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O Ar Que Respiro

Cap.01 VINTE E TRES ANOS ANTES

Querido, por que não deixamos para conhecer a sua mãe outro dia? Está chovendo demais e as estradas ficam perigosas.

Não! Temos que resolver isso de vez! Ela não pode me impedir de casar com você. Falta só um mês para o nosso bebê nascer.

Eu sei querido, mas para mim, não faz diferença, nos casarmos agora ou não. Eu te amo e você me ama e é isso que importa.

Eu quero que quando o nosso bebé nasça ele já nos encontre casados. 

Amor, para o bebê também não faz diferença. 

Mas isso está passando dos limites. Ela já tentou de tudo para não nos casarmos. O roubo dos nossos documentos foi a gota d'água!

Você tem certeza de que foi ela?

Tenho! A minha antiga babá ainda trabalha na casa. E ela ouviu um telefonema da minha mãe mandando aqueles homens nos roubar.

Ela tentou me avisar mas não conseguiu.

Você sabe o motivo?

Ela quer que eu me case com a filha de uma amiga dela. Mas eu prefiro morrer a me casar com aquela mulher!

Nesse mesmo instante um bicho atravessa a estrada e o homem perde totalmente o controle do carro batendo de frente com um caminhão que vinha do outro lado da pista.

O homem morre na hora e a mulher é levada ao hospital mais próximo e entra em trabalho de parto. O bebê nasce e a mãe vê que ela está bem e que é uma menina, a segura nos braços por alguns momentos e nota que ela tem uma marca de nascença no formato de uma borboleta abaixo do peito.

A enfermeira pega a menina e leva para o berçário dizendo que a criança é prematura e precisa ficar na incubadora. 

Na cidade próxima ao hospital, uma outra mãe recebe a notícia da morte de seu único filho. E enlouquece na sua dor.

Aquela chicana tirou o meu filho de mim. 

Senhora, ela não tem culpa, foi um acidente!

Se ela não tivesse envolvido o meu filho nas suas teias de sedução, isso não teria acontecido. Foi culpa dela! Ela tirou o meu filho de mim! Mas agora ela vai pagar. 

O que a senhora vai fazer?

Eu vou atingir onde dói mais. Ela tirou o meu filho de mim, e eu vou tirar o filho dela. 

Vou causar nela a mesma dor que ela causou em mim. 

Se a senhora tivesse aceitado esse casamento, talvez esse acidente pudesse não ter acontecido. 

Eu não ia deixar o meu único filho se casar com uma mulher de origem mexicana, jamais iria sujar o sangue de nossa família. Temos mais de quatrocentos anos de tradição, para vir essa mulher uma simples empregada e querer fazer parte da família. A culpa é dela!

Na verdade, eu acho que a culpa é sua!

Minha? Não fale besteira. Como isso pode ser minha culpa?

A senhora mesma disse hoje mais cedo. Prefiro ver o meu filho morto do que casado com essa mexicana! Pois bem!

Deus ouviu e fez a sua vontade!

Saia daqui! Vamos só porque trabalha aqui há muito tempo não lhe dei a ousadia de me contestar. 

A empregada sai da sala e ela liga para os seus homens colocarem o plano dela em prática. 

Paguem o que for preciso, mas suman com essa criança. 

Quer que a levemos para a senhora? Afinal é a sua neta.

Não, eu não quero pôr os olhos nessa criança nunca!

Um trovão corta os céus e a empregada que estava ouvindo tudo se benze.

Tomará que Deus não há ouça desta vez, para castigá-la de novo.

Mais tarde a empregada sai escondida e vai ao hospital. 

Quando a mãe acorda ela é informada de que a sua filha morreu .

Sua dor é imensa, perder o amor da sua vida e a filha de uma vez. Uma ferida no seu coração que jamais será curada.

Ela desmaia na cama do hospital. Enquanto está inconsciente, uma voz repete sem parar no seu ouvido. 

Não acredite, sua filha está viva! Procure. ELA ESTÁ VIVA!

Cap. 02. O INÍCIO DO FIM

Vitória _ Eu não posso fazer isso! Eu não sou prostituta! Sou a sua mulher, mãe da sua filha. Como pode me pedir uma coisa dessas?

Luigi _ Foi você que perdeu o emprego! 

Vitória _ Por sua culpa! O Patrão já tinha avisado que não queria você na porta do supermercado. 

Luigi _ Ele não me queria por perto, pois está de olho em você!

Vitória _ Lógico que não! Você apareceu lá tantas vezes, arrumando encrenca, que ele não queria mais ver a sua cara e com razão. 

