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Relíquias: O Conto De Aquaria

O sobrevivente

Ela;

...“É sempre assim, é sempre esse mesmo sonho, esse mesmo vislumbre estranho. Quando percebo, me vejo em um lugar, que não sei onde ou que tempo é. Nele, o céu em tons azuis, carmim e outras cores doces, lembram um crepúsculo rosado e fantástico. Diante de mim uma gigantesca lua minguante emergindo sobre as águas em que eu podia ficar de pé, ali não tinha terra, mas apenas uma interminável superfície aquática que cobria até onde os olhos podem ver, de uma extremidade a outra, decorada com uma bruma suave que mal banhavam meus pés desnudos. Aquele lugar era único, sempre vazio, sempre silencioso, mas ao mesmo tempo parecia ter tudo, afinal ali era o único lugar que eu não sentia medo, nem tristeza me fazia chorar, até parecia que aquele era o meu lugar, o meu cantinho, aquilo tudo me anestesiava em sentimentos de paz e alegria. Todavia, de repente enquanto me pegava andando na direção da imensa lua minguante que eu não podia alcançar, apesar de querer alcançá-la, me deparava com uma grande árvore branca com folhas finas e flores lilás que pareciam brilhar delicadamente, logo abaixo dela havia duas crianças que eu não podia ver seus rostos, era tudo muito estranho, mas elas pareciam se divertir juntos, não, acho que não era só isso, pois aqueles dois também tinham uma atmosfera de separação, como se também não pudessem ficar juntos.”...

Ele;

...“É sempre assim, sempre me deparo com eles, parece que não terá fim, sou apenas uma ferramenta, é para isso que sirvo. Matar, matar, matar, destruir tudo à minha volta, essa é minha função, como uma bomba nuclear que destrói tudo onde é lançada, não sei o que fazer e esse é o meu maior medo, minha maior escuridão. As correntes do destino novamente entrelaçam meu corpo sufocando minha garganta, meus pulsos e tornozelos, eu mereço, pois não sou bom, sou um fantoche, uma marionete sem alma....

...Talvez eu nunca consiga nada, porém talvez seja eu que destrua tudo.”...

...“Não! Espera, o que é isso? O que é você? Ah! Entendi. Não importa mais, eu não posso sair daqui, eu não posso te alcançar, não importa o que eu faça, para onde você corre jamais conseguirei alcançar. Nesse lugar de confusão é melhor que eu sofra só.”...

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...Capítulo 1: O Sobrevivente...

Planeta Laniakea 3ª Era Celeste: Período Arcano

Império Vale Elíseos 12º Ciclo de Solus (18h), Palácio Imperial Rosa Branca

Três meses após a invasão no reino de Aquaria

— Dizem por aí, que você é o pior Imperador, um tirano — dizia o menino de olhos lilás como o crepúsculo, sentado sobre o parapeito da grande janela de vidro, do Palácio da Rosa Branca — mas sabe te olhando bem, acho que é tudo o contrário, parece um velho, que tenta manter uma pose de imperador bravo — Ironizou ele ao sentir o homem de cabelos loiros e olhos cinzas se aproximar trajado em túnica turquesa, cor de suas roupas imperiais, que escondia uma armadura leve.

Era fim de tarde naquele lugar chamado Vale Elíseos, a grande estrela que brilhava sobre o dia, também chamada de Solus, já se escondia atrás das montanhas no ocidente, a noite se aproximava e com ela Selena emergia para iluminar a vasta escuridão do véu noturno.

Naquele mundo o tempo era dividido em ciclos, os 12 ciclos de Solus que representava o dia e os 12 ciclos de Selena que representava a noite, cada ciclo era o equivalente a 1 hora, para os minutos era denominados miniciclos, 60 miniciclos no total e os segundos microciclos, 60 microciclos.

O garoto sentado no parapeito da janela se tratava de um príncipe refugiado, do reino de Aquaria, ou seja, era um dos poucos sereianos sobreviventes daquele dia considerado histórico em todo aquele continente. Os seus trajes bem como de costume da sua origem, eram leves, característicos da sua terra natal. As cores carregavam consigo tons lilás numa blusa sem mangas, que mostrava todo o peitoral, porém baseado nos costumes do império ele usava uma roupa por baixo evitando mostrar muito o seu corpo, além disso, ele trajava uma espécie de calças negra, na sua cintura havia um cinto de couro do cervo celeste que prendia o grande lenço que o garoto usava como uma espécie de saiote, para finalizar, como bota ele usou partes de uma armadura, algo que era do seu próprio feitio. O que também intrigava naquele príncipe era sua pele escamosa, porém macia, que brilhava a luz de Selene em tons, turquesa e lilás, azul e amarelo a medida que se movia em relação aos olhos de terceiro, nos seus olhos na parte da estrutura que se encontra a esclerótica, o tom natural branco nos humanos, se mesclava ao tom pouco lilás, cor que também integrava a sua pupila que lembrava uma noite estrelada.

O homem que se aproximava era o Imperador Branco Chrono que esboçava ímpeto em seu olhar, mas que era carinhoso com os seus e respeitável entre seus súditos e aliados. Trajado em sua túnica turquesa adornada em ouro e outras jóias o homem se aproximava calmamente até o local onde estava o menino que tratava como um filho.

O garoto o por sua vez virou seus olhos nele e pôde melhor ver cada detalhe da vestimenta imperial que considerava um abuso chamativo, porém ainda assim belo de certa forma, uma vez que a roupa de característica militar que trajava por baixo vinha dos tecidos da região do clã Maré, povo que fazia parte de Aquaria, uma espécie de uniforme militar com detalhes dourado feito de pele de leão estelar, cujo o couro era tão resistente quanto o aço, detalhado com jóias e ouro, além do tecido preto, criado a partir dos fios da mariposa tecelã encontrada nas altas florestas dos elfos negros, um tecido que era bastante eficaz em contra ataques mágicos.

Ambos eram nobreza, ambos tinham títulos e autoridades absoluta sobre seus povos, mas aquele era momento em que eles deixavam tudo isso de lado, para desfrutar apenas de uma conversa normal.

— Do que precisa? Sensação dos reinos. — Questionou o menino com um sorriso provocativo.

O homem riu e se aproximou ainda mais ao escutar a voz do menino ecoar em sua mente, em seguida parou diante dele e mirou seus olhos cinzentos analisando-o.

O nome daquele jovem príncipe era William Oceanus sucessor sobrevivente do trono de Aquaria, porém, apesar de sua posição ele não tinha uma aparência muito forte, afinal sua aparência era bem calma, delicada e pacifista nada mais desagradável a um sucessor real, além disso o garoto tinha um corpo magro, porém definido, pois como príncipe era necessário ter domínio da espada e das artes marciais e para sua idade um controle considerável de suas Habilidades Arcanas, mas isso exigia um corpo bem mais saudável, era o que William não tinha muito, seus olhos quase roxos em tom lilás claro era uma curiosidade à parte, além disso seu rosto fino lembrava mais um rosto feminino que somados ao seu longo cabelo preto cujo um coque atado a uma fita vermelha que dividia em um rabo de cavalo duplo, tornava essa sensação feminina a primeira vista, bem mais real que o esperado. O príncipe herdeiro de Aquaria era definição perfeita de homem "belo" para alguém amante da delicadeza. Todavia, a única coisa que desfavorecia o menino era o fato de que William havia nascido sem voz e como tal a única forma de comunicação saudável que encontrou desde sua infância foi a telepatia para se comunicar, mas até essa "solução" carregava suas falhas.

— Você tem um pensamento bem afiado para quem é mudo — Retrucou o homem assentando-se na frente do garoto que mirou seus olhos roxos no homem — Em três meses que mora aqui todos os fins de tarde te vejo aqui William Oceanus, por quê?

A janela na qual estavam era uma das maiores do palácio, em diâmetro, mas também com relação ao solo a mais distante, uma pessoa normal cair dali era morte certa, contudo, uma das principais característica de William era desafiar o perigo não porque queria algo desastroso, mas em sua nação, se provar, era um dos maiores segredos para se tornar um "homem ou uma mulher forte".

— Bom, aqui é a área mais calma do palácio, poucos ficam aqui, além disso gosto de ver a cidade calma no fim da tarde, todos se recolhendo e tudo mais — respondeu ele ao homem que ainda não havia parado para observar esses detalhes.

O homem olhou e percebeu que os últimos raios de Solus banhava delicadamente o teto das casas mais ao longe na cidade que cercava o palácio, no jardim e no grande xafariz adornado de flores de rosa branca mais a frente que marcava a entrada do palácio e se encantou.

— Verdade. Nunca me dei conta disso. O império vive em guerras, mas o povo pouco sabe o que realmente é uma guerra, afinal é o meu dever protegê-los de tudo e todos. Você disse antes que eu era o pior Imperador, por quê? — Ele tornou seus olhos ao menino.

O menino olhou para ele com um rosto que claramente esboçava decepção, contudo, o menino não o culpava mais e já que não podia usar a boca para poder falar então expressava seus sentimentos melhor do que ninguém através de cada olhar ou gestos, tornando-se uma pessoa bem transparente com seus sentimentos.

— Essa nação é o centro do continente e como tal carrega suas dificuldades. Claro, há tantos problemas que é fácil esquecer de seus aliados vizinhos. Não estou julgando você e suas tropas, mas não estiveram lá quando os monstros entraram e devastaram minha cidade, meu reino — por um minuto a cena dos vários que morreram diante de seus olhos tornou, porém ele buscava reprimir o ódio e a tristeza que sentia das criaturas que destruíram sua casa e sua família — Enfim, como eu disse, não é culpa sua, talvez seu exército não teriam tempo suficiente para nos alcançar, afinal Aquaria é a aliada mais distante do império, localizada na costa marinha. Naquele dia tudo foi repentino, mesmo Aquaria se surpreendeu com a força de ataque, magos, feras, demonoides, dragões entre outros tão poderosos que surgiram durante aquela madrugada que se estendeu por mais cinco dias de resistência de nosso poderoso exército, muitos conseguiram escapar apenas com a roupa do corpo, outras da nobreza mais privilegiados conseguiram levar seus tesouros, mas o que isso importa? Milhares de milhares morreram, não deu tempo para absolutamente quase nada, mas enfim não podemos mais reclamar, não há mais nada que fazer pelos que se foram — ele mirou seus olhos no céu.

