Estava ansiosa, afinal faltava apenas um mês para o início das aulas. Eu teria que me mudar pra universidade, o que de início eu não gostei nada, mas quando minha irmã falou que poderíamos falar com nosso pai pra alugarmos um ‘apê’, eu não resisti. E aqui estou eu, tendo mais uma vez essa conversa com meu pai, a diferença é que agora minha irmã Louise está enfrentando-o junto comigo.
– Mas pai... – minha irmã falava.
– Mas nada... Eu já decidi. Pra quê alugar um apartamento se vocês podem ficar mais seguras nos dormitórios da Universidade? – Ele repetia pela milésima vez.
– Seria diferente, teríamos mais privacidade, afinal somos irmãs, ficaríamos mais tempo juntas, e não iríamos dividir o quarto com alguém que nem conhecemos. – Nossa salvação estava chegando... Finalmente minha mãe chegou.
– Que discussão é essa? Você mal chegou e já estão brigando! – Disse minha mãe pra Louise.
– Não estávamos brigando mãe, só questionando o papai. – Disse minha irmã já tentando convencer nossa mãe. – É que seria bem melhor que eu e a Lia alugássemos um apartamento, não teríamos que suportar alguém desconhecido tendo livre acesso as nossas coisas, e ainda conseguiríamos privacidade, além de termos mais tempo juntas.
– E qual o problema? Porque estão discutindo então? – Foi minha vez de falar.
– O papai não quer deixar mãe, diz que é mais seguro ficarmos na Universidade.
– Mas apartamentos também são seguros Tom. E acho melhor elas ficarem juntas, do que com pessoas que nem sequer conhecem. – Pronto tínhamos finalmente conseguido. Sabíamos que nosso pai, não iria se opor a um pedido de nossa mãe. – elas merecem um pouco mais de confiança, assim podemos ver se realmente estão sendo responsáveis.
– Acho um pouco arriscado, mas se você acha que é melhor... Tudo bem. – Falou derrotado, fiquei até com dó.
Eu e Louise saímos pulando e gritando, ela já tinha esquematizado tudo. Procurou o apartamento e já deixou o contrato encaminhado, faltando apenas nosso pai assinar e pagar o aluguel. Nós tínhamos duas semanas pra organizar tudo quando chegássemos lá, afinal de contas natal e ano novo nós passávamos em família.
Louise passou as duas últimas semanas do ano me arrastando para o shopping e fazendo compras até não poder mais. Nosso pai era um advogado bem renomado e podíamos dizer que éramos quase ricos (classe média alta), tínhamos tudo do bom e do melhor, mas não éramos esnobes, isso não. Já nossa mãe era uma publicitária muito bem remunerada, e fazia questão de dividir todos os gastos com nosso pai. Eles haviam me prometido um carro quando terminei o colegial, e eu não via a hora de ver qual modelo eles comprariam.
Hoje acordamos cedo, era nosso último dia em Amsterdã. Louise ainda queria comprar umas últimas coisas, e eu queria apresentá-la a meu amigo, ele é extrovertido, e um CDF, mas eu o adoro. Ele mudou pra Amsterdã ano passado, e estudamos no último ano juntos, mas Louise ainda não o conhecia. Nós íamos pra mesma Universidade.
– Louise queria te apresentar um amigo. – Falei vendo um certo desdém em suas atitudes.
– Que amigo Lia?
– É um que estudou comigo, e também vai pra Universidade com a gente.
– Tudo bem, mas primeiro vamos às compras, afinal temos uma festa dos calouros quando chegarmos lá, e preciso de roupas que nos tornem pelo menos apresentáveis. – Nossa! Quanto interesse nessas festas.
– Ok! Vou pedir que ele nos encontre lá. – Ela só assentiu e saiu do meu quarto.
