~ SUH ON ~
Do alto de minha janela despontam as magníficas cores de mais um dia que se vai, o balançar das folhas de cada árvore que rodeia a Praça Batista Campos, me presenteia com sua paisagem. Pessoas conversando enquanto outras trocam olhares de cumplicidade, e o clima ameno depois de uma hora de chuva. É algo que realmente me fascina e da mesma forma me prende nesta cidade. É como se aqui sempre fora o meu lugar, onde senti sabores que meu paladar ainda vai lembrar, fiz amizades que enraizaram no coração e onde vivi emoções que só aqui, eu poderei sentir a mesma intensidade.
Depois que minha mãe se foi nada foi fácil de aguentar e ter que seguir rumo a um caminho a qual eu gostaria de descobrir com ela. Deixarei para trás não apenas lembranças de um passado, mas sim uma vida que construí sem ao menos ter o direito de escolha entre ir ou ficar.
– Vamos nos atrasar. – disse meu pai com as últimas malas já na porta.
– Ora senhor Hoyung, ainda temos muito tempo até embarcarmos. – falei e sem ao menos um olhar apaziguador, ele saiu deixando-me apenas com o vazio e a dor de ter que partir.
Meu pai sempre foi um homem amoroso, mas desde que minha mãe faleceu se fechou para todos os sentimentos bons que haviam dentro dele. Me sinto como uma intrusa dentro de minha própria casa, isto é algo sufocante demais para alguém da minha idade. Não é fácil ter que lidar com certas situações da vida com apenas 20 anos, sem ter seu porto seguro, sem os conselhos da pessoa que mais te amava. Sinto que meu mundo acabou naquele dia fatídico.
– Já chega Suany, temos que ir! – seu tom autoritário me trouxe de volta.
Fechei as janelas do quarto me despedindo do lugar, pois esta pode ser a última vez em que posso contemplá-lo; meu voo está previsto para as 20:00h e meu pai com sua demasiada pontualidade diz ser necessário estar antes das seis no aeroporto.
Meus pais se conheceram na Coréia do Sul quando minha mãe fazia intercâmbio, nesse período eles começaram a namorar, e depois de três anos decidiram começar a vida em Belém a cidade natal de mamãe, que está localizada ao Norte do Brasil. O fato de eles terem decidido o Brasil foi simples; o déficit de alimentos saudáveis, o que gerou uma grande oportunidade de negócio ao meu pai. Lembro de como éramos uma família feliz, amorosa e unida e é por esse motivo que não consigo compreender tamanho afastamento de sua parte, é como se um muro invisível tivesse sido posto entre nós; onde pairam remorsos, raiva, culpa e mágoa.
Mas a minha maior tristeza é sentir que sou um fardo em sua vida, quantas vezes eu pensei em sair de casa e livrá-lo do trabalho, mas por aqui os negócios não andam favoráveis e com a renda que consigo ganhar de meu pequeno empreendimento, não daria para custear um aluguel. E com certeza eu não pediria para que ele me ajudasse financeiramente, pois ao contrário do meu, os negócios que ele possui na Coréia geram um bom rendimento. E era com esse saldo que ele nos mantinha confortavelmente, a nós nunca faltou nada, muito pelo contrário estudei nos melhores colégios, cursei quatro semestres de administração, mas logo descobri que não era a profissão que eu queria e foi com sua ajuda que empreendi no ramo de artesanato.
Meus pensamentos divagavam em silêncio enquanto meu corpo se movimentava no automático; e foi assim que chegamos no aeroporto. Parte de meus amigos estavam nos esperando e no mesmo instante lágrimas percorreram meu rosto, abraços vieram me confortar enquanto meu pai adentrou no salão apenas com um aceno aos demais.
– Não consigo aceitar isso. – disse Mariana, minha melhor amiga com os olhos vermelhos de tanto se lamentar.
– Nem eu, você sabe que se tivesse escolha eu jamais sairia daqui! – abracei todos sentindo uma aperto imenso em meu coração – Amo todos vocês de verdade, e espero que não esqueçam de mim. – com a voz embargada não consegui falar mais nada.
