..."Na vingança e no amor,...
...a mulher é mais bárbara do que o homem."...
^^^— Friedrich Nietzsche^^^
Dedico essa história para todas aquelas que já se apaixonaram por um vilão. E para a minha eu do futuro, que se orgulha bastante por eu ter finalmente cedido ao meu sonho de ser escritora.
Lívia Diniz
...PERSONAGENS...
...Kaya Firestone...
...Vince Moretti...
...Dario Darkwood (Draco)...
OBS: Essa é a minha primeira obra, eu reviso sempre que posto os capítulos, mas como não sou uma máquina e nem vivo da escrita (infelizmente), erros podem saltar aos olhos mais atentos. Se forem erros ortográficos grotescos, me avise. Contém violência, conotação sexual e palavras de baixo calão. Curta todos os capítulos, não custa nada. Gratidão e bem vindos à família Leone. 🌹❤️🍷
...PRÓLOGO...
A chuva dançava lá fora, num balé silencioso sobre a estrada solitária que traçávamos. Meu pai conduzia com suavidade ao lado da minha mãe, cujos dedos desenhavam caminhos sobre o vidro embaçado, enquanto suas palavras ecoavam num sussurro preocupado. Com dezessete anos de união, enfrentavam uma fase desafiadora, uma espécie de inverno no calor da relação - e optaram por uma segunda Lua de Mel, buscando reavivar as chamas do amor inicial. Embora tentassem disfarçar, suas tensões eram como sombras projetadas na parede da nossa vida familiar, evidenciadas pelas suas interações ásperas e pelas discussões que ecoavam pelos corredores.
Era por esse motivo que eu estou neste carro, para ser despachada no interior do Kansas. Não havia queixas em relação ao verão em Leavenworth, mesmo que fosse um lugar onde o tempo parecia desacelerar, embalado pelo ritmo pacato da cidade. A gentileza excessiva das pessoas e a serenidade do lugar, de alguma forma, me incomodavam - como se estivessem congeladas em um quadro de desenho animado. A recente fama da cidade, como palco de um reality show, acrescentava uma pitada de interesse à visita à minha avó, tornando-a menos monótona.
Minha avó, Mary Anne, provavelmente estaria preocupada com nossa demora, ainda mais considerando que a noite já caíra e ainda não havíamos chegado. Porém, eu permanecia tranquila, confiante em sua doçura e generosidade inabaláveis. Seu sítio, adornado com cavalos majestosos, tornava-se um refúgio encantador - mesmo para alguém como eu, que nunca havia montado, mas agora estava sendo iniciada nesse mundo pelo atencioso Dario.
Dario observava a chuva escorrer pelo vidro, ao meu lado. Antes disso, ele flutuava em devaneios, mas a leveza do seu sono foi interrompida pelo murmúrio da breve discussão dos meus pais. Tão sensível que até mesmo em casa, um sopro no jardim seria o suficiente para despertá-lo, temeroso de algum possível perigo que pudesse me rondar. Eu ria com sua preocupação excessiva. Por que alguém se daria ao trabalho de me sequestrar? Será que eu sou uma princesa esquecida de algum reino distante? Nossa posição na sociedade era modesta: meu pai, um microempresário no ramo dos perfumes, e minha mãe, uma professora de História. Não havia razão para despertar interesse ou malícia em relação a mim.
Meu pai o acolhera há três anos, desde que ele perdera seus próprios pais. Os detalhes dessa história permaneciam envoltos em mistério para mim, e eu nunca seria indelicada o suficiente para perguntar. Sua tez pálida justificava o apelido que eu lhe dera, Draco, como uma alusão à sua aparente aversão à luz solar. Com seus exatos vinte e três anos, ele se tornara uma figura protetora, quase um irmão mais velho aos meus olhos. Papai e ele passavam longas horas juntos na garagem, treinando alguma forma de combate. A utilidade disso tudo permanecia obscura para mim, mas era reconfortante, de alguma maneira.
— O que está pensando? — perguntei a Dario, observando seu olhar perdido.
— Em nada, apenas apreciando a paisagem incrível. — ele respondeu com um sorriso.
— Seu vidro está embaçado, não consegue ver nada. — ergui uma sobrancelha.
— Estou vendo seu reflexo nele. — ele piscou, o que me fez revirar os olhos.