Liguei pro Alan e pedi que nos encontrasse no shopping, ele como sempre muito cavalheiro nem relutou apenas aceitou o convite, e disse que nos esperaria na praça de alimentação dentro de umas duas horas.
CHegamos ao shopping e Louise escolheu umas roupas que eu tinha certeza, eu nunca usaria aquilo, pareciam pedaços de pano, quase retalhos a meu ver. Quase quatro horas depois seguimos pra praça de alimentação à procura de Alan. Cheguei a pensar que ele já tivesse ido embora devido à demora, mas ele continuava lá.
Eu sabia que eles se dariam bem, mas acho que saiu bem melhor do que pensei.
– Louise... Esse é o Alan, meu amigo que te falei?!? – Ela o olhava admirada, realmente o Alan era bonito, e também aparentava estar bem impressionado.
– Alan... Essa é minha irmã que tanto falo... Louise. Se vocês me dão licença... Vou pedir um milk-shake, querem algo? – Louise só acenou a cabeça negando.
– Não, obrigado! – Foi tudo que Alan falou.
Fui fazer meu pedido e os observei de longe, eles estavam conversando e sorrindo muito. Eles combinavam, e eram da mesma idade, já que Alan perdeu os estudos durante um ano, devido os pais se mudarem tanto. Retornei a mesa pensando como poderia fazer pra deixá-los se conhecerem um pouco mais.
– Lia... O Alan estava nos chamando pra assistir um filme, o que você acha? – Aproveitei a chance.
– Acho ótimo, mas vocês terão que ir sozinhos, tenho que falar com a Janet, e ainda quero pegar meu carro hoje, lembra?
– Claro! O papai ficou de comprar hoje. É uma pena, teremos que ir. – Me espantei... Será que eu já não tinha deixado claro que era pra ela ficar.
– Não... Você fica. A Janet está aqui no shopping, acabei de esbarrar com ela, na hora que fui pedir meu milk-shake, - Tive que mentir, senão ela não ficaria. – vocês vão assistir ao filme, eu vou falar com a Janet.
– Mas quem vai te deixar em casa? – Tão preocupada minha irmã.
– Não se preocupe, a Janet está de carro. – Sorri e me despedi dos dois.
Sai do shopping super feliz por ter deixado os dois animados, a parte ruim era que teria de esperar um táxi. Tudo bem, eu aguento!
Cheguei em casa e fui tomar um banho, precisava relaxar. Andar com Louise pra fazer compras era algo bem estressante. Ela nunca se decidia, e quando decidia queria tudo. Nossa! Acho que compramos em todas as lojas do shopping! Terminei o banho e me deitei na intenção de relaxar minhas pernas, acabei adormecendo.
Ouvi meu nome bem longe, acho que estava sonhando... Escutei novamente, agora mais próximo, não... Realmente não é um sonho. Louise estava sentada na beirada da cama me chamando com um sorriso de orelha a orelha.
– Acorda dorminhoca! – Abri meus olhos e sorri.
– É impossível não acordar com você pulando desse jeito na cama. – Brinquei.
– Mas eu não estou pulando? – Falou ficando séria.
– Seu sorriso está quicando no rosto. Você irradia felicidade maninha.
– Estou feliz mesmo... Porque não me apresentou seu amigo antes?
– Até poderia, se você não estivesse na Universidade, desde o começo do ano.
– Ah! É verdade... Mas agora levanta e se arruma, já são sete e meia e ainda temos um ano novo pra comemorar e você... Um carro pra receber. – Meu sorriso voltou ao rosto instantaneamente.
– Sério! Ele já comprou?
– Está lá embaixo e é lindo! Quase esqueci... Eu convidei o Alan pro nosso jantar de ano novo.
– Ele aceitou? Vocês estão... Ficando? – Ela ficou envergonhada e assentiu.
– Ele é muito legal e super educado. A gente se deu muito bem e acabamos nos beijando... Foi tão bom.
– Estou feliz por você Louise! Agora vamos descer que eu quero ver meu carro.
