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Herdeiros Alencar (Anna Letícia)

Capítulo 01

Sou Anna Letícia, a caçulinha das trigêmeas, minha tia Bia que me chama assim. Não é segredo que minha tia preferida é ela, a amo muito, e a admiro como pessoa e como profissional, tanto que decidi estudar medicina por causa dela, mas quero ser cirurgiã cardiotorácica de preferência na área pediátrica, pois quando nasci tive que passar por uma cirurgia no coração e quero ajudar outras crianças a se curarem, assim como eu fui curada.

Fazer parte da minha família é uma dádiva muito grande, meus pais são apaixonados até hoje. Depois de vinte e um anos de casamento. Minha mãe engravidou de nós quando eles ainda namoravam e só se casaram depois, minha mãe casou grávida, se não me enganou estava com dezessete semanas de gravidez.

Minha maior referência de amor são meus pais, na verdade todas as pessoas da minha família casaram bem e com as pessoas que amavam e os casamentos são duradouros.

Eu tive um namorado quando eu tinha dezoito anos, durou por dois anos, mas antes disso beijei alguns garotos na escola, mas não foi nada sério. Tive minha primeira vez com meu ex, aos dezoito anos, foi muito bom inclusive e eu não me arrependo, mas ele não correspondia às minhas expectativas amorosas e eu terminei com ele.

Sou uma pessoa romântica, gosto de receber flores, visitas surpresas, chocolates, declarações de amor, coisas do tipo que pessoas românticas fazem, mas meu namorado não era assim. Ele não era ruim, mas não era o que eu queria, ainda tentei ficar com ele apesar de ir contra todas as minhas expectativas, eu tentei por dois longos e exaustivos anos fazer as coisas darem certo, até que desisti.

Agora estou completamente apaixonada por outra pessoa, mas essa também não é pra ser é algo platônico e também ele tem namorada pelo o que eu soube e eu jamais entraria no meio do relacionamento de alguém.

Seria até estranho alguém que acredita tanto no amor entrar no meio do relacionamento de alguém, eu jamais teria coragem de fazer isso.

Como não posso ficar com quem eu quero, compenso isso enfiando minha cara nos estudos, estou sempre estudando e também é algo que eu gosto.

— Oi, minha princesa. — meu pai diz dando um beijo em minha testa.

— Oi papai. — estou sentada no chão da sala estudando.

— Não está na hora de dar um tempo, meu amor? Ninguém deve estudar tantas horas seguidas.

— Eu preciso estudar papai, ser cirurgiã cardiotorácica não é fácil.

— Eu sei princesa, mas ainda falta muito pra você formar e depois que irá fazer residência.

— Por isso mesmo papai, tem que aproveitar todo o tempo que eu tiver.

— Hoje é domingo amor, descanse um pouco.

— Eu faço uma pausa sim, com uma condição.

— Qual?

— Que o senhor faça aquela pizza que só o senhor sabe fazer.

— Me ajuda?

— Claro!

— Guarde suas coisas e chame seus irmãos e sua mãe. Só presta se a bagunça for grande. — sorrio para ele.

— Tá, estou indo.

Meu pai vai para a cozinha e eu recolho minhas coisas e saio quase correndo para subir as escadas e acabo esbarrando em alguém e derrubando todos os meus livros no chão.

— Desculpa! — ele diz.

— Não! Eu que estava andando rápido e distraída.

— Se machucou, senhorita Letícia?

— Não! Estou bem, Lucas.

— Tem certeza?

— Tenho, com licença.

— Toda senhorita.

Exatamente esse homem que faz meu coração bater mais forte, Lucas, o segurança da minha irmã Laura.

Faz algum tempo que eu estou apaixonada por ele, mas Laura estava falando que ele tem namorada e que pretende casar com ela, está até construindo uma casa para eles dois.

Minhas irmãs sabem que eu gosto dele, mas eu não tive coragem de contar, elas descobriram sozinhas, no dia em que fomos à boate do filho do juiz Bezerra. Eu disse para elas que gostava de alguém tão impossível como a Luíza, mas não disse quem era e depois elas perceberam sozinhas, pois me viram olhando para ele.

