gostaria de mais alguma coisa antes de sair e me fez a gentileza de apanhar de outra mesa uma bisnaga de ketchup e outra de mostarda além de alguns guardanapos.

Ainda não falei como era o restante. Embora muito simples era muito bem ajeitado, as mesas eram limpas com frequência e os pratos não eram caros, o ovo Irlandês que pedi propositalmente por exemplo, custou quinze reais, era um prato simples, ovo mexido com legumes e carne moída.

Apos correr os olhos em cada detalhe nas paredes e tentar espiar o interior da cozinha da mesa onde estava, fingi uma ligação urgente.

— Renan. Pode falar - fingi que alguém estava me ligando.— Ha sim estou a caminho, apenas pedirei para embrulha meu café.- terminei chamando o mesmo garçom que passava por perto.

— Amigo, por gentileza. Embrulhe meu café para viagem, e me embrulhe separado também outra porção de carne moída, sem ovo e sem legumes, por gentileza.

O garçom prontamente atende meu pedido e leva o ovo Irlandês para a cozinha.

Estava estranho a demora do garçom retornar, mas cerca de cinco minutos depois o rapaz retorna com duas embalagem de isopor em uma continha o ovo Irlandês e na outra uma porção de carne moída, assim como tinha pedido, agradeci ao prestativo garçom e o deixei uma boa gorjeta junto ao caixa, paguei a conta que não passou de cinquenta reais e foi embora com panca de um detetive que acabará de cumprir seu trabalho.

Dei a volta no quarteirão, apenas para não levantar suspeitas. Havia deixado a vam do S.I.B estacionada em um estacionamento na rua de trás, assim que a pegasse voltaria para Belo Horizonte, onde um médico legista e um legista Florence estariam me aguardando para analisar o que tinha levado.

Quatro dias antes de simular um café da manhã no único restaurante da cidade, o qual fingi ser interrompido por uma ligação urgente apenas para me passar por um jornalista cobrindo um caso de assassinato, descobri como chegar até lá, ainda bem que descobri antes de realmente fazer alguma refeição em um lugar como este.

Na verdade meu plano começou por conta de uma descoberta que a polícia local fez a um mês atrás, meu disfarce tinha sido baseado no caso. Des do começo dos assassinatos em Liliance, a CNN Nacional mandou um repórter investigativo para cobrir e reportar o andamento do caso a emissora, o que nem mesmo o pobre jornalista não contava era que seria mandado para a morte. Mais tarde vim a descobrir em minhas investigações que o jornalista deixa uma esposa e um casal de filhos. Para mim seria mais um caso, até mesmo não liguei muito para a perda da família, até descobrir o motivo pelo qual foi morto. Mas contarei isso em uma ordem cronológica para melhor compreensão.

Deixei Brasília no dia desesete de janeiro de 2030 ainda durante a madrugada em um Cessna do S.I.B com destino a Belo Horizonte capital do estado de Goiás, no mesmo vôo também estavam um médico legista, por nome de Marcos o qual logo fiz amizade e também uma legista florecis, por nome de Flávia Jhord, Flávia era muito fechada, durante o vôo quase não conversamos falamos, mas quando chegamos ao IML, na capital onde o S.I.B havia preparado uma sala para que Flávia trabalhasse que pude ver o porque era tão reservada. A minha vontade era de ter um taco de baseball para quebrar uma dúzia de aparelhos florence, de nomes difíceis e aspectos estranhos, havia um que se chamava Vid, o espectrofotômetro de massa, outro por nome de wery, o microscópio, e um outro por nome de Triyt, um laptop que era conectado a todos os outros aparelhos, Flávia deu nome a todas as máquinas de seu trabalho e as tratava com sua família e até conversava com eles.

Enquanto Flávia montava os equipamentos, me dizia o que deveria fazer quando chegasse a cidade, a primeira coisa que Flávia me ordenou e me fez prometer que faria era visitar a sena dos crimes.

Quando perguntei o que precisaria da cena, a resposta veio como uma bola de futebol que bate nas partes íntimas.

— Você trabalhou mesmo com o FBI?- pergunta Flávia.

Fiz que sim com um aceno de cabeça.

— Pois não parece, parece que recém se formou e foi muito mal no exame criminal. Preciso de objetos que possam ter cidos usado nas vítimas, tudo o que há sangue ou posa ter inspeções digitais, se encontra um fio de cabelo, traga para mim, também seria bom se puder ir visitar as famílias das vítimas, saber com quem se relacionavam, onde iam e com que frequência, há e também não esqueça de passar um pente fino no histórico criminal de cada vitima. Certamente a polícia local já fez isso, e de certa forma preciso de tudo isso. Preciso escrever?

Tá! Subestimei a minha legista Florence.

— Não. Não será necessário. Tenho boa memória.

— Ótimo, espero que seja também um bom detetive Sr. Chiuto.

Beleza, essa pegou mal, além de me dizer o que fazer ainda me chamar de senhor! Não tinha idade para ser. Assim já é demais.

— Detetive Eric.- fala Marcos me alcançando no corredor.— desculpa por Flávia tratar você daquele jeito. Sei que é um detetive de uma experiência magnífica e parece que não gostou de ser chamado de senhor

— Tenho cara de senhor para você doutor?- pergunto parando em meio ao caminho.

— Não senhor. Quer dizer... Deixa pra lá. Flávia é um tanto quanto bruta com detetives e investigadores, já tivemos alguns que não faziam direito o trabalho.

— Defina " direito".

— Mexeram na cena do crime antes do médico legista chegar ou sem luvas e tivemos um em particular que plantou provas para incriminar alguém que não tinha dada a ver com o crime.

— Deixa eu adivinhar, prenderam o cara errado?

— Não. Ainda bem que não chegamos a esse ponto. Flávia descobriu antes e quem foi preso foi o investigador por plantar provas falsas. Ela é muito cuidadosa nesses casos.

— Percebi.- retomei a caminhada pelo corredor acompanhado de Marcos.— há, e a propósito, onde vai doutor?

— Ao necrotério, irei fazer uma segunda autópsia nas vítimas.

