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NINE

One

Eu reencarnei. De novo

Muito tempo se passou desde a Terceira Guerra mundial começou. Há milhares de anos, os povos de todos os lugares começaram a simplesmente se rebelar e se unir contra seus respectivos governantes. O povo passou a lutar por uma revolução, onde o sistema governamental seria melhor para todos.

O descontentamento dos povos começou, quando entenderam que a tão aclamada democracia estava simplesmente corrompida, e pararam de simplesmente ignorar que os governantes roubavam a verba vinda do esforço do trabalho de todos, que dava para salvar milhares de pessoas em estado de extrema pobreza.

Diversos protestos foram iniciados, e mostrando a veracidade da famosa frase “A união faz a força”, as multidões que não tinham armas, e nem grandes recursos, conseguiram criar um enorme transtorno para o regime.

O que antes eram apenas protestos, virou uma rebelião e então uma guerra, onde governantes em geral passaram a se esconder de seu próprio povo. As pessoas que antes estavam juntas contra os partidos passaram a guerrear entre si para que pudessem escolher quem governaria os países.

As divisões foram recriadas e mesmo assim as guerras não pararam. E a única organização que se manteve intacta foi a ONU, pois muitos acreditavam que ela estava realmente tentando os ajudar, quando, na verdade, ela estava criando uma força com pessoas indecisas que não sabiam o que fazer e de que lado ficar.

Com essa força de poucas pessoas, eles se viram na necessidade de pessoas mais fortes e assim foram criados programas de treinamento que não foram muito úteis. Assim, deixando que a mente de pessoas em pânico florescesse. E então foi criado o Projeto MAGE (Mistura Acidental de Genes Humanos e Animais), e com isso foram criadas as espécies de hoje, conhecidas como Seres Místicos.

Em resumo, mesmo com o magnífico Projeto MAGE, a ONU não conseguiu se livrar da destruição.

Anos se passaram desde a Quinta Guerra Mundial, trazendo de volta a monarquia, tendo a insuportável e arrogante nobreza, e os pobres plebeus, onde o mundo foi separado em reinos e impérios, e o novo ranking dos mais fortes foi definido outra vez.

Diversas espécies lutaram na guerra procurando maior validação para o nosso inestimável Sistema Universal de Forças, onde catalogavam todos os tipos de poderes que surgiam e a quem pertenciam, e não que seja surpreendente, mas o fato é a SUF que era gerenciado por idosos seculares que nunca levantaram uma espada na vida.

No topo da cadeia alimentar estão os feéricos criados da variante Lúpus, os feéricos-lobos, em geral, sendo os nobres. Mesmo que os plebeus da espécie fossem muito fortes na época, esse posto se deu graças ao Imperador e sua gloriosa elite. Os conhecidos Parckerianos. Em grande parte eles tinham compaixão, eram justos e inteligentes, representavam o próprio bem e a justiça. Entretanto, com a revolução tendo acontecido exatamente por esse motivo, muito tempo se passou e, como todos sabemos e já esperamos, nem mesmo a melhor das espécies são imunes à corrupção. E sendo assim. Até mesmo entre os Parckerianos havia maçãs podres.

O planeta está completamente dividido, estilhaçado, e não apenas por territórios ou povos, suas almas e seus corações ainda se ressentem da nova atualização não muito diferente do sistema. As batalhas são travadas em todos os lugares, independente do império ou reino, de tal forma que chega a nos confundir se nossa evolução da raça humana e sociedade é real, ou voltamos à era primitiva.

Com nossos poderes e alta tecnologia, é evidente a nossa evolução, porém a volta de espadas e o abandono de filhos bastardos — o que é bem comum já que as espécies não se misturam mais — mostram que o primitivismo voltou com mais força em nosso sangue. Diferente do início dessa Era, onde casamentos de espécies diferentes eram desejados para o aumento de poder ou para a criação de novos tipos de crianças, e até mesmo as armas de fogo eram usadas em poucos casos, enquanto agora essa tecnologia foi abolida. O que é óbvio é que as crianças híbridas seriam assustadoramente poderosas, deixando muitos velhinhos acomodados com medo, assim alegando que acabou em tragédia, e então tornando todos os híbridos em bastardos.