— Senhorita Letícia? — ele me chama quando já estou no meio das escadas.

— Oi.

— Esqueceu isso. — ele diz subindo as até onde estou e me entrega uma caneta.

— Obrigada. — ele assente e desce as escadas outra vez.

Não deixo de olhar para ele, ele é muito bonito. Ainda bem que ele é segurança da Laura, porque se fosse meu, ai nós teríamos problemas.

Deixo minhas coisas no quarto e saio chamando a todos para fazer as pizzas. Meu pai sempre gostou de cozinhar com a família inteira, ele faz isso desde quando eu e minhas irmãs éramos crianças. Meus pais são incríveis,vos melhores do mundo, sou muito grata por ser filha deles e por ter nascido nessa família.

Davi e Noah descem as escadas correndo, esses meninos são apaixonados pelo o meu pai e meu pai por eles. Na verdade meu pai ama a nós todos, mas esses por serem os mais novos e por serem os últimos filhos que meus pais tiveram são mais mimados.

Everything de Michael Bublé, ecoa pela cozinha, meu pai gosta de cozinhar ouvindo música e quase sempre é Bublé, até aprendemos a gostar dele por causa do meu pai.

Meu pai prepara a massa, enquanto Luíza fatia os legumes, Laura está cuidando do molho de tomate, que tem que ser fresco, segundo meu pai. Clara está fatiando o pepperoni e Cecília ralando queijo, os gêmeos estão com a mão na massa junto com meu pai e eu vou preparar o frango, pois minha pizza preferida é de frango cremoso.

Minha mãe está aqui só dando apoio moral e beijos no meu pai, esses dois são incríveis, acho que não há nada nesse mundo que abale esse amor. Gostaria muito de ter algo assim um dia, quero um amor assim como o dos meus pais.

Após todos os acompanhamentos prontos, meu pai começa a assar as massas e nós cuidamos da montagem das pizzas.

A pizza que meu pai faz é a melhor que eu já provei na vida, acho que em outra vida ele dói italiano.

— Letícia? — meu pai me chama.

— Leve uma pizza para Lucas e Fernando, estão só elas aqui hoje.

— Tá papai.

Fatio a pizza e coloco dentro de uma vasilha, pego um refrigerante zero, que é o único que meu pai permite em nossa casa, meu pai é todo natureba, se alimenta bem e faz exercícios, nós também nos alimentamos bem e fazemos exercícios, tudo por influência dele.

Outra coisa que admiro muito em meus pais é a simplicidade e humildade que eles têm, eles tratam a todos igualmente, independente da posição social, não importa se você tem um real na conta ou um milhão.

Me aproximo do local onde os seguranças ficam e sem querer escuto a conversa deles.

— Eu estava me esforçando pra fazer a casa do jeito que ela queria. — Lucas diz. — Eu fazia tudo por ela cara, dava tudo! E ela me solta um: "isso não vai dar certo, eu não quero morar em cima da casa da sua mãe." Desde o começo disse que faria a casa lá, que minha mãe tinha concordado e que era melhor, pois eu não tenho dinheiro pra comprar uma casa ou um terreno pra poder construir e ela concordou, aí depois vem com um papo desse e minha mãe é quase uma santa de tão boa e amava ela, até as roupas dela lavava quando ela ia lá pra casa.

— Mulher é assim mesmo cara, parece que elas só gostam do que não presta. — Fernando diz.

— E o pior da história é que ela já está com outro, eu acredito que ela já estava com ele mesmo estando comigo, fui ser um besta apaixonado e só tomei no c*, ainda virei corno.

— Força aí cara, não sei nem o que te dizer.

— É... Com licença. — digo me aproximando e os dois olham para mim. — Meu pai pediu pra eu trazer pra vocês. — digo entregando a pizza e as duas latinhas de refrigerante zero.