– Trouxemos um presentinho pra você – Diego estendeu um embrulho enorme e quando eu já ia abrir, todos disseram:
– Não! – e assustada comecei a rir.
– Por que não? – perguntei.
– Porque é para abrir só quando estiveres no teu quarto, lá do outro lado do mundo. – se apressou em dizer Fábio.
– Tudo bem! – só o fato de ter algo a mais que eu pudesse me apegar na lembrança de meus amigos já era reconfortante – Bom, vocês vão me esperar embarcar?
– Vamos sim. – minha melhor amiga tratou de entrelaçar nossos braços e juntos entramos no aeroporto.
Não foi fácil ter que entrar naquele avião, ainda no corredor transparente pude ver meus amigos juntos mandando beijos e acenos, a cada passo era como se eu estivesse me matando por dentro. No último degrau me dei conta que deixei para trás uma história e eu daria ou faria qualquer coisa para não ter que estar passando por isso, mas hoje o meu destino não está em minhas mãos.
O cansaço emocional me fez adormecer; quando despertei faltavam apenas meia hora até chegarmos a nossa primeira conexão. Meu pai estava absorto em seus pensamentos e nem ao menos com a pouca distância em que estávamos ele foi capaz de ceder a uma conversa. Pensei que ainda seríamos capazes de resgatar aquela relação de amor fraternal, mas a cada dia que passa me sinto mais distante deste sentimento.
Já no segundo voo, tentei me aproximar, no entanto, meu orgulho foi resistente e meu sexto sentindo me indica que isso é apenas para me proteger de uma decepção maior. Mas qual seria essa decepção? Não creio ser maior do que a que eu já passei nos últimos meses.
Enquanto vejo nuvens por entre a janela, imagino ter um fio invisível que me leva até mamãe. Busco em minhas memórias alguma pista do que possa ter levado meu pai a ser este homem frio; só que a cada tentativa as lembranças se embaralham ainda mais. Se ela pudesse me mostrar o que aconteceu exatamente naquela última conversa entre eles. Talvez eu pudesse me defender ou argumentar algo.
Minha mãe era uma mulher de muita autenticidade e carisma, se fosse à outra época eu diria que ela era uma verdadeira dama da sociedade. Uma pessoa solícita e que doava seu tempo para os outros, esquecendo-se de seus próprios problemas para ajudar aqueles que mais precisavam. Mesmo depois que a doença acometera à uma cama de hospital ela não deixou de ser alegre, de ter esperança de que tudo iria dar certo. Da mesma forma em que eu acreditava e sentia isso. Foram seis meses de tratamento entre altas e recaídas e isso era demais mortificante.
Então foi em uma dessas recaídas, durante a noite chuvosa que voltamos ao hospital. Desta vez ela não veria mais a luz do novo dia. Assim que foi constatada a gravidade da situação ela pediu para falar a sós com papai e quando foi minha vez eu só pude guardar sua última frase.
– Eu te amo além da vida meu amor. – e com uma lágrima seus olhos foram cerrados para a vida eterna.
Junto de seu leito eu chorei, sofri no mais profundo silêncio da alma, mas sempre sentindo sua presença a me consolar.
Na volta para casa meu pai já era outro, até então eu acreditei ser reação à perda, mas nos dias que seguiram ele continuava apático a tudo. Encontrei conforto nos amigos que vinham nos visitar e prestar seu apoio e solidariedade. Meus amigos foram parte essencial para que eu não afundasse em meu próprio mundo como fizera meu pai.
Uma voz no autofalante anunciava nossa chegada. A primeira vez que saio do Brasil e sem expectativas de volta. Agora tenho que encarar a realidade. As mãos ao meu lado me guiaram de forma silenciosa e discreta até o carro que nos esperava, no caminho haviam muitos prédios e casas luxuosas, já era um pouco mais das cinco da tarde e o céu estava esplendidamente pincelado por raios amarelos na imensidão do azul e branco, as buzinas constantes dos carros ao redor, denotavam o quanto a rotina ali era de pico constante. Aproximadamente uma hora depois chegamos ao destino. Com o celular na mão enviei um status em minha rede social com a foto de minha nova casa.