Seguindo os passos do menino, o homem também olhou para o céu, em tons anil e púrpura. Naquele momento o Imperador refletia sobre tudo o que poderia ter feito para ajudar Aquaria, sobre como poderia ter salvado a vida de muitos, algo que não conseguiu. Por mais difícil que fosse relembrar tudo isso, algo era certo ninguém estava preparado para aquele dia, ninguém esperava aquilo, ninguém esperava algo tão direto e poderoso.

— Entendo, Carrasco seria um bom nome para mim, já que todos os habitantes vizinhos me vêem assim — ele suspirou — É verdade que erramos naquele dias ou melhor pra quem estou tentando mentir? Temos errado todo esse tempo. Temos cuidado mais do nosso próprio país, afinal de fato aliados não fazem parte do império, essa é a lógica, mas sei que isso não é desculpa, pelo contrário esse é o nosso maior erro, nossos aliados também são tão importantes quanto.

O garoto então levantou-se do lugar onde estava, afinal não gostava muito daquele tipo de assunto, principalmente no tocante a sua família, e de pé deu sua última olhada para o Solus que se escondia nas Montanhas da Solidão logo mais ao ocidente.

— Sabe imperador, quando o Solus se põe no ocidente é porque ele está nascendo em outro lugar, oferecendo para aquele que o verá em alguns instantes, a oportunidade de iniciar um novo dia ou seja uma nova vida, um novo começo, pelo menos era isso que dizia minha mãe antes de ser assassinada — falava ele através de seus pensamentos com o rei que buscava entender o seu raciocínio — talvez você tenha sido essa minha oportunidade de recomeçar, não tenho porque desprezar ou odiar a quem me estendeu a mão.

O menino então virou suas costas, mas seu rosto esboçava um sorriso que poucos tinham a oportunidade de ver, mas que o imperador pode ver com toda clareza e se alegrou em seu peito.

— William! — Bradou o imperador.

O garoto parou e mirou seus olhos no homem.

— Diga — disse ele.

— Apesar de tudo, acho que não fiz uma má escolha em te salvar, sei que posso ser como um pai pra você e Jade como uma mãe, sei que não podemos substituir nossos amigos, mas devemos isso a eles. Outra coisa, não escute o preconceito que outros tem por você no palácio, por sua falta de voz ou por razão a sua raça, nosso povo é muito ignorante e não está acostumado com um príncipe de um reino independente em nossas terras e usarão qualquer coisa para te desmotivar ou quem sabe criar situações desagradáveis que podem denegrir sua imagem, mas eu sou o Imperador e estarei ao seu lado — disse o homem de quase meia idade.

Diferente do povo da capital imperial da qual habitava humanos, Elfos da Floresta superiores, Dríades entre outros herdeiros genéticos de seres superiores que integrava o império, William e seu povo carregava no seu DNA a herança sereiana, elfos negros superiores e homens-feras, raças consideradas pela maioria dos humanos como raças profanas, comparando até mesmo aos demonoides, ogros e orcs, obviamente que isso não passava de inveja, uma inveja alimentada por séculos entre as gerações, o que para William eram sentimentos vãos, e como tal em resposta o garoto apenas mostrou para o imperador um sorriso como se não se importasse com isso, apesar de que gargalhava por dentro.

— Ah, então era isso. Nunca me importei com opiniões desnecessárias e preconceito, não será agora que isso fará diferença. Não ter voz e ser sereiano é uma dádiva para mim e ser príncipe herdeiro é apenas uma circunstância que não pude evitar — respondeu ele saindo da presença do imperador.

William tinha uma deficiência na voz. Assim, que ele nasceu foi incapaz de produzir qualquer som que viesse das suas cordas vocais, a situação era tão grave que até parecia não ter cordas vocais na sua garganta, claro que não era esse o caso. Não se sabia ao certo, mas para o povo do império, acreditava-se que a razão para tudo isso era a sua habilidade Arcana que o impedia de falar, algo como um sacrifício, porém em troca era-lhe oferecida a oportunidade de usar da telepatia para se comunicar, contudo, somente alguns poucos eram escolhidos pelo seu poder para escutá-lo, isso ficou claro logo nos seus primeiros anos de vida quando a sua mãe ao lado do conselho científico de Aquaria o examinava, segundo o que sabia o império, claro em algumas partes estavam certos e em outras, enganados, porém William ainda não revelaria isso. Embora ainda não estivesse certo, a razão pela qual somente algumas pessoas podiam escutar a sua voz, era que a mesma só era revelada a pessoas de extrema confiança, cuja, habilidades eram marcantes e acima disso tudo, criaturas de espírito justo e puro. Por tanto, como em Aquaria, no palácio da Rosa Branca somente alguns podiam escutar a voz do rapaz, até onde se sabia o imperador e mais 19 pessoas podiam escutar e entender o refugiado do reino vizinho.

Cidade Imperial de Vale Elíseos - Cidade da Rosa Branca - 5º Ciclo de Selene 23h

— Acho que está na hora de você dormir — disse a menina de cabelos prateados como o brilho do luar, olhos em um tom vermelho que lembrava sangue e expressão intimidadora que até parecia alguém maquiavélico, que surgia na penumbra, trajada em um vestido negro no canto do quarto imperial do menino.

— E você? Até onde sei é uma princesa, o que faz no quarto de um refugiado HOMEM? Está aqui me vigiando ou será… — brincou ele, sexualizando a situação.

William novamente estava no parapeito da janela, mas desta vez de seu quarto no palácio Imperial, como costumava fazer desde que chegou ali admirando o brilho de Selena e a calmaria da cidade, como antes em sua terra natal, a diferença era que em Aquaria a visão também permitia ver o mar.

Trajado em roupas brancas com detalhes azuis bem leves, carregando as características de Aquaria como sempre fazia, estava quase pronto para pegar no sono.

— Você é engraçado, sabia? Para um menino da sua idade — replicou ela o alfinetando enquanto se aproximava dele, que se assentava no parapeito da janela.

— Tentando manchar minha masculinidade? Sério? Por que pensa isso Ingrid? — Questionou ele com um sorriso no rosto.

A menina parou e fechou a cara com aqueles olhos vermelhos e expressão fechada com certeza com uma faca na mão seria aterrorizante.

— Não me chame de Ingrid. Esse não é meu nome — sentou-se ela ao lado dele com o rosto corado.

Ele riu.

— Ah! É verdade, Nêmesis Chrono, esse é o seu nome. Desculpa, mas honestamente acho bem estranho. Você se parece mais com Ingrid fica mais fácil e bonito em você, mas você não gosta do nome — relatou ele vendo o rosto corado da menina.

Depois de três meses intensos de convivência William e Nemesis sempre trocavam farpas, misturado com flertes, um coquetel estranho de romance e "ódio" pairava sobre eles.

Completamente relaxada ao lado do garoto como sempre se sentia, ela mirou seus olhos escarlate no teto bem desenhado do quarto do menino, e ali pensou sobre aquele nome que desde algum tempo o menino usava para zombar de seu rosto.

— Ingrid. Esse é um nome vindo de seu mundo? — Questionou ela fugindo do assunto.

Ele esboçou um sorriso meio preocupado imaginando que ela já havia visto demais sobre ele.

— Sim, Ingrid, é um nome vindo do mundo que vivi em minha vida anterior, mas Nêmesis também faz parte de lá, significa algo que não gosto de comentar. Pelo menos, esse foi o significado que os homens e mulheres daquele mundo criaram, por outro lado, ele não é um nome que eu daria a alguém que amo, claro, isso que falo é naquele mundo, nesse vejo que não há problemas — lembrava de algumas coisas que viveu — Já sei! Vou te chamar de Flor da Noite, afinal essa também é uma flor que nasce só na região de Aquaria e só desabrocha no período noturno, por sinal ela é o brasão de Mahara, a rosa da meia-noite, claro é só um nome se você for ver ela de longe lembra uma rosa, mas suas pétalas em tons lilás brilham na escuridão da noite, por isso tão bela ela é. Por outro lado, esse vestido preto com detalhes brilhantes já lembra bem a noite escura e estrelada cobrindo seu corpo, os cabelos prateados lembrando o brilho das pétalas além dos olhos vermelhos que lembra o nascer de Selena. Enfim acho que o nome combina. O que acha? — Disse ele de uma forma tão natural que se quer deu importância a garota que se retorcia diante de seus olhos ao escutar o que lhe parecia elogios.

Nemesis escutava os batimentos de seu coração de tão acelerado que este se encontrava, claro não era o mesmo o que o garoto sentia, afinal aquilo era tão natural para ele quanto respirar, mas para uma donzela como também era aquela garota, aquelas palavras eram tão fortes que mexeram em seu corpo mais do que uma espada fincada nela durante uma batalha.

— Você sabe como cortejar alguém. — Ria ela abertamente.

Nêmesis era líder de um poderoso esquadrão formado por jovens, homens e mulheres que serviam ao império. Este esquadrão era composto por 70 membros, a elite da academia Flor Arcana, os melhores dos melhores entre todos os alunos da grande academia. Curiosamente foi seu esquadrão quem chegou primeiro, pois era o mais rápido, mais que os próprios soldados a serviço do imperador. Foi o seu esquadrão que resgatou os poucos sobreviventes que não conseguiram fugir a tempo de Aquaria, a grande cidade beira-mar Província de Corais e também a mais distante cidade aliada ao império.

Cerca de 98 indivíduos, entre elfos, sereianos e homens-fera, foram resgatados entre escombros ou esconderijos nas proximidades fora da cidade principal, uma vez que esse número só aumentou consideravelmente e porque não dizer gravemente? Ao adentrar os domínios da grande cidade. De toda aquela cena de destruição, cerca de 15.398 pessoas foram encontradas com vida entre feridos e pessoas escondidas, além dos mais de 150 mil habitantes homens indefesos, mulheres e crianças que milagrosamente conseguiram fugir logo no início do ataque, graças aos inúmeros sistemas de tuneis subterrâneos em todas as três grandes províncias de Aquaria, Corais, a principal, Maré e Ondas. Durante os procedimentos de resgate 1085 pessoas morreram em razão aos graves ferimentos e infecções geradas pela demora no avanço das tropas do Império. Mesmo depois de 3 meses após o incidente que destruiu totalmente Aquaria 13 pessoas ainda estão em coma, inúmeros estão parcialmente com os movimentos do corpo comprometidos, e os últimos 10 no estágio final de recuperação e os demais, completamente bem.