— Espero que descubra alguma coisa, estou totalmente no escuro, você e Flávia são minhas lanternas e se me recordo, o S.I.B preparou apenas uma vam.

— Não se preocupe, ficaremos aqui até que o caso der por encerado- fala Marcos parando em uma porta.

— Se tivermos mais um crime, voltarei para buscar você, para examinar o corpo, esteja preparado- disse deixando Marcos entrar na sala do necrotério.

Depois disso tinha que percorrer noventa quilômetros até a cidade, estava na hora de botar meu disfarce em ação.

Assim que cheguei na cidade, uma equipe da Rocam me aguardava na entrada da cidade. Primeiro acreditei ser uma blitz, não tinha recebido informações sobre escolta e Também porque fui abordado, pediram minha CNH e meus documentos pessoais, revistam a vam e logo um dos policiais chamado Wagner pediu que seguisse o comboio das motos até a delegacia.

Já na delegacia me encontrei com o delegado da polícia militar e da civil que não pareciam nenhum pouco contentes com a minha visita, a primeira coisa que perguntei foi o motivo de os corpos serem levados para a capital, a resposta foi bem óbvia, a cidade era dependente da comarca da capital, ou seja, as ordens partiam do ministério público da capital.

Minha próxima pergunta nem mesmo o delegado da polícia militar local pode me responder.

— Onde e como os crimes foram cometidos?- perguntei .

O que achei estranho. Eu Tinha caído de paraquedas no caso, acreditava que o assassino usou um único lugar para executar suas vítimas.

— Os corpos foram encontrados em uma fábrica de roupas abandonadas no parque industrial da cidade. Segundo o médico legista do IML, apenas dois foram mortos no interior da fábrica, nosso assassino apenas desova os corpos ou os mutilava no local.- fala Vicente, o delegado da polícia militar.

— Está me dizendo delegado, que a uma segunda sena de crime.

— Supostamente sim detetive - rebate Vicente.

— A partir de que vítima começaram a investigação?

— De nenhuma. Alguns moradores de rua encontraram os corpos e nós chamaram

— E quem foi a primeira?

— Bom. Uma vítima peculiar.- diz Renan, delegado da polícia civil colocando sobre a mesa uma foto.

O rapaz da foto tinha vinte e oito anos não pude determinar sua altura e seu peso. A foto foi tirada do pescoço para cima, provavelmente de um documento de identificação. Era loiro caucasiano de olhos azuis.

— Geam Siqueira, vinte e oito anos.- recomeça Renan lendo a ficha da autópsia.— Segundo o médico que processou a autópsia ele foi a primeira vítima. Ele possui diversas passagem pela polícia civil e militar, roubos a mão armada, falsidade ideológica e a última pela lei Maria da Penha três semanas antes de ser encontrado morto com a cabeça separada do corpo e perna e braços separados do corpo.

— Qual a última vítima?- pergunto recebendo de Renan outra foto.

— Sabia que perguntaria detetive. Alisson Eduardo. - diz Renan.

— Passagem?- pergunto.

— Também, latrocínio, a última e em dois mil e vinte e nove, preso por pose de drogas.

— Como este foi encontrado?- Perguntei indicando a foto do segundo homem, que era magro, moreno e de estátua mediana.

— Morto com uma pancada na cabeça e logo depois foi estripado.

Nessa altura do campeonato cheguei a uma conclusão, mesmo que fosse superficial.

— Senhores, perceberam que há um padrão entre a primeira e a última vítima? - falo apontando para as fotos — Todos possui passagem pela polícia e foram mortos de formas diferentes. Quem está cometendo esses crimes, está cumprindo o papel de um justiceiro.

— Claro detetive, percebemos isso sim. E quem está bancando o justiceiro não deixa pistas, as cenas dos crimes são tão limpas de evidências que nem mesmo nossos melhores investigadores criminais não encontraram absolutamente nada - diz Vicente me entregando uma folha.

— Do que se trata?- pergunto recebendo a folha das mãos de Vicente.

— Laudo de DNA florence. Inconclusivo obviamente.- diz Vicente.

— Quanto as armas dos crimes?- perguntei.

— Nada! Vítimas diferentes, armas diferentes.

— Isso está sendo um pé no saco. - falei cosando o queixo.

Após pensar um pouco me dirijo aos delegados

— senhores delegados, A partir de agora, o S.I.B está na jurisdição do caso, nosso assassino parou de matar por dois motivos. Deixou alguma pista ou está se sentindo acuado, verificarei a cena dos crimes e meu médico legista está nesse momento fazendo uma autópsia preliminar nos corpos encontrados na fábrica. Agora preciso saber. Quanto está o efetivo de vocês?- pergunto encarando Renan e depois Vicente.

— Meu efetivo na cidade está com trinta homens, sendo cinco dos meus, dez da Rocam e quinze da Rotam. Mas é claro, o governo me disponibiliza mais se for preciso.- diz Vicente.

— E quanto ao efetivo da polícia civil?- indago encarando Renan.

— Estamos em quatro homens, mas é o mesmo caso da polícia militar, se for preciso temos um efetivo de cinquenta homem entre DEIC e DHPP. - diz Renan.

— Excelente. Emitam um alerta de fuga eminente nas bases da polícia federal próximas a cidade, vou pedir que a agência mande-me um efetivo razoável de homens especializados em busca e apreensão. Vicente, avise o corpo de bombeiros das cidades próximas, qualquer um que for encontrado e resgatado com ferimentos de armas brancas ou de fogo deveram ser levados ao meu médico legista para ser examinados e interrogados, iniciaremos diligências por todo o município, em busca de locais suspeitos de crimes.

— E quanto a você? -pergunta Renan.

— Eu vou para a fábrica, a propósito, é isso que vou fazer agora mesmo.

— Você vai sozinho?- pergunta me Vicente.

— Por a caso entrei pela quela porta acompanhado de alguém?- falei.

— Se eu fosse você não iria lá sozinho, ainda mais a essa hora, é cheio de mendigos e viciados — explica Renan.

