...Autora Narrando...
Anica estava no pátio da escola quando ouviu a voz de um garoto a chamando. Ele parecia estar envergonhado, pois mal a encarava e sempre mantinha o olhar distante dela. Ela nunca o viu ali, e ele não parecia ser daquela escola, já que o mesmo vestia roupas muito bonitas e parecia ser de marca boa e cara. Além de ter uma aparência impecável, cabelo bem tratado e brilhante.
— Chamou-me?
Perguntou à garota de nove anos, enquanto colocava as suas mãozinhas morenas no bolso da sua calça jeans velha. O garoto concordou com a cabeça e com muita relutância, ele ofereceu um bombom para ela, que na mesma hora que viu o doce em suas mãos, alegrou-se e rapidamente foi em direção ao garoto que tremia igual vara-verde.
Anica encarou aquele menino branco, que parecia mais ser anêmico de tão branco que ele era. Ela pegou o doce da mão do garoto e agradeceu, antes de enfiar o doce com tudo na sua boca. Fazia tempo que ela não sabia como era o gosto de um bombom e aquele era um dos melhores bombons que ela já havia comido na vida.
— Vo-você...que...— O garoto balançou as pernas, enquanto tentava controlar o seu nervosismo — Você quer ser minha amiga?!
O menino basicamente gritou aquelas palavras para a garota, fazendo ela corar e rir do jeito meigo dele. Ela se aproximou do garoto, tocou no ombro dele e concordou com a cabeça e logo o puxou para um balanço que tinha no pátio da escola.
Ter um amigo sempre foi o sonho dessa jovem, ela era tão solitária no mundo, que tudo o que ela tinha para fazer era sonhar. Sonhar com um mundo diferente, onde tinha pessoas que a amavam e cuidavam dela. Anica sentou-se no balanço, ela começou a se balançar e o garoto fez o mesmo, ela então o encarou e perguntou curiosa.
— Me chamo Anica Kulcon, qual é o seu nome?
— Enzo...Enzo Vasconcelos. — Dita o jovem e logo tira os seus cabelos loiros quase brancos dos olhos.
— Você tem um cabelo muito bonito...você parece um boneco de tão fofo! — Diz ela, enquanto o encarava sem nenhuma vergonha.
— E...você mora a onde?
Enzo estava incomodado, ele não sabia como reagir ao elogio dela. Anica prendeu o seu cabelo, tal que estava caido por seu rosto. Ela podia notar que ele não conseguia encarar ela e a face dele estava muito vermelha. Ela deu um breve sorriso e respondeu a pergunta dele:
— A alguns quarteirões daqui numa rua pacata, e você?
— Moro na esquina mais próxima daqui...A rua das flores, conhece? — Perguntou ele, todo tímido.
A jovem ficou pensativa, ela já tinha ouvido falar da rua das flores, mas nunca tinha ido naquela rua.
— Já ouvi falar, mas nunca fui lá. Como é morar numa rua de ricos?
Perguntou ela, toda animada, pois essa rua também era conhecida como: " A rua dos brancos".
Enzo podia ser jovem, mais ele tinha um pouco de conhecimento sobre o racismo e discriminação e na sua rua, falar sobre racismo era normal, pois a maioria das pessoas que moram ali era racista e se achavam superiores a tudo e todos.
— Não é legal...as pessoas são maldosas e traiçoeiras — Enzo encara a garota, que agora o encarava confusa — Anica, quando você crescer, me promete que não será igual aquelas pessoas maldosas da rua das flores!
Anica sorriu, ela podia entender agora o motivo dele estar tão chateado. Anica é negra, ela sabe que as pessoas costumam ser preconceituosas com pessoas como ela, pessoas pretas.
— Eu não serei igual a elas Enzo, não se preocupe...
E foi aí que nasceu uma grande amizade e uma linda história de amor...Enzo e Anica não sabiam o que o futuro reservava para eles. Mas adianto-lhes, que esse casal viverá lindos momentos juntos...
...Autora Narrando...
Foi em vinte e cinco de agosto em um domingo, que tudo aconteceu. Anica estava completando 13 anos de idade e tinha planos para comemorar o seu aniversário com o seu melhor amigo Enzo, pois ambos haviam passado meses planejando esse dia. O dia que deveria ser perfeito para ela, mas que não foi...
Anica estava no seu quarto arrumando o seu cabelo. Ela estava animada, pois a oito dias atrás ela havia virado mocinha e estava louca para falar com o seu amigo, já que ambos não escondiam nada um do outro e claro, ela queria dizer à ele que ela já era uma adolescente e que ele poderia parar de se preocupar tanto com ela. Como Edgar, o seu primo, a deixou presa dentro de casa sem deixar ela se encontrar com o Enzo, ela não pôde contar a grande novidade para o seu amigo.
Ela olhava-se no espelho com entusiasmo, pois faltava poucos minutos para o Enzo chegar para buscá-la. Assim que ela passou mais um pouco de batom nos seus lábios, a porta foi aberta, revelando o seu primo com um semblante nada alegre.
