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Além Das Páginas Do Passado: Em Busca Do Amor Perdido

Capítulo 1 Narrado pela Luiza Ribas

A minha respiração está pesada, sinto o meu coração batendo forte contra a minha caixa torácica, e as minhas mãos estão suando frio. Sinto um arrepio percorrer o meu corpo.

Encaro o meu reflexo no espelho. O meu rosto está coberto por uma maquiagem perfeitamente bem feita, realçando os meus traços. A cabeleireira está terminando o meu penteado, e quando termina ela diz que eu estou perfeita e sai do quarto me deixando sozinha.

Volto a encarar o meu olhar no espelho e sinto uma angústia tomar conta de mim. Os meus olhos estão brilhando, mas não é de felicidade. Na verdade, são lágrimas, lágrimas essas que eu não posso permitir que escapem e borrem a minha maquiagem.

Sinto vontade de gritar, de alguma forma me livrar de tudo isso que está me sufocando, mas eu não posso. Queria fugir de tudo isso, fugir desse compromisso, fugir das minhas obrigações, fugir até mesmo de mim. Não queria ser tão covarde, mas não consigo.

Olhando para o meu reflexo diante do espelho, sinto o meu coração bater de forma desesperada. Sinto a minha garganta seca, os meus olhos levemente vermelhos e irritados, mas não posso me dar ao luxo de derramar nenhuma lágrima.

A minha decisão já foi tomada, não tem como voltar atrás. Não há espaço para arrependimentos, estou fazendo o que é certo, estou fazendo o que esperam de mim. A minha família precisa de mim e não posso decepcioná-los, não nesse momento.

Duas batidas na porta me tiram dos meus devaneios. Olho para o espelho e forço um sorriso, um sorriso que não chega aos meus olhos, mas é o suficiente para fingir que estou feliz.

— Pode entrar. Digo tentando controlar o meu tom de voz para que ninguém perceba o meu nervosismo.

Não demora muito e a porta se abre, a passos lentos a minha avó caminha até onde estou. Estou de costas para ela, mas consigo observá-la através do espelho. Ela se aproxima de mim, coloca a mão sobre os meus ombros e ambas olhamos para o espelho.

Vovó Amália sorri, as marcas de expressão em seu rosto ficam bem evidentes.

— Você está tão linda, meu anjo. Tenho certeza de que o seu pai, onde quer que esteja, está muito orgulhoso de você. Você está fazendo a coisa certa, Luiza. Ela diz de forma suave.

Não acho que o meu pai esteja orgulhoso de mim. Vivíamos discutindo, ele nunca me aceitou do jeito que eu sou, nunca se orgulhou de mim em vida. Por que ele se orgulharia agora que está morto?

Quanto a estar fazendo a coisa certa, não acredito nisso. Estou fazendo o que é mais conveniente para a minha família no momento.

Porque, se fosse a coisa certa, eu não deveria estar me sentindo assim. Não deveria estar me sentindo como parte de um negócio sujo. Estou sendo usada como moeda de troca.

— Sei que agora não parece, mas estamos fazendo o que é melhor para você. Estamos fazendo o que é melhor para a nossa família.

— Não tenho dúvidas de que esse é um bom acordo para a família. Eu falo, não contendo a repulsa no meu tom de voz.

Meu nome é Luiza Ribas e hoje, bem, hoje é o dia do meu casamento. Casamento este que não passa de um negócio entre famílias influentes. Quer dizer, a minha família tem um bom sobrenome, tem influência e é respeitada. Já a família do meu noivo, Ulisses, tem o dinheiro. Unindo as nossas famílias, os "De Lucca" ganharão prestígio e passarão até a ter uma certa relevância. E a minha família ganhará suporte financeiro para se reerguer. De quebra, ainda evitaremos qualquer tipo de escândalo envolvendo a minha orientação sexual.

Mas essas são as vantagens que a minha família terá. E agora, o que eu ganharei com isso? Provavelmente ganharei o desprezo e o ódio da única pessoa que me amou pelo que eu sou, a única pessoa que não se interessou pelo meu sobrenome ganharei o desprezo da pessoa que me conhece como poucos e que sempre me respeitou .