Sai do quarto e desci as escadas correndo, levando uma bronca do meu pai.
– Pra quê tanta correria... O carro vai continuar onde está! – Ainda falou desdenhando.
– Estou ansiosa pra vê-lo.
Eu já havia sonhado várias vezes com meu carro, mas nunca pensei que meu pai acertaria exatamente o modelo que eu queria. Era um Citröen C3 Plus, na cor prata, era lindo. Eu babei só de olhar... Imagina quando eu entrasse. Meu pai me entregou a chave, e mandou-me dar uma volta pra ver se eu realmente gostava. Só sendo louco pra não gostar daquele carro.
Rodei por quase duas horas com meu carro, e voltei. Arrumei-me para o jantar de ano novo, como sempre iriam alguns amigos da família, e certamente depois da virada do ano, iríamos sair.
Janet não demorou muito a chegar, ela vinha acompanhada com seus pais, e em seguida Alan chegou. Louise logo o chamou e sentaram em uma mesa mais reservada, enquanto eu e Janet fazíamos planos pra festa logo após a virada.
Já eram 11:57Hs, todos já estavam em pé desejando feliz ano novo, e preparados pra contagem regressiva. Vários fogos brilhavam no céu límpido e coberto por estrelas, nunca tinha visto um céu tão lindo e estrelado como o de hoje. Perdi-me em pensamentos quando começaram os gritos.
– DEZ... NOVE... OITO... SETE... SEIS... – Parecia um coro. – CINCO... QUATRO... TRÊS... DOIS... UUUUMMMM....... FELIZ ANO NOVO!!!!!
Senti braços na minha cintura, era Janet me desejando um ano novo repleto de felicidade, logo em seguida foi meu pai, Louise que me agradeceu por tê-la apresentado a Alan, até que todos nos cumprimentamos.
Depois da ceia, os mais jovens se reuniram pra discutir aonde íamos, e Alan nos deu uma boa sugestão.
– Devíamos ir a boate Paradiso, minha irmã veio passar as festas por aqui e está lá com seu namorado e uma turma da universidade. – Ele olhou pra mim. – Será uma oportunidade de conhecer alguém antes de ir pra lá.
– Tudo bem eu topo... Como é mesmo o nome da sua irmã?? – Fazia tempo que ele não falava nela, eu já havia esquecido.
– É Lucy... Lucy Kamp. – Louise logo arregalou os olhos.
– Eu a conheço... Ela faz o mesmo curso que eu. – Louise falou.
– Nossa... Que coincidência! – Alan afirmou.
– Então... Chega de conversa e vamos logo! Eu tô precisando dançar um pouco! – Falei fazendo com que todos se agitassem. – Eu vou no meu carro, alguém quer carona?
– Eu, Alan e Janet. Podemos ir com você? – Louise perguntou.
– Claro!
A boate Paradiso, não ficava muito distante, eram uns quinze minutos de carro.
Quando chegamos em frente à boate, já vimos muita gente bebendo, dançando e alguns se agarrando. Passamos por eles pra pagar a entrada e sem mais delongas adentramos o recinto. A noite ia ser boa... Eu podia sentir!
Já fazia algum tempo que tínhamos chegado, a irmã de Alan ainda não tinha aparecido, e eu resolvi começar a me divertir, fui direto pra pista de dança. Estava dançando normal, como sempre fazia quando ia a boates, até que um certo rapaz se aproximou. Ele era muito bonito, tinha cabelos castanhos, olhos verdes com um tom mel ao redor da pupila, um corpo esbelto... Suspirei, cheguei a ficar sem ar, ele estava vindo na minha direção.
Tentei descontrair e continuar a dançar, mas estava sendo bem difícil, fechei os olhos e me entreguei à dança, até que senti uma mão no meu ombro. Ótimo agora eu quero ver... Por favor, voz não falha! Virei-me pra encará-lo.