Anica gelou e rapidamente parou de passar o batom, abaixou a cabeça e tentou não demonstrar o seu medo por ele. Edgar estava com raiva e ciúmes, ele sempre odiou a amizade da Anica com o Enzo e o mesmo sempre dizia que não existe amizade entre homem e mulher.
Edgar fechou a porta do quarto, aproximou-se da garota e a analisou dos pés à cabeça. Saber que ela estava arrumada para aquele garoto o enoja, o deixa enraivecido! Anica usava o vestido novo que a mãe do Enzo comprou para ela, e a mesma sabia que o seu primo não gostava quando ela usava vestidos para sair de casa.
— A onde pensa que vai vestida assim? E que maquiagem é essa?!
Muito trémula, a jovem garota encarou o seu primo e disse num tom quase inaudível:
— Estou indo....para a casa...do Enzo...hoje é o meu...
— VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM! — Gritou ele, fazendo ela se encolher no canto.
— Por favor primo...hoje...hoje é um dia especial para mim! — Balbuciou ela quase chorando.
Edgar riu perante a suplica da garota, que agora estava aos prantos, enquanto repetia diversas vezes aquelas mesmas palavras. Irritado, Edgar estapeou a face da Anica, fazendo ela gritar e rapidamente colocar a mão na sua face.
— Você não vai a lugar nenhum, entendeu?!
Edgar a puxou pelos cabelos. Saber que ela estava louca para ver aquele mauricinho o deixou fora de si. Ele a guiou para fora do quarto, a levou para um quarto fechado e a jogou lá dentro, entrou e fechou a porta.
Anica encarou aquele quarto estranho e com muito medo olhou para o seu primo, que agora estava tirando as suas vestes com rapidez e a encarando com um olhar de luxúria.
— Primo...o que...o que você irá fazer?
A voz dela saiu arrastada e logo outro grito saiu dos lábios dela. Edgar a jogou com tudo na cama, rasgou a parte de baixo da roupa dela e a mesma só fazia chorar, enquanto fechava os seus olhos para não olhar o corpo desnudo do seu primo.
Ela não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo, era um tormento para ela. Anica chorou do começo ao fim e mal conseguia respirar, pois o seu estômago doía muito. As suas pernas estavam fracas igual ao seu corpo. O Edgar havia feito um estrago na vida dela e ela sabia que dali em diante, o seu tormento só iria aumentar...
Edgar, após esta vestido, encarou a Anica e disse, enquanto se aproximava dela novamente. Anica já estava de pé, ela mal conseguia andar, mas ainda conseguia se manter de pé.
— Vá para o seu quarto e não saia de lá — Edgar passou a mão na bochecha ainda vermelha da Anica, fazendo ela fechar os olhos enquanto tremia de medo — se eu souber que alguém soube o que fizemos hoje, eu mato aquele mauricinho, entendeu?
Anica apenas concordou com a cabeça enquanto engolia o seu choro. Edgar saiu do quarto e com muito esforço a Anica saiu também. Ela seguiu para o seu quarto, entrou nele e logo em seguida fechou a porta.
Ela começou a chorar e foi para o banheiro, tirou as suas vestes e tomou um banho quente demorado para poder tentar tirar o cheiro nojento do seu primo que está inpreguinado no seu corpo. Após longos minutos, ela pôde ouvir a campainha tocando, rapidamente ela se vestiu e tentou chegar o mais rápido possível na sala, mas quando chegou lá, encontrou o Edgar conversando com o Enzo.
Enzo estava belíssimo e elegante. Ele usava uma roupa formal que o deixava mais belo que o normal. O seu cabelo loiro estava penteado com gel e um cheiro delicioso emanava dele. Assim que Enzo a viu, o mesmo notou que algo não estava certo, pois a mesma estava muito abatida.
— Minha linda, vim te buscar! — Diz ele a sorri.
— Enzo...eu já estou pronta...
— Você não irá Anica, você está muito abatida ainda! — Diz Edgar, fazendo o Enzo encarar ele.
— Como assim? Anica, você está doente? — Perguntou o garoto assustado.
— Eu estou bem...pr-primo...por favor...
Anica não conseguia encarar o seu primo e o Enzo conseguia sentir uma energia pesada vindo dele. Edgar xingou baixo, levantou-se e simplesmente subiu as escadas sem dizer nada. Enzo aproximou-se da garota que encontrava-se trémula e muito abatida. Ele tocou no braço dela e a mesma afastou-se assustada, o seu olhar era de puro medo...
— Ani...Ani, o que aconteceu? Você não está bem...o clima entre vocês dois...
Anica sacudiu a cabeça em negação, pegou no braço do Enzo e saiu da casa com passos rápidos. Ela sabia que não podia demonstrar a sua tristeza e muito menos deixar ela transparecer na frente do seu melhor amigo, pois o mesmo a conhece muito bem e não seria difícil para ele descobrir que ela não está nada bem hoje.
Andando pelas ruas, Anica encarava o chão enquanto tentava manter os seus pensamentos longe, longe daquele momento horrível que ela foi obrigada a passar. Enzo, percebendo o mal jeito que a sua amiga andava, ele parou de andar, colocou as suas mãos no bolso da calça e analisou ela dos pés a cabeça, fazendo a mesma cruzar as pernas e passar os seus braços ao redor do seu corpo, numa maneira de esconder as marcas deixada por seu primo.