— Sei que você está chateada, Luiza, mas acredite, tudo o que você estava vivendo era apenas uma ilusão, um sonho com prazo de validade. O seu relacionamento com aquela garota só atrapalharia o seu futuro. Tudo que estou fazendo é te poupando de uma dor maior lá na frente, estou te poupando dos olhares e comentários maldosos. — Minha avó falou e sorriu para mim de forma gentil.

Minha avó se afastou de mim e abriu a porta do quarto, fazendo um sinal para que eu me levantasse e a acompanhasse.

Respirei profundamente e coloquei um sorriso nos lábios. Levantei-me e atendi ao pedido mudo da minha avó.

A segui descendo as escadas com cuidado, de onde estávamos já podíamos escutar as vozes dos convidados, as risadas, o aroma de tudo que estava sendo preparado.

A casa estava toda decorada, o meu casamento iria acontecer no jardim da minha casa. O clima estava agradável, as luzes estavam bem distribuídas e devo admitir que a decoração estava belíssima.

Quando cheguei ao final da escada, o senhor Alessandro De Lucca estava me esperando. Minha avó tinha concedido a ele a "honra" de me levar até o altar.

Ele me analisou e sorriu em aprovação.

— Não tenho dúvidas de que o meu filho tirou a sorte grande. Duvido de que exista noiva tão linda quanto você. — Ele disse de forma cortês.

Sorte para uns e azar para outros, mas não me atrevi a fazer este comentário em voz alta.

Caminhamos a passos lentos até o jardim. Quando a música começou a tocar, todos os convidados ficaram de pé. Alessandro me estendeu a mão de forma gentil e caminhamos tranquilamente até o pequeno altar improvisado.

Durante a pequena caminhada, um par de olhos verdes capturou a minha atenção. O olhar que sempre me trouxe calma, que sempre representou serenidade, agora me olhava com súplica. Aqueles olhos me encaravam de forma intensa. Meus olhos percorreram o seu rosto e observei os seus lábios se moverem. "Você tem certeza?" ela me perguntou sem emitir nenhum som.

Desviei o meu olhar do dela e segui adiante, sorrindo para os convidados. Meu coração batia em um ritmo acelerado, minhas mãos tremiam.

Quando chegamos perto do altar, Alessandro soltou a minha mão e cumprimentou o seu filho com um abraço apertado. Depois de cumprimentar o seu pai, o seu olhar voltou-se para mim. Ele sorriu de forma nervosa, pegou a minha mão e levou até os lábios, depositando um beijo na minha mão.

Ulisses era um homem de boa aparência, alguns anos mais velho que eu, mas ainda assim era jovem.

Ele entrelaçou as nossas mãos e ficamos de frente para o padre.

As palavras do padre soavam como um borrão distante em meus ouvidos. Eu estava ali, no altar, com os olhos fixos em Ulisses, mas meu coração doía ao pensar na garota de olhos verdes que havia deixado escapar. O sorriso que eu esboçava não passava de uma máscara, enquanto lágrimas ameaçavam escapar de meus olhos.

"Prometo amar e respeitar você, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias da minha vida", ouvia Ulisses pronunciar seus votos com convicção. No entanto, suas palavras ressoavam vazias em meus ouvidos.

Enquanto ele continuava sua declaração de amor, meu olhar procurou novamente pelos olhos verdes. Dessa vez, encontrei-os cheios de decepção e tristeza. Uma única lágrima escorria por sua face, cortando meu coração como uma faca de dois gumes. Saber que eu era a causa dessa dor era insuportável.

Enquanto Ulisses falava, observei a garota secar suas lágrimas e virar as costas para nós. Seus cabelos castanhos escuros balançavam ao vento, como se estivessem seguindo em direção à liberdade. E, de fato, era exatamente isso que ela buscava .

Senti um vazio em meu peito e podia jurar que senti o cheiro de seu perfume, com notas de baunilha, café e almíscar, se dissipou no ar trazido pelo vento. Era como se um pedaço de mim estivesse sendo levado embora junto com ela.

Os convidados permaneciam em silêncio, alheios ao turbilhão de emoções que se passava dentro de mim. O padre iniciou sua parte final, abençoando nossa união e desejando-nos felicidade e prosperidade.

