Aquela manhã parecia única para Hélia destemida (um apelido conhecido pela sua tamanha coragem de sempre levar uma espada em sua cintura em um cinto de ferro com espartilho de lâmina de aço na barriga, que dava uma elegância maior ao seu visual para enfrentar raposas-selvagens nas florestas), a linda jovem era também chamada de senhorita por todos os cidadãos da região da vila das flores, nome usado também para moças viúvas de vinte anos.
A destemida caminhava tranquilamente pelos bosques das cidades próximas usando um colete, luvas e botas de couro marrom, e algumas dessas cidades eram interligadas direto com o Reino da Terra que conectava com o maior mercado do bairro.
A mulher visitava constantemente aquele lugar nos finais de semana para comprar algumas comidas como frutas, legumes e diversas carnes para abastecer o armazém da sua casa, ela gostava também de poder cumprimentar os moradores vizinhos que tinham vários jarros de plantas belíssimas de várias cores vivas em suas janelas e varandas.
A vista era deslumbrante ainda mais para Hélia que tinha olhos verdes esmeraldas e mais ainda para quem passeava pelas ruas calçadas de pedregulho que continha moinhos de vento e diversas barracas de objetos como bugigangas e utensílios de roupas.
Vestidos eram os mais cobiçados pelas mulheres casadas com os soldados do pelotão da cavalaria, muitas delas gastavam sem pensar moedas de ouro por algumas saias sem muito valor mas que tinham um beleza mais ou menos chamativa.
Os olhares dos homens que passavam por aqueles quarteirões ficavam abismados com tanta movimentação de jovens belas que desejam mais do que os seus cofres podiam.
Apesar do comércio ser grande e bastante diversificado, os vendedores eram gananciosos e caloteiros com os clientes, bastava eles olharem suas bolsas e baús cheios de moedas que eles ficavam atiçados em querer vender pelo mais altos preços estonteantes.
Mas, apesar daquele belo dia comum, Hélia seria marcada em sua vida para sempre, pois seria o enterro do seu falecido marido que ela tanto amava, morto de uma forma trágica e um pouco estranha sem o real motivo ser divulgado pelos seus soldados que o trouxeram em uma maca feita de madeira.
A viúva estava atordoada e anestesiada com a fatalidade recente, deixando-a totalmente triste e inconsolada de uma forma que ela jamais sentiu em sua vida, a morte dele ficaria registrado em sua mente de várias maneiras que ela não conseguiria explicar e esboçar reações de sentimentos e emoções.
O Cemitério de Pedras onde a moça estava enterrando o seu amado era evitado pelas pessoas que passavam pela estrada da Floresta Lamentação, que ficava ao sul da cidade Planície no Reino da Planta.
A lenda contada pelos mais velhos é que existia uma banshee que morreu muito jovem de forma trágica e desesperadora, o seu grito estourava os ouvidos de qualquer criatura que estivesse ao alcance da zoada e podia nos piores casos causar a morte precoce de humanos.
O ar começou a ficar gélido do nada e o vento forte vindo do sul das montanhas levou uma corrente friagem em sua pele macia, e uma sensação térmica abaixou com uma presença desconhecida que surgiu no túmulo ainda aberto e decorado com rosas e bétulas brancas e vermelhas, Hélia então se perguntou;
— Que sensação esquisita é essa que estou sentindo em todo o meu corpo? Quem está aí?! — perguntou aos gritos.
Era exatamente seis horas da manhã do dia anterior da morte de Jhan quando as luzes do sol bateram nas cortinas do quarto da linda jovem, fazendo-a acordar de um sono muito profundo de belos sonhos, onde ela vivia em paz ao lado do seu marido e podia trabalhar com sossego na sua horta e plantações.
Mas a realidade era totalmente diferente, a moça abriu os olhos e sentiu os raios de luz em seu rosto e bochechou com a boca por alguns segundos, o seu querido amor ainda estava dormindo e a destemida não o acordou antes de preparar o café da manhã, se sentando na cama ela colocou suas sandálias de rosas e caminhou até a cozinha, colocou água na chaleira e em seguida no fogo a lenha, então se sentou na cadeira da mesa e pegou um pão quentinho que havia feito de madrugada.
A linda jovem não gostava de comida frias e muito menos conservada, seu gosto era peculiar e bastante exigente, a mulher não comia qualquer coisa, apesar de já ter passado fome em sua vida quando era pequena e morava com os seus pais, onde vivia da pesca diariamente e podia brincar nas árvores altas que tinham no bosque ao lado da sua casa, conheceu o seu esposo logo cedo quando levou leite fresco da sua vaca que tinha no celeiro e então se esbarrou com Jhan, o homem mais lindo que ela conheceu em toda sua vida.
O quê mudou para ela foi sua forma de ver o mundo, encontrar uma pessoa para compartilhar seus sentimentos e pensamentos faria com que Hélia desabasse com a perda do seu marido.