– Boa noite! – Ele falou com um sorriso no rosto... E que sorriso!
– Bo-o-oa Noit-te! – Porra! Não gagueja!
– Será que eu poderia te fazer companhia... – O olhei meio nervosa, ele percebeu. – Só por essa dança. – Eu sorri.
– Tudo be-em.
– Então deixa eu começar de novo... Meu nome é Tony Lewis Young, prazer em conhecê-la!
– O praz-zer é meu!
– Você ainda não me disse seu nome! – Sorri nervosa, que idiota eu sou.
– Oh! Claro... Me chamo Lia Ely Wolf. – Finalmente consegui falar sem gaguejar. – Sua família é daqui?
– Sim...
Ele pegou minha mão e começamos a dançar, era uma música agitada, e estávamos numa dança sensual até que a música terminou e começou uma bem lenta. Senti ele me abraçando e colando nossos corpos nos embalando num ritmo calmo. Eu podia estar imaginando, mas minhas mãos estavam geladas e tremendo, eu não sabia o que fazer, nunca reagi assim a um rapaz, mas este estava me fazendo sentir até um frio na barriga. Não... Eu não posso, em tão pouco tempo, estar apaixonada.
– Você tem namorado Lia? – Tirou-me de meus devaneios.
– Não... – Eu não ia era dizer que nunca tinha beijado num é mesmo?!
– Isso é bom... – Não entendi, ele estava afim de mim, era isso mesmo!
– Por quê?
– Seria ruim se eu tivesse que disputar sua atenção com alguém. – Certo... Agora ele foi bem direto.
A música estava quase terminando, e nós estávamos nos olhando intensamente, nossos rostos a milímetros um do outro. É agora... Meu primeiro beijo! E com um gato desses... Ele olhava nos meus olhos e por vezes desviava seu olhar pros meus lábios, minha respiração já estava pesada. Ele segurou meu rosto com uma mão e eu fechei meus olhos. Eu sabia seria agora que ele me beijaria, mas fomos interrompidos por minha irmã...
– Lia... – Ela me olhou espantada. – Vejo que já conheceu o Tony. – Não sabia que eles já se conheciam.
– Vocês se conhecem? – Perguntei e ele parecia um pouco impaciente.
– Claro! Ele é namorado da Lucy, a irmã do Alan,... – Ele fechou os olhos, então era verdade. – Nós sempre saímos juntos. Tudo bem Tony?
– Tudo ótimo! – Ele tentou sorrir, mas não chegou aos seus olhos.
– Onde está a Lucy, queria muito apresentá-la a Lia.
– Está numa mesa lá nos fundos com a galera. – Ele falou seco, pegou minha mão, o que me fez sentir um arrepio. – Eu tenho que ir. – Depositou um casto beijo nela. Eu estava totalmente sem ação, poxa, se minha irmã não chega eu teria beijado ele, e traído a irmã do meu melhor amigo. Chegou perto do meu ouvido. – Me desculpe. – E saiu em passos rápidos pra um lado enquanto Louise me arrastava pro outro.
– Vem Lia, quero que você conheça a Lucy, ela é muito legal! – Será que ela não tinha percebido nada.
– Pára Louise... Você não viu nada? Não percebeu o que estava acontecendo?
– Do que você está falando Lia? Eu vi que vocês estavam dançando, o que isso tem demais? – Minha irmã estava, com certeza, cega.
– Nada... Esquece, preciso ir no toalete. Me espera aqui?
– Claro! Mas não demora.
Sai quase correndo e me tranquei em um dos cubículos do toalete. Eu sentia meu coração apertar, mas não entendia muito bem o que estava acontecendo comigo. Cheguei a sentir raiva do tal Tony. Depois de alguns minutos me olhei no espelho, tentando refazer um pouco a maquiagem e finalmente deixei o toalete sendo surpreendida por uma mão que segurava meu pulso. Virei-me e assustei-me quando vi quem estava ao meu lado.