– Não se preocupe com as malas. – disse meu pai – Venha conhecer seu quarto. – não foi agradável ouvir que ele queria logo mostrar meus aposentos ao invés do ambiente geral.
– Tudo bem! – foi o que custei a responder, enquanto em minha mente eu dava milhões de respostas diferentes aquela grosseria implícita.
Subimos dois lances de escada e lá estava meu quarto, super equipado com frigobar, micro-ondas, televisor, som, mesa de escritório e muito mais para qualquer necessidade.
– Como pode ver aqui não vai lhe faltar nada. – sua frieza estava indo longe demais e eu precisava desabafar.
– Obrigada por se preocupar com meu bem estar papai – falei ironicamente, fato que ele ignorou e desceu me deixando ali no vazio de tudo.
...Quebra de tempo...
Três meses se passaram e eu precisava encontrar um rumo neste lugar, poucas vezes tive forças para me comunicar com meus amigos. Neste caso eu precisava ficar apenas com meus pensamentos e por em ordem todos aqueles diversos sentimentos que ecoavam dentro de mim. Sentia a solidão cada vez mais forte e dominante, e o único equilíbrio que encontrava era quando fotografava as paisagens da janela do meu quarto ou dos breves passeios que fazia; foi então que decidi cursar fotografia. Não apenas por me aperfeiçoar, mas encontrei ali uma oportunidade de juntar o útil ao agradável, pois assim passaria mais tempo fora de casa sem ter que ficar vagando sem rumo por ruas de uma terra desconhecida.
Não foi difícil fazer meu pai consentir que eu ingressasse no curso, uma vez que, ele faria qualquer coisa para me manter o mais longe possível de seu convívio. Eu o poupei do trabalho e sempre que chego da faculdade me tranco no quarto e faço daquele espaço o meu mundo, onde nada mais importa. O espaço é bem amplo; dispõe de uma cama de casal confortável e janelas que dão de frente à rua onde fica uma árvore muito linda, de folhagem rosa que me apresenta um espetáculo de pontinhos esvoaçantes até completarem seu destino, ao cair sobre o chão. Além da paisagem, posso desfrutar de certas “regalias” que meu pai fez questão de me presentear. Mas o que estava subjetivo nisso tudo era que minha presença fosse menos incômoda à ele.
Nas poucas vezes que tive o desprazer de encontrar meu pai em casa, ele estava na companhia de um homem que aparentava ter mais ou menos 30 anos; este por sua vez sempre usando ternos alinhados e de uma postura impecável, seus cabelos eram platinados e bem lisos, os lábios carnudos e corados contrastavam com sua pele clara e a característica marcante de seu País; olhos pequenos e puxados. Poderia até perceber que às vezes ele me olhava de relance, mas prefiro pensar que são ideias da minha cabeça, porque de certa forma isso me intimida. Tenho que admitir que aquele homem possui uma beleza única e um tom de mistério em seu olhar, algo interessante, mas que não me desperta a querer desvendá-lo.
Na faculdade com apenas um mês, fiz uma amizade inesperada e me sinto feliz por tê-lo encontrado. Jin é quatro anos mais velho que eu e tem características não singulares, mas que o destacariam em minha cidade; uma delas que eu admiro mais, são seus lábios bem grossos e rosados. Seus cabelos são lisos e pretos, ele é bem mais alto que eu, mas isso se torna uma vantagem já que ele pode se dar ao luxo de me rodopiar no ar, toda vez que me abraça. Mas nem sempre foi assim, pois aqui as pessoas não tem esse hábito, no entanto eu acostumei meu amigo a ser mais carinhoso e é claro que este tipo de abraço é mais quando não há ninguém por perto.