— Meu médico legista tem hábito de tomar altas quantidades de cafeína para trabalhar até mais tarde, não será problema examinar mais um ou cinco corpos ainda essa manhã. Falei deixando o escritório da delegacia.

Assim que saí da delegacia meu celular chamou, o retirei do bolso para ver quem era.

— Marcos, prossiga. Tem algo para mim?

— Ainda não sei Eric.

— Não sabe ou não achou nada?

— Segunda opção.

— Então porque me ligou?

— Flávia está examinando uma evidência, um pedaço de carne com músculo triturado.

— Seja mais específico doutor.

— Vou ser. Alguém foi transformado em carne moída, e não faz muito tempo.- fala Marcos de sopetão.

O Plano Em Ação

Quase deixei meu celular escapar das minhas mãos. Como isso era possível? Será que estava de frente com um caso de canibalismo, ou apenas uma tentativa de ocultar cadáveres?

— Os corpos que estão com você estão falando partes doutor?

— A primcipio nenhum.

— Acha que podemos ter mais corpos?

— Acho não, tenho certeza. A fibra de carne encontrada, parecia estar ali a um tempo, cerca de duas ou três semanas, mas Flávia vai dizer um tempo exato.

— A quantas horas descobriu isso?

— Não fazem nem dez minutos, assim que encontrei chamei Flávia e ela levou para seu laboratório para um teste de DNA humano.

— Mande-me uma foto da vítima, vou tentar descobrir quem é.

— Não quero ser estraga prazer, mas já fiz isso. Nossa é o jornalista trinta e cinco anos de idade, homen de estatura média, um metro e sessenta para ser mais exato, caucasiano. Foi a última vitima.

— Perfeito doutor, me ligue assim que Flávia tiver um relatório. E quanto as outras vítimas?

— Pode deixar detetive, acabei de pedir acesso ao S.I.B para buscar o DNA da amostra que encontrei, devem me habilitar em uma ou duas horas. E quanto as outras duas vitaminas não encontrei nada do que a primeira autópsia nos revelou.

— Excelente. Pessa também acesso a central de pessoas desaparecidas, pode ser que tenha algum alerta.

— Pode deixar detetive, farei o possível.

— Obrigado doutor - agradeço em seguida desligando o celular.

Voltei para dentro da delegacia e cheguei a tempo de ouvir Renan comentando que poderia haver mais corpos, os quais não foram abandonados na fábrica.

— Você acha isso delegado?- disparei entrando pala porta do escritório.

— Detetive! Desistiu de ver a cena do crime?- pergunta Vicente com empatia.

— Mudei de ideia, vou aguardar o retorno de meu médico legista e da minha cientista Florence.- falo me sentando na cadeira e colocando o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo demostrando que estava com o caso sobre controle.— quantos açougues existe na cidade?

— Um.- respondem Renan e Vicente ao mesmo tempo.

— Acha que nosso assassino é um açougueiro?- pergunta Vicente.

— Tenho minhas dúvidas quanto a isso, mas não custa nada averiguar. Meu médico encontrou uma espécie de carne moída no cabelo da terceira vítima, e minha cientista florence está fazendo testes para saber se tratasse de carne humana.

— Que estranho, o médico legista do IML disse que não falta nenhum parte dos corpos.- comenta Renan.

— Segundo o médico legista do S.I.B também. Suspeitamos de que a mais vítimas. Isso se a carne moída for humana.

Renan leva as mãos a cabeça e puxa um chumaço de cabelo.

— Isso é uma catástrofe. A moral da polícia civil do estado já não é das melhores e agora mais essa.

— Se lamentar pelo sangue derramado a essas alturas não colocará o assassino na cadeia delegado. Sei que não é das melhores fases da PC de Goiás.

— Qualé detetive, estamos no fundo do poço.- reclama Renan.

— A culpa não é sua delegado, muito menos da sua delegacia, em dois anos muitos recursos da polícia civil foram cortados pelo estado, quer culpar alguém, culpe a gestão de segurança pública do estado, e não aos seus agentes e a si mesmo.- fala Vicente.

— O que você propõe detetive?- pergunta Renan se recompondo.

— Proponho que temos que trabalhar juntos, esquecer as divergências, unir forças entre as polícias civil e militar e o S.I.B para colocar na cadeia quem está por trás desses assassinatos, não medir esforços para que isso aconteça.- falo dando ânimo aos meus colegas.

Minhas palavras pereceram ter surtido efeito, Renan me dirigiu um olhar seguido de um breve aceno com a cabeça, Vicente começa a vascular em uma pasta e em seguida me entrega uma folha.

— Tenho dois policiais que estão em campo detetive.

— A é! Quando iria me contar?

— Não iria, até o momento não tinha o porquê contar, detetive.

— E porque mudou de ideia delegado?- pergunto pegando a folha.

— Pelo fato de que a alguns dias atrás, fomos almoçar em um restaurante, o único da cidade, para nós foi servido uma carne estranha, a qual não consegui comer, mas um de meus colegas comeu e acabou tendo que ser levado para o hospital, lá o médico disse que não passava de uma intoxicação alimentar.

— E como era essa suposta carne?- perguntei espantado.

— Não faço ideia, não comi, era difícil de cortar e meu agente disse que parecia estar mastigando um balão de ar murcho e o gosto era levemente adocicado.

Olhei espantado para Vicente assim como Renan.

— Típico relato de algumas pessoas que já comeu carne humana, e onde fica esse restaurante?

— fica no centro, três quadras da delegacia.- responde Vicente.

— Bom esperaremos a resposta de minha cientista florence e amanhã pela manhã farei uma visita a esse restaurante.- falo.

— Eles servem café e da manhã, o bom seria logo pela manhã, terá menos cliente e menos funcionários, se precisar agir.

— Boa ideia Renan.- rebato.

— E vai precisar de um disfarce, ninguém pode saber que é um agente.

— Não se preocupe com isso Vicente. Já tenho um.

— E quel é?- pergunta Renan.

— Um jornalista da CNN foi encontrado morto na cidade nas mesmas circunstâncias dos assassinatos, usarei um disfarce de jornalista para não levantar suspeitas.- disse procurando meu celular que voltará a tocar.