– Me solta Tony...
– Eu preciso conversar com você.
– Nós não temos nada pra conversar. – Tentei puxar meu pulso, mas foi pior. Ele me encostou na parede, fazendo uma prisão com seus braços.
– Por favor Lia... Deixa eu me explicar.
– Não precisa, tudo já foi mais do que explicado. –Ele fechou os olhos, suspirou alto e continuou.
– Eu só quero que você entenda... – Não aguentei e soltei o verbo.
– Entender o quê? Que você tem namorada e fica por aí traindo-a com todo mundo e que eu seria mais uma de suas vítimas. – Respirei fundo. – Tony... Eu não sou assim. Eu posso parecer ser solta, topar tudo, mas não... Na verdade, não sou assim. Eu tenho sentimentos, não sou fria e calculista, e não seria capaz de trair nem sequer uma mosca, imagina a irmã do meu melhor amigo.
– Não é isso Lia... Você sabe o que aconteceu entre a gente! Não tem só haver com eu trair minha namorada, na verdade... Ela não é exatamente namorada, e ela sabe disso. Você também sentiu o que eu senti, foi mais forte que nós dois e você sabe disso. – Ele estava se aproximando. Eu sabia que aquilo era verdade, tinha algo entre a gente, eu queria me afastar dele, mas não conseguia, era mais forte que eu, mas preferi esquecer tudo isso, e fazer o que me parecia mais racional.
– Eu não sei de nada... Nada que venha de você. – Ele franziu a testa em questionamento.
Empurrei-o e sai correndo até o bar, nunca tinha bebido antes, mas hoje eu precisava de uma tequila urgente. Depois que o barman me serviu fui atrás de Louise e ela me levou até onde Lucy estava. Eu só queria não ter que vê-los juntos, mas foi exatamente o contrário.
A mesa ficava um pouco afastada das outras e tinha umas dez pessoas, assim que nos aproximamos pude ver Tony beijando uma garota, me subiu uma angústia, engoli seco sentindo minha garganta fechar, deduzi que ela deveria ser Lucy.
– Lucy... – Louise gritou chamando-a. Assim que eles pararam o beijo, nossos olhares se encontraram, Tony logo baixou a vista e tentou se esquivar dela, mas ela segurou sua mão tentando caminhar em nossa direção. Ele conseguiu se sair e caminhou pra longe de onde estávamos.
– Louise... – Lucy falou com um sorriso no rosto a abraçando. Só agora pude vê-la melhor. Ela era muito bonita, seus cabelos castanhos iam até a cintura em um corte repicado, e seu rosto parecia desenhado, olhos azuis que mais pareciam uma piscina. Fiquei pensando em como ele podia trair uma mulher tão bonita como Lucy. – Quem é ela Louise? – Lucy falou me tirando de devaneios.
– Ah! Essa é Lia minha irmã, estava te procurando pra apresentá-las.
– Oi... É um prazer conhecê-la, eu e sua irmã somos grandes amigas.
– O prazer é meu... Também sou muito amiga do seu irmão. – Ela ficou surpresa.
– Do Alan? Você o conhece?
– Nós estudávamos juntos no colegial. – Louise me interrompeu.
– Você nunca me falou sobre o Alan. Lucy... Lia me apresentou ele e... – Lucy pareceu entender tudo.
– Não me diga que vocês estão... – Louise deu pulinhos de alegria.
– Sim nós estamos ficando. – Isso foi o bastante pra Lucy surtar.
– Minha cunhadinha. Amigas e cunhadas... Quem diria. – E novamente ela olhou pra mim. – Queria que você conhecesse meu namorado, mas ele não está muito legal hoje... Não sei o que aconteceu, ele estava bem até uns trinta minutos atrás. – Eu sabia o que tinha acontecido, mas não podia falar.