Jin consegue alegrar todos os meus dias e mesmo quando não estamos juntos sempre nos falamos pelo celular, o que me faz esquecer todos os problemas internos e externos que tenho que enfrentar. Talvez o que eu sinta não seja mais amizade, faz um tempo que ele visita meus sonhos e por mais forte que seja nossa relação eu não tenho coragem de dizer a ele que eu o admiro desde a primeira vez. Tenho medo de estragar tudo o que temos, e ele é tão precioso para mim que é preferível ocultar o que sinto, a ter que perder sua companhia.
O medo se torna maior que o desejo de tê-lo, e a incerteza de seus sentimentos é mais confortável do que ter a certeza de uma negação.
Passavam das 11h00min quando sentei debaixo de uma árvore que ficava na frente do parque da faculdade. Ali me deixei absorver pelo prazer que o vento e o balançar das folhas me traziam; por um momento imaginei estar na praça das grandes mangueiras de onde eu morava, ouvindo o canto dos passarinhos misturados ao aroma de manga fresca, quando uma mão tocou levemente meu ombro.
- Oi! – abri os olhos e minha felicidade ficou completa ao ver Jin.
- Oi, nem percebi você se aproximar. – ele sorriu e sentou ao meu lado.
- Era essa a intenção, você parecia estar tão conectada a outro lugar que achei que não faria mal em ficar lhe admirando um pouquinho, antes de lhe trazer de volta. – se havia ou não uma mensagem implícita eu preferi pensar positivamente.
- Faz tempo que não me sinto tão bem como senti agora. Sabe? Senti que estava na minha antiga cidade e uma saudade se misturou com a tristeza. Enfim! – era difícil verbalizar meus sentimentos.
- Não posso dizer que entendo o que está sentindo porque eu nunca passei por uma situação como essa, mas imagino que não é fácil ter que deixar tudo para trás. – sua mão tomou a minha em um gesto de solidariedade.
- Com certeza, não é! Ainda tem a relação com o meu pai que se desfigurou de tal forma que até hoje eu não consigo entender. – nesse momento só consegui fitar o chão.
- Tem certas coisas na nossa vida que só com o tempo é que devemos entender o porquê que elas aconteceram. – tão novo, mas sábio em suas palavras.
- Você tem razão, mas eu não sei por quanto tempo ainda vou suportar tudo isso. – o encarei sentindo um nó se formar em minha garganta.
- Bom, se vai demorar ou não até que você desabe; isso eu não sei. Mas pode ter certeza que eu estarei aqui pra lhe ajudar a levantar menininha. – sua mão agora estava acariciando meu rosto e no mesmo instante engoli qualquer que fosse aquele sentimento angustiante.
- Você foi a melhor coisa que me aconteceu aqui nessa cidade. – falei o encarando.
- Que tal irmos tomar um café? – disse Jin com certo desconforto.
- Ótima ideia! – respondi, e logo ele estava de pé erguendo a mão para me ajudar.
No caminho entre os muitos assuntos contei a ele de minha impressão sobre aquele homem que vivia conversando com meu pai.
- Eu não sei, mas tenho uma sensação estranha quando o vejo. – suspirei pesadamente - pode ser coisa da minha cabeça sabe, mas eu sinto que ele me olha diferente. – acrescentei.
- Olha Suh, se você se sentir ameaçada por ele ou algo do tipo, pode me ligar que eu vou correndo até você. – suas palavras me conectaram mais profundamente à ele.
- Você é demais Jin! Por isso que te amo sabia? - nessa hora senti o rubor em meu rosto então evitei o contato visual, até que sua voz quebrou o silêncio.
- Eu poderia dizer que sinto o mesmo por você! Se o que acabou de dizer for mesmo verdade, claro. – sua declaração foi sutil e sincera, mas eu não queria fazer ilusões de algo que poderia nem existir.
Apenas sorri e baixei a cabeça, quando por um instante tive a sensação de estar sendo vigiada. Senti um arrepio em meu corpo e apesar de estar de calça jeans e moletom, me fez estremecer; o que não era comum. Não deixei que Jin percebesse o que senti. Então continuamos caminhando sem nada a dizer após o constrangimento da última afirmação.
Assim que chegamos à Cafeteria a garçonete nos recebeu com um sorriso:
- Sejam bem vindos ao café Goins, podem escolher a mesa de sua preferência!