— Detetive Chiuto!- era Marcos, ou era o que eu pensava até ouvir a voz de Flávia do outro lado.

— Detetive, aqui e Flávia, tenho más notícias, quanto a evidência que Marcos encontrou...

— Já sei, é carne humana.- falo interrompendo Flávia.

— Exatamente. Mas há um ponto crucial, na carne havia traços de cinquenta e um aminoácidos derivados de uma proteína sendo divididos em dois grupos "A" e "B".

Pensei um pouco. Qual proteína contém cinquenta e um aminoácidos e que são divididos em dois grupos? Pensei mais um pouco e me veio a memória minha sobrinha de dezenove anos, ela faz uso de insulina e a insulina e dividida em dois grupos de aminoácidos, sendo que o grupo "A" possuí vinte e um, enquanto o grupo "B" possuí trinta. Trinta mais vinte e um, igual a cinquenta e um. Era insulina, a vítima fazia uso de insulina diariamente.

— Detetive, você ainda está aí? Detetive!- quando me dei conta, Flávia estava gritando em meu ouvido pelo telefone.

— Sim Flávia, ainda estou aqui.- falei calmamente colocando a ponta do dedo indicador no ouvido — Essa descoberta significa que a vítima fazia uso de insulina não é!

— Sim. E graças a isso consegui identificar de qual parte do corpo.

— Do abdômen?

— Isso. E não faz muito tempo como Marcos pensa, seria de uma ou duas semanas atrás, também, impregnado na proteína da carne encontrei diversos compostos, como uma mistura de hidróxidos de ferro hidratados e óxidos, e também: Fe3O4 - Fe2O3. H2O - Fe(OH)2 - Fe(OH)3.

Não era bom em química mas aquelas fórmulas significava uma coisa...

— Ferrugem.- falei de sopetão.

— Ferrugem impregnada provavelmente na máquina usada para triturar a carne.

— Consegue mais alguma coisa mediante essas informações?- perguntei.

— Quem sabe daqui a algum tempo, quando a população da cidade estiver viciada em carne humana.

— Não me serve, muito tempo.- rebato.

— Se essa carne humana está sendo consumida como sendo carne bovina ou suína, creio que em torno de dois a três anos.

— Isso se mais gente for abatida para isso acontecer - falei calmamente.

— Isso vai depender de você meu caro detetive - fala Flávia.

— De qualquer forma, obrigado pelo seu trabalho árduo, e diga ao doutor Marcos que continue examinando os corpos.

— Nassas alturas já deve ter terminado- diz Flávia .— Estou aguardando o relatório da última vítima. E obrigado.- termina Flávia desligando o celular subitamente.

— Senhores!- Renan e Vicente me encaram com atenção — Nunca em meus anos de vida uma mulher desligou o celular na minha cara, mas como tudo tem sua primeira vez...- falei jogando o celular sobre uma pilha de pastas e voltando a me sentar — A carne é mesmo humana. Pelo DNA mandado a capital a agência irá indemtificar quem é nosso presunto.- termino sendo interrompido novamente pelo toque do celular.

— Detetive Eric.- falo assim que atendi o celular.

— Detetive. Tenho uma boa e uma má notícia.- era Marcos, com uma voz ofegante e desesperada.

— Antes que me pergunte, quero a má notícia - falei colocando o celular sobre a mesa e o colocando no viva voz.

— O M.C.I.S está em contato com o S.I.B, querem a jurisdição do caso.- Renan e Vicente se olhan e depois me encara.

— Tá doutor. Explicar essa situação me deixaria mais tranquilo para tomar uma atitude.- falei.

— Não precisa, a agência já resolveu.

— Então a explicação doutor. - falei cordialmente.

— veja bem detetive, o DNA que enviei a Brasília é de um militar da aeronáutica, pertencia a base aérea de Anápolis, agora a força aérea convocou o M.C.I.S para assumir o caso - disse Marcos.

— E a notícia boa?- perguntei.

— A boa e que fomos salvos pelo gongo, o serviço de investigação militar aceitou dividir a investigação, mediante a descoberta que fizemos, concordaram que já estamos fazendo progresso no caso.- com o que Marcos disse, fiquei lisonjeado, na realidade foi Marcos e Flávia que fizeram esse excelente progresso para a minha salvação, ao contrário disso quem iria virar carne moída mediante aos militares seria eu.

— Tenho uma boa notícia a você também doutor.

— Estou ansioso pra ouvir detetive.

— Flávia desligou o celular na minha cara, não deu tempo de falar. Preparem-se para mais um teste de DNA, amanhã pela manhã iremos fazer compras, os policiais iram até um açougue e eu irei até um restaurante da cidade. Coletaremos amostras de carne e levarei a vocês, se confirmar voltaremos com equipes de buscas.

— Pode deixar detetive, estaremos preparados.- afirma Marcos.

Depois, combinamos para o dia seguinte, Renan como era da capital, ficaria fora dos planos, Vicente, como morava na cidade e fazia suas compras semanais mercado onde ficava o açougue não levantaria suspeitas, eu iria para o restaurante, se alguém perguntasse de onde eu era ou quem era, apenas diria que estava cobrindo os assassinatos e vinha da capital paulista. Antes de seguir para minha cama improvisada na sala de audiência da delegacia, lembrei a Vicente que não deveria comprar nada de salgados que contém carne, isso porque lembrei de ter visto uma foto de Vicente com uma garotinha que suspeitei ser sua filha, e geralmente as crianças gostam de coxinhas, rissoles ou pastéis, não queria arriscar que uma criança fissese parte de um costume extinto da humanidade a séculos atrás, mas ainda não sabia como alguém mantinha esse orendo costume.

No dia seguinte, acordei por volta das cinco horas da manhã. Sabia que provavelmente iria ficar boa parte do dia sem comer, então peguei um salgadinho de batatas Chips na máquina de lanches da delegacia e aceitei um café preto sem açúcar que o escrivão de plantão me ofereceu.