William foi achado entre os escombros do castelo de Corais praticamente ileso graças às habilidades de seus pais que como último ato deixaram uma espécie de escudo que o fazia dormir, preso em uma espécie de bolha, protegendo o menino de qualquer coisa até que o socorro chegasse. Aqueles dias que Aquaria sofreu um ataque do Império Negro, foram dias sangrentos para ambas as partes, pois como uma das tropas mais poderosas, Aquaria lutou bravamente contra aquele ataque surpresa que durou quase seis dias, com seu poder quase bloqueado tornando-se incapaz de derrubar o violento exército que a cada dia ficava mais e mais poderoso.

— Desculpa, não estava te cortejando — disse ele quebrando o clima com um sorrisinho malvado.

Nemesis olhou pra ele com os olhos ardentes em chama, mas fazer o que? Já fazia 3 meses que ele morava com a família imperial, então já era de se esperar essa aproximação dele e esse “nível” de intimidade, isso sem citar o histórico entre suas famílias.

— Você é muito insensível. Minha vontade é te dar um tapa — desabafou ela, pondo a mão no peito, buscando se acalmar.

Ele riu novamente e se expressou.

— Acho que você é muito sensível, apesar de ser quem é — riu ele dá expressão que o rosto dela fazia — mas enfim o que faz aqui mesmo? Está tarde para alguém como você estar no meu quarto, não acha?

Ela mirou seus olhos nele admirando-se do toque da luz de Selene em sua pele, que brilhava em vários tons à medida que ele se mexia.

— Sua pele brilha na luz de Selene. Não sabia _ ela olhava.

— Sou sereiano Nemesis, isso é normal, nossa pele tem escamas pequeninas, minúsculas para ser exatos e são quase indetectáveis a olho nú, mas a luz de Selene nelas refletem diversos tons luminescentes, aliás como sabe elas não são rígidas como as escamas de um peixe, mas são macias como a pele humana. Enfim, você sabe que não somos como vocês humanos, mas também não espere encontrar uma calda de peixe em mim — ele riu dessa parte — bom pelo menos não no seco.

— Isso é lindo — disse ela bem perto dele.

Ele corou o rosto.

— Tá bom, tá bom, está perto demais e você ainda não me respondeu — disse ele sentindo o peito acelerar.

Nemesis se afastou ao perceber o quão perto estava, e imaginou como falaria para ele afinal era estranho ela estar no quarto dele, apesar de conviverem juntos por três meses, todavia, a resposta já estava engasgada há muito tempo em seu peito, ardente feito uma chama insaciável. Nemesis entrou naquele quarto porque gostaria de falar o que sentia, afinal depois disso não teria muito tempo e talvez nem chances de aproveitar aquela única oportunidade.

— E o que tem eu estar aqui? Se sente incomodado? — Perguntou ela.

Ele mirou seus olhos nela deixando-a nervosa mais do que tudo, afinal para ela uma simples troca de olhar com aquele garoto fazia muita diferença, já que seus olhos eram tão mais expressivos quanto palavras de uma pessoa que podia falar normalmente através de seus lábios.

— Sabe que não posso falar, porém de alguma maneira minha habilidade permite que você entenda, o que há no meu coração e na minha mente mais do que qualquer um aqui, muito mais. Fato é que de todos aqui nessas terras, você é a única pessoa que conhece todos os meus segredos. Não, você não me incomoda Nemesis e não teria nem como. Além do mais por que me incomodaria? Afinal você é… — ele interrompeu essa última parte olhando para o céu estrelado.

Nemesis não entendeu muito bem a última, no fundo sabia que ele queria lhe dizer alguma coisa, mas preferiu não colocar pressão já que aquela reação dele poderia ser considerada algum sinal. A garota de cabelos brancos por sua vez assim como o menino também tinha os seus segredos a respeito dele, contudo diferente dele, ela já não tinha mais tempo e forças para suportar o que guardava a sete chaves de todos, algo que ninguém sabia e que ela buscava dizer só na hora certa, claro parecia que aquela era a hora certa, já que seu tempo para isso estava chegando ao final.

— Quer saber porque estou aqui? — Ela perguntou.

Ele mirou os olhos roxos nela.

— Diga…

— Eu já havia visto você ou melhor eu já havia visto nós dois juntos. Passei minha infância toda pensando em você, vendo você, sonhando com você, mesmo agora esses pensamentos, não, essas visões são tão claras quanto a luz de Selene — revelou ela.

Ele então mirou fixamente seus olhos nela com uma certa vergonha, já que logo ele entendeu que aquilo era uma declaração. William precisava ser ágil.

— Ehh? Entendi! Estranho né? — Disse ele pensando nisso tudo, esboçando para ela um rosto de quem havia visto algo bem estranho ou sinistro naquele momento.

A reação de Nêmesis a resposta dele foi decepcionante uma vez que a garota reuniu todas suas forças para tomar iniciativa, ela esperava da parte do menino mais afeto ou de repente uma entrega ou pelo menos mais afeto mesmo, ela só não entendia que ele fazia isso de propósito.

— Sério!? É só isso que tem para me responder!? — perguntou ela alterada.

Ele pensou que resposta daria.

— Bom, no momento sim. Não é bom que seja refém de sonhos, ainda somos tão jovens, ainda sou tão jovem — respondeu ele tentando provocá-la mais.

Os olhos delas a essa altura realmente esboçava o tom de sangue.

— Isso foi meio grosseiro. E não são sonhos, o que vejo são vislumbres do meu futuro. E vi nós dois juntos de várias maneiras, em diferenciadas situações! Você realmente é grosseiro, sabia? — disse ela, tornando seu rosto para o céu.

Ele mirou seus olhos nela com um sorriso, em seguida caminhou até bem próximo dela, deixando-a constrangida.

— Onde vivi é normal em novelas ou filmes, algo como um teatro para vocês, pessoas que se apaixonam rapidamente, principalmente se assunto é "sonhei com você", mas na vida real isso muitas vezes não dá em nada, é melhor você tomar cuidado para quem você se declara. Não estou sendo grosseiro, mas realista. Então é bom pensar antes de se entregar a alguém, vê quem de fato é essa pessoa, conhecer o seu passado, quem é? O que já fez? Como todos o vêem? e etc. Isso é o básico para uma pessoa inteligente, lembrando que não é grosseria é cuidado e se eu no fim das contas eu não for quem você espera? Você é a princesa daqui seu dever é zelar pelo seu povo acima de tudo — disse ele — talvez aconteça algo, talvez não, mas se acontecer, não é certo esperar o tempo? Digo, mesmo a boa fruta precisa do melhor momento para ser colhida, a flor mais bela precisa do momento certo para ser apreciada. Então, não se apresse tudo vai acontecer no momento certo. Se você me entende, no mínimo deve entender que não é o momento.

Ela baixou a cabeça pensando nas palavras.

— Mas…

Ele se aproximou e colocou a mão na cabeça dela.

— E depois só moro aqui há 3 meses, você no mínimo deveria estar com uma espada na minha garganta durante os 24 ciclos — ele se afastou dela e foi até a cama onde se deitou para dormir — e outra você está pronta, pra me amar? Você sabe a única coisa que quero nesse momento, a cabeça daquele que me tirou minha família. Você está pronta para isso? Sabe, eu sinto algo dentro de mim e é tão ruim, não preciso que sofra com isso também, talvez eu não volte — ele se afastou dela e foi até a cama

Nemesis mirou seus olhos nele imaginando que tipos de pensamentos passavam pela cabeça dele. A única conclusão que chegou foi que ele não queria vê-la sofrer. Então tomada de confiança foi até ele e sentou-se ao lado dele na cama, imaginando, que aquela era a escolha certa.

— Sabe, antes eu duvidava de você. Não acreditava que você era a mesma pessoa que via todas as noites em meus sonhos, você parecia tão fraco quando te encontrei, tão vulnerável e não me refiro a sua condição, mas com tempo fui entender que esta é uma característica sua, não é que você é fraco, você é cuidadoso demais — ela deitou sua cabeça no ombro dele — honestamente, vamos ser sincero um ao outro a partir desta noite. Você sabe que nunca colocarei uma espada em você e depois você precisa entender que querendo ou não sempre estarei ao seu lado e você ao meu, e você sabe disso e não pode negar, eu sei que sente por mim, assim como sabe o que eu sinto por você — ela se deitou sobre a cama dele logo após dizer essas palavras.

Ele mirou os olhos nela e perguntou.

— Sério isso? Vai dormir aqui mesmo? Espero que não me coloque em problemas, se seu pai ou sua mãe souber que está aqui, estou perdido. Já que é assim, então não podemos esperar um pouquinho? Estou tão bem solteiro — Disse ele, mirando os seus olhos nela.

Ela riu de sua atitude.

— Não, não, jamais. Em breve precisará de mim, não deixarei outra ser sua primeira, além disso é só essa noite não terá problema nenhum William. Sei que não fará nada comigo até o momento certo, conheço bem as tradições Aquariana. Fique calmo, ou você tentará alguma coisa? — Disse ela olhando só para ele com rosto único de vergonha.

— Não fale mais nada, vamos dormir. Pela manhã te levo de volta — trêmulo ele deitou-se ao lado dela.

William deitou-se ao seu lado e aproveitando-se da situação Nêmesis colocou a mão sobre o peito dele.

— Mas sabe, gostaria de saber quando contará para meu pai que veio de outro mundo? — Questionou ela do nada.

Ele mirou os olhos no teto, pois essa era uma questão delicada, muito delicada, convencer uma pessoa que ele morreu em outro mundo e renasceu naquele mundo.

