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Fábio, Diário De Um Sobrevivente

...

Quando alguém é submetido ao pior do ser humano, é natural que surjam sentimentos de dor, raiva e desespero. A busca por justiça pode consumir a pessoa, levando-a a extremos para obter a tão desejada reparação.

O preço a ser pago nessa jornada pode ser alto. Pode custar a paz de espírito, relacionamentos, segurança emocional e até mesmo a própria humanidade. A linha entre justiça e vingança pode se tornar tênue, e aquele que busca justiça pode se ver mergulhado em um ciclo interminável de violência e destruição.

O pior que pode acontecer com alguém que já viu o pior do ser humano é perder a própria humanidade. Pode ser fácil se deixar consumir pelo ódio e pela sede de vingança, tornando-se tão monstruoso quanto aqueles que causaram o sofrimento inicial. A dor, a destruição, a desesperança e o caos podem se tornar o mundo interior da pessoa, obscurecendo qualquer vislumbre de luz ou redenção.

Renascimento

Cinco anos se passaram desde que tomei a decisão de fugir e recomeçar minha vida em outro país. Durante esse tempo, trabalhei arduamente para construir uma nova identidade e alcançar o sucesso que tanto almejava. Agora, estou pronto para retornar e finalmente buscar a vingança que tanto desejo.

Enquanto caía na água escura, uma sensação de calma estranha me envolveu. A pressão das águas parecia abraçar meu corpo, acalmando os pensamentos tumultuados que me assombravam. Por um momento, permiti-me flutuar, deixando-me levar pela correnteza suave.

No entanto, a necessidade de sobreviver logo se fez presente. Com esforço, forcei meus membros a se moverem, lutando contra a resistência da água enquanto me impulsionava em direção à superfície. Cada movimento era uma batalha contra a exaustão e a escuridão que ameaçavam me engolir.

Finalmente, emergi à superfície, tossindo e ofegante, o ar fresco enchendo meus pulmões famintos. Por um momento, flutuei na imensidão escura, permitindo-me recuperar o fôlego e reunir minhas forças.

Com determinação renovada, virei-me na direção da margem distante e comecei a nadar. Cada braçada era um lembrete de minha determinação de sobreviver, de enfrentar meu destino de frente e buscar justiça pelos que sofreram nas mãos daqueles como meus pais, Raul, Brás e sabe-se lá quem mais.

Algum tempo depois de ter nadado, finalmente, minhas mãos encontraram terra firme. Arrastei-me para fora da água, e só então percebi que além da exaustão eu estava ferido, tinha deslocado o meu ombro durante a queda, porém estava vivo. Olhei para trás uma última vez, as águas escuras da ponte me encarando como um desafio silencioso e sem sinal de qualquer um que pudesse me impedir. Ao menos até o momento.

Dirigi-me à antiga casa de Henrique, onde encontrei as poucas coisas que havia preparado para minha fuga: uma mala contendo o essencial, passagens e documentos falsos. Pintei meu cabelo com uma tinta que eu havia surrupiado alguns dias atrás, não ficou igual da foto do passaporte que eu decidi que iria usar agora, mas dava para o gasto. Coloquei roupas limpas e um tênis, comi algumas bolachas que eu tinha deixado lá também e contei o dinheiro que eu consegui pagar sem que Raul percebesse, só era suficiente para a passagem, depois disso, considerando que eu conseguisse escapar eu estava a minha própria sorte, como sempre.

Decidi que não podia deixar vestígios, então, antes de sair da casa, ateei fogo em uma cortina. A casa era velha e devido a falta de cuidado estava deteriorada, não demorou muito para o fogo se alastrar e consumir tudo. Eu estava longe quando escutei a sirene do corpo de bombeiros se aproximar da casa. Encontrei um taxista que me levou até o aeroporto, que ficava cerca de 50 km de distância. Infelizmente, para conseguir pagar a passagem, precisei cometer alguns pequenos furtos. Não me orgulhava disso, mas eu não podia dar bobeira agora, eu nunca tinha chegado tão longe.

Só quando olhei pela janela do avião e vi aquela nefasta cidade abaixo pude respirar aliviado e só então lembrei que estava com o ombro deslocado, pedi um remédio para dor para a aeromoça que prontamente me atendeu. Tomei o analgésico e dormi, embora me mantesse alerta, ainda não acreditava que realmente estava conseguindo.

Na verdade só consegui acreditar quase um mês depois que eu estava livre de verdade. E era uma sensação tão boa, fazer o que eu queria, como eu queria e a hora que eu queria. Era isso, recomecei, fiz a minha vida de certa forma, porém chegou o momento de fazer eles pagarem pelo que fizeram comigo.

Agora, enquanto me preparo para retornar à minha terra natal, sinto uma mistura de emoções: determinação, ansiedade e uma ânsia profunda por justiça. Estou pronto para enfrentar meus antigos algozes e fazer com que paguem por suas transgressões. Minha jornada de vingança está prestes a começar, e nada poderá me deter.