Em seguida fui ao estacionamento nos fundos da delegacia fumar meu cachimbo e colocar minhas ideias e planos para o novo dia que se iniciava. Vi quando Vicente entrou no estacionamento com sua GM S10 movida a diesel, ano 1995, uma relíquia em pleno ano de 2030.

— É uma beleza não é.- se gaba Vicente mostrando a caminhonete.

— Claro - concordo. — Mas não acha e um pouco ultrapassada?

— Só porque você anda em um carro movido a energia, não quer dizer que carros movidos a petróleo sejam ultrapassados.

— Não ando em um carro elétrico, meu carro é uma Ecosport exelenc, ano dois mil e vinte e cinco, movida a gasolina.- explico dando a volta na caminhonete.— Além do mais. Não quis dizer que seu automóvel está ultrapassado, só acho que é um tanto quanto antiga.

E realmente era. Fábricada no pólo industrial da Amazônia a exatamente trinta e cinco anos atrás.

— Há coisas mais antigas do que um carro detetive.

— E qual seria essa coisa?- pergunto percebendo que Vicente se referia a meu cachimbo.

— E interessante ver que alguém faz uso disso em pleno século vinte e um.

— Não faço uso disso.- falo mostrando o cachimbo fumegante.— Não para me destacar ou chamar a atenção, esse é um costume de meus ancestrais, na Europa e frança e a te mesmo na América do Norte as pessoas usavam o cachimbo como meio de concentração para ler ou fazer algo que demandasse muita concentração, assim os detetives adotaram essa prática.

— E o que isso tem a ver com seis ancestrais? Vai dizer que um deles inventou o cachimbo.

— Talvez, não sei precisar, mas meu avô pessoalmente foi investigador durante a segunda guerra mundial, o que foi um fracasso para os italianos se aliando aos alemães. Quanto a meu pai mudou- se para os Estados Unidos no final da guerra e se tornou detetive durante a guerra do golfo, e então chegou minha vez. Comecei minha carreira no FBI e agora estou no Brasil. Desde meu avô, adotamos o mesmo método de concentração.- terminei mostrando o cachimbo a Vicente.

Ouvimos o som de motor e logo o portão do estacionamento se abre permitindo a entrada de um jipe quatro por quatro.

Era Renan, o delegado da polícia civil, ele desembarca apressadamente e se junta a nós.

— Detetive! Delegado Vicente. Recebi uma ligação dos bombeiros ainda a pouco.

— E o que eles disseram? Resgataram um gatinho em uma árvore?- perguntei a Vicente.

— Nada disso. Bom... Uma equipe de policiais encontrou por volta de meia noite de hoje um corpo em avançado estado de composição no parque da Pampulha em Belo Horizonte.

— Será que tem ligação com nosso assunto?- quis saber Vicente.

— Acho muito improvável- começo.— Belo Horizonte está a uma distância razoável da qui, para levar um corpo até lá demandaria estratégia e dinheiro, além de ter um deslocamento perigoso, arriscando ser parado pela polícia rodoviária federal. Falaram algo mais sobre o corpo?- perguntei.

— Não, não tinham ido ao local.

— Retorne a ligação, mandarei meu médico legista ao local. Diga para não tocarem no corpo.

Renan volta para seu carro mechendo no telefone. Eu e vinte permanecemos ali até que Renan retornou para junto de nós com ar de alívio.

— E aí Renan, tem maiores informações?- pergunta Vicente.

— Tenho. Tenho sim, na verdade o corpo é de uma mulher, trinta anos no máximo, pulou de uma passarela.

Assim que Renan falou meu celular tocou.

— Prossiga doutor - falei levando o aparelho ao ouvido.

— Detetive, estamos em uma cena de um crime na capital.

— Um segundo- falei interrompendo e levando o celular ao peito.— Não foi um suicídio, e sim um assassino - falei para Renan que coça a nuca.— Continue doutor.

— Quando chegamos achamos que teria sido um suicídio mas, ao examinarmos o corpo havia uma marca de sapatos na roupa na parte de trás, indicando que foi empurrada do alto da passarela. Alguém fez com que ela caise.

— Este tem ligação com os assassinatos de Liliance?- perguntei

— Ainda não sabemos, o cadáver será levado para o IML para mais exames, ligaremos se descobrirmos alguma coisa.

— Está bem doutor, estarei no aguardo.- falei desligando o celular.

— Então não foi um suicídio. As coisas por a qui estão ficando complicadas- fala Vicente entrando na delegacia.

Acompanhamos Vicente e voltamos a nós reunir em sua sala.

— Esqueceremos este caso da capital, ao menos por enquanto. - começo me sentando em uma das cadeiras.— Vamos nos concentrar em obter provas de onde essa carne humana está sendo vendida ou processada.

— Vamos recapitular o plano - começa Renan. — você.- aponta para Vicente.— As compras no supermercado deveram ser focados no açougue, certamente não terá carne com osso ou gordura. Então, a linha de embutidos e carnes manipuladas no estabelecimento deveram ser compradas.

— Renan estará lhe esperando na rua de atrás do mercado com caixas térmicas para armazenamento.- comentei.— Após isso deveram se deslocar para a capital, após terminar minha parte do plano encontrarei vocês lá.- falei me levantando.

Já eram seis horas da manhã quando Renan aproveitando o pouco movimento de moradores nas ruas saiu com uma viatura da polícia civil, procurando um lugar estratégico para aguardar quando Vicente ligase e disese que estava pronto.

Eu, fiz um rápido reconhecimento em torno do restaurante, estudei também a saída de serviço do restaurante. Se alguém suspeitasse de mim, certamente tentaria sair pela saída de serviço atrás do restaurante mas, era apenas um estudo, estando sozinho não tinha como saber se alguém sairia por ela.

Depois de umas três voltas no quarteirão deixei a vam no outro lado da rua em um estacionamento atrás do restaurante, meu disfarce tinha que ser comunicativo e simples, mas sem erros de fala, teria que convencer primeiramente a mim mesmo que era um jornalista.

— Renan. Peguei tudo o que era preciso. Estou saindo do mercado agora - fala Vicente ao celular com Renan.