- Obrigada – dissemos. Logo me dirigi a primeira mesa que ficava junto da janela à esquerda da entrada principal.
- Primeiro as damas. - disse ele sorrindo enquanto puxava uma cadeira para que eu sentasse.
- Só você mesmo! – ele sorriu e sentou na minha frente.
O lugar era simples e aconchegante, algo que me remetia a um passado não tão distante. Nossos olhares começaram a ficar mais intensos e se não fosse o farfalhar dos outros clientes, eu poderia ouvir meu próprio coração palpitar descompassado, minha garganta estava ressecada e não demorou muito para fazermos o pedido.
- Um cappuccino e um croissant - pediu ele.
- Um chocolate quente, por favor. – senti o olhar interrogativo sobre mim, então tratei de explicar.
- Não quero perder o apetite do almoço. – me desculpei.
~ SUH OFF ~
~ PARK ON ~
Sempre fui um homem de negócios e por ser considerado uma celebridade empresarial, muitas pessoas acham que me conhecem;mas poucas têm esse privilégio.Não sou de muitos amigos e apesar dos 25 anos, aparento ter bem mais;talvez por ser dono de um império que herdei com a morte de meu pai.Império este que muitas pessoas tem inveja.O que eles não sabem é o quanto a minha vida é monótona.Sempre em frente ao computador rodeado de contratos e funcionários, quase não tenho vida social, exceto por ter que comparecer em eventos, reuniões e congressos sobre negócios.
No quesito amor, era um fracasso total.Desprovido desde muito cedo deste sentimento, eu já não cogito uma possibilidade de senti-lo outra vez. No entanto, isso não me impedia de alguns casos pela elite; que por sua vez não duravam muito.Logo eu percebia o interesse de muitas mulheres no que eu tinha, mas é claro que haviam as exceções, mas essas nem sequer se aproximavam de mim.
Assim que um senhor chamado Hoyung chegou à cidade, logo me adiantei para pesquisar sobre sua vida de negócios, já que ele era muito requisitado no ramo de exportação de produtos para alimentação saudável, o que muito me interessava, pois poderia agregar mais um produto de qualidade e valorização internacional dentro da minha empresa.Consegui contato com o mesmo, o que me fez passar quase todas as manhãs em sua residência;rodeado de papéis e longas conversas para convencê-lo a me vender parte de suas ações ou até mesmo a possibilidade de fundir nossos negócios.
Entretanto o que me chamou muita atenção é que em quase todas as vezes que nos reunimos, uma moça chegava agarrada à um livro e uma câmera.Ela por sua vez quase não falava e sempre que cumprimentava de longe, logo se estabelecendo no andar de cima da residência.Quando tive a oportunidade de olhar sua feição, me encantei com a delicadeza de seus traços.Sua pele acentuava com seus olhos e cabelos cor de mel, estes esvoaçavam com suas ondulações passando de seus ombros, seus lábios eram perfeitamente desenhados em uma linha superior contrastando com o preenchimento rosado da outra parte totalmente voluptuosa;um nariz pequeno e levemente arrebitado e o rosto longilíneo que harmonizava com sua expressão;de longe dava para notar seu porte franzino que pedia silenciosamente para ser cuidado.
De alguma forma aquela moça ganhou meus olhares e eu precisava saber mais sobre ela;como a oportunidade não vinha me atrevi a pergunta ao senhor Hoyung.
- Desculpe\, a invasão senhor\, mas não pude deixar de notar aquela moça que sempre chega todo fim da manhã ... - fitei o chão buscando as próximas palavras quando ele irrompeu meus pensamentos.
- Oh! Sim\, Suany é minha filha.Ela cursa fotografia numa dessas faculdades aqui da cidade, o que muito não me interessa, pois sei que não se pode extrair nada de útil para meus negócios.- disse ele em tom áspero
- Do jeito como o senhor fala\, deixa transparecer um convívio não muito amigável entre vocês.- ele por sua vez olhou-me com certa frieza no olhar e por um instante me odiei por tal atrevimento.