— Meninos, silêncio! Ka, seu pai está tentando se concentrar na estrada. — repreendeu minha mãe, virando-se para nós com uma expressão carrancuda.
—Ué, não era você quem estava brigando com ele há pouco tempo? — pensei, com um leve sorriso nos lábios, para provoca-la.
Um silêncio tenso envolveu o interior do veículo, rompido apenas pelo som suave da chuva e pelo ronco do motor. Peguei Fera, meu precioso gatinho da raça Savannah, que repousava no assoalho, e o acomodei em meu colo. Afaguei seus pelos exuberantes, embora seu agradecimento tenha sido um rosnado característico. Ele fora um presente de meu pai, e quanto à origem do dinheiro para adquirir um felino tão raro, é um mistério que prefiro não sondar.
A tensão nos olhos de meu pai não passou despercebida quando ele consultou o espelho retrovisor com apreensão crescente. Em breve, a velocidade do carro aumentou gradualmente, e sua fixação no espelho não cessou.
— Por que essa velocidade, Victor? — indagou minha mãe, agarrando firmemente o painel do carro.
— Creio que estamos sendo seguidos. E temo que seja... Ele. — suas palavras ecoaram, atingindo a todos a bordo. — Por favor, coloquem os cintos de segurança. — acrescentou, antes de pressionar o acelerador com firmeza.
A ansiedade tomou conta de minha mãe e de Dario diante da revelação de meu pai. Trocaram olhares nervosos, enquanto eu me via como a única ignorante quanto à identidade do misterioso indivíduo. Quem seria ele? A pergunta ecoava em minha mente sem resposta enquanto observava o veículo que nos seguia, cada vez mais próximo, desafiando a chuva e a escuridão do céu noturno.
Meus olhos já marejados foram subitamente inundados por lágrimas quando o impacto aconteceu.
O carro atrás de nós colidiu com violência, e meu pai, perdendo o controle, foi levado a uma sucessão frenética de giros e embates até o inevitável encontro com uma árvore. O mundo girava em torno de mim enquanto tentava avaliar minha própria condição, lutando contra a dor latejante que invadia meu crânio e a sensação de aprisionamento que me impedia de mover-me.
O veículo repousava de cabeça para baixo, mergulhando tudo em trevas. Fragmentos de vidro e respingos de sangue adornavam o cenário caótico. Eu permanecia presa pelo cinto de segurança, enquanto meu pai jazia sem o seu. Ah, pai, sempre tão preocupado conosco, esquecendo-se de si mesmo?! Seu corpo se tornara um triste reflexo do teto do carro, tingido pelo sangue que o envolvia. Seus dedos trêmulos e manchados buscavam desesperadamente o contato com os de minha mãe.
Enquanto isso, Dario jazia inconsciente, sua pele adquirindo uma tonalidade púrpura, talvez pela corrente sanguínea que manchava sua face e, provavelmente, a minha própria. A ânsia de gritar por ajuda fervilhava em meu peito, mas meus lábios permaneciam silentes. Fechei os olhos com força, desejando ardentemente que tudo fosse apenas um terrível devaneio. A esperança de acordar em minha cama, ao som do grito matinal de minha mãe, era tudo o que buscava.
Contudo, ao abrir os olhos, a dura realidade permanecia intacta. Tentei mais uma vez, e outra, mas nada mudava. Era tudo tão real quanto as lágrimas que escorriam por meu rosto.
O eco de botas sobre a grama úmida e os galhos quebrados preencheu o ar. Era ele, quem quer que fosse. Agachou-se para observar-nos através do vidro estilhaçado. Decidi fingir-me de morta, mas logo ouvi dois disparos. Abri os olhos quase que instantaneamente. Eu estava morta? Não. Ele havia atirado em meu pai. Dois tiros, um na cabeça, outro nas costas. Seu rosto permanecia oculto, dificultando minha visão já turva pelas lágrimas e pela escuridão, enquanto a chuva caía incessante, encharcando meu pai por completo.
Então, minha mãe despertou de seu torpor - ou assim presumi -, e ele imediatamente notou. Eu juro que tentei ver alguma característica sua, mas minhas próprias condições não eram das melhores. O homem alto desafivelou seu cinto e a arrastou, enquanto ela se agarrava desesperadamente à grama, recusando-se a ser levada. Seus gritos ecoavam, cortantes, enquanto lutava contra ele.