Quando chegou a hora de responder "sim" ao padre, a escolha estava clara em minha mente. Eu tinha que ser forte e honrar o compromisso que havia sido imposto a mim, mas meu coração estava partido. A resposta escorreu de meus lábios como uma sombra do que poderia ter sido, enquanto o olhar triste da garota de olhos verdes permanecia em minha mente.

Enquanto Ulisses continuava a repetir seus votos, meus pensamentos vagavam para a garota que havia partido, levando consigo um pedaço de minha alegria. Pensei em todas as possibilidades não vividas, em todos os momentos que compartilharíamos se a vida nos permitisse. Mas, no final, eu havia optado pelo caminho mais seguro, pelo caminho que não traria escândalos à minha família.

O padre nos declarou marido e mulher, e as lágrimas que eu tanto segurei finalmente caíram, misturando-se às palavras de felicidade que eram pronunciadas ao nosso redor. Em meio às comemorações e abraços, senti um aperto no peito, a sensação de ter escolhido o caminho errado.

Enquanto todos celebravam nossa união, eu me permiti um momento de silêncio, para chorar as oportunidades perdidas e sonhar com uma vida diferente. Uma vida em que eu pudesse encontrar a felicidade verdadeira, sem sacrificar minha identidade e minha orientação sexual.

O caminho escolhido era sem volta, e mesmo com toda a dor e tristeza que me invadiam, eu sabia que teria que carregar essa escolha pelo resto de minha vida. Mas, no fundo do meu coração, eu prometi a mim mesma que encontraria um modo de me reencontrar, de buscar a minha própria felicidade, mesmo que isso significasse enfrentar todas as adversidades que estavam por vir.

Capítulo 2 Narrado pela Luiza Ribas

Os convidados se aproximaram nos parabenizando, às vozes era apenas era apenas um eco ao longe não conseguia prestar atenção em nada , apenas aceitava os comprimentos e elogios, na primeira oportunidade que tive me afastei, precisava de um lugar tranquilo para conseguir respirar.

Subi às escadas apressadamente, precisava ficar sozinha, entrei no quarto e fechei a porta. Queria chorar e gritar, mas me faltava fôlego.

Não demorou muito e a porta se abriu , não olhei pra ver quem era , senti braços gentis me cercando.

— Sinto muito por tudo isso. Diego disse de forma gentil.

— Não precisa se desculpar por algo que não está sob seu controle. Murmurei .

Não há razões para ele se desculpar, o meu irmão não tem culpa de nada disso.

— Por que ela estava aqui? Quem a convidou? Eu perguntei abraçando o meu irmão. — Ela não precisava ver isso, eu não queria que ela visse isso. Eu falei enquanto lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto.

— A vovó achou que isso seria o suficiente pra que ela desistir de você de uma vez por todas . O Diego falou.

— Desistir ? Repeti a palavra como se fosse uma ferida aberta que queima ao mínimo toque.

— É Luiza, desistir definitivamente . O Diego confirmou . — Ela queria que a garota te odiasse o suficiente para desistir .

Definitivamente? Porque uma simples palavra dói tanto .

Desistisse então é isso, agora havíamos colocado um ponto final na nossa história.

— Ainda assim não precisava de nada disso, não iremos morar aqui, porque razão a nossa avó tem que se intrometer em tudo, ela não percebe que as atitudes dela só mágoa às pessoas.

— É claro que ela percebe Luiza, a questão é que ela não se importa. Ela sabe muito bem que a sua garota não desistiria tão facilmente de você, por isso ela a convidou, ela fez isso porque ela sabe que a única maneira de afastar ela de você é com ela te odiando. O meu irmão falou e eu sorri com escárnio.

— Eu sei que a magoei muito. Acho que tudo que eu fiz já é motivo o suficiente pra ela me odiar... Não sei qual a necessidade de trazer ela até aqui.

Já dei tantos motivos pra ela me odiar , agi como a pior de todas as pessoas. Terminei com ela , e quando ela exigiu uma explicação , quando ela pediu um único motivo pra tudo isso eu disse que não a amava , disse que estava noiva .

Obviamente que ela se sentiu enganada, traída, humilhada e é claro que discutimos palavras horríveis que pesavam toneladas foram jogadas ao vento como se fossem leves como penas, mas a verdade é que não medimos o quanto tudo aquilo nos machucaria, e machucou muito. Ela me magoou e eu a magoei.