Infelizmente o destino não estava ao lado deles dois dessa vez, apesar dele ter colocado muitas alegrias nas vidas de cada um com muitas conquistas como o campeonato de comida e tiro ao arco com flechas flamejantes, fora as batalhas no ringue de cavaleiros onde a linda jovem aprendeu bastante sobre lutar e estratégias de batalhas sangrentas, o que deixava a moça bastante preparada para o possível perigo que vinhesse acontecer no seu caminho.
— Jhan? O café está pronto, vem, acorda. — disse colocando as pernas dele para fora da cama.
A destemida não fazia ideia o quanto o trabalho de Jhan era estressante e bastante exaustivo, ele era o comandante do exército do Reino da Terra e trabalhava dez horas por dia com uma hora de descanso ao meio dia, estava sempre pronto a ajudar às outras pessoas da melhor maneira que pudesse, sempre de bom humor e contente com a vida que levava no campo.
Seus dias estavam contados pois morreria nesse mesmo dia que acordou, sendo o último ao lado de sua amada Hélia, eles conversaram pouco aquela manhã e se beijaram por alguns minutos como sempre faziam, deixando as saudades das horas passarem como um vento forte que soprava do sul em meio a chuva tempestuosa e nublada de alguns dias.
Seus dias estavam marcados por constante mudanças inesperadas, a partir daquele dia a sua vida não seria mais a mesma como era de costume, a moça começaria a trabalhar nas costuras das roupas da realeza e teria que provar vários belos vestidos caros para as princesas dos outros reinos, um dos comércios que o Reino da Planta oferecia para as outras províncias locais.
Seu dia a dia ficaria bastante apertado e cansativo, uma exaustão que a destemida iria precisar para ocupar a mente tão pesada que teria que carregar para onde fosse, mesmo sabendo das possíveis fatalidades do destino.
Quando a viúva chegou naquela noite toda destruída por dentro, a mulher não fez nenhum serviço, apenas foi se deitar e dormiu sem mesmo ter comido alguma coisa, a próxima manhã seria um tédio e uma realidade destrutiva para ela.
A garota estava com um semblante muito caído, seu rosto estava pálido e todo suado pelo nervosismo que ela estava sentindo em seu corpo. Suas lágrimas caiam de seus olhos esverdeados e deixava claro o quanto ela estava bastante triste e inconsolada.
Ela acabou acordando por não conseguir dormir e pregar as pálpebras uma na outra, além de ficar toda se tremendo por não acreditar naquela realidade angustiante, então pegou seu arco longo e algumas flechas e lançou no alvo com dificuldade, tentando tirar a tensão de seus músculos e aliviar a mente tão pesada, podia dizer que a jovem estava com uma aparência horrível e de dar dó.
Depois de alguns lançamentos, ela pegou sua espada de lâmina média e começou a socar um boneco de madeira que servia como suporte de armadura que tinha na sua sala particular de treinamento, o vestido de couro acabou se rasgando todo de tantos golpes que foi dado pelas suas mãos macias e fortes no objeto.
Depois caminhou até a cozinha e bebeu alguns goles de água gelada, recuperou o fôlego e foi tomar um banho na ducha do banheiro que ficava ao lado do seu quarto. Quando terminou, respirou profundamente e foi até o sótão pegar um vestido velho que ela tinha ganhado do seu falecido marido, vestiu e se sentiu mais calma.
Em seguida foi até o seu quarto, pegou uma bacia que tinha algumas frutas e comeu recuperando energia e vigor, terminando guardou tudo depois de lavar e foi se deitar um pouco e ficou lendo o seu livro preferido de romance sobrenatural (que contava a história de um belo homem que havia se transformado em um vampiro sanguinário, mas acabou encontrando uma linda mulher e se apaixonou perdidamente por ela, mudando o seu jeito de ser e suas atitudes por ela), ler fazia com que Hélia relaxase por alguns momentos, deixando-a sua emoção equilibrada.
Ela leu até a alvorada e tirou alguns pequenos cochilos rápidos, e descansou o suficiente para enfrentar o dia que estava despontando com raios de sol batendo em sua janela do quarto, as cortinas estavam abertas e balançavam com o vento de brisa suave.
A destemida agora estava sã para lidar com a perda recente, então se levantou e fez o café assando alguns pães e fazendo uma deliciosa torta de morango.
— Como sinto a sua falta meu querido companheiro… — Hélia sentia também a falta dos beijos de Jhan em seus lábios carnudos, perdê-lo fez com que ela ficasse muito solitária.
Não demorou muito para que ela pensasse em visitar novamente o ringue de cavaleiros e poder descontar sua raiva que ainda estava sentindo em sua mente.
A donzela era bastante conhecido por todos pela sua fantasia que usava de coruja, conhecida por a coruja destemida, ganhava de muito adversários e tinha sido campeã muitas vezes, além de ter ficado sempre nas finais da competição.
Ela não era de perder, sempre tinha uma carta na manga que usava com golpes especiais e únicos que tinha aprendido ao decorrer das suas lutas, confrontar jovens da sua idade fazia com que a jovem também adquirisse bastante experiência o que lhe dava uma enorme vantagem sobre os outros inimigos.