Feéricos de todas as espécies, desde os lobos até os gatos, fadas, vampiros, Sirens de água doce, sereias de água salgada, todos evoluíram de tal maneira que temos três formas físicas, que também foram estudadas, testadas e catalogadas pelos velhinhos no poder. Essas formas ajudaram em diversas coisas em nossa hierarquia, de forma que qualquer um que tenha as três formas seja considerado da Elite, mesmo que tenha nascido plebeu, quando se tem duas você é automaticamente escalado para um ramo ou cargo mais alto, geralmente convocado para o exército ou cargos de governo, exceto se você é um híbrido, e quando se tem apenas uma você é considerado da Ralé, mesmo que pouquíssimas pessoas têm condições para treinar para despertar sua segunda forma. Enfim, viva o capitalismo. Sendo as três formas: a semi-humana, a de guerra e a bestial. Que variam de acordo com quem você é e sua espécie. Apesar de não ser nada padrão.

A forma semi-humana é usada pela maioria dos cidadãos comuns, como plebeus, tanto pelo fato de já nascemos com ela, quanto por que mesmo nessa forma você ainda pode ter acesso a uma pequena parte do seu poder.

A forma de guerra é aquela que todos podem despertar, contanto que tenha uma alma forte o suficiente para aguentar a transformação, já que sua alma é consumida gradualmente pela quantidade de poder liberada, o que acaba requerendo treinamentos físicos e mentais — geralmente usada por oficiais do exército, e membros de famílias reais e imperiais.

E por último a forma bestial, a mais forte de todas as outras formas e também a mais rara em todas as espécies, mas sendo completamente escassa em pessoas da própria nobreza. Essa forma não precisa de nenhum tipo de treinamento, você a desperta ao encontrar sua alma gêmea, e assim suas almas viram um só — vocês só despertaram caso os dois estejam na mesma forma. Assim, juntam suas forças e corrigindo seus pontos fracos, porém se um morrer, o outro também morre. Suas marcas se expandem virando a Marca da Alma temida por muitos, porém desejada pela grande maioria. Outro grande problema é o fato de que nem sempre a marca é aceita por uma das partes, às vezes por não amar o outro lado da marca, ou por outros motivos mais fúteis, e quando isso acontece, em vez das forças se juntarem, o que se juntam e aumentam são as fraquezas dos dois.

Mesmo que isso seja uma benção que todos podem alcançar, os feéricos-raposas, mais conhecidos por Foxers, jamais conseguiram essa forma física, não por não terem uma alma gêmea, mas o motivo nunca foi descoberto. E graças a isso, os Foxers estão fadados a estarem eternamente no segundo lugar no ranking, sempre um passo atrás do seu pior inimigo, os Parckerianos.

Além da Marca da Alma, cada ser independente da espécie já nasce com sua própria marca, que nunca se repete, é a nossa digital, porém é chamada Marca de Identificação. Ela define qual seu tipo de poder e intensidade, quais as modificações de suas armas e quantas são, e o tamanho do seu poder.

Nesse novo mundo, o Imperador mais forte se chama Kallisto Woof, o único imperador a despertar a Marca da Alma antes de completar a maioridade, e também o Imperador que levou os Parckerianos para o topo da cadeia alimentar, matando milhares de soldados inimigos. Ele encontrou sua alma gêmea cedo tão cedo quanto qualquer outro na história, mas a perdeu mais cedo ainda. Ela o abandonou por conta de sua família, que ameaçou iniciar uma guerra, graças às suas diferentes espécies, e o histórico ruim da família Woof.

Sua filha, Alexia Fallon, está sendo criada por plebeus do império de seu pai, sem que o próprio imperador saiba da existência de sua própria filha. Mas a mesma despertará sua forma de guerra ao fazer sua primeira vítima, assim chamando a atenção dos nobres.