Nossos olhares se encontraram por um breve instante, e pude sentir um arrepio percorrer meu corpo. Ela estendeu a mão em minha direção, em busca de auxílio ou advertência, mas suas palavras se perderam em meio ao caos.
— Mamãe. — minha voz não passou de um mísero sussurro.
Sentia-me impotente, observando-a enquanto ele direcionava sua atenção para onde minha mãe apontava. Nesse momento, a certeza de minha morte se abateu sobre mim. Sua arma apontou para minha cabeça, e o terror me consumiu. A pressão em meu peito aumentou, a visão turvou. Um último disparo ecoou. Tudo havia chegado ao fim.
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...NOTA DA AUTORA:...
Do capítulo 1 ao 14 a minha escrita está muito pesada, detalhei muitas cenas e pensamentos de Kaya. É meu jeito mais elaborado de escrever, desde sempre! Mas depois de ler alguns livros nessa plataforma e ouvir algumas críticas construtivas, decidi adotar uma escrita mais fluída e simples. Lembrando que sou autora iniciante e estou sempre aprendendo.
Isso acontece a partir do capítulo 15, então paciência com o livro até chegar nele. Beijão!
...PARTE I — MENTIRAS...
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5 anos depois...
"Desde a unificação dos Estados Unidos ao Canadá, a estabilidade econômica e a quase extinção da onda de violência, têm sido notáveis. No entanto, as duas principais máfias em atividade, Matazzo e Bratva, têm representado um desafio significativo para as autoridades nos últimos anos. O mais recente caso envolvendo uma ameaça dos Matazzo é motivo de preocupação para os governantes..."
A voz da jornalista ecoava no quarto pequeno, mesclando-se ao chiar da televisão, onde imagens de tumultos nas ruas do Brooklyn acompanhavam suas palavras. Seus olhos transmitiam uma mistura de seriedade e preocupação, enquanto ela detalhava os confrontos entre as facções rivais, cada uma lutando por controle e poder naquele que já fora um bairro pacífico.
Troquei de canal em busca de algo mais leve, mas meus pensamentos não conseguiam se desviar completamente da tensão que permeava o ar. Suni, minha amiga do ensino médio e parceira de todas as confusões, estava sentada no sofá, mexendo em sua maquiagem como se estivesse se preparando para uma batalha.
— Oh, céus! Você não vai aplicar nada no rosto? Assim vai assustar todo mundo na festa. — Suni comentou, passando uma base com uma tonalidade muito mais clara do que sua própria pele, ficando parecida com o Gasparzinho.
— E quem disse que eu estou pensando em ir?! — respondi, desistindo da busca pelo reality das Kardashians e me jogando na cama.
Suni soltou um suspiro dramático, sua expressão de incredulidade evidente.
— Não, você não pode me deixar ir sozinha. E se o Lucca estiver lá? Você conseguiria viver sabendo que deixou sua melhor amiga ir a uma festa onde o ex está? Sozinha? SOZINHA!
Revirei os olhos diante da dramaticidade dela, mas no fundo sabia que ela estava certa. Uma verdadeira amiga é o escudo de ex da outra.
— Você sabe que o Dario não vai me deixar ir a essa festa. Da última vez, cheguei em casa às dez da manhã — comentei, encarando o teto.
Eu estava passando por uma fase de querer liberdade. Mas meu tutor não deixava de jeito nenhum.
— Isso não importa. Você já vai fazer 18 anos e é quase maior de idade, não precisa mais de um babá ou de alguém para ficar no seu pé. — Ela disse se jogando na cama, fazendo um bico enorme nos lábios vermelhos.
Após muitas lágrimas e argumentos convincentes, acabei cedendo ao drama de Suni e permitindo que ela me arrumasse para a festa. Algumas horas depois, eu me olhava perplexa no espelho do banheiro, parecendo uma pessoa completamente diferente, totalmente produzida.
As batidas na porta do quarto me tiraram de minha contemplação, e logo ouvi uma voz familiar chamando meu nome.
— Kaya?
A voz conhecida me fez congelar instantaneamente. Sabia que estava prestes a enfrentar problemas. Era o Dario, meu irmão mais velho e guardião auto-designado, e se ele me visse com esta roupa curta, todo o meu plano de escapar despercebida seria arruinado.