Luigi _ Não tenho culpa se quando fui te buscar, aquele cliente estava se engraçando com você. 

Vitória _ O homem apenas sorriu para mim, quando passou as compras no caixa. A única palavra que ele disse foi responder o meu boa tarde.

Luigi _ Isso não importa! O que importa é que eu serei morto se não pagar essa dívida. 

Vitória _ Já te falei para parar de jogar. Isso só vai te levar a destruição. 

Luigi _ E depois é só para acompanhar o cara em um evento. Não é para dormir com ele.

Vitória _ Eu já estou farta disso! Nós temos uma filha que está com três anos, e você não muda! Quantos empregos já perdi por sua causa? Quantas vezes já fomos despejados por você gastar o dinheiro do aluguel no jogo? Você precisa arrumar um emprego e parar de jogar. Eu não aguento mais isso!

Luigi _ E você vai fazer o que? Fugir como? Onde iria? E quem  iria te querer com uma filha pequena? Você não tem família,  não tem amigos, é uma órfã sem eira e nem beira. Coloque de uma vez na sua cabeça que sou o único que te quer.

Vitória _ Você trabalhava quando te conheci, ainda menina no orfanato. Mas quando completei 18 anos e sai de lá, você também saiu. 

Luigi _ Eu trabalhava lá de jardineiro na esperança de colher uma flor. E colhi! Você veio para mim, pura e inocente. E eu via você sempre ajudando as freiras em todo o serviço e você nunca se cansava ou reclamava. Agora virou essa mulher chata que vive reclamando por tudo. 

Vitória _ Eu sempre trabalhei e ajudei as irmãs pois sempre me senti grata, elas me acolheram e cuidaram de mim, quando ninguém me quis.

Luigi _ E quando você saiu de lá, quem te deu uma casa para onde ir? Quem amou e cuidou de você? Eu poderia ter escolhido outra pessoa, mas não. Eu escolhi você. E agora você vai me deixar ser morto por não querer acompanhar uma pessoa numa festa? É muito egoísmo!

Vitória _ Está bem! Eu vou! Mas fique sabendo que vai ser a última vez que eu salvo você. E você vai me prometer que vai procurar um trabalho. Desse jeito não podemos continuar. 

Luigi _ Vai se arrumar. Eu peguei um vestido emprestado com uma amiga para você usar hoje. 

Vitória _ Que amiga? A tal Ana? Eu não vou usar nada daquela mulher!

Luigi _ Não! Eu já disse a você que a Ana ficou no passado. 

Vitória _ Tão passado que você colocou o nome dela na nossa filha!

Luigi _ Já te disse, que eu estava bêbado, quando fiz isso. Não tenho mais nada com ela.

Vitória _ Semana passada eu vi que ela ligou no seu celular e você correu para atender lá fora. 

Luigi _ Ela só precisava de um favor. Você sabe como sou generoso com os meus amigos. Vá se aprontar.

Vitória _ Antes vou pedir a senhora Sara para ficar com a Ana.

Luigi _ Não precisa eu fico com ela. Não vou sair. 

Vitória _ Ficarei mais tranquila se ela estiver na vizinha. 

Luigi _ Ela é minha filha! Não confia em mim?

Vitória _ Da última vez que tive que trabalhar a noite, você disse a mesma coisa. E assim que eu sai, você também saiu a deixando sozinha. Ainda me lembro do rostinho dela todo inchado de tanto chorar. Ou ela fica na vizinha ou eu nem saio. 

Luigi _ Você mima demais essa garota. 

Vitória _ Vou dar banho e janta para ela, e levá-la na dona Sara. 

Luigi _ Faça isso rápido ou vai se atrasar.

Pego a minha filha que está brincando no tapete do quarto e a levo para o banheiro. Dou banho e coloco o seu pijama das princesas.

Vitória _ Nossa, como você está linda e cheirosa, minha princesa. Hoje você vai dormir na Sara tá bem?

Ana_ Num quelo! Quelo dumi com a mamãe. 

Vitória _ Mamãe precisa trabalhar. Mas é rápido, eu volto logo,e quando voltar vou buscar você e vamos dormir agarradinhas.

Ana _ Plomete?

Vitória _ Promessa de dedinho! 

Dou o dedo mindinho e ela entrelaça no meu. Eu a beijo e vou à cozinha dar o jantar. Já não vejo o Luigi, ele deve estar lá fora ou já saiu. Moramos em dois cômodos, quarto e cozinha, então não tem como se perder dentro de casa. Dou a comida da minha filha, mas eu mesma nem posso comer, pois não tem nada pronto, e hoje nem tive tempo de almoçar. Tive que ir ao médico fazer exame, achei que estava grávida, mas foi alarme falso Graças à Deus! Eu adoraria ter mais um filho, mas do jeito que vivemos eu não posso nem pensar em colocar mais uma criança no meio disso. 

