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Cinzas E Flores - Renascimento

CAPÍTULO 1 - Névoa de Memórias

Em um reino sombrio e fantasmagórico, vive Livy, um monstro de aparência abomino amaldiçoada com um poder terrível: a capacidade de matar com o toque. Livy serve fielmente seu mestre, realizando seus caprichos sangrentos.

No seu mundo ela era a Senhora das Cinzas, o ar vibrava com energia sombria, respondendo ao seu chamado. Possuía uma forte energia negativa por esses motivos, vivia solitária. Era perspicaz com a sua lâmina, banhada em sangue e ódio, era seu instrumento de morte impiedosa. Nenhuma súplica, nenhum lamento, jamais tocara o seu coração endurecido.

Seu trabalho era matar, torturar e destruir tudo, a fim de proteger sua nova casa. Isso tudo foi tornando-a mais fria.

...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...

O vento frio chicoteava o rosto de Livy enquanto ela se sentava em um tapete surrado na fronteira entre os mundos. A terra seca e rachada sob seus pés era um lembrete constante da natureza desolada de sua morada. Já se passaram cem anos desde que ela foi exilada para este reino caótico, e a monotonia da sua existência a consumia.

Em frente a ela, do outro lado do abismo infinito, Ember, a fénix imortal, se aproximava com passos hesitantes. A sua beleza radiante contrastava com a escuridão que emanava de Livy.

Lily viveu cem anos em um mundo caótico afastado dos humanos. Não se lembra de como foi parar ali e com passar do tempo foi lidando melhor com a situação.

Há quem diga que em vida, ela era miserável e cheia de ódio por isso se transformou no monstro que é e foi para ali.

— Eu sendo uma monstro fiz inúmeras coisas que… não lhe agradaria se eu contasse e não me orgulho disso.

— ...

— Ha! - zombou. - Quem eu quero enganar? Eu amo ver as aquelas alminhas sendo torturadas, implorando por suas vidas e no fim de tudo serem condenadas. Foi para isso que fui feita, para condenar. - completou.

— Mas está ficando chato, entende? Sempre repetindo as mesmas coisas.

— Ember se sentou na grama verdejante do seu lado, a distância imposta pela fenda entre os mundos era um lembrete constante da separação entre elas.

— Mas este é o seu propósito, Livy. Você foi criada para ser um monstro.

— Eu não sou um monstro! Eu era humana! Uma vez tive um nome, uma vida...

— Eu sei, Livy. Eu sei o que você perdeu.

— Mas como?

— Porque eu também fui humana.

— Você? Uma humana?

— Sim, há muito tempo. Todos que estão aqui foram humanos algum dia. Uns por seus ódios e arrependimentos em vida vão para o seu reino e outros por boas escolhas estão aqui. - Ember falou apontando para o reino onde vivia.

— E se eu não quiser mais ser isso? - Livy perguntou, sua voz tensa.

Ember ficou em silêncio, ponderando as palavras da amiga.

— Você está falando em heresia, Livy. Se seu mestre te ouvir... - Alertou preocupada.

— Então que me ouça! - explodiu em raiva.

— Se acalme, Livy. Acho que você não pode mudar isso.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O vento uivava entre os mundos, carregando consigo o eco da rebelião de Livy.

— Estava pensando...no passado.

— Por que? - se preocupou. - Você sempre foi assim, Livy. Desde que te conheci, por que quer mudar agora?

— Pergunte as outras criaturas, elas sabem o que são e o que foram. - murmurou.

— Você deve ter feito algo em vida para ser uma exceção e não se lembrar de quem era.

— Esses dias estou tendo pesadelos.

— Talvez você tenha criado finalmente uma consciência ou as almas estão-te cobrando.

— Elas não ousariam! - Livy retrucou. - Eu ainda consigo fazê-las deixarem de existir.

Ember riu.

— O que está pensando? - Ember perguntou. - Você acha que são suas memórias?

— Meu mestre, ele nunca me contou como morri. As vezes gostaria de saber, pois há um vazio dentro de mim. Não importa quantas almas eu torture, nada preenche. A respeito que eu sempre me dá é: não importa, tome essa tal pessoa para mim. E eu vou.

— Por acaso está realmente pensando em parar de ser um monstrinho? - brincou. Os ouvidos de seu mestre sangrariam ao ouvir isso.

— Você vai falar com seu mestre? - Ember falou.

— Devo me atrever a ir vê-lo e perguntar sobre mim?

Ember ficou em silêncio por um longo tempo, seus olhos dourados examinando o rosto de Livy.

— A escolha é sua. Mas lembre-se que as consequências serão graves.