— Ela está na cozinha... — Suni mentiu, com um tom ligeiramente desconfiado.
Tentei fechar a porta do banheiro com o pé, rezando para que se fechasse sem chamar a atenção de Dario. Mas era inútil quando se tratava da pessoa mais observadora do mundo.
Poucos segundos depois, a porta foi escancarada, com um homem totalmente perplexo diante de mim.
— Er, Oi Draco, meu amor. — falei, tentando disfarçar, mas meu sorriso era tão forçado quanto possível.
— Que tipo de festa do pijama as garotas passam um quilo de maquiagem na cara e usam uma saia que nem cobre a bunda?! — Sua voz soava rouca, revelando sua incredulidade.
— Ei, eu nem me maquiei tanto assim, e essa roupa eu comprei há pouco tempo e normal que...
— Comprou em alguma loja para prostitutas? — Ele soltou a frase com um tom de desaprovação.
Encarei-o, sem acreditar nas palavras que acabaram de sair de sua boca, sentindo o calor subir ao rosto e minhas bochechas corarem.
— Só um minutinho. — Suni ergueu a mão, expressando curiosidade. — Existe mesmo uma loja para prostitutas?
Gostaria de rir com o comentário da minha melhor amiga, porém, meu sangue estava quase fervendo. Eu guardo muito coisa acumulada nesses anos, odeio quando sou tratada como uma criança.
— Você é um idiota! — minha voz sai um pouco trêmula.
Eu levanto a mão, pronta para desferir um tapa em seu rosto, mas com um reflexo rápido e surpreendente, ele agarra meu pulso, apertando-o com força. Sinto uma mistura de dor e indignação enquanto meus olhos ardem, e a raiva se torna evidente em meu semblante. Ele solta minha mão de maneira rude, um sorriso malicioso brincando em seus lábios. Recuo instintivamente, encostando-me na parede mais próxima, sentindo-me amedrontada pela súbita agressividade.
— Eu quero ver você dormindo em menos de trinta minutos. — ele fixa seu olhar em mim, sua voz firme e autoritária. — E não ouse sair para nenhuma festa, se não...
Olha só o que esse idiota está falando. Nossa diferença de idade é bastante notável, mas ele não é meu pai, e nunca será.
— Se não o que? Eu não sou nenhuma criança, e você pode parar de agir como se fosse meu pai.
Ele estreita os olhos, me encarando por alguns segundos antes de virar as costas e sair do quarto, trancando a porta atrás de si. Não reconheço mais o Dario que conhecia, o amigo doce e amigável. Desde o acidente, ele assumiu a responsabilidade de me criar, tornando-se um homem mais sério e autoritário. Ele não é mais meu amigo de infância, mas sim um guardião determinado a assumir o papel de pai para uma garota cinco anos mais nova.
— Tá tudo bem, amiga? — Suni aparece na porta do banheiro, preocupada. — Você está chorando?
— Eu o odeio, odeio a pessoa que ele se tornou — digo com raiva.
— Então não vai mais ter festa? Suni vai ter que ficar aqui trancada com você? Poxa, estamos tão gatas!
A tentativa de Suni de amenizar a situação com seu humor peculiar não consegue me acalmar.
— Está brincando?! Agora que nós vamos mesmo! — digo, limpando um pouco o lápis de olho que ficou borrado graças a uma lágrima que escorreu.
— Okay, senhora rebeldia, mas como vamos? — Suni pergunta, desafiando-me com um sorriso travesso nos lábios.
Olho para ela com um sorriso no rosto, já tramando nossa fuga. Esquematizo um plano em minha cabeça que, na teoria, parece ser infalível, e logo o colocamos em prática. Minutos depois, apagamos as luzes e ficamos o mais quietas possível, andando silenciosamente em direção à janela do quarto. Destravo a janela com cuidado para não fazer barulho, coloco vagarosamente a cabeça para fora para avaliar a altura até o chão. "Ufa!" agradeço mentalmente por não morar em uma casa de dois andares. Posiciono minhas pernas para fora e dou um leve impulso para cair sobre a grama. Enquanto ainda estou me levantando para limpar os joelhos, sinto um impacto vindo de cima. Suni.