Levo a minha filha para a vizinha e vou me arrumar e agora que reparei no vestido sobre a cama.

Vitória _ Como posso usar isso?

Fui criada em um orfanato dirigido por freiras, esse tipo de roupa para mim é vulgar. Eu não posso me expor tanto. 

Luigi _ Está pronta?

Vitória _ Olha esse vestido! Estou quase nua!

Luigi _ Não seja exagerada! Você está linda. 

Vitória _ Eu não entendo você! Como pode ficar com ciúmes de um sorriso e um boa tarde de um cliente e não ligar por eu usar esse pedaço de pano?

Luigi _ Pense no vestido como um uniforme. 

Vitória _ Se os vizinhos me virem sair usando isso vão achar que sou uma prostituta.

Luigi _ Não se preocupe com os vizinhos. Passa uma maquiagem nessa cara que está cheia de olheiras e passa batom vermelho. 

Vitória _ O vestido já é vermelho, com batom vermelho vai ficar muito carregado.

Luigi _ Que chata! Faz o que estou mandando, que já estamos atrasados. 

Vitória _ Você vai também?

Luigi _ Não, só vou deixar você na porta, de lá me mando, quando acabar, você manda mensagem que eu vou te buscar. 

Vitória _ Estou me sentindo uma prostituta. Vou colocar um casaco, os vizinhos não podem me ver assim!

Luigi _ Faça como quiser!

Cap. 03. A FESTA

Entro no hotel completamente constrangida. Ele me fez tirar o casaco e deixar no carro.Vou até a recepção e falo o número do quarto e peço para avisar que eu já estou aqui.

A recepcionista me diz para subir, mas eu me recuso. Eu não vou entrar em um quarto com alguém que não conheço. Se é para acompanhar em uma festa, o homem que desça. 

Sento-me e espero, tentando puxar o vestido para baixo. Mas quanto mais puxo para baixo, mais os meus seios aparecem pelo decote. Sinto-me uma prostituta esperando o cliente. Vejo muitos olhares para cima de mim, algumas mulheres me julgando e homens cobiçando. Se esse homem não aparecer logo eu vou embora. 

Um senhor, com a idade de ser meu avô, se aproxima de mim.

Homem _ Você deve ser a Vitória.? Seu marido não exagerou. Você é linda!

Vitória _ Obrigada, é o Sr.Malloney?

Sr.Malloney_ Sim, podemos ir?

Vitória _ Sim, vamos, essa festa vai demorar muito? O senhor me desculpe perguntar e que tenho uma filha e preciso voltar logo para ela.

Sr.Malloney _ Você é engraçada. 

Vitória _ Fiz alguma piada?

Sr. Malloney _ Não, se está com pressa que a noite termine, entre no carro e vamos para essa festa, que olhando você já estou querendo desistir da festa. Só não desisto porque tenho que encontrar um empresário muito importante, com o qual tenho que fazer negócios. 

Vitória _ Vai fazer negócio na festa? 

Sr.Malloney _ Sim, primeiro o negócio e depois a diversão. 

Entro no carro mais sossegada, o homem tem a idade para ser o meu avô, se vai na festa tratar de negócios, não deve ter segundas intenções. Respiro mais aliviada.

Chegamos no lugar da festa, é um cassino enorme com um hotel. Eu até já trabalhei aqui como camareira logo que saí do orfanato. Mas perdi o emprego graças ao Luigi. Ele contraiu uma dívida de jogo e não tinha como pagar e fomos expulsos, ele nessa época trabalhava como barman. 

Não sei como não percebi logo nessa época que ele não prestava. Mas eu era tão carente e sozinha que não enxergava nada. Ele tem razão quando diz que foi o único a me querer, me estender as mãos. Fui criada naqueles muros e de repente, fui posta para fora. Sem conhecer ninguém é sem ter conhecimento nenhum do mundo fora daquelas paredes. Tinha ganhado bolsa para a faculdade local, mas não tinha como me sustentar, arrumar uma casa, um emprego, e ainda fazer faculdade. Por isso fiquei grata por aquele cara bonito se interessar por mim. Mas amor , mesmo? Só sinto pela minha filha. E faria qualquer coisa por ela. E nunca faria com ela o que fizeram comigo.

Sr. Malloney _ Você pode ao menos sorrir? Não fique com essa cara. Preciso que o empresário que vou fazer negócios, pense que posso conseguir uma mulher como você. 