De repente, um som metálico a fez se virar bruscamente e apontar uma de suas facas para onde vinha o som. Um dos guardas de seu mestre, uma criatura imponente com olhos penetrantes, se aproximou.

— Estava te procurando. - falou a criatura com uma voz grave.

— Por quê? - Livy se empertigou, assumindo uma postura de defesa com a voz tensa.

— Abaixe essa arma primeiro.

— Estou indo embora, Livy. - Ember avisou, sem poder se despedir direito. - preciso escoltar uma alma agora que está voltando para o mundo dos humanos.

Livy nem conseguiu responder Ember, pois ela já tinha desaparecido.

— Vosso mestre, está lhe convocando a uma reunião. Tem uma hora que ele te procura, que bom que te encontrei antes, mas agora se apresse.

Um calafrio percorreu a espinha de Livy. Uma reunião com seu mestre? A convocação não poderia ter chegado em pior momento.

— Aquela criatura... - murmurou.

CAPÍTULO 2 - A Ponte das Almas

Livy acompanhou o guarda em passos apressados até a morada de seu mestre. O frio da noite se intensificava, mas nada se comparava à frieza que percorria sua espinha. A convocação inesperada a deixava apreensiva.

Ao chegarem, as portas se abriram automaticamente, revelando a sala escura onde seu mestre habitava. Uma figura imponente estava sob um trono de ossos, seus olhos vermelhos como brasas fixos em Livy.

Livy se ajoelhou diante do trono do Lorde das Trevas, a escuridão consumindo-a. O frio emanava da sua presença, ele era a criatura mais poderosa e assustadora daquele reino. Muito pior do que Livy.

— Livy? - a voz grave do mestre ecoou pela sala.

— Estou aqui. - Falou saudando. - desculpe a demora, mestre.

— Á vontade. - ele disse com um aceno de mão dispensando a reverência formal.

— Obrigada. Mas por que me chamou?

— Sabe que superestimo você, não sabe Livy? - o mestre começou, sua voz carregada de expectativa. - Que desde quando chegou, eu cuidei de você.

— Sei, Mestre. - A lembrança de sua infância sombria, veio nublando sua mente. - Eu agradeço por isso. - falou forçadamente.

— Que bom! - Ele sorriu revelando seus dentes afiados. - Agora preciso que me retribua.

— Por acaso não retribui com as centenas de tarefas que fiz a pedido dele, nesses últimos ano? - revoltada pensou.

— Sei que já pedi outros favores para você, mas tenho um problema grande vindo e preciso que cuide desse problema. Preciso de alguém de confiança, alguém que dê conta do trabalho e esse alguém é você.

— Eu? - Livy perguntou, o espanto tomando conta de seu ser.

— Sim, um humano, um ser desprezível desafia o equilíbrio entre os mundos. Ele deve ser eliminado para não nos afetar, antes que seja tarde.

— O que devo fazer?

— Você deve viajar ao passado e eliminar a ameaça antes que ela se concretize.

Ela suspira.

Livy ergueu-se, seus olhos ardendo com um brilho sinistro:

— Assim será feito. - reverenciou novamente.

...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...

No mesmo instante, Ember se encontrava na Ponte das Almas, lugar que pertencia ao seu reino. Humanos que morrem e vão parar ali podem escolher renascer, ver seus entes queridos ou voltar para resolver algo pendentes, mas precisam se preparar para isso durante algum tempo.

Ember ficou responsável em guiar a alma que passará pela ponte hoje, ambos estão parados ali em frente.

De repente, uma luz fraca surgiu na névoa, crescendo em intensidade até revelar uma figura etérea.

— É chegado a hora Ember, mas antes preciso falar com ele.

— Como desejar. - reverenciou e se afastou um pouco dando espaço para a alma.

— Esta é quem eu havia falado, você deve me ajudar a salvar ela.

— Mas como? - arregalou os seus olhos. - Essa não é a criatura que vive do outro lado?

— Sim, essa mesma. Você não renascerá mas voltará sua vida antiga após 80 anos vivendo aqui, você está pronto. Eu preciso de sua ajuda.

-— Por que eu devo ajudar uma criatura que vive de forma tão desprezível? - reclamou.

— Você não vai entender agora, todavia preciso que vá. Talvez não lembre deste mundo que estamos agora e nem do meu pedido e isso acabe dificultando, mas confio em você.

Ambos estavam em silêncio enquanto a alma pensava.

— Se eu fizer isso, poderei depois renascer?

— Se essa ainda for a sua vontade, sim. - a figura concordou.

— Farei como me pediu.

— Vale lembrar, que caso falhe muitas vidas estarão em jogo.