— Ai! Você tá doida? — reclamo, passando a mão na parte afetada da cabeça.
— Desculpa, Ka do meu coração. — Ela se desculpa, ajudando-me a levantar. — Eu sinto muito mesmo, mas você estava...
Seu olhar para em um ponto fixo logo à frente.
— A-aquele homem é q-quem eu estou pensando q-que é? — Seu dedo treme ao apontar uma figura na varanda escura da casa.
Sigo o olhar para a mesma direção e me assusto ao ver uma sombra na porta da frente. Puxo minha amiga rapidamente para um canto escuro, afim de nos esconder, e já estou arrependida de ter me entregado à ideia de fuga. Se for realmente Dario, estou mais do que morta; estou é sem celular por um mês. Ele é determinado quando o assunto sou eu.
Não consegui identificar o homem parado na frente da minha casa, mas também não quis ficar muito tempo tentando decifra-lo e acabar sendo pega. Não que Dario fosse me bater, ele nunca tocou em mim. Mas isso geraria mais um conflito entre nós. E quando você só tem um membro na sua família, é melhor evitar odiar essa pessoa.
O jardim da casa se estendia em uma tapeçaria verde de sombras e luzes intermitentes, à medida que os raios da lua filtravam-se através das folhas das árvores. Cada arbusto parecia esconder segredos na escuridão, e eu e Suni nos movíamos entre eles como duas fugitivas da policia, nossos corações batendo em uníssono com a ansiedade que nos consumia.
— Ele não parece estar por perto. Acho que podemos seguir em frente. — Sussurrei para Suni, tentando manter minha voz firme apesar da tensão que se acumulava em meu peito.
Nossos passos eram cuidadosos, cada movimento calculado para evitar fazer barulho. Cada sombra parecia esconder perigos iminentes, e cada folha pisada era um lembrete de que nosso plano poderia ir por agua abaixo a qualquer momento.
Finalmente, alcançamos a segurança relativa do portão dos fundos, e com um suspiro de alívio, empurramos com cuidado para abrir e escapar para fora. O ar noturno envolveu-nos com sua frescura revigorante, mas o alívio foi efêmero diante do perigo que me aguardava.
— Parece que conseguimos escapar! — Suni exclamou, seu rosto iluminado por um sorriso trêmulo.
— Sim, mas não podemos perder tempo. Não sabemos onde ele está. — respondi, sentindo a urgência se apoderar de mim.
O eco de nossos passos ressoava pelas ruas desertas, como um lembrete constante da solidão que nos cercava. À medida que nos aproximávamos da festa, as luzes vibrantes e o barulho pulsante da música eletrônica prometiam uma fuga temporária do peso dos meus problemas. Era como se cada batida do coração fosse uma tentativa desesperada de escapar da realidade sombria que agora me assombrava.
Assim que entramos no local, fomos envolvidas por uma mistura de cores vivas e sons, as pessoas pareciam dançar ao ritmo de sua própria melodia. A energia contagiante da multidão me sugou para seu turbilhão. De um lado casais se pegando sem qualquer pudor, do outro rolava um tipo de jogo que seu desafio é beber cerveja de cabeça para baixo. Festas de irmandades universitárias eram sempre assim? Bem, eu não sei, essa é a minha primeira.
Me joguei na pista de dança com Suni, me entregando aos poucos aquela energia eletrizante. Corpos suados roçavam em mim de vez em quando, era tudo muito novo, mas isso não é uma reclamação, eu estou gostando mesmo de experimentar novas experiencias. Me dou conta que um rapaz alto e forte está me encarando enquanto bebe sua cerveja, ele nem sequer disfarça seu olhar de predador!
Mas a felicidade efêmera que a festa proporcionava logo deu lugar à angústia quando percebi que Suni havia desaparecido. Logo quando eu iria perguntar se ela conhecia o tal rapaz. Não estávamos na festa nem à 30 minutos e minha amiga já tinha me dado um perdido.
O tumulto de rostos desconhecidos ao meu redor se transformou em uma parede impenetrável, e o medo começou a se infiltrar em cada fibra do meu ser.
Lembranças do acidente de carro, que tirou a vida do meu pai e deixou minha mãe desaparecida, ressurgiram dolorosamente em minha mente, como uma ferida que nunca cicatrizava completamente. A sensação de impotência que senti naquela noite assombrava-me como um espectro silencioso, lembrando da fragilidade da vida e da rapidez com que tudo poderia ser arrancado de nós.