— Obrigado senhorita Letícia. — Lucas diz e nossos olhos se encontram por um breve momento.

— Por nada, aproveitem, está muito boa.

— Obrigado senhorita Letícia. — Fernando diz.

Eles trabalham aqui há algum tempo já, mas não sabem nos diferenciar, eles conseguem por causa do cordão que usamos com nosso nome, usamos dois na verdade um menor com nosso nome e outro maior que é o rastreador.

— Por nada. — digo e saio.

Fico parada onde eles não me vejam para continuar ouvindo a conversa, sei que é errado, mas eu preciso muito saber o que Lucas tem a dizer.

— Essas filhas do doutor Caio são muito bonitas. — Fernando diz. — São altas, tem quase nossa altura. — de fato somos altas mesmo, temos 1,70.

— São muito bonitas mesmo.

— As trigêmeas são lindas, mas as loirinhas são coisa de outro mundo, eu prefiro as loiras. — Fernando diz.

— Eu prefiro morenas. — Lucas fala e eu sorrio.

— Pena que essas mulheres nunca vão olhar para caras como nós, elas são herdeiras milionárias.

— Sabe que eles não são assim, tratam todos de igual para igual.

— Acha que o doutor Caio ia querer uma das filhas com um segurança? — Fernando pergunta.

— Não e nós nem devemos olhar para elas, sabe como o pai delas é, e sabe que ele confia a segurança delas a nós.

— Eu sei, só estou falando da beleza delas, porque só um cego não vê.

— É...

Paro de ouvir a conversa dos dois e volto para a cozinha.

Um tempo depois finalizando as pizzas e nos sentamos para comer. E como eu falei, a pizza está ótima, a melhor que já provei na vida.

Meu pai come só uma faria, pois além de ser natureba, tem seus problemas no estômago.

Olho ao redor e vejo toda a minha família sorrindo e brincando, eu não poderia pedir nada mais que isso, eles são a verdadeira personificação do que é o amor.

Capítulo 02

Hoje é sábado e todos saíram, foram para a casa da tia Beatriz, vai ter um almoço lá, mas eu fiquei, pois preciso estudar, tenho prova daqui há dois dias.

Meus pais não gostaram da ideia que eu fiquei sozinha em casa em pleno sábado, mas eu preciso mesmo estudar. Meu pai tentou me convencer a ir, dizendo que sou muito inteligente, o que não é mentira, sou uma das melhores da turma, mas nem por isso vou deixar de estudar.

O dia hoje está extremamente quente e eu estou usando um top tomara que caia e um shortinho curto, tudo na cor branca.

E como sempre gosto de estudar na sala, tem mais espaço e eu amo sentar no tapete da sala e espalhar minhas coisas no chão.

— Senhorita Letícia? — levanto a vista e encaro o lindo homem de terno à minha frente.

— Oi.

— Sua mãe pediu para olhar seu celular.

— Ah! Obrigada Lucas. — levanto e ele desvia o olhar já que estou com uma roupa muito curta, controlo minha vontade de sorrir. — Não foi com a Laura hoje?

— Não, ela foi com a equipe de segurança dos seus pais, todos foram na verdade.

— Ah!

Pego meu celular e tem algumas mensagens da minha mãe.

"Filha demos folga para a Mônica, pois pensamos que você vinha também e quando saímos você ainda estava dormindo, não quis te acordar."

"Se não quiser cozinhar, tem uma lasanha pronta na geladeira, é só esquentar ou então pode pedir comida."

"Mamãe te ama, bons estudos."

"Ok, também te amo mamãe."

Respondo minha mãe e deixo o celular de lado outra vez.

Lucas ainda está parado olhando para mim, ele ficou para conferir se eu ia mesmo olhar meu celular.

— Tudo certo? — ele pergunta.

— Sim, ela havia me mandado uma mensagem.

— Ok, com licença.

— Lucas?

— Sim. — ele não olha para mim.

— Por que não está olhando para mim? — ele pigarreia.

— A senhorita não está com roupas apropriadas. — sorrio.