— Já lhe disse, eu morri naquele mundo ou seja não vim de outro mundo. Vivi e morri em outro lugar que era completamente diferente deste, em todos os aspectos da palavra, mas tive a oportunidade de reencarnar, renascer aqui ou seja lá o que for, não é como eu estar vivo em lugar e do nada aparecer em outro. Na realidade nunca consegui explicar isso direito, mas tenho essas lembranças do que aconteceu lá, mas não me sinto mais como alguém daquele meio. Por outro lado, apenas meus pais e você sabiam disso. Não sei que tipo de problemas criará quando eu falar isso, então é melhor deixar isso de lado por um tempo, afinal não tenho razões para causar problemas em quem me ofereceu ajuda — respondeu.

— Hum! Entendi. Então não tocarei nesse assunto na frente de ninguém, por outro lado quero que me conte mais de lá e como você era — disse ela.

Ele mirou seus olhos nela e pensou sobre o assunto, afinal uma hora ou outra ele deveria falar daquilo com o Imperador Branco e sua esposa até mesmo era uma forma de se manter como aliado íntimo do império. Naquele momento William decidiu tomar uma atitude.

— Bom, quer saber? Apesar de ainda achar que não terá muita relevância, mas daqui a dois dias faço 17 anos, a idade em que aqui nesta terra, uma pessoa se torna adulto, então eu contarei aos seus pais apenas, afinal ainda tem muita coisa que vocês sequer tem noção e que preciso falar uma hora ou outra. Mas isso fica pra próxima. E já que vai dormir aqui mesmo, boa noite — finalizou ele com sua mente pesada, já que usou bastante de suas habilidades para conversar naquele dia.

— Tudo bem então, praticamente faremos aniversário juntos, estarei presente — finalizou ela levando a mão sobre o rosto dele acariciando — boa noite meu querido, não há dúvidas sobre o que eu sinto por você e o que você sente por mim, não sei como extamente, mas apenas sei.

O dia de Willian havia sido cansativo, treinos, assuntos de seus informantes, assuntos com os anciões sobreviventes de Aquaria entre outras coisas, o fato era que o garoto já havia dormido, baseado no cansaço que sentia, algo que sua habilidade ativava automaticamente após esgotar a sua mente após dias longos, algo que era inevitável e parecia desligar o seu subconsciente para fazer algo como uma manutenção de sua mente e de seus pensamentos. Naquele momento ele não percebia que a menina se abraçava a ele, "degustando” da oportunidade de ficar do ladinho dele durante a noite, algo que claramente ela buscava avançar alguns passos para garantir a sua vida ao lado de William.

Decisões

Império Vale Elíseos, Capital imperial Cidade Branca 1º ciclo de Solus (5h da manhã)

— Já amanheceu? — Acordava calmamente Nemesis ao lado do rapaz que mirava os olhos nela.

— Eh, parece que sim, e vamos levantar porque você passou a noite aqui e com todo respeito, eu sou macho, é melhor sair logo — concordou ele pegando-a pelo colo.

Nemesis assustou-se com a reação do rapaz, pois aquelas atitudes não eram comuns entre "amigos" apenas, tal atitude como aquela era como situações entre casais, mas honestamente, por que imaginar que aquilo só acontecia entre casais? Visto que, ela própria já compartilhou a cama com William na noite anterior.

— W… William, o que é isso? — Questionou ela surpresa com a atitude do rapaz.

Ele expressava um sorriso de canto.

— O quê? Estou indo lhe deixar no seu quarto. E já que você disse que vamos ficar juntos, estou tirando uma casquinha — respondeu ele rindo de suas próprias palavras.

William demonstrava muitos costumes de sua outra vida naquele mundo, apesar de não se importar com aquela vida que viveu. Contudo, suas atitudes deixava todos intrigados principalmente quando ele decidia se expressar propositalmente, já que apesar de tudo, suas lembranças de uma vida anterior eram tão fortes e intensas que talvez ninguém nunca saberia as razões pela qual ele agia assim.

— O que é isso? Você e essa maneira de falar — replicou ela com a mão no rosto pela vergonha que sentia ao ser carregada.

— Obrigado por confiar em mim quando mais ninguém confiou — disse ele à garota — Abra! — após falar isso suas palavras se converteram em ação e algo semelhante a um portal se abriu no quarto do menino.

Nemesis olhou com olhos de desdém para aquela pequena esfera de energia que se formava em algo semelhante a um portão. A verdade era que aquela era uma cópia perfeita ou superior a sua habilidade espacial, caracterizada como classe Ordem Negra, por ser uma classe distinta. Porém, aquilo também era uma surpresa para ela, pois por mais excepcional que fosse ver William usar aqueles poderes aquilo o esgotava muito.

— Assim é fácil — comentou a garota — e ainda pergunta como posso entrar aqui e passar a noite? Da forma que você usa minhas habilidades acho difícil alguém saber que passo as noites aqui.

Ele riu e passou pelo portão que criou.

— Mas não se acostume com isso — replicou ele passando pelo portal que acessava ao quarto da garota — agora se troque. Pelo menos por enquanto finja que não tem vindo aos meus aposentos à noite. Hoje será o dia "daquela" celebração tradicional de seu reino.

Ele a sentou cuidadosamente sobre a cama dela e apesar do nível de intimidade e hormônios a loucura, o garoto de cabelos negros viu o brilho dos olhos da menina sumir ao lembrá-la daquela celebração.

— Mas fique bem, espere por mim. Tenho que admitir que você está certa sobre tudo o que disse ontem, você sabe o que há dentro de mim por você. Então não posso deixar outro homem se aproximar de você — ele pegou delicadamente no queixo dela.

Ela ficou feliz de escutar aquilo em sua mente.

— Assim você me constrange, mas para onde vai? — Disse ela engolindo em seco, pois sabia que não podia impedi-lo em nada, além disso sabia que passaria uma boa parte daquele dia só, enfrentando aqueles problemas.

Ele se afastou dela.

— Não se preocupe, depois esse tempo reuni forças necessária para desafiar aquilo, mas enfim, vou erguer o palácio de Corais novamente — disse ele com muita leveza o que ele faria.

Ela mirou seus olhos aflita com as palavras dele e da maneira como ele falava.

— William está louco, como planeja fazer isso? — Disse ela nervosa.

Ele começou a caminhar de um lado a outro com sorriso de canto.

— Aí... aí… vejo que preciso explicar tudo — ele levou a mão no rosto como um psicopata.

Ela mudou o humor drasticamente quando o viu naquela encenação, sentiu-se ofendida.

— Vou usar a pedra Arcana no centro da praça real como gatilho para refazer o palácio e algumas construções, em seguida vou reivindicar o trono, mas para isso preciso conquistar minha Relíquia na pedra. Aqueles ratos malditos, a única coisa que não destruíram foi a pedra Arcana, aqueles miseráveis até pareciam esperar que eu sobrevivesse — ele cerrou os punhos.

— William, eu sei que você é forte, mas o problema é seu corpo desde aquele dia, acho que ele ficou mais frágil. Pelo que sei, desafiar pedra Arcana exige muita energia Etérea. Lembra daquele dia? — Relatou ela lembrando de uma situação em que passaram nas áreas de campinas do Império. Naquele dia algumas pessoas, entre eles e Roseta, a maga imperial, vislumbraram um fenômeno jamais visto.

— É verdade, mas está tudo bem. Afinal esqueceu que sou um guerreiro também? — Replicou ele.

Ela riu.

— Preferia que não fosse, só para você não ter que passar por isso — revelou ela.

Ele golpeou levemente a cabeça dela.

— Bom, ser dependente de você? Nunca, jamais. Aquaria é um povo guerreiro, como vocês são, esse pedido me ofende. E depois é de nossa casa que estamos falando senhorita ou você quer morar debaixo do céu? — ria ele — mas enfim, vamos, está ficando tarde, preciso me organizar para avisar aos seus pais. Fique firme até eu voltar, invente alguma coisa, ganhe tempo até que eu possa chegar.

Nemesis levantou os olhos vermelhos em sua direção preocupada com sua confiança.

— William fique bem

— Não se preocupe. Vamos. Nos vemos no café da manhã.

Aquelas foram as últimas palavras de William antes de sumir completamente da visão e do quarto da menina.

— Ele se foi…

A habilidade de William não se tratava de levar uma pessoa de um lugar a outro, ou copiar algo alheio, tomando-o para si, o grande poder que ele guardava era muito mais intenso que isso, muito mais complexo que isso, porém aquele poder custava-lhe bastante, só o fato de usá-lo para se comunicar com apenas algumas pessoas capaz ou sensíveis para escutar a sua voz nas suas mentes ao longo do dia, era o suficiente para lhe esgotar. Vale ressaltar que William não se tratava apenas de um mero rapaz que sofreu um trágico acidente e por virtude foi acolhido pelo imperador Branco, não, claro que não, o jovem rapaz era um príncipe de uma nação que praticamente já não existia mais, um rei sem reino, ou melhor, era isso o que todos achavam na sua ignorância, mas para William o povo era o seu reino e aquelas poucas pessoas que sobreviveram aos ataques dos monstros faziam parte dele, ou melhor, era o seu reino, essa era também a razão a qual, Nêmesis o havia escolhido, claro havia outros motivos, mas o que realmente considerava, era o interesse do jovem no seu povo que lhe fazia um consorte real, capaz e que lhe ajudaria de diversas formas.

Por outro lado, William ainda iria aprender que muito mais coisas estavam envolvidas entre ele, aquele reino, Nemesis e sua real história, afinal William não era daquele mundo de uma forma ou de outra, pelo menos em sua vida anterior e isso Nemesis aos poucos iria descobrindo, só não sabia ela que conhecer o mundo daquele garoto lhe traria mais tristeza do qualquer campo de batalha em que já entrou, a garota de cabelos prateados e olhos avermelhados que mais parecia uma vilã de série, saberia que em um mundo de habilidades "mágicas", a ciência, matemática e as probabilidades mesclado ao perigoso poderio bélico fariam toda a diferença.