Enquanto Alexia Fallon cresce, o imperador está em busca de um sucessor, pois mesmo que consiga viver durante muitos séculos, o próximo imperador precisa ser treinado, e quem normalmente seria o sucessor é Ethan Ainsworth, um feérico-lobo filho do melhor amigo do Imperador, Kyle Ainsworth.

E conto essas histórias com tanta certeza e clareza, por ser o enredo do jogo pelo qual encarnei novecentas e noventa e nove mil, novecentas e noventa e oito vezes, após escolher criar minha própria rota. Na verdade, com essa atual, eu já encarnei noventa e nove mil novecentos e noventa e nove vezes.

Geralmente consigo viver até os 16 anos em todas as minhas encarnações, e por enquanto tenho uma lista extensa dos motivos pela qual morri, e as evito, com algumas exceções. O que totaliza em 15.999.999 anos de vida — claro, se eu contar com minha vida inicial.

E qual foi o motivo da minha última morte?

O otário que está sentado no muro da minha casa…

Two

— Some daqui antes que eu te mate!

A máscara que cobre seu rosto é completamente dourada, dando ênfase em seus olhos levemente puxados com heterocromia, sendo vermelho, o direito e o esquerdo azul. A máscara negra que cobre todo o seu rosto tem padrões solares em dourado que deixam evidente qual o seu poder — caso a aura brilhante não faça seu trabalho corretamente.

Seu cabelo, que está sempre preso em um grande rabo de cavalo, deixa toda a extensão fazendo graça. Um grande contraste com suas vestes. O traje, tecido com fibras de um material mais escuro que o ébano, parecia absorver a luz ao redor, tornando-o quase invisível. As placas de armadura, feitas de um metal desconhecido, eram tão leves que o ar, e tão resistente quanto o aço.

Cada movimento seu era silencioso, graças às botas com solas de borracha que amortece seus passos. O capuz, raramente puxado sobre sua cabeça, ocultava seu rosto, revelando apenas o brilho de seus olhos.

— Calma princesa. — disse ele olhando em meus olhos como se não me reconhecesse, mas logo abre seu sorriso sarcástico — Foi um acidente…

A camisa manga longa que usava por dentro era tão justa definindo cada um de seus músculos, que era quase o mesmo de não usá-la.

— Acidente? Tem certeza?

— Uma distração? — ele desce do muro com apenas um movimento, fazendo com que uma pequena lufada de poeira subisse.

— Seu vagabundo! — os passos que dou em sua direção são firmes, sinto a energia que a terra emana, o que geralmente é perigoso — O que custava afastar ele? Quando você acordará?

— Calma aí! — seus braços se levantaram rapidamente conforme eu me aproximava.

A entrada de meu chalé estava fechada, revelando uma bela porta de metal, e a única coisa que me fazia exitar em usar Moon, era a probabilidade de destruir meu portão.

— Como vou me acalmar? Essa é a septingentésima quadragésima sétima vez que você faz isso!

Falei colocando as mãos em minha cintura enquanto observava sua postura relaxada, ele sabia que eu não atacaria.

— Que número é esse? — pergunta ele saindo da defensiva.

Minha raiva se transformou em incredulidade, ele era relativamente mais velho que eu, e não sabia disso. Qual o sentido de discutir com um ser que não sabe números ordinais.

— 747 Ethan. — desvio dele sem sequer olhar em seus olhos, entrando onde costumo viver — Como essa aliança se formou mesmo?

O lugar não é dos melhores para minha posição, sequer é grande em comparação ao lugar onde morei, porém, serve já que nunca passei mais de uma semana nele. E é o lugar onde não preciso de formalidades e onde as coisas podem ser do meu jeito.

— Na verdade, você tentou me matar… — começou Ethan vindo atrás de mim e se jogando na cama enquanto eu desatava o cinto pelo qual estava diversas adagas — Achando que eu era o verdadeiro Ethan, suas flechas acabaram. Eu te feri com a Sunshine, você ficou puta e me quebrou na porrada…

Tirei o cinto e Moon, minha arma destinada. Ela muda sua forma de acordo com seus nomes, atualmente ela tem seis formas: cheia, crescente, minguante, nova, lua sazonal e luar de sangue.