A compra de Vicente foi grande, tomou a liberdade de comprar tudo o que continha carne. Além de carne moída crua, Vicente trouxe pastéis, coxinhas, bolinho de carne, uma infinidade de salgados contendo carne vermelha.

Meu disfarce quase foi comprometido, por alguns instantes pensei que tinha fracassado e logo fui recuperando minha confiança e descobrindo que quanto mais tempo ficasse ali mais risco correria, afinal o assassino podia ser qualquer um, dês do proprietário do estacionamento até um dos funcionários.

Fiz um segundo pedido para viagem. Apenas carne moída, não sei se levantei suspeitas mas de qualquer forma o pedido chegou até mim, me possibilitando pagar minha conta e sair dali o quanto antes.

Depois de alguns quilômetros andando pela rodovia pude comer alguma coisa decentemente mas, optei por uma xícara de café com leite e uma fatia de bolo de chocolate em um posto de gasolina a vários quilômetros de Liliance.

Descoberta No Laboratório

— Era para ter chegado a meia hora atrás - reclama Flávia assim que entrei no laboratório.

— Bom te ver também Flávia. Aqui estão suas evidência Florence - falo colocando uma sacola sobra a mesa.— Vejo que Vicente e Renan já chegaram.- observei a caixa térmica sobre outra mesa.

— Chegaram a meia hora atrás. Foram pontuais, diferente de você - crítica Flávia revirando a sacola.

— Parei para tomar café. Estou perdoado pelo atraso?

— Podia ter comido este ovo Irlandês. Que na verdade não sei nem porque trouxe. Não conseguirei nada com ele - fala Flávia abrindo a pequena embalagem de isopor.

— E comer uma evidência! Para você depois me chamar de irresponsável, acho que não. Não foi dessa vez que realizará seu sonho.

— Pelo menos trouxe carne moída pura. Mesmo cozida conseguirei alguma coisa. Sabe! O vapor e a temperatura quebram a molécula do DNA.

— Então não será possível distinguir o DNA?- perguntei.

— Não disse que não conseguiria, vai demorar um pouco mais de tempo até reconstruir o DNA parte a parte, mas obterei algum resultado - explica Flávia separando um pouco da carne crua da caixa térmica e levando ao microscópio.— Felizmente wery irá me dar uma visão ampla das fibras musculares dessa carne.- fala Flávia ajustando a lâmina de baixo do microscópio.

Wery era o nome carinhoso que Flávia havia dado a seu microscópio.

Depois de um tempo observando a porção de carne, Flávia volta a mesa e separa outra quantidade de carne, dessa vez mais que a anterior, levando ao espectrômetro de massa.

— O que descobriu no microscópio? Perguntei me curvando para observar.

— Não é carne bovina. - fala Flávia.

— Como sabe?r

— Você fugiu de que aula? Biologia? Química? Ciências? Ou anatomia humana?

— Porque tantas perguntas?- falo ainda olhando no microscópio.

— Pelo menos motivos de me perguntar cada coisa que vou fazer nesse laboratório. E talvez pelo fato de que acho que não chegou a frequentar uma escola.

— Pega leve. Porque quer saber se fugi de algumas dessas aulas?

— Em algum ponto do estudo de cada matéria dessas que citei, estuda o corpo humano.

— E daí!

— E daí, que se tivesse frequentado alguma delas, saberia que a carne humana é semelhante a carne suína.

— Por isso que proibiram o treinamento em autópsia em corpos humanos e passaram utilizar porcos?

— Não é bem assim detetive.- se pronunciou Marcos ao entrar no laboratório com as vestes sujas de sangue.

Desvio minha atenção do microscópio para Marcos.

— Caramba doutor. Esteve fazendo autópsia em um dinossauro?

— Concordo que sou velho detetive mas, discordo que seja pré-histórico. Esse sangue é do cadáver encontrado no parque ontem a noite. Na falta do médico legista titular estou como legista auxiliar. Passei a noite toda fazendo a autópsia dela.

Marcos amava tanto sua profissão que as vezes passará a noite inteira fazendo autópsia em corpos, quando questionado o porquê disso, apenas dizia que fazia isso porque o quanto antes a autópsia fosse finalizada, mais antes o caso podia ser solucionado, e também para que a família pudesse se despedir de seu ente querido o mais breve possível.

— O que descobriu nessa doutor?- pergunta Flávia.

— Já lhe respondo minha querida, antes, como um bom médico legista responderei a pergunta do nosso investigador.

— Que pergunta?- questiono.

Flávia me olha com olhar cínico e cruza os braços.

— Não fomos proibidos de usar corpos de pessoas na faculdade de autópsia - começa Marcos me explicando. Foi quando lembrei do que se tratava.

— Há sim! Prociga doutor, estou curioso para saber.

— Não sei como funciona isso nos Estados Unidos, aqui no Brasil poucas pessoas se opõem a colaborar com o avanço da medicina, temos uma total falta de corpos humanos para que nossos médicos e legistas aprendam o ofício. Isso levou a passarmos a utilizar corpos de porcos que morrem simultaneamente nos confinamentos.- Marcos vai até o microscópio e olha com um dos olhos.— certamente essa carne não é bovina. Como sabemos disso?- Marcos me olha e me lança um sorriso maroto.— Tudo em um corpo suíno é parecido com o nosso, desde fibras musculares até mesmo seus órgãos internos.- Marcos termina de falar e logo um alarme sonoro indicou que o espectrômetro de massa tinha um resultado.

— Vid descobriu alguma coisa.- fala Flávia correndo ao espectrômetro de massa enquanto eu e Marcos ficamos petrificados no mesmo lugar.

— Menos? Joguem fora essa carne crua, ela é de porco- diz Flávia voltando para a caixa térmica.

— Já testou todas as outros pacientes?- pergunta Marcos olhando para dentro da caixa.

— Já sim. Esse era a última amostra, como deu negativo para carne humana, creio que não precisaremos mais dela. - completa Flávia batendo na lateral da caixa com o nó do dedo indicador.

— Podemos descartar o supermercado.- falei indo para a caixa.

— Espera aí detetive - me detém Marcos no meio do caminho.

— Há alguma objeção doutor?