Palácio da Rosa Branca salão Nobre dedicado a refeições 6h am (2º ciclo solar)

Era manhã e todos os principais nobres do império, generais e suas esposas e maridos, estavam reunidos na grande mesa do Imperador para participar juntos do café matinal algo que o próprio imperador e sua esposa a imperatriz Jade Chrono fixaram marcando o início de algum evento importante da nobreza. Por outro lado aquilo também importava, pois mostrava o poder de um império próspero e pacífico fincado em um único alicerce que segurava e sustentava todo o povo, a família Branca.

— Muito bom dia, jovem William! Dormiu bem? — Questionou o Imperador Branco ao menino que estava assentado na outra ponta da grande mesa de safira que o próprio Imperador Branco havia criado graças a sua habilidade em controlar e criar minerais, uma habilidade rara que tornava os equipamentos do império um dos melhores para as batalhas, plantio e outras necessidades do império.

— Sim senhor, estou bem. Dormi bem, imperador, obrigado — respondeu ele formalmente ao homem, mas só ele sabia como havia dormido.

Nêmesis trajava em um vestido azul profundo e com detalhes pretos adornados com safira e fios de prata que somavam na costura. A garota estava consciente de como foi a noite ao lado de William, então delicadamente virou um pouco de chá na boca enquanto escutava toda a conversa em silêncio, afinal a mesa, só podia falar se fosse solicitada a isso, além disso era bem melhor ficar em silêncio do que falar algo desnecessário naquele momento.

— Hum! Que bom! — disse ele — queremos que se sinta à vontade no palácio é o mínimo que podemos fazer por você — completou.

— Sim senhor e novamente muito obrigado por tudo que faz a mim e ao povo — respondeu o garoto intrigando muitos ao redor da mesa que não sabiam como ele respondia, sem movimentar os lábios.

— Tem recebido os relatórios semanais de nossos agentes, sobre a situação da região no reino de Aquaria? — Questionava o Imperador naturalmente ao garoto enquanto todos escutavam em silêncio absoluto, mas aproveitando os "manjares" sobre a mesa.

— Sim, seus homens têm mantido contato com meus subordinados. Serena líder do clã sereiano Oceanus me mantém informado de tudo. Inclusive quero começar a enviar mais reforços do meu próprio povo, para as áreas de reconstrução da cidade principal. Imagino que isso aliviará ainda mais a sobrecarga sobre seus empregados e por fim as terras são nossas, não é justo deixar o império arcar com todas as despesas. Precisamos retribuir — disse William virando uma xícara de algo que fazia lhe lembrar do café, mas o sabor era bem mais suave, algo que seu paladar nunca se acostumou mesmo sendo uma outra pessoa.

— Entendo. E fico feliz que pense assim jovem príncipe, afinal acima de tudo precisamos ser realistas, isso tudo gera gastos, armas, equipamentos como pás, enxadas entre outros, moradia e alimentação também gasta bastante. Tudo tem um custo, devo admitir, mas são coisas corriqueiras, o que importa é como tratar isso — revelou o homem.

Era uma situação muito curiosa para os empregados e também naquele momento aos privilegiados que podiam sentar na mesa de safira do imperador, durante uma das mais importantes refeições diária. Naquele momento para muitos, era difícil explicar como o Imperador, sua esposa e sua filha se comunicavam tão bem com o garoto que aparentemente nada respondia, pelo menos não com seus lábios que se mantinham parados a cada comentário entre uma conversa e outra, tornando aquilo muito mais estranho quando basicamente som nenhum ecoava pelo salão, claro que nem todos os empregados e membros da nobreza tinham consciência de que ele usava sua mente para se comunicar quando precisasse de algo, naquele mundo usar telepatia era um dom raro e assustador concebido apenas a criaturas além do natural.

— Senhor Imperador Branco se me permite — ele levantou de seu lugar curvando a cabeça em respeito, mas despertando o interesse de todos ali que se sentiram surpresos com aquela reação — gostaria de lhe fazer um pedido, permita-me falar o que quero — disse ele tomando a iniciativa depois de meses.

O imperador colocou sua taça de vidro sobre a mesa esperando o que poderia ser aquela pergunta, afinal estava tudo muito fácil até ali. Três longos meses em que o garoto nada exigiu era um verdadeiro milagre, mas a questão ali era quanto lhe custaria aquela pergunta? Independente da resposta que desse ao pedido do rapaz, aquilo lhe traria benefícios ou malefícios? Não importava, aquele momento chegaria uma hora ou outra e o homem de meia idade preferiu esperar a vontade do rapaz, claro que o pedido de William não era nada de mais, mas um príncipe era um príncipe e determinados pedidos poderiam gerar danos ao império. De uma forma ou de outra, o Imperador precisava ser cuidadoso em sua resposta.

— Como sabe, estou sob sua custódia há 3 meses, ou seja, estou há 3 meses longe de minha terra natal ou pelo menos longe do que sobrou dela. Gostaria de visitá-la novamente no dia de hoje, assumo as responsabilidades dos riscos, mas preciso ver com meus próprios olhos, não apenas por relatórios. Agora meu povo é pouco, mas ainda assim são pouco mais de 150 mil sobreviventes que estão refugiados na cidade imperial Floresta Etérea, morada do povo Driade. Então com todo respeito a vossa excelência gostaria de sua permissão, sei que há soldados seus retirando e limpando tudo o que foi destruído nas outras províncias e vilas próximas, sei que na Província de Corais os trabalhos estão na última fase de limpeza para iniciar a reconstrução, então gostaria de ver como estão os trabalhos. Além disso, com minha força atual ainda hoje retornarei — disse ele praticamente se curvando ao imperador.

O homem olhou para o garoto pensando nas infinitas possibilidades de problemas que seria causado ao jovem ao retornar para sua terra natal, afinal os monstros que atacaram aquele lugar foram expulsos a muito custo depois de dias, pois não se tratavam de uma manada desordenada e perdida que topou de cara com sereianos, seres de outras raças e mestiços, havia alguém por de trás de tudo isso, alguém capaz de domar feras indomáveis e que poderia estar por ali espreitando. Por outro lado o que intrigava o imperador era a questão que se tratava de visitar Aquaria tão rapidamente, que diga-se de passagem, ficava a quilômetros de distância dali, uma viagem de pelo menos uma semana em animais rápidos e sem descanso. William queria reduzi-la em apenas um dia, sendo ida e volta, pelo menos era essa sua proposta. O homem estava preocupado, porém curioso para saber como o menino conseguiria ir até sua terra tão rapidamente.

— William, em primeiro lugar é preciso que tenha em mente que aqui você não é um prisioneiro, para me pedir permissão ou para afirmar que está sob minha custódia. Você pode não perceber, mas já está em uma condição acima de um simples príncipe, você é um herdeiro de sangue real que sobreviveu e só isso já te deixa em uma posição elevada, então erga sua cabeça quando se dirigir a mim, pois estamos em igualdade. Em segundo lugar, quero que saiba que aquelas terras estão sob nossa severa vigília, enquanto também os demais soldados e os sobreviventes voluntários tratam das cidades do reino de Aquaria, pois quem as atacou irá querer reivindicar aquelas terras novamente cedo ou tarde, para ganhar mais terreno e claro o objetivo é a capital imperial. Se não entende, então pense comigo, por mais que não fizessem parte do império como uma de suas cidades, vocês detinham o exército marinho de Vale Elíseos e alguém o destruiu completamente, entende o que digo? Entende o impacto? Não? Me refiro ao Imperador Negro — Suspirou o homem ao falar essas palavras que por sinal fizeram todos parar de se alimentar instantaneamente, para dar atenção ao assunto — Será que deve ir agora mesmo? Pense nisso, 3 meses parecem muita coisa, mas não é. Nesse período espalhei espiões, por todos os lugares, todas as evidências apontam que Nébula está por trás do ataque a Corais. E por fim me explica como fará isso? Ir e voltar ainda hoje? Isso me parece algo impossível — finalizou ele com um semblante bem mais amistoso do que quando começou a falar.

Todos simplesmente pararam o que faziam sob a mesa para dar atenção ao assunto, que começou de forma amistosa e se tornou um assunto tenso, com uma atmosfera pesada, já que se tratava do Império Negro cujo o seu soberano carregava o nome de Nebula A Espada Carmesim, o homem que ao lado de sua esposa deixou de ser homem para ser algo desconhecido por todos e completamente perigoso a todos os reinos e impérios do continente de Eteria o verdadeiro e único inimigo daquele povo.

— Imperador Negro? — Sussurravam todos entre si.

Planejamentos

William sentiu da parte do homem uma certa preocupação com o pedido, pois também sabia os riscos de voltar para casa e se deparar com os assassinos da sua família e do seu povo. Por outro lado, não podia esperar mais e três meses era muita coisa sim, ao contrário do ponto de vista do Imperador Branco. Para o jovem príncipe, quanto mais tempo passava, mais tempo se perdia, pois, reconstruir aquele reino seria uma missão para toda a sua vida, um fardo terrível que jamais gostaria de imaginar ou desejar para alguém.

— Sim senhor, entendo sua preocupação e obrigado por me ver como igual, outro no seu lugar não me veria assim, mesmo com alianças passadas. Contudo, é necessário que eu vá, os sobreviventes merecem respostas, merecem saber que um dia poderemos voltar até nosso lar, mesmo que ele esteja diferente. Senhor, ainda que eu precise reerguer das cinzas o nosso reino, não vou e não posso desistir tão fácil. Eu sei que está preocupado, mas eles me pegaram de surpresa naquele dia, ou melhor nos pegaram de surpresa e nos enfraqueceram, mas dessa vez eu irei pronto para matar ou para morrer — disso ele de uma maneira que mexeu com os três à sua frente.

Jade a Imperatriz mirou os seus olhos no marido, afinal era mãe e filha, e de uma forma ou de outra entendia o que se passava no coração do menino, por isso imaginou ser a melhor pessoa para tratar daquele assunto. Assim a mulher de aparência jovem cabelos brancos e olhos vermelhos aproximou-se do marido e sussurrou algo no seu ouvido para surpresa dos ministros, magos e generais do Imperador, além das suas esposas e maridos, que já estavam intrigados com toda aquela conversa.

Para todos era muito estranho Jade tomar uma atitude, afinal aquela mulher que pouco se expressava diante de todos, parecia apenas uma boneca de exposição, um comentário malicioso que corria aquelas terras, as costas do Imperador.