— O quê!

— Você já aceitou, alma. Não há como voltar atrás em um pedido meu.

Então, a alma se virou olhando para o final da ponte que parecia distante e começou a caminhar. Enquanto isso Ember e a figura ficaram para trás o observando passar em segurança.

- Um dia poderia renascer também, Mestre? - ela perguntou.

- Você não pode passar, Ember. O seu destino é outro, mas você foi de grande ajuda para os dois até agora, obrigado.

...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...

No salão escuro do Lorde das Trevas, ele se concentrou canalizando sua energia sombria. A névoa densa ao seu redor se contorceu e se dobrou à sua vontade, abrindo um portal.

— É por este portal que você retorna ao passado.

Ela respirou fundo, preparando-se para o desconhecido.

— Confio em você, Livy.

Com um último olhar para o seu mestre, Livy se lançou no portal, desaparecendo na névoa.

CAPÍTULO 3 - O Retorno à Vida

Livy emergiu do portal, encontrando-se em uma floresta exuberante, banhada pela luz do sol. O ar fresco e puro encheu seus pulmões, diferente da névoa densa do reino em que mora.

A primeira coisa que reparou foi em sua força, ela estava leve parecia que tinha perdido todo o seu poder sobrenatural.

Estranhou pois agora tinha cabelos brilhosos, a cor ainda era a mesma, preto. Reparou em suas mãos, agora só tinha duas e eram pequenas e delicadas.

— Faz tanto tempo, então é assim que é estar viva!

Olhou a sua volta mas não sabia onde estava. Suas roupas que não eram da melhor qualidade, estavam molhadas indicando que caiu no rio ali próximo.

— Meu mestre me colocou no corpo de outra pessoa? O que ela fazia aqui?

Livy precisava encontrar o caminho para a cidade grande mas estava sem seus poderes e com frio.

Se sentou à beira do rio, a água cristalina refletindo o sol nascente. O frio da manhã a fez tremer, e ela se enrolou na capa fina que encontrou ao lado do corpo que agora habitava.

Seus olhos, ainda se ajustando à luz, percorriam a floresta exuberante ao seu redor. O canto dos pássaros e o sussurro das folhas eram sons estranhos e maravilhosos, tão diferentes da névoa densa e do silêncio do reino caótico.

Livy tocou seu rosto, sentindo a textura macia da pele e a delicadeza das feições. Seus cabelos negros e curtos caíam em ondas até a linha dos ombros, e seus olhos eram tão verdes como a grama que via no reino de Ember.

Com um suspiro, ela se levantou e começou a caminhar pela floresta, sem saber para onde ia. A única certeza que tinha era a necessidade de encontrar a cidade, um lugar onde pudesse comer e descansar antes que chegasse a noite, e então, pudesse planejar seus próximos passos.

Seu mestre não lhe deu informações sobre a pessoa dona deste corpo, apenas falou quem ela deveria atingir e assim que tivesse  atingido a missão poderia ir embora.

Finalmente, após uma longa caminhada, Livy chegou à cidade grande. As ruas movimentadas, os prédios altos e o burburinho das pessoas a deixaram atordoada.

Ela vagou pelas ruas, observando as pessoas com seus afazeres, seus sorrisos, suas ansiedades.

— Infelizes - murmurou, franzindo a testa. - por que sorriem á toa.

De repente, em uma vitrine empoeirada, Livy se deparou com seu reflexo e engasgou com a própria imagem.

— Eu sou uma criança! - pensou ela com seus olhos arregalados de espanto. - Por que ele me deu este corpo? A missão, aparentemente, vai demorar mais tempo.

Sua aparência agora, era de algum que tinha seus 8 anos de idade.

— Celine?!

Gritou uma voz de longe que foi ignorada por Livy pois ela estava concentrada observando sua nova aparência.

A voz, doce e melodiosa, vinha de uma mulher idosa que se aproximava com um sorriso gentil.

Livy a encarou, incerta.

— Celine? -O nome soava estranho, mas algo familiar pairava no ar.

A mulher estendeu a mão, seus olhos cheios de compaixão.

— Venha, Celine. Está na hora de voltar para casa.

Livy hesitou, dividida entre a desconfiança e a curiosidade não saiu do lugar.

— Voltar para casa? - Questionou ela em voz baixa.

— Mas... onde essa criança mora, será que ela confiaria em você? - pensou.

Livy tinha muitas dúvidas em sua cabeça, mas seria estranho se ela fizesse algumas perguntas para a senhora na sua frente.

A mulher sorriu, seus olhos transmitindo uma sabedoria ancestral.

A senhora parecia inocente aos seus olhos então decidiu confiar nela e estendeu a sua pequena mão.