— Na verdade a sim. Essa carne não é humana, isso significa que um humano pode consumir tranquilamente. Não é senhorita Flávia?

Flávia franze os lábios e concorda com um aceno de cabeça.

— Está me dizendo que pretende fazer alguma coisa com ela?- perguntei.

— Estou vendo que também há um pouco de carne para churrasco. Sou gaúcho, podemos fazer um churrasco essa noite, sabe... Apenas para não desperdiçar.

A ideia de Marcos não era ruim, afinal, tinha experimentando um churrasco em uma de minhas visitas a capital gaúcha alguns anos atrás.

— Não posso ir contra as tradições do Brasil meu caro amigo, e já que não viraremos canibais ao come-la, vai enfrente.- falei mostrando a caixa a Marcos.

Enquanto Marcos saia do laboratório carregando a caixa térmica com ele, voltei minha atenção para Flávia que agora separava uma pequena porção de carne moída da qual eu havia trazido.

— Teremos sorte se conseguirmos recuperar o DNA dessa carna.- reclama Flávia levando o que tinha separado ao espectrômetro de massa.

— Não vai levar ao microscópio primeiro?- perguntei.

— De que adianta, as fibras dessa carne já foram demolidas pelo cozimento, seria uma perca de tempo - responde Flávia colocando seu cabelo sobre o ombro.

— E quanto tempo demorará para obter um resultado?

— Entre uma e duas horas. O espectrômetro não é capaz de reconstruir o DNA então dependente das propriedades que ele encontrar farei isso manualmente no computador, por isso demorará um pouco mais.- explica Flávia indo até o computador.

Fiquei parado em silêncio observando Flávia abrir e fechar várias abas de acesso do computador.

— Quer uma foto?- pergunta Flávia sem desviar a atenção do que estava fazendo.

— Foto de que?- retruquei.

— Da minha bunda. Mesmo que tenhamos sido escalados para trabalhar juntos nessa investigação, nada ultrapassará os limites de trabalho.

— Não estava olhando para sua bunda, nem mesmo estou vendo por de baixo desse jaleco branco.

— Pode não estar vendo, mas está imaginando.- diz fazendo uma breve pausa - Vocês homens são todos iguais.

— Tá bom. Vou deixar você trabalhar, me chamar quando chegar em um resultado será sensato.- falo dando as costas e saindo do laboratório.

Para onde iria durante esse tempo? Para o necrotério saber o que Marcos tava fazendo? Talvez fosse melhor procurar Renan e Vicente para uma conversa sobre como poderíamos proceguir com a operação dependendo do resultado que Flávia encontra-se.

Depois que sai do laboratório me dirigi a recepção do IML e lá encontrei então Vicente conversando com um homem de jaleco branco, imaginei que fosse um médico legista. Me aproximei para um comprimento com Vicente, antes que pudesse Vicente me puxa para um lugar reservado da recepção.

— Que foi Vicente? - perguntei assim que saímos de perto de algumas passos. O médico nos acompanha.

— Precisava falar com você. Este é o doutor Bruno, chefe do IML. Doutor este e Eric Chiuto, o detetive a frente da investigação - nós apresenta Vicente.

— Prazer doutor - falo apertando sua mão.

— O prazer é todo meu detetive. Ouvi falar do senhor. Primeiramente detetive, gostaria de saber em que pé está sua investigação.- me questiona Bruno.

— No momento está nos dois, mas estamos em uma corda bamba, temo que nossas amostras não nos levem até o assassino.

— Suas amostras detetive tera um papel fundamental nessa investigação.

— O senhor sabe de algo doutor?- suspeitei assim que Bruno e Vicente se entre olham.

— Sim e não. Ainda não tenho certeza. Veja bem Detetive, estava comentando com Vicente sobre um caso que tivemos no ano de dois mil e vinte e um, no estado do Rio de Janeiro. Um grupo de cinquenta pessoas, esse grupo foi classificado como sendo um grupo terrorista e até o devido momento, achávamos que como todos foram presos o grupo teria sido extinto, ao que parece alguém saiu em pude.

— O que esse grupo tem a ver com a minha investigação doutor? Seja mais explícito.

— Durante um ano a polícia civil e federal bateram cabeça para capturar essas pessoas, só foi possível graças a um pequeno deslize de um dos integrantes, uma impressão digital foi encontrada em uma das vítimas da quele ano. A polícia chegou até Diego Eduardo, um serial kiler de vinte anos de idade que confessou as mortes de cem pessoas no estado do Rio de Janeiro, apartir de Diego, a polícia chegou a outros integrantes do grupo que foram sendo capturados, e mais corpos foram encontrados, a maioria deles praticamente foram desossados, no estado carioca a cidade de Barra Mansa foi o alvo, vários locais da cidade estavam vendendo carne humana por carne de animal comum.

— Espera aí... Como sabe sobre isso doutor? E onde entra o S.I.B nos crimes dessa época?- perguntei ficando preocupado. Se alguma coisa do que Bruno me relatou fizer sentido estávamos em sérios apuros.

— Como sei detetive! Sei por que eu estava lá. Fiz a autópsia dos corpos, ou o que sobrou deles, na época, foram mais de cinquenta vítima, mais da metade dos corpos nunca foram encontrados. Quanto ao C.I.B, na época ainda não existia, mas para prevenir crimes de tráfico de drogas e armas inclusive assassinatos a agência foi criado no mesmo ano voltada para esses propósitos.- explica Bruno.

— Como era o nome desse suposto grupo doutor?- perguntei apanhando minha caderneta.

Renan junta-se a nós e se pronuncia.

— DL- diz Renan antes mesmo de se juntar a nós.

— Bom dia pra você também Renan. Só eu que percebi ou todo mundo está esquisito? E DL. que desgraça é essa?- questiono fazendo uma careta.

— Direito de Liberdade - continua Renan.— Um resumo bem sucinto detetive. Esse grupo, o DL atua no sul, sudoeste e centro oeste do Brasil, dês de mil novecentos e noventa e nove, só não conseguiu expandir seu território graças.- Renan faz uma pausa em quanto cosava o pescoço— Nunca achei que diria isso. Mas foi graças ao PCF que o DL não consegue ganhar mais território, o PCF é o maior rival do DL. Esse grupo é totalmente contra ao que o grupo rival quer implantar.