Decidi começar minha busca por Suni no interior da casa, onde as pessoas se amontoavam em quartos escuros e corredores estreitos. Ao abrir a porta de um dos quartos, me deparo com uma cena digna de um filme adolescente: Suni e um rapaz se beijando freneticamente, tão envolvidos que mal percebem minha entrada.
Por um momento, considero interromper o momento romântico, mas decido que é melhor não atrapalhar. Com um sorriso travesso nos lábios, dou meia-volta lentamente, fazendo o mínimo de barulho possível para não chamar atenção. No entanto, meus esforços para sair discretamente são em vão quando esbarro em uma pilha de roupas no chão e caio de costas, derrubando uma luminária de mesa no processo.
O barulho ecoa pelo quarto, interrompendo o momento íntimo de Suni e seu acompanhante. Congelo no chão, envergonhada e sem graça, enquanto os dois se separam abruptamente, surpresos com a interrupção inesperada.
— Kaya? O que você está fazendo aqui? — Suni pergunta, sua voz misturando-se com a risada contida do rapaz ao seu lado.
— Ah, eu só estava procurando por você... — gaguejo, incapaz de encontrar uma desculpa convincente para minha presença inoportuna.
O rapaz se levanta, ainda rindo da situação constrangedora.
— Bom senhoritas, acho que vou deixar vocês resolverem isso. Boa sorte, Suni! — diz ele com um sorriso travesso pretendendo sair do quarto.
Percebo que o conheço de algum lugar. Então esse é o famoso Mike, claro, minha amiga estava de olho nele há tempos e eu não aguentava mais ela me enviando fotos dele sempre que ele decidia postar uma no Instagram. Suni me mataria se eu deixasse ele ir embora agora, não posso deixar isso acontecer, me apresso em repreendê-lo antes que ele possa dar mais algum passo.
— Espera aí, você não vai a lugar nenhum! — exclamo, tentando soar firme apesar da minha própria vergonha.
Ele se vira, um sorriso divertido brincando em seus lábios. Pela sua expressão, deve imaginar que vou sugerir algo entre nós três, eca.
— Oh, desculpe, eu só pensei que vocês precisavam de um momento a sós. — Mike levanta as mãos em posição de defesa.
Reviro os olhos, sentindo meu rosto arder de constrangimento.
— Não seja engraçadinho. Só... Fique, por favor. Eu entrei no quarto errado.
Encaro minha amiga, sem saber se devo rir ou pedir desculpas pelo flagra. No final, opto por uma saída rápida e discreta, desejando-lhe uma boa noite antes de sair do quarto e continuar minha busca por diversão na festa, esperando não encontrar mais surpresas embaraçosas pelo caminho.
Desço as escadas em direção à pista de dança, decidida a me perder na música e na multidão. Com um copo de bebida na mão, começo a me mover no ritmo da música, deixando-me levar pelo fluxo da batida. Entre um gole e outro, sinto-me envolvida pela energia pulsante da festa, e logo me vejo dançando sem me importar com mais nada ao meu redor.
À medida que a noite avança e mais álcool entra em meu sistema, minha coordenação começa a falhar. Em um momento de descuido, acabo tropeçando nos meus próprios pés e caindo de cara no chão, para grande diversão dos presentes. A vergonha toma conta de mim, mas o riso que ecoa ao meu redor me impede de levantar com qualquer orgulho.
Envergonhada, tento me levantar com dignidade, mas minhas pernas parecem ter vida própria, e acabo fazendo uma dança desajeitada que arranca risadas de algumas pseudo-piriguetes que estavam por perto.
— Olha só para ela, tão patética. Deve estar desesperada por atenção. — uma delas diz, seus olhos faiscando com malícia enquanto ela aponta na minha direção para suas amigas.
Percebendo que minha dignidade já havia sido lançada pela janela, decido dar o fora da festa. Olho para o relógio e vejo que são quatro da madrugada. Com um suspiro resignado, troco um último aceno com os poucos amigos que fiz naquela festa e ainda restavam de pé e me encaminho para a porta, pronta para encarar a escuridão da noite e toda a incerteza que o futuro me reserva. E, claro, Dario Darkwood.
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