— Ah céus! Suas roupas estão todas molhadas! - reclamou, a compaixão sumiu de seus olhos dando lugar para um olhar de reprovação. - Eu falei para não sair correndo por aí.

Livy a olhava sem entender a relação da senhora com a criança.

— Eu cai no rio. - Livy sucintamente falou.

— O que eu faço com você, Celine? Sua vozinha não tem mas idade para cuidar o tempo inteiro de você. - reclamou. - Você deve ser comportada.

Disse tirando um cobertor do cesto humilde que carregava e a cobrindo, criando mais uma camada para mantê-la aquecida.

A senhora então a levou para casa.

Livy olhou para a casa com uma mistura de curiosidade e apreensão. A vida que ela agora habitava era um mistério, e a casa era a porta de entrada para o desconhecido.

A casa de Celine era um reflexo da própria vida: humilde, mas aconchegante. Situada em uma sem saída, mais afastada do centro. A modesta construção de dois andares se destacava apenas pela porta de madeira verde desbotada e pelas flores coloridas que adornavam as janelas e o pequeno jardim na frente.

O interior da casa era simples e funcional. No térreo, ficava os dois quartos da casa, na parte de baixo estava a sala de estar. Era mobiliada com um sofá gasto, algumas cadeiras de vime e uma mesa de centro rústica. Uma lareira de pedra ocupava um lugar de destaque, emanando calor e aconchego durante os dias frios. Livy se aproximou da sala e viu um homem barbudo, ele estava dormindo no sofá parecia cansado mas em paz naquele momento.

Ao lado da sala, a cozinha. Era pequena, mas bem equipada. Panelas de cobre prendidas por ganchos na parede, e o aroma da comida sendo cuidadosamente preparada pela avó de Celine se misturava ao cheiro de ervas frescas colhidas no jardim.

O sol da manhã banhava a cidade com os seus raios dourados, iluminando o rosto de Livy enquanto ela dormia. O corpo de Celine, frágil e delicado, era um contraste gritante com a força e a ferocidade que habitavam a sua alma.

Ao despertar, Livy se viu confrontada com a realidade de sua nova vida. A fúria que a consumia no reino caótico agora era contida por um corpo que não acompanhava seus impulsos.

— Se a missão era tão importante, por que ele me deu esse corpo inútil! - reclamou em seu quarto.

Livy desceu as escadas mas nos cômodos de baixo não tinha ninguém, os avós de Celine aparentemente estão fora. Na cozinha Livy viu o seu café da manhã a esperando na mesa no mesmo instante seu estômago roncou pois agora como humana sentia fome.

Após o seu café, trocou o seu pijama e aproveitou que não tinha ninguém com ela, saiu da casa de Celine.

Com passos hesitantes, Livy perambulou pelas ruas da cidade, observando as pessoas com seus afazeres cotidianos. A cada sorriso, a cada abraço, ela sentia uma pontada de inveja. A vida humana, tão simples e mundana.

Em um mercado movimentado, ela se deparou com um grupo de crianças brincando. Seus olhares se cruzaram, e por um breve momento, ela viu a si mesma em seus rostos, a inocência e a alegria que ela havia perdido há muito tempo.

Uma das crianças, um menino com cabelos e olhos  castanhos brilhantes, se aproximou dela.

— Você quer brincar conosco?

— Eu, brincar? - a ideia lhe parecia absurda. Ela, a Senhora das cinzas participar de algo trivial e humano. - Há! Não me faça rir mini humano.

— Mini...humano? - falou a criança demonstrando estar desconfortável e perdida com a resposta de Livy.

O menino, ofendido pela resposta de Livy, se junta aos seus amigos e a deixa sozinha. Ela observa as crianças brincando e sente uma crescente sensação de isolamento.

Mais tarde, Livy esbarrou em um vendedor, derrubando sua barraca de frutas sem querer. Maçãs, laranjas e tomates rolaram pelo chão, enquanto o homem gritava de raiva.

Evidentemente estressado, o homem a empurrou com força, fazendo-a cair no chão.

— Olha o que você fez, vá embora, garota! - ele gritou, seus olhos cheios de fúria.

Livy se levantou, o sangue batendo em seus ouvidos deixou suas orelhas vermelhas. Uma onda de fúria a dominou e, sem pensar, ela ergueu a mão e inesperadamente lançou um raio de energia contra a barraca do homem.

A madeira rachou e pegou fogo, as chamas se alastrando rapidamente. O mercado se transformou em um caos.

— A minha força, pude senti-la por alguns instantes?! - pensou animada. - eu ainda tenho ela.

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