Mais uma manhã... Esqueci de fechar as cortinas antes de dormir e o sol invade meu quarto com uma luz brilhante e perturbadora. Já coloquei meu despertador na soneca umas três vezes, levanto da cama bêbada de sono, abro a porta do meu guarda-roupa e em seguida pego uma calcinha qualquer. Tomo meu banho em cinco minutos e escovo os dentes... Fico me encarando no espelho com a boca cheia de espuma, cabelo molhado, sem postura, só de calcinha e me pergunto... Quando foi que minha vida ficou tão monótona e sem graça?
Depois de lavar a boca saio do banheiro e retorno ao quarto, me olho no espelho que fica na porta do guarda-roupa e pensamentos negativos sobre mim e sobre minha vida voltam e me tormentar... talvez eu devesse cobrir todos os espelhos da casa? Olho mais do que a mim através do espelho e olho em volta dele, vejo minha cama bagunçada, umas sujeirinhas no vidro, a janela, o lado de for... O QUE É ISSO? Fixo meu olhar naquele ponto do espelho que reflete o lado de fora, eu estou vendo... parece um garoto... olhando pra cá... na janela do prédio ao lado!!!!!
Meu cérebro demora pra processar a situação, mas finalmente desperto levando um susto (um susto bem atrasado por sinal), puxo meu lençol para me cobrir e corro até a cortina e a fecho. Estou sem ar, fico segurando a cortina com força desacreditada. Dou uma pequena espiada pra ver se aquele garoto ainda está olhando pra cá e não o vejo. Quem era ele? Porque ele estava olhando tão fixamente? Ok, pergunta idiota, eu sei para o que ele estava olhando! Afinal, estou só de calcinha. Quando estou prestes a desmaiar com tamanha vergonha me lembro que preciso ir trabalhar e que já estou atrasada!
Termino de me arrumar por completo em menos de dez minutos e esse é meu novo recorde. Seria uma vitória se eu não estivesse com meu psicológico abalado depois do que acabou de acontecer.
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Eu me chamo Dillan, e não, não sou um garoto apesar do nome. Tenho 24 anos e me mudei esse ano para esse prédio residencial. É minha primeira vez morando sozinha! Trabalho na biblioteca da faculdade onde estudo durante o dia e de noite, aulas! Espero que tudo dê certo!
Que dia!! O trabalho não é difícil mas é tedioso as vezes... Os professores são loucos, todos resolveram passar trabalho essa semana. Caminho até minha casa mas ao ver a loja de conveniência resolvo entrar, afinal, acabou a comida. Passo pelos corredores procurando por algo rápido de preparar e paro em frente aos macarrões instantâneos. Seguro um sabor diferente em cada mão na dúvida entre um sabor que já conheço e um novo, até que ouso um som alto de uma caixa caindo no chão perto de mim e levo um susto.
Olho pra ver o que é e um menino bonito, que parece trabalhar aqui, está pegando a caixa do chão. Ao se levantar nossos olhos se cruzam por um segundo, um único segundo que me fez perder o ar.
O olhar dele é tão intenso, parece que viu através de mim com seus olhos escuros como a noite... O que estou pensado?? Sacudo a cabeça tentando voltar pra terra do macarrão instantâneo. Pego o sabor que já conheço e saio dali.
Chego finalmente em casa e preparo meu macarrão sem conseguir parar de pensar naquele olhar... Será que devo voltar lá amanhã? Não! Aquele garoto tem jeito de ser menor de idade, nem pensar, sem contar que não tenho tempo pra ficar paquerando ninguém. Depois de comer, lavo a louça e começo a introdução de um trabalho da faculdade. Já é quase 1h da madrugada! Eu já estava deitando quando olho para a cortina aberta, not today cortina! Eu a fecho.
De manhã acordo com algo que não é meu despertador, é um ligação. Atendo sem ver quem liga.
— Alô... — Digo sonolenta e com os olhos fechados.
— Dillan!!!! - Grita minha mãe. — Que desnaturada! Não me ligou nem sequer uma vez essa semana! - Ela realmente parece estar cuspindo fogo.
— Mãe... A senhora não acha que está muito cedo pra me dar um sermão? Eu ia te ligar hoje a noite de qualquer jeito... - Digo esfregando os olhos.
— Cedo? Mas já são quase 9h!
— AAAAAH!!! Mãe, tchau!!
Desligo o telefone e me levanto esbarrando em todas as paredes e tomo um banho relâmpago! Que droga!! Minha sorte que meu trabalho é aqui perto e os alunos não costumam ir pra biblioteca as 9h. Não acredito, já é meu segundo atraso esse mês!
Fim de mais um dia. Cheguei dez minutos atrasada hoje e levei uma pequena bronca do meu superior. Graças a Deus é sexta! Eu realmente preciso mudar minha vida, meu corpo está até se recusando a ouvir o despertador... Tenho que passar na loja de conveniência, acho que vou fazer uma pequena compra pra me sustentar o final de semana.