— William, se me permite. Como pretende ir até o seu reino sozinho? — Questionou a mulher ao menino — Digo, todas as minhas tropas estão naquela região, tentando impedir o avanço dessas terríveis criaturas, como você acha que irá derrotá-los se encontrá-los por lá? Não é aconselhável que vá, pois ainda não entendemos os seus poderes o que fará se perder o controle novamente? — concluiu.

William mirou os olhos na mulher e admirou sua atitude de falar com ele na frente de todos, pois sempre que ela falava eles estavam a sós reunidos.

— Muito bem imperatriz, o que ocorre é que minha habilidade vai muito além do que já mostrei a vocês e acho que já tinha uma noção disso. Sei como usam suas habilidades e de alguma forma consigo refazê-las, não copiá-las, mas conforme a minha vontade deixo-as mais fortes ou mais fracas, foi assim que consegui as habilidades de Movimento Espacial usado por sua filha Nêmesis, a Capitã do Esquadrão Platina, quando a vi usar em seus treinamentos — revelou — Por outro lado não creio que aquilo acontecerá novamente, tenho minhas razões para acreditar que depois de hoje talvez eu tenha mais controle sobre isso, afinal como tem conhecimento, é breve o momento em que me tornarei um adulto e para o povo sereiano isso é muito especial.

Ouvir aquelas palavras era sempre uma surpresa, refazer poderes iria muito além do que eles imaginavam, afinal se ele era capaz disso, então até onde ele poderia alcançar? Que perigos ele poderia trazer? Por outro lado William afirmar que poderia ter controle de seu poder seria um bom negócio, afinal de uma forma ou de outra era amigo do império então poderia ser útil no futuro.

Intrigado, o imperador colocou a mão no queixo ao escutar as palavras do garoto em sua mente. Apesar de ter consciência disso há algum tempo, uma questão lhe subiu na cabeça, e se William pretendesse atacar o império algum dia? Talvez se ele continuasse a aprender mais sobre o império ou melhor sobre questões internas, em algum futuro ele poderia ser a ruína com centenas de pessoas mortas, mas claro isso era apenas um pensamento de um velho que ainda não havia superado os terríveis problemas que enfrentou em suas guerras, perdas e traições, William jamais faria isso pelo amor que tinha por Nêmesis e pelo respeito que seus pais tinham pelo imperador e sua esposa.

— Sim e quero que entenda que só esse fato já te torna uma pessoa ou a pessoa que mais devemos proteger nesse palácio — disse ela fazendo a tensão aumentar entre todos os que estavam a mesa, que por mais que aparentemente muitos não entendessem o que estava sendo falado ali, entendiam que era algo sério — E outra, como pretende lutar? Se alguém aparecer você precisará enfrentá-los, me diga como fará isso? Pode ter todo esse poder, mas seu corpo parece não suportar por alguma razão — Questionou a mulher.

O garoto levou a mão na cabeça com um sorriso no rosto, algo que não fazia muito naquele mundo, se sentir tão normal, mas aquela mulher até parecia sua mãe com tantas questões.

— Concordo, "não posso lutar" por enquanto. Por isso, gostaria de levar comigo um acompanhante — revelou ele, para a alegria de Nemesis que já se ajeitou sobre a cadeira onde estava.

Nemesis sentou-se melhor no seu lugar, pois era certo que por suas habilidades de batalha ela seria escolhida para ir com o garoto, mas claro o dia dela também seria cheio, então logo desanimou imaginando que não seria escolhida.

— Então diga, quem gostaria de levar? — Perguntou a mulher curiosa.

A verdade era que William nem tinha noção ainda de quem levar, pois aquilo nada mais era do que uma desculpa desleixada para sair do palácio. Por outro lado, havia lembrado que ainda não podia voltar ao combate tão cedo, pelo menos era essa uma precaução que ele estava tomando com relação a sua saúde, na qual só ele e a imperatriz tinha conhecimento, mesmo o próprio imperador buscou não saber quais lesões o garoto levava consigo temendo algum vazamento entre os nobres.

William então olhou de um lado a outro enquanto alguns dos nobres e generais miravam seus olhos nele, não achando ninguém de sua confiança o garoto mirou seus olhos em uma empregada concentrada que aguardava a uma certa distância o término da refeição de todos para recolher os objetos.

— Que tal Leona? Descobri há alguns dias que ela maneja muito bem as espadas. Estilo com Sabre, se não me engana a memória — sugeriu ele para a surpresa de todos que podiam escutar sua voz telepática, inclusive Nemesis que apesar das circunstâncias ainda esperava ser chamada.

Todos os que podiam escutar a voz telepática do garoto em suas mentes, ou seja, até onde se sabia, o imperador, sua esposa e filha, de forma sincronizada, torceram o rosto na direção da menina que permanecia em pé a três metros de distância da mesa sem fazer nenhum movimento que pudesse acusá-la. Era uma surpresa para os três, o príncipe sendo, um príncipe, citar uma serva que poucos a conheciam e se quer davam a devida importância, isso era no mínimo curioso.

— Perdão minha ousadia, senhora! Gostaria de lhe falar — interrompeu um general que retorcia seu corpo em energia etérea para poder entrar no assunto que incomodado buscava entender desde que escutou sobre o império negro, algo que para ele considerava importante.

— General Leônidas!? Manifeste seus pensamentos a nós — Questionou a mulher.

— Sim senhora. Foi muito difícil para mim, mas enfim consegui escutar um pouco do que esse garoto disse e imagino que agora em diante conseguirei. E antes de lhe falar, acredito que todos aqui que não conseguem escutar o herdeiro de Aquaria deveriam elevar sua energia etérea e mantê-la em picos de elevação constante, tentar ao menos. Não sei se posso ter certeza no que digo, mas parece que a energia desse menino reage a níveis elevados, algo como picos de energia. É uma hipótese, por essa razão acho importante todos aqui elevar sua energia, para que entendam o teor desta discussão — falou o ruivo barbudo líder das tropas orientais do exército.

A mulher então olhou para o marido, imaginando o quão pouco sabiam aqueles de sua “confiança”, afinal sabiam eles que William era muito mais valioso que a nobreza e os generais juntos e sendo assim isso poderia se tornar um infortúnio nas conexões do império futuramente.

— Sim, general Leônidas e todos os ministros e ministras aqui presentes, generais e líderes. Há dois fatores que permitem a comunicação com o jovem William: o primeiro e o também citado por você, general, é o nível de Energia Etérea que vocês emanam, a família imperial possui por natureza esse fator, já que emanamos constantemente picos elevados de poder de uma forma bem natural, porém há outro fator que torna a comunicação com ele sensível e pra mim o mais importante de todos, a "vontade" de seu poder. Aparentemente essa habilidade parece ter uma consciência própria, pois independente do nível de poder que alguém possa ter, essa habilidade escolhe e decide com quem se comunicar. Entendam que não é ele que decide, mas "algo" como um guia que reconhece e considera confiável para manter uma comunicação segura com o jovem príncipe — revelou a mulher surpreendendo a todos que estavam à mesa.

Os murmúrios então aumentou a mesa, indignação, complexos, egoísmos começaram ser destilados sobre a mesa.

— Senhora Jade está tentando dizer que somente escolhidos por esse poder "consciente" pode ter auxílio dele? Ou que ele tem o poder de jugar o coração de alguém? — Questionou uma mulher de pele negra e cabelos cacheados âmbar.

— Não estou tentando dizer nada, Ministra Dríade, Ava, regente da Floresta Etérea, o poder dele é distinto mesmo para nós e por alguma razão somente quem ele escolhe é capaz de se comunicar. Não sei o que é isso ainda, mas posso afirmar em minhas pesquisas que esse poder não é deste mundo, não é normal — surpreendeu ela com sua suposição.

Todos simplesmente anestesiaram após a declaração da mulher, inclusive William que simplesmente gelou, afinal não tinha certeza, mas era quase certo de que a mulher estava certa, afinal essa também era razão pela qual a mulher temia que o garoto saísse de sua proteção, um poder desconhecido e com aparente vontade própria era um verdadeiro perigo.

— Perdão, perdão, mas está ficando tarde, vamos tratar disso depois. Estávamos em um outro assunto — disse William cortando o assunto — o que tinha a dizer senhor Leônidas?

O homem ainda estava assustado com o som da voz do garoto em sua mente.

— Sim, tudo bem. Vamos voltar ao assunto. Segundo o que a imperatriz disse, você não pode se defender, não por enquanto ao menos. Então, por que escolher uma pessoa que foi feita serva? Serviçais que estão sob custódia em nosso país, estão sob clemência do Império e devem deixar suas origens para trás, incluindo tudo o que aprenderam e praticaram a fim de obedecer apenas o que lhe é mandado. Não é digno de nós nos misturarmos com eles. Veja bem, um servo sem habilidade militar por si só já pode ser considerado traiçoeiro, quando seu mestre está distraído, o que dirá alguém como essa jovem que possui treinamento militar, o que garante que ela não irá te machucar? — Disse o homem testando o menino.

William mirou os olhos fixos nele e não sabia se sentia raiva ou pena daquele homem, no fim preferiu ser imparcial.

— Bom, o que posso dizer? Reconheço as habilidades em uma pessoa não importa de onde venha isso. Imagino o quão terrível deve ter sido para ela perder sua nação, vivi isso e continuo vivendo, porém é uma coisa que é inevitável no mundo em que vivemos. Imagino que em tudo temos uma segunda chance, tanto para quem destruiu, como para quem foi destruído. É uma ideia altruísta, mas não inocente, traições, são traições e tem suas verdadeiras consequências. Ela está pagando pelas ações de seu senhor, não sei o que se passa na cabeça dela, se irá trair o imperador algum dia ou se irá preferir recomeçar, não importa, uma coisa é certa, tudo foi tirado dela assim como tiraram de mim, e a única lógica que tenho em mente é que vou recomeçar e lutar para destruir quem me destruiu como eu disse todos estão a mercê de uma segunda chance, mas não insetos de seus atos, mas claro esses são apenas meus pensamentos. Por fim, como a senhora Jade disse, meus poderes reagem a todos os que são poderosos, porém somente em que posso confiar. Você não deve ser uma má pessoa general das tropas do oriente, Leônidas. Afinal de contas, seu desejo foi respondido por minha habilidade — ele virou o rosto para a jovem mulher que estava em seu lugar parada — Assim como você, não é mesmo Leona!? Você dentre todos os servos é a pessoa que melhor pode me escutar e não adianta negar, conheço o coração das pessoas — Essa última parte ressoou na mente da menina, como se alguém pudesse entrar em seu subconsciente possuindo-a.