As modificações são como fases do seu treinamento, onde você desenvolve uma nova habilidade, e liberta um pouco mais de poder, assim aumentando seu nível.

Aprendi a arte da esgrima com Ethan, como parte do nosso acordo e promessa. Ele era um péssimo companheiro no início, mas um ótimo tutor, e apesar disso, transformava todas as aulas em meu inferno pessoal, eram deprimentes e sanguinárias.

A limpeza das lâminas era minha parte favorita do dia, não era trabalhoso, nem era necessário pensar muito sobre como seria o meu próximo passo. Era apenas, deslizar…

— E foi assim que a gente formou essa aliança.

— Ethan, — olhei diretamente em seus olhos erguendo as sobrancelhas — lembro como se formou, era uma pergunta retórica.

— Sei que você lembra, é impossível se esquecer de alguém com essa divindade aqui envolvida — seus olhos sorriam enquanto ele apontava para si.

— Okay… — falei sem o levar a sério, apenas sacudindo a cabeça.

Moon já estava limpa, assim como todas as outras adagas, joguei ela na cama e peguei uma muda de roupa. Uma já clássica, confortável e flexível, que já virou meu uniforme em todas as vidas. Comecei a caminhar em direção ao banheiro, pois acabara de renascer.

— Gatinha… — a hesitação em sua voz era clara, tanto que me virei imediatamente, para dar de cara com um Ethan cabisbaixo — Você não lembra do que aconteceu?

Havia diversas coisas para lembrar da vida anterior, mas nenhuma que requeresse muita atenção, nada novo, e mesmo assim parei esperando que ele prosseguisse.

— Nada mesmo? Digo nos últimos minutos antes de você reencarnar — falou ele com os olhos atentos por baixo da máscara — Nenhuma sensação de queimação? Nada?

A última coisa que me lembrava era de agonizar em agonia enquanto meu peito se enchia de ar, enquanto a espada de Damon estava atravessada sem que ninguém a tirasse.

— Não senti nenhuma queimação, mas me senti como um balão, cheia de ar graças a espada daquele…

— Nenhuma queimação, então… — falou ele pensativo enquanto olhava para o chão.

Quando voltou a me olhar, seus olhos pareciam indecisos e confusos.

— Você se sente mais forte?

— Na verdade, me sinto cansada, bem cansada, e nada, além disso.

— Entendo. — Sua voz estava rouca, e seus olhos não estavam sem foco, era como se ele tentasse ver através de mim.

- Está tudo bem? — perguntei dando um passo em sua direção — Aconteceu alguma coisa que eu devesse me lembrar?

— Nada de mais, talvez eu tenha começado a delirar.

Ele se jogou de costas na cama de olhos fechados enquanto usava seu braço como travesseiro novamente.

— Sabe que pode falar comigo, independente do que seja…

Eu o observava ainda em meu lugar.

— Fica tranquila, eu estava quase quebrando uma regra que eu mesmo criei…

Jamais mencionar vidas anteriores, jamais mencionar nenhuma vida gasta. Jamais repetir os mesmos erros, e nunca tornar outras vidas um peso. Já temos pesos de mais.

Ele suspirou e abriu seus olhos para me mostrar olhar duro e indecifrável.

— Vamos atrás de outra profecia?

— Vamos — falei ignorando o assunto de poucos minutos antes, assim entrando no banheiro — Mas agora quero a Rainha.

Three

Ethan Ainsworth, filho único da família Ainsworth e alma gêmea da nossa querida protagonista do jogo, Alexia Fallon. Um dos melhores caçadores de bastardos, e meu hater número um. E obviamente o personagem que mais me enoja, desde a época do jogo.

Ele foi criado como um perfeito desgraçado, odiando os híbridos, e tratando mulheres como objetos.

Até que chegou outro tipo de desgraçado para ocupar o corpo do otário, mas esse era apenas arrogante, estupido e introvertido. Nunca tentou me matar, — mesmo já tenham acontecido centenas de vezes — apenas enchia o meu saco a ponto de eu querer me suicidar.