— Estou sim! Minha roupa está cobrindo nos lugares certos! Olhe para mim Lucas. — ele engole em seco e me olha.

— Pronto. — os olhos dele descem pelo meu corpo e ele engole em seco.

— Estou descoberta?

— Não, mas está com roupas que não devem ser vistas por qualquer pessoa.

— Mas você não é qualquer pessoa.

— Sou segurança da sua irmã, funcionário do seu pai.

— Você tem namorada, Lucas?

— Não senhorita Letícia.

— O que acha de mim?

— Acho que se eu olhar muito pra senhorita, seu pai me mata.

— Tem medo do meu pai?

— Não! Eu respeito seu pai, ele é meu chefe e confia muito em mim.

— Não me acha bonita? — os olhos dele passeiam por todo meu corpo, que eu sei que não é nada feio.

— Só se eu fosse cego. — sorrio.

— Sabe Lucas, eu te acho muito bonito. — ele sorri de lado.

— Se seu pai me pega aqui dentro com você e você vestida assim ele me mata.

Me aproximo e fico cara a cara com ele, ele é mais alto que eu uns vinte e cinco centímetros, com isso é preciso abaixar um pouco a cabeça para olhar para mim. Me aproximo e ele não se afasta, se mantém parado no mesmo lugar.

— Senhorita Letícia, seu pai não gostaria de te ver tão perto de mim.

— Está vendo ele aqui agora? — ele sorri de lado e nega com a cabeça.

— Não, mas eu sei de quem você é filha e não quero problemas com seu pai, e eu gosto muito desse emprego.

— Não gosta do perigo? — ele sorri.

— Eu sou segurança, senhorita Letícia, eu sorrio na cara do perigo. — eu sorrio.

— Então? Está com medo de quê? Tem medo de mim? — ele sorri.

— Medo? Você quem deveria ter medo de mim.

— Pois eu não tenho!

— Seu pai me mata se eu encostar um dedo em você.

— Ele nem precisa saber.

— Senhorita Letícia, eu tenho trinta e um anos, sou muito mais velho que você, sou funcionário do seu pai, isso não é certo.

— Só dez anos! O que são dez anos? Idade é só um número.

— E o que você quer de mim?

— Quero você.

— Isso pode ser um caminho sem volta para nós dois.

— Eu acho que eu quero correr esse risco.

Ele é chamado no rádio comunicador dele e isso acaba nos assustando e fazendo nós dois nos afastar.

— Eu preciso ir. — ele diz.

— Mas já?

— O dever me chama, estou em horário de trabalho ainda.

— Vai me deixar sozinha aqui? Acho que é meio perigoso deixar uma mulher sozinha e indefesa.

— Indefesa! — ele repete o que eu digo. — Você é perigosa, isso sim.

— Você falou que gosta do perigo.

— Gosto! Mas não posso experimentar desse perigo.

— Pode e deve.

— Eu preciso ir. — ele puxa a calça a fim de esconder a ereção.

Eu olho em direção a sua ereção e mordo os lábios e ele nega com a cabeça.

— Pode me mostrar o tamanho do seu perigo depois.

— Achei que você era a moça dos corações e das flores.

— Como sabe disso?

— Nós escutamos muitas coisas por ai.

— Então... eu também sei que você gosta de corações e flores.

— Sabe? — ele me olha confuso.

— Sei.

— E como sabe disso?

— Escuto muitas coisas por aí... — ele sorri. — Nós somos a combinação perfeita, duas pessoas que gostam de corações e flores.

— No momento, não parece ser alguém que gosta de corações e flores.

— Eu gosto de corações e flores, mas também gosto de outras coisas.

— Nem me fale que coisas são essas, prefiro não saber.

— Porquê?

— Por que não vou conseguir dormir pensando nelas. — sorrio.

— Vou estar pensando em você quando eu for tomar banho. — ele nega com a cabeça.

— Preciso ir.

— A gente se vê por aí. — digo e ele se retira.