Logo eu que lhe fiz promessas e que prometi que jamais a magoaria, logo eu que prometi um " para sempre" tinha lhe dado um ponto final na nossa história.

— Eu vi quando ela foi embora, eu tentei ir atrás dela ver se ela precisava de algo, mas ela disse pra mim voltar e disse que você iria precisar de mim muito mais que ela. O meu irmão falou e mordeu os lábios como se estivesse tentando evitar que às palavras saíssem de sua boca.

— O que mais ela disse? Eu perguntei e o meu irmão suspirou. — Por favor, Diego, o que mais ela disse? Eu questionei e o meu irmão levou a mão até o bolso tirando de lá um pequeno colar .

  O colar fino tem um pingente especial, com um significado mais especial ainda. O coração é dividido ao meio, e quando as duas metades se unem, formam o símbolo do infinito no centro do coração. O pingente é delicado e elegante, feito de um material brilhante para realçar seu significado. Ao redor do coração, há algumas pedrinhas pequenas e delicadas que adicionam um toque de brilho sutil ao colar.

Este colar foi escolhido por sua simbologia única e profunda. A combinação do coração e do símbolo do infinito representa o amor eterno e incondicional, transcendendo as limitações temporais e físicas. O termo "ágape" é perfeito para descrever o significado deste colar, pois o ágape é um amor altruísta, desinteressado e que busca o bem-estar do outro.

A escolha desse colar não é pra demonstrar apenas um sentimento de amor, mas também um compromisso com a ideia de um amor que vai além das fronteiras convencionais. É um lembrete constante de que o verdadeiro amor é duradouro, infinito e capaz de superar qualquer desafio ou obstáculo.

— Ela disse pra você parar de prometer aquilo que você nunca será capaz de cumprir, afinal um simples mortal não se pode prometer algo que seja eterno . O Diego disse e eu senti aquelas palavras me acertarem em cheio como uma adaga .

Forcei um sorriso sem graça, tentando disfarçar o incômodo que eu estava sentindo naquele momento.

Com as mãos trêmulas eu apertei o colar nas mãos com a mesma força que eu estava sentindo o meu coração ser apertado nesse momento. Levantei o meu rosto e o olhar do meu irmão se encontrou com o meu, eu vi nos olhos dele o quanto ele lamentava a minha situação.

Coloquei o colar no meu pescoço e o meu irmão secou as minhas lágrimas, não havia mais razões pra chorar pelo que poderia ter sido, agora eu estava oficialmente casada. E é como o padre disse o que Deus uniu o homem não separa.

— Vamos ter que descer , não se esqueça que você é a dona da festa. Além do mais o seu marido já deve estar procurando por você.

— Infelizmente você tem razão, pode descer primeiro vou retocar a minha maquiagem e já desço, afinal agora já é tarde pra fugir.

Após me recompor, desci as escadas e me deparei com Ulisses, meu agora esposo, que veio ao meu encontro com um sorriso nos lábios. Ele segurou minha mão e analisou a aliança dourada em meu dedo, antes de me beijar suavemente.

— Como você se sente sendo uma De Lucca? — ele perguntou, com um brilho de expectativa nos olhos.

Eu suspirei, lembrando-me de todas as expectativas e responsabilidades que vinham junto com o sobrenome da família De Lucca.

— Não se esqueça que tudo isso não passa de um negócio. — respondi, lembrando-me de nossos acordos e contratos.

Ulisses sorriu gentilmente .

— Isso é somente da sua parte, Luiza. Eu estou disposto a fazer as coisas darem certo. O Ulisses disse me olhando fixamente.

Eu me mantive firme em minha posição , tínhamos um combinado e eu seguiria apenas o que combinamos.

— O mínimo que eu espero é uma boa convivência, nada além disso. Eu disse de forma firme e coerente, Ulisses sorriu e me lançou um olhar inquisidor.

Continuamos a andar pela festa, distribuindo sorrisos falsos como este casamento. Quando finalmente chegou a hora de ir embora, eu mal podia conter minha alegria. Finalmente poderia descansar.

— Está ansiosa para a nossa lua de mel? - perguntou Ulisses de forma sugestiva, enquanto íamos de carro em direção ao hotel onde passaríamos a noite antes de voar para a Grécia na manhã seguinte.

— Não estou nem um pouco ansiosa, e acho que você também não deveria estar – respondi, olhando pela janela.