A atual alma pertence ao Karin Berrecloth, um aspirante a militar do Reino Unido, que teve um passado tão ruim quanto o meu. E por mais que seja uma combinação complicada, somos uma equipe perfeita, pelo motivo: somos amiguinhos de dodói.

Karin Berrecloth era o filho mais velho de uma família britânica extremamente rígida, mas, ao mesmo tempo que negligenciava seus dois filhos, só que em níveis diferentes. Arthur Berrecloth era o filho mais novo da família e também o mais mimado, tanto que em dias de dificuldades, Karin tinha que renunciar a seu alimento para que ele pudesse comer duas vezes.

Apesar da sua vida familiar miserável, ele estudava e treinava para ser um militar importante, pela qual não precisasse de sua família para nada futuramente, até que Karin foi obrigado a acompanhar Arthur na floresta enquanto brincava.

Num dia de inverno na floresta britânica, o crepúsculo traz consigo uma aura especial de serenidade e beleza austera. As árvores despidas de folhas estendem seus galhos esqueléticos em direção ao céu, criando uma paisagem que parece ser esculpida pela própria natureza. O ar está impregnado com o frescor cortante da estação, enquanto uma leve neblina paira sobre a superfície dos rios, adicionando um toque de mistério e magia à cena.

Os rios, agora mais calmos e serenos, refletem os últimos raios de sol que tinge o horizonte de tons de laranja e violeta. As águas, ocasionalmente salpicadas por pedaços de gelo à deriva, fluem silenciosamente entre as margens cobertas por vegetação rasteira e arbustos resistentes. O crepúsculo empresta um brilho prateado às superfícies congeladas das poças d'água, transformando a paisagem em um cenário de conto de fadas gélido e encantador.

À medida que a luz do dia vai diminuindo, os sons da floresta adquirem uma qualidade mais profunda e misteriosa. O piar distante de uma coruja ecoa entre as árvores, enquanto o farfalhar das folhas secas sob o peso de um esquilo apressado que se prepara para a noite cria uma trilha sonora natural para o entardecer. E apesar da bela harmonia, aqueles sons distantes acabaram criando uma sinfonia macabra aos ouvidos de Karin.

No céu, as estrelas começam a surgir uma a uma, pontilhando a abóbada celeste com seu brilho frio e distante. A lua, pálida e resplandecente, emerge timidamente entre as nuvens, lançando uma luz prateada sobre a paisagem gélida. É um momento de tranquilidade e contemplação, onde a beleza austera da floresta britânica se revela em toda a sua glória durante o crepúsculo de um dia de inverno, observando cada movimento de Karin, cada respiração. E enfim servindo de cenário para suas decisões.

Karin não passava de uma criança, mas estava cansado da vida que levava graças aos seus pais narcisistas e seu irmão que mesmo tendo consciência de seus atos, insistia em tratá-lo como escravo pessoal.

Quando as trevas ficam espessas, não podemos ver o que está diante de nós e tomamos decisões precipitadas, que podem comprometer dias com a mais clara luz. As decisões de Karin tiraram o brilho de seus olhos, a esperança de ser uma pessoa boa, de não ser igual a seus pais, e o ar dos pulmões de Arthur.

Ele correu. Correu sem olhar para trás.

Correu antes que as trevas o engolissem de vez, antes que a culpa se alastrasse por seus ossos, antes que seus pais o culpasse mais uma vez por tudo, quando eram tão culpados quanto ele, antes que seus sonhos se perdessem em uma única decisão escura. Correu por tanto tempo em busca de aceitação, correu por tanto tempo à procura de um amigo que não o julgasse, até que enfim me encontrou aqui.

Nossa aliança se formou após uma luta levemente complicada, onde percebemos que ao invés de nos matarmos, poderíamos nos ajudar. Mas essa aliança só foi firmada após eu perceber que ele era um encarnado, assim como eu.

Conheço ele a 499999 vidas, quase metade do tempo em que estou aqui. E ele só deixou de ser o meu encosto depois de um baita esporro, e desde então ele virou um mulherengo de alta classe.