Respiro fundo, essa conversa com ele me deixou com calor, me deixou bem quente e molhada.

Vai ficar até difícil me concentrar nos meus livros agora.

Recolho minhas coisas do chão da sala e subo para o meu quarto.

Tomo um banho bem gelado e me toco pensando naquele homem maravilhoso que habita meus pensamentos há muitos meses.

Visto uma roupa mais comportada dessa vez e ligo o ar condicionado.

Estou usando uma calça de malha e uma camiseta masculina, minha mesmo, compro camisetas básicas masculinas para mim, pois gosto de ficar confortável.

Ligo para o restaurante que fica aqui perto de casa e peço meu almoço de lá, não estou afim de comer lasanha e nem de cozinhar.

Sento no sofá da sala e dou uma olhada nas redes sociais enquanto espero que meu almoço chegue.

Vou descendo as publicações até que vejo uma do Murilo pedindo a nova namorada dele em casamento, o pedido foi feito em uma praia, com decoração de flores, corações e ele entrega para ela um grande buquê de rosas vermelhas, se ajoelha em frente a ela e faz o pedido.

Isso não era para me abalar, até porque faz um ano que terminamos, mas vê-lo fazer por ela o que nunca fez por mim me deixa chateada.

Jogo o celular para longe, isso me deixou estressada.

— O que aconteceu? — a voz grave me assusta.

Olho para trás e vejo Lucas segurando meu almoço.

— Desculpe, te assustei.

— Tudo bem.

— O que viu naquele celular que te deixou assim?

— Nada que seja relevante.

— Seu almoço.

— Obrigada. — me levanto e vou até ele e pego minha sacola.

— Por nada.

— Quer almoçar comigo?

— Seu pai...

— Ele não está aqui.

— Não vou sentar na mesa da sua casa com você.

— Vamos para o seu espaço então, está sozinho?

— Estou.

— Eu vou com você então.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Pegue seu celular, pode seus quererem falar com você.

— Mandão! — ele sorri de lado.

Pego o celular e o sigo para a ala dos funcionários, que é bem ampla e bem equipada, geralmente só os seguranças ficam aqui, já que a Mônica vai para casa todos os dias e as outras meninas que trabalham aqui também vão.

Nós entramos e ele fecha a porta com a chave, espero que esteja com segundas intenções e não com medo do meu pai.

— Trancou a porta? — pergunto.

— Sim. — ele diz tirando o terno e gravata e abrindo os primeiros botões da camisa sem desviar os olhos dos meus.

— E porquê?

— Pra ninguém nos interromper.

— E o que está pensando em fazer?

— Almoçar senhorita Letícia!

— Tá com medo do meu pai?

— Não tenho medo do seu pai, só não quero ser interrompido.

— Sei... — digo colocando a sacola em cima da mesa e tirando as embalagens de dentro.

Pedi arroz de camarão, peixe grelhado e salada. Na minha casa nós comemos muito peixe, por causa do meu pai, já que é mais leve. Também pedi uma batata frita por fora, se meu pai natureba ao menos sonha que estou comendo porcaria ele me mata.

— Senta, eu cuido disso. — ele diz.

— Você ia almoçar o quê?

— A comida que a Mônica deixou.

— Ah! A Mônica cozinha muito bem.

— Sim, além de tudo é uma ótima pessoa.

— Ela é mesmo.

— Sua família também, são boas pessoas e muito humildes.

— Nós somos.

— Vai me dizer o que te aborreceu no celular? Vi você jogá-lo para longe com muita força, algo deve ter te deixado bem chateada.

— Se eu te contar, me conta sua história?

— Quer saber de mim?

— Quero.

— Eu não posso comer, camarão. — ele diz. — Nem tocar na verdade.

— Ah! O peixe pode?

— Não, porque pode ter sido feito na mesma panela, pode haver contaminação cruzada.

— Ah, que pena.

— Pois é... Já sabe algo sobre mim, senhorita Letícia.

— Letícia... Mas se preferir pode me chamar de amor. — ele sorri e nega com a cabeça.