Leona naquele castelo simplesmente não passava de um fantasma, sua presença ali era como de qualquer outro servo, apagada e descartável. Contudo, o que poucos sabiam era que ela já foi alguém, alguém que lutou pelo seu reino, alguém que teve seu reino tomado por Vale Elísios um dia. Hoje desprezada por muitos e sem objetivos a jovem mulher pela misericórdia do império, trabalha há 2 anos ao seu novo senhor como uma simples serviçal, garantindo sua vida e o seu pão de cada dia sem muitas expectativas.

— Ah é verdade, também vi outro dia que ela usa arco e lança. Nunca vi alguém tão interessado em luta quanto essa menina. Ela é quase uma Mestre em Armas — riu ele.

Todos ficaram surpresos com o menino.

— Então esses são seus motivos? — Questionou Jade.

— Sim. Não veria outros — respondeu ele.

Naquele dia Leona mirava seus olhos de coloração roxa naquela mesa, afinal mais do qualquer outro dia que parava para escutar os assuntos triviais entre aquelas pessoas durante seu turno, aquele momento era o momento no qual seu nome era citado várias vezes, ainda mais que, aquele que tocava em seu nome era o herdeiro do trono de Aquaria que falava como se estivesse dentro de sua cabeça algo ainda muito novo para ela, e que fingia não perceber desde a chegada do garoto.

Naqueles instantes sua audição aguçada e diversos sentidos apurados lhe permitia entender tudo e que tipo de conversa se passava naquela mesa, o problema era que o assunto em questão, era exatamente sua pessoa e diferente do que William imaginava da aparente e forte expressividade que o rosto dela esboçava, a jovem mulher naquele momento tremia e suava por dentro, e a timidez corrompia sua alma, afinal não lembrava mais da sensação de ser reconhecida por alguém, além disso aquilo que escutou do próprio William para os demais a mesa lhe bastava, pois já havia melhorado muito o seu dia na verdade dali em diante nada do que ocorresse iria lhe incomodar mais, pois se sentia reconhecida e necessária para alguém.

— Menina venha aqui! — Declarou o Imperador para o susto da menina que não esperava.

— Sim senhor meu soberano — respondeu ela timidamente dando passos curtos como quem temia algo perigoso.

Dentre todos ali um belo homem de cabelos loiros e aparência delicada se incomodava com ela.

— Ande mais rápido serva! — Berrou um ministro de cabelos dourados feito os raios solares e olhos azuis feito as águas de um oceano calmo, cujo rosto jovem e feminino incomodava as mais belas mulheres do reino — Ou será que não escutou a voz de seu soberano?

Todos se assustaram com a atitude do ministro e regente da cidade élfica conhecido por "Solus a Flor Dourada'' senhor subordinado ao império da Província de Vale Tyrand, que usava uma túnica dourada com fios de ouro e joias de rubins e diamantes rosados, cujo o adorno era uma um espada semi-curva feita de mithril e runas presa a um cinturão feito de couro azul de cervo celeste, tudo de forma extravagante deixando bem claro sua posição.

William que estava distraído vendo a menina se aproximar trêmula como quem esperava ser maltratada ou algo assim, assustou-se com o grito desnecessário do homem que praticamente estava ao seu lado.

Todos no palácio sabiam que os servos eram repudiados, mas poucos sabiam que Solus era um dos principais nobres que simplesmente massacrava os servos e servas do palácio da Rosa Branca, algo que tinha um claro prazer de deixar claro para todos, uma vez que de todos os ministros e regentes provinciais do Império ele era o que mais permanecia no palácio, porém o fato era que o imperador não tolerava esse tipo de assunto, e se exaltar ali, foi como algo semelhante a meter um soco na ponta de uma faca.

Embora sua atitude ali tenha sido um infortúnio para ele próprio, aquela atitude também representava o primeiro passo para saber mais sobre o que ocorria nos quartos e corredores do Palácio e da cidade.

— Sim senhor, regente Solus — disse ela caminhando mais rápido.

William mirou seus olhos na menina que tremia a cada passo que dava, em seguida mirou seus olhos no homem que por alguma razão ficou de pé parecendo até o próprio Imperador.

— Muito bem, você só está aqui para obedecer — disse ele com um sorriso maléfico estampado.

— Sim senhor, perdão senhor, não se repetirá senhor — dizia ela chegando bem próximo a mesa para escutar o Imperador.

William ficou em silêncio preso em seus pensamentos, afinal sentia raiva dentro de si. Contudo, ele era lógico, entrar em uma situação interna do palácio poderia lhe gerar problemas irreparáveis, a melhor decisão seria esperar a partir dali mais das atitudes do ministro para que cedo ou tarde tivesse argumentos suficientes e necessário para lhe causar algum problema e tirar dele aquela autoridade.

— Sente-se Solus! Você não tem permissão para alterar sua voz aqui. Nas salas do Imperador, só é permitido falar com autorização imperial e isso você e ninguém aqui tem. Somente o príncipe herdeiro de Aquaria que está na minha mesma condição e pode falar quando desejar e falar o que quiser falar! — Disse o homem irritado com o comportamento do ministro.

O homem de aparência angélica sentou-se rapidamente em seu lugar de uma maneira que mesmo com raiva, William riu por dentro, afinal a futilidade daquele homem era tão clara quanto a luz de Solus, estrela daquele mundo, que entrava pelas grandes janelas de cristal do edifício.

— Perdão imperador, não era meu desejo afrontar a vossa senhoria — disse o homem sentando-se em seu lugar, insistindo em falar.

— Mais uma vez repito a todos. Ninguém aqui é obrigado a dar atenção aos serviçais. Contudo, entendam que eles já sofreram bastante com o erro que cometeram no passado, não há mais necessidade desse tipo de coisa — declarou o homem que de pé estava diante de todos a mesa mostrava sua misericórdia e soberania — Imperatriz Jade pode tomar de volta o seu lugar, daqui em diante resolvo essa questão.

A mulher então curvou a cabeça em silêncio reverenciando o Imperador Branco algo que só fazia ali mesmo, pois em sua intimidade com o homem, a postura era outra, muito mais informal do que muitos acreditavam que ela fosse.

— Minha jovem se aproxime mais — convidou ele em um gesto com a mão.

A menina se aproximou ainda mais do homem, enquanto a esposa dele sentava-se para escutar o decreto do Imperador.

— Sim senhor

— Muito bem, vamos ao assunto. Se não me engano você é Leona filha de Sanatiel Sonata antigo general das terras do Rei Mareus, se não me falha a memória, você mora nas limitações do palácio imperial, lugar onde só os serviçais ficam. — ele fez essas primeiras observações afim de que William aprendesse um pouco melhor sobre sua futura serva — Bom, há dois anos demos abrigos a todos que se renderam naquele dia de infortúnio, poupamos a vida de cada um que decidiu baixar a espada, afinal a destruição daquele reino se deu por culpa de seu antigo senhor, o próprio Rei Mareus que simplesmente nos traiu e destruiu as tropas do meu exército no ocidente, um golpe terrível que gerou danos irreparáveis para a economia e proteção do império. Creio que não preciso citar detalhes do que ocorreu naqueles dias, Leona Sonata, filha de Sanatiel Sonata. O que me leva a questão atual, como você pode ter sido escolha de alguém que representa a realeza? Você tentou algo? Você seduziu o príncipe de alguma forma? — Testou ele a menina que certamente não saberia qual resposta teria.

William tremeu ao observar o olhar de Nemesis que agora literalmente parecia uma vilã enquanto bebia uma taça com seus olhos tingindo o vermelho sangue expressivamente ao observá-lo.

— Perdão, meu senhor, mas se me permite eu jamais faria isso. Pouco contato tenho com o jovem príncipe, talvez uma vez ou outra quando nos cruzamos pelo corredor, mas não houve nada — dizia ela fazendo seu próprio coração acelerar — por outro lado não escutei muito do assunto que tratavam, as poucas coisas que escutei foi relacionado às terras do império negro e meu nome, por tanto não sei o que responder, não sei porque meu nome foi citado — respondeu ela sem erguer a cabeça — Perdão, eu não sei de nada.

Todos miravam seus olhos na jovem mulher, olhos dos mais variados gêneros, dos mais diferentes significados. De um lado pessoas que odiavam o fato de uma troca de palavra entre o imperador e um servo, de outro estavam os que odiavam o privilégio que a serva tinha ao ser convidado à mesa, um sentimento compartilhado principalmente pelos demais servos ali dentro.

— Entendi, vamos fazer um teste — levantou-se o homem de seu lugar para a surpresa de todos – Príncipe herdeiro de Aquaria, meu aliado, venha até aqui! — Disse o homem em tom forte.

William saiu de seu lugar revelando ali a todos suas vestes reais baseado nos costumes de sua terra natal, Aquaria, uma herança que guardará para que as próximas gerações lembrem-se de como era sua cultura. As vestes reais de William era uma blusa sem mangas lilás de tecido leve, algo como uma regata, bordada com fios caros de ouro nas extremidades da gola e das mangas cavadas, também havia uma espécie de blusa manga longa e gola alta preta, respeitando os costumes do Império que buscavam esconder mais o corpo de seus homens, suas vestes reais também tinha como parte inferior uma calça preta cuja a área que compreendia as coxas era folgada, porém a parte que compreendia os joelhos até as pontas dos pés eram protegidas com partes de sua armadura cujo a material era mithril um metal poderoso, que nas armaduras de Aquaria tinham cores semelhante a pérolas, uma visão linda e preciosa de um instrumento bélico que tilintava como sino a cada passo, ainda havia preso a sua cintura seu cinto de couro fino feito de cervos celestes, animais noturnos que apareciam nas pradarias, planícies e montanhas, em tons preto e azul, cujo o adorno preso era uma espécie de cinto secundário de prata com símbolo de hibiscos, que o sustentava. Por fim, adornos como três lenços de tecido fino semelhante a seda, porém mais rico, macio e leve em cor dourada, representando as riquezas de Aquaria, um lenço violeta, representando a força Arcana do reino e o ciano, que se tratava do mais característico o oceano e mar que banha a costa de Aquaria, todos na lateral direita e quatro penas de bronze polido refinado na esquerda, algo que mais pareciam facas penduradas enquanto caminhava.