— E que jossa e PCF? Um formato de arquivo?

— Em bora tenha uma sigla parecida o nome é totalmente diferente - rê começa Renan.- PCF significa Primeiro Comando Federal eles atuam em todos os estados do Brasil, chefiando principalmente a entrada de drogas e armas em território brasileiro, dês do início do ano de dois mil . Sem contar que ocorreram guerras nacionais e internacionais envolvendo os dois grupos.

— Vocês acham que esse grupo que... "Aparentemente".- falo dando ênfase com um sinal de aspas.— estava extinto, deixou uma célula e que agora ela acordou!

— Não achamos. Temos certeza.- fala Renan mostrando me a tela de seu celular.

No aparelho pude assistir um vídeo de trinta segundos em que um homem mascarado de corpo osudo mais alto do que o normal cortava pedaços de carne de um corpo e os colocava sobre uma mesa de madeira, o ambiente ao seu redor era precário, havia corpos ainda intactos amontoados em um canto, e de relance reparei também que havia ossos e vísceras de corpos espalhados por todo o chão.

Quem gravou o vídeo queria que todos soubessem o procedimento.

— Meu baralho sem o valete!- falei ao final do vídeo - Que merda é essa?

— Parece uma cena de um filme detetive. Mas acredite, nem mesmo Hollywood ou qualquer agência de cinema conseguiria produzir um desses.

— Como isso chegou a suas mãos? E quando foi gravado?- questiono tentando encontrar uma sequência de pontos.

— Ainda não sabemos. O YouTube apenas enviou uma nota anexada ao vídeo ao departamento de polícia civil brasileira, antes de ser deletado da plataforma, dizendo que o vídeo foi postado durante a madrugada de hoje. O vídeo foi excluído das redes sociais a alguns minutos.

— Venham comigo. Inclusive o senhor doutor Bruno. Sei de um certo alguém que pode descobrir - falei voltando para o corredor do IML rumo ao laboratório de Flávia.— A propósito. Alguém sabe me dizer porque o YouTube já não rastreou o vídeo?- perguntei enquanto andava.

— O YouTube se recusou a reestrear.- rebateu Renan.

— Consigo um mandado em cinco minutos.- disse olhando para o relógio.

— Não vai adiantar, para rastrear a origem o YouTube precisa violar ou hackear qualquer conta em uso dentro da plataforma. Isso seria arranjar confusão com Youtubers grandes e famoso, e não são um ou dois, são milhares deles. Será difícil que um juiz acate o pedido.- diz Renan andando a passos largos para me acompanhar pelo corredor.

— Pessoas matamtam seus semelhante e divulgando em uma rede mundial e a plataforma preocupada com a integridade de seus usuários! Isso que é amor ao próximo - falo entrando no laboratório.— Flávia...! - gritei o mais alto que pode

Flávia estava de costas para a entrada manuseando alguns tubos de ensaio. Com meu grito Flávia faz alguns deles viajarem pelos os ares.

— Vai se ferrar Eric. Quer me mandar dessa pra melhor?- fala Flávia espantada e ofegante.

— Dessa pra melhor ou pra pior. Ninguém sabe.- falei jogando o celular para Flávia. Que ela o pega.

— Você tem sorte desses tubos serem de plastico e estarem vazios. Se não a próxima autópsia seria a sua- fala entredentes.

— Isso foi uma ameaça?- perguntei colocando os braços para trás e dando um passo a frente para me colocando em sua frente.

— Entenda como quiser.- sugere Flávia olhando pra o celular.— O que significa isso?- pergunta olhando pra o celular.

— Nesse celular tem um vídeo. Quero que descubra de onde veio.- disse apontando para o celular.

— Que vídeo?- questiona Flávia.

— O que está nesse aparelho.- rebato.

— Não fasso ideia de qual vídeo é e muito menos sei a senha dessa coisa. O respectivo proprietário pode fazer a senha?- pergunta Flávia.

Renan faz a senha e devolve o aparelho a Flávia.

Ao começar a assistir o vídeo Flávia faz uma cara de nojo e da primeira vez quase vomita, devia ter adivinhado que Flávia não conseguiria assistir ao vídeo inteiro. No decimo segundo, Flávia devolve o aparelho e quase desmaia, mas ao se recuperar, Flávia corre para o banheiro tapando a boca para evitar um acidente em meio a seu laboratório. Flávia deve ter vomitado o que havia comido no natal passado.

— Você está bem Flávia?- perguntei cordialmente assim que voltou do banheiro.

— Porque me mostrou isso? A pessoa certa para isso seria o doutor Marcos ou você Bruno - reclama Flávia levando uma das mãos ao abdômen.

— Não. Você é a pessoa mais certa, quero que você rastreie a origem dessa merda a quanto antes - falei em tom de ordem.

— O que quer que eu descubra?

— Sei lá Flávia- encolhi os ombros.— A câmera que fez o vídeo. Quando foi. E se puder descobrir a localização será uma boa.- falei.

— Não. Não, isso é praticamente impossível - fala Flávia.

— Praticamente impossível. Isso para mim não é um totalmente impossível.- falei com tom autoridade.

— Qual é Eric. Só para ressaltar, apenas para rastrear a conta que postou esse vídeo imundo, preciso hackear metade dos sistemas de cada plataforma da internet, e hackear é crime, não sei se sabe, e se eu precisar ver esse vídeo novamente vou vomitar o que eu comi no jantar de ação de graças do ano retrasado - fala Flávia indicando com o polegar por cima do ombro.

— Nesse caso a ceia do natal passado já foi. Nesse caso, falta duas para a ação de graças. Você consegue!- falo segurando Flávia pelos ombros, depois voltando para fora do laboratório.

— Você não vai fazer isso comigo Eric. Isso não é coisa que se fasa com uma cientista florence - ouço Flávia reclamar.

— Já fiz. Você tem uma hora e meia no máximo.- gritei do corredor.

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