Nova chance

Enquanto pego o vôo e retorno para o Brasil, tenho na minha mente cada passo que dei para chegar aqui. Quando eu decidi que daria um jeito de fugir eu não tinha ideia de para onde ir ou o que fazer. Até que conheci o Marco, bom não era esse o nome dele, era Lorenzo Rafaello Rossi. Quando ele foi sequestrado, ele deu o nome de Rafaello, porém o traficante que o vendeu para Brás já tinha documentos falsos e daquele momento em diante ele passou a ser Marco. Lorenzo conseguiu emitir seus documentos verdadeiros sem que Brás soubesse e estava esperando o momento certo para fugir depois de oito anos.

E quando nos conhecemos, parecia que o destino estava conspirando a nosso favor. Ele conseguiu arrumar documentos falsos para mim e eu levei os documentos para onde seria nosso ponto de encontro: a casa que era do Henrique. Porém, infelizmente, Lorenzo não teve tempo, acabou falecendo. Ele estava enfrentando problemas de saúde há alguns anos e ultimamente estava pior, até que não resistiu. De qualquer forma, jurei que irei vingar ele. Bom, decidi assumir a identidade dele, eu não sabia muito sobre a família dele, só sabia que moravam na Itália. Algum tempo depois que eu cheguei no país, uma moça me procurou, Nicolle, irmã de Lorenzo, ela soube de imediato que eu não era ele, então contei toda a história para ela.

Obviamente que ela ficou em choque, mas acabamos nos tornando amigos. A mãe de Lorenzo estava muito adoentada, desde que Lorenzo desapareceu e, Nicolle pediu para que eu a visse e contasse sobre Lorenzo, omitindo as partes cruéis demais para uma mãe de verdade e que não fosse a minha, saber.

- Mamma, voglio che tu incontri qualcuno. Sa di Lorenzo.*

- Il mio Lorenzo? Dove si trova?**

- Mamma, per favore stai calma... ***

- Voglio sapere del mio Lorenzo. ****

- Lui sta bene. Chiamerò il ragazzo. *****

Como eu não sabia italiano, exceto algumas palavras, Nicolle ia traduzindo para a mãe dela. Eu não sabia como começar, como se fala para uma mãe, que seu filho foi sequestrado quando criança, vendido e desde então era abusado? Se fosse minha mãe, ela não se importaria, mas aquela senhora que estava diante de mim, daria tudo pelo filho.

- Meu nome é Fábio, sou brasileiro e foi lá que conheci o teu filho Lorenzo, ele foi um amigo incrível e graças a ele tive uma nova chance. Seu filho não fugiu ou foi embora porque quis. Ele foi sequestrado e traficado e eu lamento dizer isso, mas em meio a tudo isso, ele ficou muito doente e não resistiu, nosso plano era fugir juntos, mas ele não conseguiu e eu não pude ajudar ele. Eu sinto muito mesmo.

A senhora me abraçou e talvez pela primeira vez eu senti o que era o amor de uma mãe. Ela falou algo para Nicolle.

- Ela quer saber onde você vai ficar.

Até aquele momento eu estava ficando uma pousada que consegui pagar uma semana depois de ter chegado lá. Antes que eu falasse, Nicolle respondeu alguma coisa para a mãe dela.

- Ela disse que é para você ficar aqui.

- Eu não posso.

- Tem lugar melhor para ir?

- Não, mas não é certo. Fale para ela que eu assumi a identidade do Lorenzo.

Nicolle falou para a mãe dela.

- Ela disse que não tem problema, pode continuar usando o nome do Lorenzo, porque é como se uma parte dele tivesse voltado.

Então eu fiquei lá, ensinei Dona Antonella falar português e ela me ensinou italiano.

- Podemos conversar?

- Claro, Nicolle. Algum problema?

- Não. Quero te agradecer, há muito tempo eu não via minha mãe tão bem.

- Eu que agradeço.

- Outra coisa, estive pensando naquilo que você falou sobre vingança. Talvez meu marido possa ajudar. Já te falei que sou casada com um dos príncipes da máfia?

- Eu não sei. É difícil confiar, entende?

- Sim. Mas nele podemos confiar. Ele teve a irmã roubada e desde então ele caça essas pessoas, mas nunca encontrou ela. Converse com ele.

- Está bem.

Quando conheci Giovanni, logo fizemos amizade. Ele contou sobre a irmã dele e mostrou uma foto que tinha dela, era uma foto feita durante uma festa e o que me chamou a atenção foi o homem que aparecia em um reflexo olhando para ela. Eu sabia quem tinha pego ela.

- Como assim? Você sabe onde minha irmã está?

- Infelizmente não. Mas eu tenho uma ideia de quem levou ela. Está vendo esse homem no reflexo?

- Conhece ele?

- Conheci um tempo atrás.

Contei tudo o que eu sabia sobre aquele homem e depois de uma pesquisa, Giovanni descobriu que ele morava em uma cidade vizinha.

- Vou atrás dele.

- Não. Eu tenho contas para acertar com ele. Fazemos uma troca.

Expliquei as minhas condições e depois de pensar um pouco, ele concordou. E assim comecei minha jornada.

...****************...

TRADUÇÃO:

* - Mamãe, quero que conheça uma pessoa. Ele sabe sobre o Lorenzo.

** Meu Lorenzo? Onde ele está?

*** Mamãe, por favor, fique calma...

**** Quero saber do meu Lorenzo.

***** Está bem. Vou chamar o rapaz.

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