– Tudo bem... – Mais uma vez Louise se meteu.
– Mas eles já se conheceram... – Lucy ficou interessada.
– Sério? Onde?
– Na pista de dança... Dançaram até uma música juntos. – Agora Lucy me fuzilava com os olhos.
– Não foi nada Louise... Não diria que estávamos dançando, só nos apresentamos. – Tentei mentir, mas Louise pareceu ter visto tudo.
– Tá bom... – Falou irônica, mas pelo que percebi só eu entendi seu tom, pois logo Lucy voltou a sorrir. – Eu os vi e foi ele que me disse onde te encontrar.
– Ah! Então vamos dançar? Nós três? – Ela piscou pra Louise. – Que nem fazemos nas festas da universidade,aliás você já falou pra sua irmã da festa dos calouros e suas tradições?
– Ainda não... Acho que vou deixá-la aprender sozinha. – Fiquei atônita.
– Você não faria isso com a sua própria irmã não é mesmo Louise? – Ela riu desdenhosa.
– Depois conversamos sobre isso. – Ela queria que eu esquecesse do assunto, mais eu não esqueceria.
Logo que chegamos à pista de dança, Lucy começou a me ensinar os passos que elas faziam.
– É simples e no final você vai ter todos os homens desta boate babando em você... – Eu quase engasguei com essa. – Você coloca a mão na cintura da Louise, e vai rebolando no ritmo da música, depois se solta e passa a mão sensualmente pelo corpo. Assim... – Ela começou a dançar da forma que estava me ensinando e eu me entusiasmei e comecei a dançar junto com elas, mas do meu jeito, porque de forma alguma me via dançando daquela forma.
Parei um pouco e fui ao bar na intenção de tomar outra dose de tequila, mas encontrei Tony no caminho e acabei tomando umas três, só parei quando Alan me viu e foi conversar comigo.
– O que você tem Lia? Você não é de beber... Porque está tentando se embriagar hoje? – Ele estava preocupado.
– Eu não sei... – Baixei a cabeça, sem conseguir encará-lo.
– Pode falar Lia... O que está te perturbando, nós somos amigos, sempre confidenciamos tudo um ao outro.
– É complicado... – Suspirei e ele me olhou assustado.
– É tão sério assim... Me fala, eu vou te entender.
– Eu acho que... Me apaixonei. – Ele ficou alegre.
– Que bom Lia... Deve ser alguém especial, mas porque então você está assim.
– Não acho nada bom... Não deveria ter acontecido... Eu não podia me sentir assim em relação a ele, você não entende Alan?
– Como assim não podia... Nós não pedimos pra nos apaixonar Lia, apenas acontece.
– Mas ele é a pessoa errada, eu não posso...
– Mas você está... Será que agora poderia me dizer quem é o felizardo? – Suspirei derrotada. Alan iria me entender, ele era meu melhor amigo.
– É o Tony... O namorado da sua irmã. – Ele me olhou perplexo. – Me desculpe Alan, eu não sabia... Nós nos conhecemos na pista de dança e quase nos beijamos, mas Louise chegou a tempo e contou que ele namora com sua irmã.
Ele me fitou por um tempo que pra mim, mais pareceu uma eternidade, segurou minhas mãos e começou.
– Olha pra mim Lia... – Eu não conseguia encará-lo. – Você não tem culpa. – Eu levantei meu rosto e o olhei atenta. – Vou te contar uma coisa. O Tony é meio galinha, se é que me entende... Não estou falando isso pra tentar mudar seus sentimentos, é só pra que você saiba um pouco mais sobre ele. Ele não se prende a ninguém, só fica, transa e no outro dia dá uma de esquecido. – Então pensei como se ele namora?
– Mas ele namora sua irmã Alan? – Falei receosa e ele me olhou divertido e sorriu.