Cada ser tem habilidades únicas, mas existe aquela que todos os povos de uma mesma espécie têm em comum. Sendo habilidades úteis ao nível de ocorrerem acordos grandes para ter a possibilidade de usá-lo ao seu favor apenas uma vez.

E todas as vidas recorro às Sirens, as sereias de água doce. Elas têm o poder da premonição, desvendando caminhos, e vendo o futuro. Porém, esse poder, por mais que todas as Sirens os tenha, nem todas são poderosas, o suficiente para ter uma visão completa, ou sem interrupções.

— Agora você está se arriscando demais. — fala Ethan, que por mais que estivesse completamente contra isso, veio junto.

— Que diferença faz? — falo olhando para ele do galho mais alto — Vou reencarnar de novo.

Seu olhar era completamente repreensivo, e cauteloso. Entretanto, ele apenas falou:

— Você não sabe quantas vidas te restam, e se essa for a última?

— Ai, que fofo, quase acreditei que você estava preocupado comigo — digo com puro sarcasmo.

O rio estava cristalino e brilhante, era assim contanto que a Rainha estivesse tranquila.

—  Eu não tenho nada brilhante. — falei analisando — me empresta sua máscara?

— Nem fodendo! — ele salta para um galho que fica mais longe de mim, mesmo que eu não tenha movido um músculo.

Apenas olhei para ele com cara de tédio.

— Aí, eu sou uma princesa culta e não posso revelar meu rosto antes do casamento… — falo isso enquanto enrolo um cacho de cabelo em meu dedo.

Ethan, nunca tirou seu capacete, nem aqui e nem nas rotas do jogo. E Karin não é diferente, ele tem um grande receio, e mesmo em diversas vidas, eu nunca vi um pedaço de pele exposto, ou qualquer formato de seu corpo, menos ainda de seu rosto. A única coisa que sempre pude ver foram seus olhos.

— Não é assim… — seu semblante era frio, e sua aura ficou pesada em alguns segundos.

— Oh, vossa princesidade, pode me fornecer algo brilhante? — falo ainda em tom de zombaria — Já que sou pobre, você é rico.

— Não sou rico. — fala ele com as mãos na cintura — E você é a princesa aqui.

Reviro os olhos com a afirmação.

— Mas o Ethan é. — Estou cansada dessa discussão — E você é o Ethan.

Com movimentos rápidos, ele retira um rubi da ponta de uma das correntes que ficam presas em sua cintura, e atirou para mim.

— Bom garoto! — falo como se ele fosse um cachorrinho.

— Durma de olho aberto. — fala ele sem olhar para mim.

— Ai que meda…

A pedra era brilhante o suficiente e grande o bastante para causar um certo barulho para atrair nossa presa.

Eu a arremessei com força e não demorou para que as ondas se formassem, a corrente ficou mais rápida em comparação ao fluxo médio, e de um segundo para o outro se transformou em uma correnteza. Expondo à margem, uma garota encantadora e charmosa.

Seus cabelos eram de um azul brilhante, assim como as escamas em seus ombros, a enorme cauda e as íris de seus olhos perdidos. Cada pequeno movimento da jovem Siren esbanjava graciosidade e beleza, mas como aprendi há muito tempo, toda beleza pode ser mortal. A Siren olhou ao redor e ao perceber que não havia ninguém se sentou à margem com o rubi em suas mãos e só então percebi, ela era uma Alon.

— A mãe dela não é uma piranha? — perguntei aos sussurros para Ethan, que arregalou os olhos.

Eu não havia mentido em nada, mas pelo ar divertido que passava em seus olhos era possível acreditar que até entre os britânicos havia a eterna fase da quinta série.

Os galhos sob Ethan estalaram e a Siren assustada estava voltando para a água, e assim em um ato desesperado saquei Moon que estava apenas como uma adaga, e a posicionei apressadamente.

— Minguante… — sussurrei mais uma vez e Moon virou meu adorável arco perolado com manchinhas cinzentas e corda prata. Ao disparar a flecha em direção ao ar, falei — Lua Azul.