As roupas do povo de Aquaria eram as mais ricas, contudo as mais simplistas uma vez que aquele povo habitava as extremidades do continente, a beira-mar ou seja era natural para eles deixar visível partes de seus corpos. Embora muitos dos outros reinos beira-mar não adotassem esses costumes do uso de roupas mais leves, o povo do império que não estava perto do oceano tentava aprender com essa novidade e depois Aquaria fazia questão de manter esse costume vivo, afinal vestir algo leve próximo ao mar dava a pessoa uma melhor sensação de liberdade. Aquaria era nada mais, nada menos que o reino independente mais impressionante do Anel dos 7 Reinos, claro que suas extravagâncias seriam fortes.

— Sim Imperador — colocou-se o rapaz ao lado dela para a surpresa dela que não esperava a realeza se portar tão calmamente ao seu lado.

— Leona Sonata farei um teste simples, bem simples. Veja bem, se você for capaz de responder ao pedido do herdeiro de Aquaria você passará. Simples assim — respondeu ele incomodando a todos os seus ministros e generais que consideraram uma atitude imatura e nada estratégica, ridícula.

Todos os nobres e generais com exceção de Leônidas o vermelho trocaram olhares entre si, algo que Nemesis pôde perceber facilmente, o quão esnobe eram aqueles da “confiança” do império.

— Príncipe Herdeiro, William, vamos. Faça a ela seu pedido pessoalmente — disse o algo que constrangeu o rapaz.

William mirou seus olhos nela e a vergonha bateu a porta de sua mente, fazendo seu coração palpitar, porém como uma pessoa que adora levar situações sérias na brincadeira, seu primeiro impulso foi o desejo de rir, pois não acreditava no que estava fazendo, na realidade tão pouco importava aquela situação desnecessária, afinal sabia ele muito bem que a garota a sua frente era mais do que capaz para lidar com a missão que viria e com toda certeza aceitaria, porém já estava ficando tarde e o jovem precisava resolver aquele assunto "torpe" de uma vez por todas, afinal aquele não era um momento para se divertir, o assunto era sério e precisava ser específico, pois só estava perdendo tempo com tudo aquilo.

— Leona, tudo bem com você? Não precisa ser formal ou tímida comigo, mas gostaria de uma ajuda sua. Serei direto. Não posso entrar em batalha no meu estado atual e gostaria de sua ajuda. Preciso que seja minha espada por um momento, preciso que lute minhas batalhas, até o momento que voltarmos. Em outras situações você seria obrigada a fazer isso, mas estou oferecendo a você uma opção, no fim você decidirá me ajudar ou não. Você é quem decide, servir comida ou fazer o que nasceu para fazer — finalizou ele.

Para Leona que era obviamente mais velha do que ele, aquele pedido era quase como um pedido de namoro, pelo menos para ela, era assim que soava, todavia a intenção de William não era essa e tão pouco sua vontade, se aproxima disso, naquele momento para ele seu reino e o seu povo era sua prioridade. Todavia, aquela também era uma oportunidade única, pois "talvez" ao participar dessa missão sua vida mudaria por completo e ela novamente poderia fazer o que tanto amava, empunhar uma espada, talvez William fosse uma porta, mas vê-lo como homem seria um pouco difícil concluiu ela, aquela princesa de olhos sangrentos jamais a deixaria viva se ela tentasse cruzar o seu caminho, bom, valia a pena o risco, mas no fim ser apenas uma segurança não seria problema nenhum desde que pudesse empunhar uma espada novamente, estava bem.

— Senhor meu, se de alguma forma me considera útil, então assim será, segundo a vontade do imperador e da Imperatriz — disse ela um pouco envergonhada.

— Então assim será, se for do consentimento do Imperador e da Imperatriz — frisou o menino olhando para o imperador expressando um rosto um pouco ansioso para sair dali.

O homem então levantou-se de seu lugar e aproximou-se mais do menino.

— Você tem nossa permissão. Ou melhor você já a tinha de uma forma ou de outra. Vá até o seu reino William e se possível volte o mais cedo que puder, ainda precisarei de sua ajuda logo mais. Acredito que já está ciente do que estou falando, vamos dizer que você é minha única esperança — disse o homem essa última parte de forma mais baixa.

William claramente sabia do que se tratava o assunto e como tal não esperava nem um pedido pessoal do imperador, mas com aquela atitude do homem era de certeza que ele agora tinha carta branca para poder agir. Porém na circunstância atuais, o reino de Aquaria e receber sua herança era prioridade.

— Sim senhor, não se preocupe, já havíamos nos preparado para isso — disse ele fazendo o Imperador Branco rir.

— Muito bom jovem William era exatamente isso que eu esperava. Vá até o seu reino, traga informações, não entre em batalha e herde o que é seu por direito — disse o homem intrigando a todos.

— Sim é o que farei, não voltarei como estou agora — respondeu.

A imperatriz saiu de seu lugar e foi até o menino.

— Garoto temos grandes expectativas em você, não vá nos decepcionar — disse ela — Leona Sanatiel troque-se imediatamente os guardas lhes concederá armamento, não cometa nenhuma tolice em nós trair. Por fim, aguarde o jovem príncipe no pináculo da torre central do palácio em alguns instantes ele chegará. Vá.

— Sim senhora!

Leona em passos largos se dirigiu até suas instalações que ficava a uns 45 minutos dali, dentro do próprio palácio, uma verdadeira "viagem", para quem trabalhava ali

— Senhora, como pode? Se me permite sou contra deixar o príncipe partir em uma missão com apenas uma serviçal, alguém que nem habilidade teve em proteger seu próprio país. Deixe que duas de minhas meninas vá, talvez Roseta ela é um dos generais, sua habilidade em combate mágico está acima do nível de qualquer outro — Disse Khara ministra da magia e regente da cidade antiga de Jardim Secreto ao sul do império — me perdoe minha atitude, mas desde o início escutei tudo o que disse esse menino e posso dizer que foi muito fácil para mim. Porém o que importa é que esse garoto não pode de forma alguma ficar longe de nossa vigilância isso é inaceitável.

— Silêncio Khara! Não ouse contestar ao Imperador e sua esposa, se ele e ela assim decidiram, assim será. Além disso, pelo que eu soube quem deve questionar esse assunto é somente o Imperador e sua esposa — declarou um duque que estava em seu lugar virando uma xícara de chá — com todo respeito também sou contra, mas a decisão não é minha, então meu dever é ficar em silêncio.

— Como o duque disse. Nossa autoridade é inquestionável, o príncipe não é um prisioneiro, por tanto só podemos alertá-lo sobre os perigos, a decisão final é única e exclusivamente dele — disse Jade — não precisa mandar Roseta ou uma aprendiz, precisaremos de todos os magos possíveis hoje e o clã das bruxas é essencial para manter a segurança. Estamos entendidos?

— Sim, senhora! — respondeu a mulher.

— Continuemos nossa refeição, o assunto seguinte é a Cerimônia do Desabrochar, mas antes de entrarmos nesse assunto. Príncipe Herdeiro William infelizmente não podemos permitir sua participação nessa reunião, com todo respeito peço que se retire — disse a mulher.

O Imperador Branco deu um tapinha no ombro do menino como quem queria lhe dizer algo.

— Mais uma coisa senhora, vou usar minha habilidade principal talvez cause algum ruído desagradável aos ouvidos, desde já peço seu perdão — disse ele a mulher que já esperava isso — bom, dito isso, vou me retirar da presença de todos, muito obrigado pela refeição, imperador e imperatriz e obrigado a todos por sua presença.

O garoto então curvou-se para todos presentes, assim em resposta também todos curvaram-se, por fim o menino deixou o grande salão.

— Senhora perdão pelo incômodo, mas estar certo o príncipe ir apenas com uma empregada? Desculpe a insistência nesse assunto, gostaria de acompanhá-lo, por favor me dê essa permissão, sei que é muita arrogância minha lhes falar isso, pois sou general e como tal meu dever em obedecer deve ser maior que qualquer outro, porém como general devo proteger o interesse vosso, por favor permita-me acompanhá-lo nesta missão — disse Leônidas pondo-se de pé.

Jade mirou seus olhos no seu marido e seus lábios rosados esboçaram um sorriso como quem acabara de escutar algo que lhe agradasse.

— Perdão mais uma vez minha senhora e meu imperador, mas acredito que faz sentido o que general Leônidas propôs. Já que nenhuma de minhas meninas podem acompanhar o príncipe, podemos permitir que o próprio general das tropas vermelhas o acompanhe. Quanto a cerimônia de logo mais Roseta pode assumir muito bem o papel de proteger a todos além da organização da segurança, algo que o general-mor Leônidas faz. Por favor considere isto — disse Khara incomodada com suas próprias palavras porém conformada.

— Muito bem então assim será. General Vermelho, vá e ajude-o no que precisar — disse a mulher, tornando ao seu lugar.

— Minha imperatriz e meu imperador, me retiro para me preparar. Senhora Khara muito obrigado, por apoiar minha proposta — disse o homem que se apressava em sair.

Leônidas sequer esperou mais alguma orientação, pois sabia o que precisava fazer então levantou-se de seu lugar juntamente com sua esposa e saiu a se preparar, afinal naquela missão ele poderia enfrentar toda e qualquer tipo de situação. Deixando para trás Khara que no final sentiu-se completamente menosprezada ao vê-lo receber uma autorização como aquela tão facilmente.

— Bom, continuemos com os assuntos da Celebração do Desabrochar — disse Jade ao ver o homem sair.

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