Coloco algumas coisas no cesto e resolvo ir no setor de frutas, tem uma maçã vermelha brilhosa em uma prateleira alta, não consigo pegar. Um braço passa por cima de mim e pega a maçã. Eu viro indignada pra reivindicar a maçã pela qual lutei e me deparo com ele, o garoto do olhar intenso de ontem. EU TINHA ME ESQUECIDO COMPLETAMENTE DESSE CARA!
Ele estende o braço para mim me entregando a maçã, eu pego de sua mão com cuidado me sentindo constrangida. Ele é sério, transpira intensidade, sua expressão não muda e seu olhar... me invade. E como é alto! Não tinha reparado nisso antes...
— Gananciosa você... - Diz ele com uma voz grave que me desestabiliza na mesma hora.
— Ga-gananciosa?! Como assim? - Pergunto dando uma recuada e bato as costas na prateleira atrás de mim.
— Bem... você queria justo a maçã do topo ao invés das outras.
Ele se vira pra ir embora mas eu sinto a necessidade de dizer algo... qualquer coisa, para que ele fique um pouco mais.
— É QUE... ahem... - Acabei gritando sem querer. Quero morrer!! Preciso ser mais confiante. — Ela é linda! Brilha entre as outras... Pode parecer besteira mas, é como se ela fosse pra mim... Entende?
ISSO NÃO FAZ NENHUM SENTIDO DILLAN!!! O QUE ESTÁ DIZENDO MULHER!?!? Meu rosto fica vermelho e abaixo a cabeça com vergonha, acabei dizendo qualquer coisa e agora ele deve me achar boba. Agora ele está parado olhando para mim sem dizer nada.
— Tem razão! - Diz firme. — É linda!
Lavanto minha cabeça e ele está olhando diretamente para mim com um sorriso meigo no rosto e em seguida se retira sem dizer mais nada.
O que é isso que estou sentindo?! Só posso estar imaginando coisas! É isso com certeza! Esse cara me chamou de linda? Claro que não né... apenas maçãs, maçãs e maçãs. Acho que finalmente estou enlouquecendo. Saio dali e vou para o caixa pagar e percebo que comprei coisa demais. Aff, e comprei uma única fruta... Acho que aquele encontro me desestabilizou até demais. Fazia tempo que não conversava com alguém com aquele nível de beleza.
Pago minhas compras e em seguida faço um esforço pra conseguir pegar todas as bolsas. Chegando ao lado de fora o vejo novamente, ele está encostado na parede mexendo no celular e no mesmo momento nossos olhares se encontram. Desvio o olhar rapidamente e sigo meu caminho.
— Me deixe ajudá-la. - Diz ele já pegando mais da metade das bolsas.
— Não precis...
— Tudo bem. - Diz me interrompendo. — Também vou pra esse lado.
— V-você mora aqui perto? - Pergunto um pouco afobada.
Ele apenas acena com a cabeça confirmando e continuamos andando sem dizer nada. Ele é tão gentil, apesar de parecer ser uma pessoa séria. Observo discretamente seus braços e é musculoso mas não é exagerado, ele tem um olhar centrado e firme. Me pergunto o que tem por trás desse olhar.
Chegando no portão do condomínio vejo que o porteiro não está lá e tenho que procurar a minha chave.
— Se você quiser posso te ajudar a subir com as compras. - Diz ele enquanto estou revirando minha bolsa.
— E-eu não sei se devo. Você já foi tão gentil me ajudando até aqui! - Digo abrindo o portão.
— Não tem problema nenhum!
— Tudo bem... se não é um problema, aceito sua ajuda.
Estamos no elevador e... MEU DEUS DILLAN VOCÊ ESTÁ LEVANDO UM DESCONHECIDO DIRETO PARA O SEU APARTAMENTO!! AONDE FOI PARAR O SEU SENSO DE SOBREVIVÊNCIA?!?!
Chegamos no meu andar e saio do elevador apressadamente e seguro a porta para que ela nao feche.
— Você pode deixar as coisas aqui no corredor mesmo. Já fez mais que o suficiente!
Ele parece perceber que estou falando de um jeito ansioso e aceita o que digo. Eu permaneço segurando a porta do elevador enquanto ele deixa as coisas perto de mim e isso leva menos de um minuto.
— Muito obrigada... - Digo.
Ele entra no elevador sem dizer nada e aperta o botão para o térreo. A porta ia se fechar mas a seguro novamente.
— Muito obrigada mesmo! - Digo olhando para baixo. Será que o deixei com raiva? O silêncio dura por alguns longos segundos.
— Não precisa ter medo de mim. - Ele quebra o silêncio. — Não faria nada com você.
Depois de dizer isso eu retiro minha mão e a porta começa a se fechar.
— A não ser que você queira que eu faça! - Diz ele antes que a porta se feche por completo.
Fico parada no corredor com meu corpo todo vermelho pensando em tudo que aquela última frase poderia significar. A minha vizinha abre a porta na mesma hora me dando um susto. Ela está com uma camisola típica para a idade de velhinhas de 70 anos, o que é engraçado de ver.
— Sra. Mio, está tudo bem?
— Dillan, escute bem. Se você não investir nesse homem, eu vou! - Ela fecha a porta logo em seguida.
O que acabou de acontecer aqui?!?!?
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