Demorou em torno de uma hora para que ela pudesse chegar até o salgão de inscrição de batalhas, colocou o seu nome e percebeu um diferente na lista, um chamado lobo devorador, ficou até intrigada com uma nova presença no ringue e poderia está certa de que aquela manhã seria bastante interessante e calorosa.
— Olá, Will. Quem é o novato? — a mulher perguntou interessada no próximo oponente, quem sabe um possível rival.
— Não faço a mínima ideia destemida, mas creio que seja um dos forte, ele veio do Reino da Terra, e me parece que tem bastante experiência assim como você.
— Entendo, espero que eu consiga derrotá-lo.
Não demorou muito até que a linda jovem avistou um rapaz usando uma capa escura e uma fantasia de lobo branco, deixando-a eufórica e em expectativa para a batalha.
A primeira lutar começou com ela enfrentando uma jovem de nome raposa feroz, Hélia tinha experiência com raposas-selvagens então seria fácil derrotar uma humana qualquer. Ela desviou de cinco golpes no rosto, abaixou-se e deu um murro atrás dos joelhos da garota, fazendo ela ficar abaixada, então se levantou e deu um chute giratório na têmpora da menina derrubando-a com facilidade.
A segunda luta seria com um velho chamado urso valente, ele era forte e tinha uma aparência temível em seu rosto gordo e falava com dificuldade com a boca cheia de comida.
A destemida não teve medo, apesar de ficar nervosa e um pouco agitada com o calor da batalha, ela começou dando um pulo e chute no rosto do homem, fazendo-o ficar irritado, ela então recuou e correu pulando no pescoço do barrigudo e apoiando o seu corpo pra baixo, derrubando-o e em seguida dando um golpe no diafragma, fazendo com que ele ficasse com dificuldades para respirar.
O velho se levantou depois de alguns segundos, ficou de pé e um pouco confuso, com os olhos revirados. A jovem então aproveitou a oportunidade e deu um chute giratório na têmpora dele fazendo cair no chão, vencendo o segundo confronto.
— Isso! Até que você me deu um enorme esforço urso valente.
A plateia começou a aplaudir bem forte e gritar o nome de coruja destemida, até se levantaram e urraram para ela encorajando-a a continuar vencendo.
— Ela é bem durona para a idade dela, não é? — fala o jovem lobo.
— Apostei vinte moedas de ouro que você vai perder, que ela arranque um pedaço de você pedaço de sucata! — fala o homem que cuidava da entrada dos participantes.
— Você é novo aqui, não é? Lobo devorador!
— E você é uma coruja destemida, um belo nome para uma jovem atrevida!
— Vai se arrepender por essas palavras!
A batalha começou bastante insana, com várias golpes de espadas uma na outra, elas se cruzavam e trincavam várias vezes, os dois estavam animados em vencer, Hélia aproveitou uma oportunidade e cortou um pedaço da perna do jovem, ele recuou e ela se preparou para da um golpe final, aquela luta não duraria muito tempo pelo visto, ele rangiu os dentes e correu até a jovem, deu um giro e cortou um pedaço do vestido da moça, mas em seguida levou uma cotovelada no rosto e caiu no chão.
Hélia poderia finalizar ali mesmo, mas achou que seria fácil demais, então deu uma nova chance para o menino destemido. Ele se levantou e agradeceu e foi correndo em direção dela, cruzou a espada uma na outra e deu um murro no braço da garota, fazendo ela derrubar a espada, então deu um chute na barriga dela fazendo-a cair no chão com força.
A destemida então se levantou rápido, pegou a sua espada e se preparou para acabar com aquela luta de uma vez por todas, correu em direção contrário do ringue e subiu em uma plataforma de madeira, correu por cima dela e deu um pulo em cima do rapaz, derrubando ele e fazendo um golpe na sua garganta terminado o combate. Ele ainda tentou se levantar mas a garota deu um cruzado de direita em seu nariz e acabou a festa.
— Até que você foi bem! — ela disse com um leve sorriso no rosto.
A donzela conseguiu ir para as finais novamente, mas não venceu o título de campeã, estava com a mente muito cheia para conseguir ganhar alguma coisa naquele dia ensolarado, então ela deixou o lugar e foi embora pra casa, precisava tomar um banho e descansar um pouco.
Se aproximando da sua residência ela avistou um movimento estranho vindo do celeiro e imaginou que poderia ser algum ladrão querendo roubar comida do seu armazém, ela então segurou em sua espada e se preparou para olhar o ambiente, caminhou devagar até a entrada e avistou um garoto pequeno mexendo em alguns caixotes de alimentos.
— O quê pensa que está fazendo mocinho? — o rapaz não suportou o susto e gritou bem alto e se tremeu todo da cabeça aos pés até que caiu no chão e se melou todo de bosta mole de vaca. — Não deveria está estudando nessas horas em vez de roubar comida dos outros?
E foi assim que aquela manhã conturbada começou, com surpresas e mistérios ainda a serem desvendados, ela ainda não sabia e não fazia ideia do real motivo da morte do seu marido, muito menos de quem seria aquela presença no túmulo dele que a fez se arrepiar toda das cabeça aos pés.
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