— Você é bem direta.

— Eu sou! Se eu quero algo, não há nada que me pare ou me deixe constrangida.

— Porque eu?

— Sei lá! Essas coisas não se escolhem.

— Sabia que todos os seguranças babam por vocês?

— Eu sei, menos você. — ele sorri. — Você é o mais sério de todos, só conversa muito com a Laura, meu pai até brigou com ela por ela conversar demais com você, porque você poderia achar que ela queria algo e nós sabemos que ela não quer nada com ninguém, quer dizer, ela não queria, porque agora ela e o badboy/nerd bonitão só andam juntos pra lá e pra cá.

— Sua irmã é muito simpática e se preocupa de verdade com as pessoas.

— Ela é assim mesmo.

— Eu achei que você era a mais tímida das três, mas eu me enganei. Você não parece ser alguém que gosta de corações e flores.

— As aparências enganam, nem tudo é o que parece. Eu gosto de corações e flores, mas eu não sou inocente. — ele sorri e nega com a cabeça.

— Ok, corações e flores. — ele diz e coloca a comida em um prato pra mim e me entrega.

— Obrigada.

— E o que viu no celular?

— O meu ex pediu a nova namorada dele em casamento... Com corações e flores, muitas flores, um buquê enorme, coisa que ele nunca fez pra mim em dois anos.

— Gosta dele ainda? — ele pergunta pegando o prato na geladeira retirando o plástico filme e em seguida colocando para esquentar no microondas.

— Não, mas isso chateia, sabe?

— Sei.

— E sua história?

— Eu tinha uma noiva, estávamos juntos há oito anos e estava terminando de construir uma casa para nós e ela decidiu que não queria mais casar e agora já está com outro. Soube que é um riquinho aí, herdeiro de um magnata da construção.

— Qual o nome dele?

— Não sei.

Pego meu celular e procuro o vídeo e mostro para ele. Lucas me olha surpreso e minhas suspeitas são confirmadas.

— É sua noiva, não é?

— É. — ele diz e fecha a cara.

— Gosta dela, não é?

— Não vou mentir pra você, foram oito anos, faz apenas dois meses que ela terminou comigo.

— Entendi. — digo e sinto uma angústia no peito.

— Estou sendo sincero com você.

— Tudo bem, isso é bom.

— Você gosta de mim?

— Não! Só gosto de provocar mesmo. — minto, pois jamais vou falar para ele o que sinto, sabendo que ele ainda gosta da ex.

— Melhor não fazer isso com outras pessoas, vai que caiam nas suas provocações.

— Só iria provocar quem de fato eu quisesse ficar, com você foi só brincadeira.

— Não me pareceu brincadeira.

— Mas foi, eu jamais iria querer ficar com você. — ele me olha confuso.

— Por que não?

— Porque eu sou alguém que quer corações e flores, e você não pode me dar isso! — digo me levantando e saindo.

— Senhorita Letícia?! — não olho para trás.

Subo as escadas de casa correndo, tento conter minhas lágrimas.

Não vou chorar por alguém que não merece outra vez!

Posso ser romântica, mas não sou idiota.

Capítulo 03

...Lucas...

Trabalho para o Caio Alencar há seis anos. Ele é muito exigente com a segurança dos filhos, que são sete.

Todos os seguranças babam pelas as cinco filhas dele. As trigêmeas são lindas, morenas, altas e tem olhos verdes.

Sou segurança da Laura, uma das trigêmeas, ela é muito simpática e falante, gosta de perguntar que é uma beleza e eu não me incomodo em nada de responder suas perguntas, a maioria delas são coisas pessoais, só que ela é o tipo de pessoa que te passa essa coisa da confiança.

Alguns dos seguranças ficam tirando com minha cara, dizendo que eu fico arrastando asa para a Laura, mas é só amizade mesmo, ele é uma pessoa muito amável.

As outras duas das trigêmeas são mais caladas, mal trocam palavras conosco.