Chegando ao hotel, fui direto ao banheiro trocar de roupa e me livrar dos saltos que estavam machucando meus pés. Ao retornar, vi Ulisses sentado na cama, com duas taças de champanhe nas mãos. Ele já tinha se livrado da gravata e aberto os primeiros botões da camisa.

Quando me viu, ele se levantou e me entregou uma das taças.

— Eu tenho uma proposta para te fazer – disse ele, com determinação na voz.

Ulisses olhou nos meus olhos, enquanto eu tentava decifrar o que estava por trás daquela proposta. Meu coração batia mais rápido, não sabia o que esperar, mas algo me dizia que aquela noite estava longe de terminar.

Capítulo 3 Narrado pela Luiza Ribas

Encaro Ulisses, analisando cada movimento, cada gesto, tentando ler suas expressões faciais e compreender qual proposta ele estava prestes a fazer. Sentia-me extremamente cansada e só desejava dormir, tudo o que eu queria era que esse dia terminasse logo.

— Ulisses, estou esgotada. Podemos adiar essa conversa para amanhã? Pedi, de maneira impaciente.

— Eu sei que o nosso casamento é apenas um "negócio", como você sempre faz questão de deixar claro. Mas isso não impede que possamos ter, pelo menos, uma convivência saudável. - Ele colocou a taça sobre a cômoda ao lado da cama, e eu fiz o mesmo com a minha.

Ele pareceu incomodado com o termo que eu usava para se referir ao nosso relacionamento.

— Concordo com você nisso. - Deitei-me na cama, sentindo o peso do acordo entre nós.

Ulisses sentou-se ao meu lado e continuou.

— Sei que você não está apaixonada por mim. Isso sempre foi muito evidente.

— Sim, gosto de ser transparente para evitar mal-entendidos. Falei respirando fundo e ele riu.

— Falando em deixar as coisas claras, gostaria de esclarecer algumas coisas. Precisamos manter as aparências, fingir que somos um casal apaixonado. Temos que fazer isso dar certo. Ele sugeriu.

Eu escutei atentamente, ponderando suas palavras.

— Pode esperar de mim o que foi acordado desde o início. Vou cumprir minha parte e respeitar nosso acordo. Sua família ajudará a minha família a se reerguer financeiramente e, em troca, minha avó ajudará em sua carreira política. É prático, na verdade. - Lembrei um dos termos do nosso arranjo.

Ulisses pareceu refletir por um momento e passou as mãos pelo cabelo tentando organizar alguns fios que estavam revoltos, um aparente gesto de nervosismo.

— Mesmo que este não seja um casamento convencional, ainda assim pretendo respeitá-lo como se fosse. Acredito que, com diálogo, respeito mútuo e comprometimento, talvez com o tempo possamos fazer dar certo. Ele falou me olhando profundamente e me deixando atordoada.

A dinâmica entre nós é complexa, seria mais fácil se ele pensasse da mesma forma que eu. Que isso tudo é um simples acordo de conveniência. Para mim isso é e nunca vai passar de um casamento arranjado com prazo de validade.

— Não vamos complicar mais as coisas, por favor. Vamos dormir, porque já está tarde e eu estou cansada e amanhã viajaremos cedo. Eu falei me deitando e colocando um travesseiro no meio da cama, dividindo o nosso espaço.

Ulisses nada disse, ele se levantou e pegou uma das taças que estavam em cima da cômoda e bebeu o champanhe. Ele colocou a taça vazia de volta ao lugar e depois pegou a outra e depois de beber todo o líquido, colocou a taça perto da outra.

Após isso, ele apagou a luz e saiu do quarto. Eu continuei deitada de bruços, encarando o teto. O quarto estava todo no escuro.

O ambiente estava silencioso, os acontecimentos dessa noite e dos últimos dias voltaram com força em minhas memórias.

Em meio ao silêncio, as vozes mais fortes são as que ecoam dentro de mim.

Enquanto deitada na cama, mergulhava em meus pensamentos e memórias, não pude deixar de refletir sobre a complexidade da situação em que me encontrava. O peso das expectativas, dos acordos e das convenções sociais pareciam me sufocar. A simples ideia de fingir um amor que não existe, de manter as aparências em detrimento de nossos sentimentos reais, era como carregar uma máscara que pesa cada vez mais em meu rosto.