O céu da noite foi banhado no brilho de todos os tons de azul, desde o mais chato até o mais escuro. Era uma cena linda de se ver. As nuvens ficaram contornadas em brilho e as estrelas que não estavam lá, agora apareceram, e mesmo que fosse uma miragem, era lindo.

Furtivamente, desci da árvore e com os cipós da árvore prendi a princesa novamente às margens do rio, ainda mantendo contato com a água. E ela só reparou quando Ethan se aproximou com seu traje onde diversos rubis brilhantes estavam costurados.

— Foi uma ótima pesca, — falou Ethan avaliando o céu — teve até um show de luzes.

— Ha, Ha… — a princesa olhava para o traje de Ethan como se fosse roubar — Então peixinha, precisamos de um favorzinho seu…

Ela não olhava diretamente para mim, eu era apenas um detalhe, o que chamara sua atenção foi Ethan que sequer a olhou.

— Uma profecia? — A voz dela saia quase em transe, como uma música calma, ainda olhando para Ethan.

— Chama a sua mãe — a voz de Ethan era grave, e a única coisa que a Siren fez foi mexer sua cauda na água.

A onda causada na água foi transformando o rio em negro, as ondas voltaram a se formar e a correnteza ficou em uma velocidade surreal, quando uma cabeça escamosa apareceu. Era completamente careca, a pele esverdeada, olhos opacos e diversos dentes que saíam da boca. Sobre a cabeça havia uma coroa de ossinhos e espinhas retorcidas.

— Mais uma vez? — a voz era horrível, chegava a dar repulsa — Como pode ser a princesa das Sirens e não sabe se defender? Quando crescerá Angel Splendens?

Nesse momento tive certeza, ela era um Betta.

Uma espécie completamente difícil de se achar, pois foi a única espécie que não houve muito envolvimento com o Projeto MAGE, e os poucos que tiveram não tinham uma quantidade considerável de filhotes.

Pelo menos não uma quantidade considerável que sobrevivesse.

— O que desejam em troca da liberdade de minha sucessora? — a rainha sequer olhou para a gente desde que chegou, mas quando chegaram seus olhos se fixaram em mim e antes que eu pudesse responder ela continuou — Farei uma proposta: uma profecia em troca de uma aliança.

— Como é? — a voz de Ethan era sombria, e ele se aproximou da rainha.

A rainha apenas o ignorou, ainda mantendo seus olhos em mim, esquisitamente entre medo e fome.

— Será assim, te darei a profecia e a benção da água doce. — Sua voz, além de oscilar, parecia suplicante — E você dará sua palavra que será generosa com o meu povo.

Era uma aliança interessante entre tanto não haveria nada pela qual eu pudesse oferecer.

— Você não tem nada a perder.

— Não sou uma boa espécie para se fazer um acordo — falei dando um sorriso sarcástico.

— Só porque é meio raposa, bastarda? — falou a rainha — Sua mãe era ótima em manter acordos…

Naquele segundo, o chão começou a tremer, o sangue em minhas veias acelerou, minha visão ficou mais aguçada a cada batida de meu coração, era óbvio que meu corpo desejava que eu mudasse de forma, desejava sangue. E Moon que estava em meu dedo médio começou novamente a queimar, como um pedido, e como uma aprovação.

— Escuta aqui, sua vadia, — dei passos em direção à rainha e joguei a Betta para Ethan, que foi para as árvores — quem você pensa que é para me chamar de bastarda, ou sequer falar da minha mãe? Contínua nessa ousadia peixinha que comerei piranha frita no jantar.

— Amphitrite… — falou a princesa.

— Pode ser a Rainha de qualquer reino ou império, mas se falar da minha mãe eu juro…

As escamas da rainha começaram a cair enquanto eu caminhava em sua direção, apenas parei quando ela começou a brilhar como uma supernova.

— Quem sempre esteve ao seu lado será sua salvação, 

              Lutar contra isso te levará à perdição.

                Se descobrir a verdadeira história,

                  Finalmente conhecerá a vitória.

               Sendo sua última chance de tentar;

                      Ou nunca mais irá voltar.

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