- Nem sempre foi assim! Sei que ela não tem culpa dos acontecimentos passados\, mas desde que minha esposa faleceu\, não consegui mais olhar para ela da mesma forma.O que passou foi apenas parte de uma mentira.- suas palavras foram carregadas de mágoas ou algo que talvez não fosse bom mexer.
- Sinto muito.- foi o que consegui dizer após não entender o que estava implícito em sua declaração.
- Não sinta por algo que não pode compreender.O que levo em minha vida é um fardo muito pesado para quem sempre deu o melhor de si pela família.- seu olhar era especifico em um ponto invisível.E se minha interpretação estiver certa, este homem acabou de chamar a própria filha de fardo!
- Então suponho que não queira carregar tal fardo por muito mais tempo!? - disparei em busca de conseguir algo mais.
- De certo\, meu caro Park! Mas ninguém em sã consciência se interessaria por uma menina que só pensa em fotografias.- quando me encarou notei a aversão que tinha sobre as escolhas da menina; e agora era hora de despertá-lo o interesse.
- Pois eu lhe asseguro que possuo interesse em sua filha\, além do que\, poderia ser uma grande vantagem para nossos negócios em comum não acha senhor Hoyung?- o fitei e ele estava pensativo e hesitante quando conseguiu prosseguir.
- Qual seria a vantagem neste caso?- perguntou.
- Se me conceder a mão de sua filha em casamento posso lhe passar 50% das ações de minha empresa e o senhor faz o mesmo por mim em relação à sua.Em resumo nós teríamos duas grandes potências multinacionais em uma consolidação de grande mercado, afinal de contas nós dois sabemos que nossos produtos têm uma aceitação pelo mundo, fora os lucros que serão multiplicados.O que me diz?
- Vejo que o senhor Park tem astúcia para negócios\, mas devo ressaltar o que disse anteriormente ... - não o deixei terminar com o raciocínio.
- Eu insisto senhor\, podemos ser grandes parceiros na vida e nos negócios.- já estava ficando nervoso com a situação\, pois se desse errado com certeza essa seria minha última e falida cartada de conseguir metade dos negócios daquele velho.
Depois de um longo silêncio ele me olhou fixamente e disse:
- Park\, não espero que se arrependa.
- Com certeza não irei.- apertamos as mãos e logo me adiantei em acertar alguns detalhes - Senhor Hoyung\, por favor\, não diga a sua filha que foi questão de negócios e nem que eu serei o noivo até o dia do casamento certo?Tem certos detalhes que não precisam ser identificados.E se puder facilitar as coisas e fazer com que ela assine os documentos que vou mandar por e-mail.
-Como queira Park.Negócio fechado!
- Tudo no seu tempo certo.- finalizei.
Assenti e me dirigi à porta.No mesmo instante contatei meu advogado para que cuidasse da parte burocrática sobre o casamento e encaminhasse ao meu futuro sogro.Agora seria questão de dias para poder conquistar sua confiança.
Peguei o carro e fui direto para a faculdade mais perto da residência, já que a cidade não é tão grande e apenas duas faculdades que ofertam tal curso, o que não dificulta a dedução de onde estuda.Minha esperança era encontrar ela nem que fosse de longe, na verdade não sei por que exatamente estava fazendo aquilo, mas só assim eu poderia seguir para casa depois de tudo o que consegui com seu pai.
Estacionei o carro perto de uma cafeteria chamada Goins, ficava a dois quarteirões da faculdade então com certeza ela passaria por ali.Depois de meia hora de espera, a vejo chegar à cafeteria com um rapaz. Eles não estavam de mãos dadas, mas só o fato de ela estar acompanhada me deixou inquieto, esperei um pouco para ver que rumo ia dar aquele encontro, afinal de contas hoje ela se tornou minha noiva.
Logo que sentaram vi que ele a olhava muito e ela todo o tempo sorridente, mas de cabeça baixa, porém quando o vi segurar sua mão sobre a mesa não aguentei;saí do carro e entre na cafeteria como se estivesse procurando uma mesa, sem pensar fui até eles.