É difícil distribuir sorrisos quando por dentro tudo está um caos, um amontoado de emoções, uma confusão completa.

Enquanto eu estava deitada na cama, os pensamentos turbulentos invadiam minha mente. Sentimentos conflitantes de culpa, tristeza e raiva se misturavam dentro de mim, formando um redemoinho de emoções incontroláveis. A imagem dela, com os olhos marejados de lágrimas, a expressão de dor e decepção em seu rosto, ecoava em minha mente como uma ferida aberta que se recusava a cicatrizar.

Eu sabia que a decisão de romper nosso relacionamento para me casar com Ulisses era uma questão de sobrevivência, uma necessidade imposta pelas circunstâncias e pelos acordos familiares. Mas a dor de causar sofrimento à pessoa que eu amava, a sensação de trair meus próprios sentimentos em nome de convenções sociais e interesses familiares, era um fardo quase insuportável de carregar.

Enquanto o silêncio do quarto me envolvia, eu me sentia perdida em um mar de arrependimentos e questionamentos. Será que eu fiz a escolha certa? Será que vale a pena sacrificar minha felicidade em troca de segurança financeira e estabilidade política? O vazio deixado por sua ausência parecia consumir meu peito, fazendo-me questionar o verdadeiro significado de amor e compromisso.

Eu fechei os olhos, deixando as lembranças e as emoções me invadirem por completo. A dor da separação, a angústia da solidão, a saudade do que poderia ter sido se as circunstâncias fossem diferentes. As lágrimas escorreram silenciosas pelo meu rosto, testemunhas mudas da batalha interna que travava em meu coração.

Em meio ao turbilhão de sentimentos contraditórios, a única certeza que permanecia era a sensação de estar presa em um labirinto de escolhas impossíveis, onde cada caminho parecia levar a um novo sabor de sofrimento. E enquanto a noite avançava e o silêncio continuava a me envolver, a pergunta persistia em minha mente, ecoando como um eco sombrio: a que preço eu estava disposta a pagar pela minha própria felicidade? A que sacrifícios eu estava disposta a fazer em nome de um futuro que não era meu?

No escuro absoluto do quarto, o silêncio era tão espesso que parecia sufocante. Minha mente, um turbilhão de memórias dolorosas e arrependimentos, revirava cada detalhe dos últimos dias com uma precisão cruel. Eu estava sozinha, afundada em um mar de emoções conflitantes e avassaladoras, enquanto o peso das minhas escolhas pairava sobre mim como uma sombra implacável.

Enquanto os segundos se arrastavam, os ponteiros do relógio deslizando lentamente, eu me encontrava imersa em um turbilhão de pensamentos angustiantes. Encarando o teto, tentei desesperadamente expulsar todas as emoções conflitantes que me invadiam e dominavam meu ser. Uma mistura avassaladora de cansaço físico e exaustão emocional me consumia.

Mesmo que me sentisse tão exausta, buscar refúgio no sono parecia uma tarefa impossível. Minha mente, em um estado de agitação constante, recusava-se a encontrar descanso. Minhas pálpebras pesavam, mas minha alma estava inquieta.

Sem perceber o passar do tempo, fui levada a um loop infinito de pensamentos e questionamentos. Justo quando estava prestes a sucumbir ao sono, a porta se abriu, interrompendo o silêncio sepulcral do quarto. Senti a pressão do colchão se afundar ao meu lado. Um aroma forte de bebida preencheu o ar, mas nenhum de nós ousou romper o silêncio com palavras. Ficamos ali, sendo apenas dois seres frágeis e desgastados, respirando em conjunto.

Não sabia dizer quanto tempo passamos naquele estado de silêncio profundo, mas uma certeza prevalecia: ele adormeceu primeiro.

Nossas respirações entrelaçadas preenchiam o vazio entre nós, criando um elo silencioso de solidão compartilhada. Enquanto ele sucumbia ao sono, fiquei ali, perdida em meus próprios pensamentos, questionando se tudo isso era tão doloroso para ele quanto é para mim. Éramos dois estranhos, sendo usados como marionetes em um jogo onde às únicas pessoas que sairão vencedores são aqueles que nos controlam e nos arrastam implacavelmente em suas artimanhas.

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