As gêmeas são bem diferentes das irmãs, se parecem com a mãe delas, são loirinhas e baixinhas, mas muito bonitas, todos olham para as moças de olho comprido, mas tudo sem o pai delas saber, porque se ele ao menos sonha que isso acontece, cabeças rolam.

Eu como quando comecei a trabalhar aqui era comprometido, nunca olhei para elas com outros olhos, pois se tem algo que sou em minha vida é fiel.

Era comprometido... não sou mais.

Raíssa me trocou por um riquinho, isso me deixou totalmente sem chão, pois passamos oito anos juntos e nossos planos eram casar esse ano. Nossa casa está pronta, os móveis já estão chegando. Perdi totalmente a vontade de morar nessa casa, pois é algo que era para ser nosso, tudo feito e escolhido do jeito que ela queria.

Não sou rico, não moro em um bairro nobre, mas é um bairro de classe média alta muito bem localizado.

Caio Alencar paga seus funcionários muito bem, mas também trabalhamos muito, pois com tanta gente em casa sempre alguém está na rua e nós temos que estar a postos.

Meu salário anual soma 180 mil reais, que por mês é 15.000 mil reais, é muito bom, vivo muito bem, tenho condições de ter o que quero, muitas vezes além do que preciso. Quem viveu uma infância bem humilde como a minha hoje ter um salário desses é uma realização.

Apesar do salário ser bom, precisei gastar todas as minhas economias com a casa, que é enorme e com os móveis, com a organização do casamento que não vai mais acontecer e eu já havia pago boa parte dos serviços, que iria acontecer em dezembro.

Também comprei a casa onde minha mãe mora com minhas irmãs, que é onde construí a casa onde iria morar com Raíssa, só que na parte de cima. Pago também os estudos da minha irmã mais nova, Luana, que tem 17 anos e está no último ano do ensino médio, a do meio, Lívia tem 19, eu não pago mais, pois ela está na faculdade e estuda na federal, pois tirou uma boa nota no exame nacional do ensino médio. Faço questão que elas tenham uma boa educação para serem bem sucedidas na vida e não dependerem de ninguém. Além de tudo, ajudo minha mãe com as despesas da casa, já que ela é professora aposentada e meu pai foi embora de casa há muitos anos, quando minha irmã mais nova ainda era bebê, tinha apenas um ano e nunca ajudou minha mãe com nada depois que foi embora.

Não me arrependo de nada que faço para ajudar minhas meninas, amo muito minha mãe e minhas irmãs, elas são tudo em minha vida. Raíssa também entrava para essa lista, mas decidiu que ficar com um cara rico era melhor do que ficar comigo.

Ainda por cima é o ex namorado de Letícia, o destino tem dessas coisas.

Jamais havia olhado para as filhas do doutor Caio com outros olhos, mas Letícia com aquela pouco roupa e me dando o maior mole me deixou bem interessado.

Também não há homem no mundo que em sã consciência não olhe para uma mulher daquelas praticamente colando os lábios nos seus e com uma roupa de f*der o juízo de qualquer um.

Termino meu almoço, jogo a comida que ela comprou fora, já que eu não posso comer, não gosto de desperdiçar comida, mas não posso comer camarão.

Olho para a mesa e ela esqueceu o celular, também saiu daqui com muita raiva de mim que nem olhou para trás.

Lavo a louça e decido descansar um pouco, já que ainda estou em meu horário.

Acredito que quando ela sentir falta do celular vai vir até aqui buscar.

Deito um pouco e vou ler, é algo que gosto de fazer nas horas vagas.

...****************...

Já passa das 17:00 horas da tarde e nada de Letícia vir buscar seu celular, na verdade o celular dela está comigo. Estou fazendo minha ronda aqui fora e trouxe o celular para se por acaso vê-la devolver para ela.

A família dela ainda não chegou, decido entrar e devolver o celular.

Penso muito antes de subir as escadas, não acho certo fazer isso e se o pai dela me pegar, estou ferrado.