- Bom dia senhorita\, você não é filha do senhor Hoyung?- disse e ela levantou o olhar um tanto assustado e respondeu:
-Bom dia, senhor! Sim, sou a filha do senhor em questão.
Ao ver que ela havia se assustado tratei de me redimir - Desculpe, não foi minha intenção assustá-la nem tão pouco ser inoportuno, mas devo lhe lembrar que seu pai não gostaria de saber que a senhorita está em um café com um rapaz a qual não tenha um compromisso, em uma cidade pequena como esta as pessoas falam muitas maldades.
- Bom\, me desculpe o senhor\, mas em que século vive?Pois nunca vi nos dias de hoje tal comentário.E este rapaz é meu amigo e de muito respeito.
- Vou desconsiderar a parte de ofensa à minha pessoa e oferecer uma carona até sua casa\, para garantir que chegue bem.- assim que terminei a frase não pude deixar de notar o espanto da menina\, e então ela olhou para o amigo.
- Por mais que o senhor tenha\, em parte razão. Não será necessária a carona.- seu amigo proclamou com os olhos fixos no meu\, como um aviso para eu não insistir.
- Não sou tão velho assim para ser chamado de senhor meu caro.- declarei sem perder a compostura.
- O Jin\, vai me acompanhar até em casa como sempre faz\, até mesmo porque o senhor aqui que é um estranho para mim - disse ela.
- Devo lhe considerar que sou um homem de confiança para seu pai.- a encarei\, e em uma tentativa de conter minha impaciência coloquei as mãos nos bolsos na frente da calça.
- Disse bem\, para meu pai e não para mim! - Suany é verdadeiramente teimosa e isso é algo fascinante para meu ego.
- Bom;caro senhor.De fato sua carona e dispensável.Afinal de contas já estamos de saída não e mesmo Suh?- disse o rapaz com os olhos fixos em mim.
- Sim\, temos muito que fazer ainda.- desta vez foi ela quem lançou um olhar de desdém.
- Certo\, também tenho muito o que fazer ainda.Até breve! - falei sem sair do lugar\, enquanto ambos estavam na porta.
Não sei ao certo porque fiz isso, mas com certeza passei por um ridículo.Mas não me sinto afetado, uma vez que, logo, serei eu quem terá o prazer e a permissão de desfrutar de uma companhia tão agradável quanto à dela.Tudo no seu tempo certo.Mas isso não impede que eu me segure que ele a vai levar direto para casa, entrei no carro e os observei de longe.Entraram em um carro logo mais a frente, que suponho ser dele e seguiram.
Sendo conhecedor do lugar, segui rumo à casa do senhor Hoyung e esperei ainda no carro até que eles chegassem.Logo mais ela saiu do carro e ele foi embora.Achei que seria uma boa hora para finalizar a conversa de mais cedo, então me posicionei fora do carro de uma forma que ela pudesse me ver.
Assim que me viu o olhar de desespero da menina era evidente, e com relutância aproximou-se de mim e então contendo um sorriso a esperei chegar mais perto. E assim que aconteceu ficamos apenas nos encarando, quando em certo momento depois ela respirou fundo.
-O senhor se deu conta do quão ridículo foi esta manhã?Ignorando a presença do meu amigo e me tratando como uma adolescente que o papai manda vigiar para não ser desonrada por aí?
- Não vejo por esse lado senhorita.- ela ficou boquiaberta e logo disparou
- Desculpe\, qual o seu nome mesmo?- disse ela com certo desdém.
- Me chamo Park e gostaria de verdade poder continuar esta conversa\, mas creio que seja melhor entrar - falei apontando discretamente para a casa\, pois realmente eu tinha que ir para meu escritório fazer uma vídeo conferência.
- Pena que não posso lhe dizer o mesmo.- seus olhos irradiavam raiva enquanto os meus sorriam.
Então sem mais ter o que dizer, ela seguiu até sua casa sem olhar para trás.
~ PARK OFF ~
Para mais, baixe o APP de MangaToon!