Finja que está feliz ao meu lado. Pegue uma bebida. 

Vitória _ Eu não bebo.

Sr. Malloney _ Eu mandei pegar a bebida. Ou prefere ver o seu marido na cadeia?

Eu prefiro não discutir e pego a bebida nas mãos e encosto nos lábios, mas não bebo.

Sr Malloney _ Eu já o vi. Vamos para lá, não olhe muito para ele. E sorria sempre, não importa o que aconteça, só sorria!

Quando nos aproximamos do grupo vejo um homem alto e moreno, de ombros largos, ele se vira sorrindo e meu coração dispara. Nossa, que homem lindo.

Sr Malloney _ Não olhe para ele!

Eu abaixo a cabeça, e nos aproximamos do homem e só observo seu sapato de verniz.

Homem _ Então Malloney? Porque queria tanto me encontrar?

Até a voz dele é linda, grave, rouca, me dá um frio na espinha. É como se ele estivesse me tocando delicadamente. Ergo um pouco mais os olhos e encaro as suas coxas musculosas, vestidas em uma calça preta que não deixa nada para a imaginação. Ele continua conversando e coloca uma das mãos no bolso, fazendo com que o tecido da calça  retese e mostre o seu volume. 

Credo, estou me sentindo uma pervertida. Nunca fiquei admirando aquilo de um homem, nem do meu marido. Deve ser a roupa de prostituta, não bastava me vestir como uma, agora também vou agir como uma?

Tento afastar o meu olhar e subo para o peito dele. Sinceramente esse homem não tem defeitos no corpo? Ele é incrível dos pés à cabeça. Presto atenção na conversa para tirar aqueles pensamentos da minha cabeça.

Pelo que eu entendi o meu acompanhante é um advogado e está tentando algum tipo de negócio sujo com o Adônis, resolvi chamar ele assim pois não ouvi o nome dele. Mas além de lindo é inteligente, refutou cada tentativa do Sr Malloney. 

De repente o Sr Malloney pega no meu braço e me tira de lá sem que eu tenha a chance de olhar para o Adônis uma segunda vez. Me leva para uma parte do cassino e vai jogar 21.

Após uns dez minutos, jogando, zangado sem nem falar comigo, tomou duas doses de whisky e me puxa para outra mesa, me diz para ficar em pé atrás dele e joga na roleta. Perdendo somas de dinheiro e a garçonete do cassino não deixa que o seu copo fique vazio. 

Quando se cansa de perder se levanta e me arrasta novamente com ele.

Sr Malloney _ Porque não está sorrindo? Eu não disse para sorrir? Você está me dando azar com essa cara de recriminação.

Vestida como puta e com cara de freira.

Vitória _ Acho que o senhor já bebeu demais. E está ficando muito tarde, melhor que eu vá embora. 

Sr Malloney _ Venha, eu preciso ressarcir o meu prejuízo e depois vamos embora. 

Me puxa para dentro de um elevador e subimos. 

Vitória _ Para onde estamos indo?

Sr. Malloney _ Cale a boca! Você fala demais! 

O elevador pára e entramos em um corredor. Eu não conheço essa parte do cassino, a parte que eu trabalhava era no hotel . Nunca estive desse lado, será que é a tesouraria? Ele disse que tinha que ser ressarcido, então deve ser alguma sala da parte burocrática do cassino. Entra em uma sala que abre com a própria chave. 

É um escritório de algum executivo, puxa-me para dentro da sala e fecha a porta. 

Sr Malloney _ Tira a roupa!

Vitória _ Como é que é?

Sr. Malloney _ É hora de pagar o que o seu marido me deve.

Vitória _ Eu não estou entendendo. 

Sr. Malloney _ O quê não está entendendo? Não era você que estava com pressa de pagar a dívida e ir ver a filha? Pois, então tire logo a roupa e vamos acabar com isso, que estou sem paciência.

Vitória _ Está havendo um mal entendido aqui. Eu só vim acompanhar o senhor na festa.

Sr Malloney _ Não se faça de ingênua! Seu marido me deve dez mil dólares e você achava que era só para ir comigo na festa?

Quando ele diz isso vejo que estou perdida e um frio gela a minha alma. Não vou fazer sexo com esse homem nem por todo o dinheiro do mundo. 

Vitória _ Eu sinto muito, mas não vou pagar o senhor com o meu corpo. O senhor que se entenda com o meu marido, mas eu não vou fazer isso. 

Sr Malloney _ Ele me disse que se você resistisse eu poderia pegar a força o que é meu!

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