Subo as escadas e vou até o quarto dela, sei onde fica cada canto dessa casa, até porque precisamos estar preparados para o caso de alguma invasão. Eles são muito ricos, Caio é criminalista, então são alvos certos, por isso ele se preocupa tanto com a segurança da família.

Bato na porta e ela me manda entrar, óbvio que ela não sabe que sou eu, até porque eu nem deveria estar aqui, mas de toda forma, eu entro.

Paraliso na hora que a vejo de costas somente de lingerie passando hidratante nas pernas.

Pigarreio e Letícia se assusta olhando para trás.

— Lucas?! O que faz aqui?

— Seu celular... — ela se aproxima de mim e estende a mão e eu entrego o celular.

— Obrigada. — ela vira as costas e continua passando o creme.

Fico parado feito um idiota olhando para ela, na verdade para a b*nda dela, que é muito bonita e a p*rra da calcinha é fio dental e vermelha.

Meu p*u está para explodir com essa visão, sem contar que ela me deixou com um t*são danado com suas provocações.

— Vai ficar ai parado me olhando?

— Não posso?

— Não!

— Não?

— Não, eu estou me arrumando para sair e encontrar alguém que queira me dar o que eu quero. — ela diz.

— Corações e flores?

— Não!

— Não?

— Não! No momento eu não quero corações e flores.

— E o que você quer então?

— Sexo. — engulo em seco.

Não gostei do fato de Letícia se insinuar para mim poucas horas atrás e agora está pensando em sexo.

Cadê a moça romântica que gosta da p*rra dos corações e das flores?!

— Aonde vai?

— Sair.

— Pra onde?

— À boate do Danilo.

— Eu vou com você! — digo sem pensar.

— É, eu ia te chamar pra fazer minha segurança mesmo!

— Não vou como seu segurança Letícia!

— Você está trabalhando, vai como meu segurança sim!

— Estou mandando uma mensagem para o seu pai agora pedindo o restante da noite de folga.

— Eu não te convidei para ir comigo!

— Eu não acho certo sair por aí e ficar com qualquer um.

— Não é qualquer um, eu tenho um encontro.

— Como assim um encontro?

— É! Um encontro! Não sabe como funciona?

— Eu sei o que é um encontro! Mas quero saber a que horas marcou esse encontro e com quem vai sair!

— Seu nome é Caio Alencar? Que eu saiba ele é o meu pai.

— E eu sou da equipe de segurança do seu pai! Portanto preciso saber de todos os passos que dão e com quem vão estar.

— Venha comigo e vai ver!

— Vou! Mas não como seu segurança. Seu pai me liberou.

— Que feio deixar de trabalhar para ir à uma boate.

— Se ele souber que estou indo evitar que faça besteira ele vai até me agradecer.

— Eu não quero sua companhia, Lucas, tem alguém me esperando.

— E o papo de gostar de romance?

— Gosto! Mas também sou jovem e preciso me divertir, quem sabe não encontro o meu príncipe do cavalo branco por aí.

— Em uma boate Letícia?! Impossível.

— Eu só quero me divertir um pouco.

— Pois iremos juntos!

— Quer virar notícia nas páginas de fofoca? Lá é um local bem frequentado, tem paparazzis para todo lado. Quer que meu pai descubra para que pediu uma folga?

— Droga! Não!

— Então...

— Vou de segurança então!

— Não precisa! Vou chamar outro.

Estou a ponto de perder o controle com essa menina.

— Se vista! Você vem comigo.

— Não vou! Eu tenho mesmo um encontro.

— Cancele.

— Não!

— Você quer sexo Letícia?

— Quero!

— Pois se prepare, que EU vou te dar o melhor da sua vida.

Ela morde o lábio inferior e me olha com a maior cara de safada, mas ainda sim vejo a doçura que ela tem nos olhos.

Sei que isso pode dar muita merda e pode ser um caminho sem volta, mas o fato de saber que ela pretende ficar com outro me deixou com raiva.

Se ela quer sexo, pois ela vai ter!

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