– Diria que esse namoro é mais uma farsa do que um relacionamento. Minha irmã pode até ter algum sentimento, mas nada grandioso, e quanto a ele... – Alan olhou pra uma mesa próxima e eu segui seu olhar encontrando os olhos de Tony atentos a cada movimento nosso. –não se amarra a ninguém. A relação deles é aberta Lia... Ele fica com quem quer e vice-versa, minha irmã às vezes faz birra como se tivesse ciúme, mas na verdade ela não tem, é só uma máscara que eles colocam entre si. – Eu o encarava duvidando. – Eu sei... Não faz muito sentido... Mas talvez faça pra eles, o garoto mais desejado da universidade e a garota que chama atenção por onde passa. – Agora ele olhava pra pista de dança onde Lucy continuava dançando de um modo sexy. – Mas eles não se gostam de verdade, então não precisa ter medo de me dizer que está apaixonada por ele, só tenha cuidado. Ele não te merece Lia. Ficaria com você e a trataria como as outras no outro dia.
– Eu não sei... – Olhei novamente na direção em que Tony estava minutos atrás e ele continuava nos olhando... Nossos olhos se encontraram e eu não consegui desviar. – Eu não sou tão forte assim Alan, ele fica vindo atrás de mim, me pediu desculpas e... – Parei por um instante.
– E? Continua Lia, e vê se pára de olhar pra ele um pouco, já está deixando muito na cara. – Rapidamente desviei o olhar e baixei o rosto.
– Ele disse que precisa conversar comigo... Disse que o que aconteceu entre nós foi algo forte, e é verdade... Parece até palpável quando estamos perto um do outro. E depois do que você me disse tudo se encaixa. – Alan me olhou aturdido.
– O que se encaixa?
– Ele disse que Lucy não é exatamente uma namorada, pelo menos ele não mentiu.
– Lia... – Eu o olhei. – Se você realmente está apaixonada, tente conquistá-lo. – Fiz menção de falar, mas ele fez sinal pra que eu esperasse. – Tenha certeza que ele está tão apaixonado quanto você, e só depois disso comecem algo como um fica ou namoro quem sabe. – O olhei surpresa.
– Mas Alan... E a Lucy?
– Ela não o ama, e ele nunca vai se apaixonar por alguém que não tentar conquistá-lo... Eu sei que você pode Lia, você é especial e pode mudá-lo. Promete que só vai se envolver com ele quando tiver certeza dos sentimentos dele?
– Prometo... E também prometo só me envolver quando ele terminar o namoro com a Lucy. Tudo bem.
– Assim está bem melhor. – Ele beijou minhas mãos. – Promessa é dívida hein? Agora vou deixar vocês conversarem um pouco... Ele não tira os olhos de você.
– Talvez eu seja só mais uma presa pra ele. – Ele sorriu.
– Ou talvez não. Se cuida Lia. Se precisar estou perto da pista onde Louise está dançando. – Assenti e ele logo saiu.
Não demorou muito tempo pra quê o assento em que Alan estava voltasse a ser ocupado. Minhas mãos tremeram, como eu faria pra conquistar esse homem.
– Um coquetel de morango por favor. – Ouvi-o pedir ao barman, e depois de servido continuou. – Aceita? – Me ofereceu o coquetel, e eu aceitei sem protestar dando um gole em seguida.
– Obrigada! – Ele estava sorrindo e isso me fez sentir novamente aquele frio na barriga.
– Será que agora podemos conversar com calma?
– Não sei se é uma boa ideia Tony. – O olhei questionando.
– Prometo não fazer nada... Só iremos conversar.
– Tudo bem...
E ele me contou tudo sobre seu namoro com Lucy, que na verdade era uma relação aberta, mas que não tinha sentimento. Disse que gostava da vida dele assim, o que me deixou chateada, já que eu tinha intenção de conquistá-lo e quem sabe um dia namorarmos. Eu tive vontade de desistir disso tudo quando ouvi essas palavras.
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