Era impossível não notar que algo estava errado, o jeito que ela estava agindo era muito estranho, ela nunca ficou tão calada como está agora. Hoje é o dia do seu aniversário, o dia que ela deveria comemorar com alegria e não tristeza.
— Ani, o que houve? Você está me escondendo alguma coisa...— Suspira pesadamente, enquanto observa atentamente as ações da sua amiga — Você não irá me contar, né mesmo?
Anica colocou um sorriso nada agradável no rosto, ela estava forçando um sorriso e aquilo só aumentava ainda mais as desconfianças do Enzo. Enzo sempre notou os olhares estranhos que o Edgar lançava para ela. Eram olhares de luxúria, desejo e algo a mais, só que este outro modo que ele a olhava era difícil de ser decifrado.
— Enzo, não pense besteiras! Eu estou apenas chateada...mas, já já isso passa! — Rir amargamente.
— Não vou insistir, quando for a hora certa, você me contará.
Ele sempre foi assim, nunca insistia para as pessoas lhe contarem o que estava acontecendo com elas, ele as deixava livre para pensar, para organizar os seus problemas. Enzo abraçou a Anica, fazendo ela ficar emocionada e sem delongas, ela se desmanchou em lágrimas ali nos seus braços, dando a entender que algo muito ruim havia acontecido com ela.
Enzo beijou a cabeça dela e apertou o seu abraço. Ele queria ser útil na vida da Anica e saber que algo ruim lhe aconteceu o mágoa. Ele odeia vê-la chorando. Uma pessoa tão boa e delicada como ela, não deveria chorar e muito menos se machucar.
— Vai ficar tudo bem amor, eu estou com você, lembra? Eu prometi que nunca te deixaria, que seria a sua âncora e que estaria com você nos bons e maus momentos. — Enzo falou com uma voz suave, tão suave que aqueceu o coração partido da garota de treze anos.
— Obrigada...obrigada por tudo Enzo! — Anica disse entre lágrimas, nos braços dele ela sentia proteção e não tinha medo do mundo ao seu redor.
Enquanto eles conversavam ainda abraçados, Edgar observava aquela cena linda com ódio no olhar. Ele odiava ver a Anica com o Enzo, e o mesmo é capaz de tudo para vê-lo longe dela...
...Autora Narrando...
Após um dia cheio e muito divertido, Anica estava de volta em casa. Ela não queria entrar e quase chorou quando viu o Enzo indo embora. Tudo o que ela queria era gritar e pedir para ele a levar para bem longe dali, mas o que ele poderia fazer? Ele era só um adolescente de 16 anos e não podia fazer nada sem o consentimento da sua mãe.
Entre longos suspiros, ela abriu o portão da casa. Estava tudo escuro e muito silencioso, e aquele silêncio a tranquiliza, pois se está tudo apagado e silencioso, significa que o seu primo não está acordado ou pelo menos...foi isso que ela imaginou.
Ao pisar o pé dentro de casa, ela assustou-se quando a luz da sala se acendeu, revelando o seu primo sentado no sofá a esperando e o mesmo não estava nada contente com o horário que ela havia retornado para casa.
— Isso lá são horas para você chegar, Anica? — Perguntou ele, enquanto a encarava dos pés a cabeça, procurando algo de diferente nela, mas nada parecia fora do normal.
— Desculpe...eu...eu...— Nada além de "eu" saia dos lábios dela, a mesma estava muito tensa, pois a sua mente só conseguia pensar na tortura que ela passou mais cedo.
Edgar sorriu, ele levantou-se com lentidão e aproximou-se de onde ela estava. Anica afastou-se da porta e tentou correr, mas o Edgar a puxou pelo braço e desferiu vários tapas na face dela a deixando tonta. Ele puxou o cabelo da Anica, fazendo ela gritar e chorar de dor.
— Eu não quero você com ele, vê-los tão íntimos é horrível! — Diz enciumado — Você é só minha Anica, somente eu posso te tocar, te beijar e possuir o seu corpo...
— N-não...aquilo de novo não...— Anica estava desesperada, ela sabia que passaria por aquele momento horrível novamente.
Edgar levou a Anica pelos cabelos até o quarto dele, ele fechou a porta e enquanto ele se despia, Anica preparava a sua mente para mais uma sessão de tortura...
Nos dias seguintes, a vida da Anica só piorou e a cada dia que passava, ele ficava mais agressivo e a assediava diariamente.
Hoje era sexta e o Enzo marcou de encontrar a Anica na praça principal, o mesmo dizia ter algo muito importante para falar com ela.
Anica comprou um sorvete de casquinha, sentou-se no banco e logo avistou o seu amigo vindo todo sorridente ao seu encontro. Enzo sentou-se ao lado dela, depositou um beijo na sua face e logo tratou de roubar um pouco do seu sorvete, fazendo ela brigar com ele.
— O que você tinha de tão importante para me falar em? — Perguntou ela, enquanto saboreava o seu sorvete de maçã verde.
Enzo estava corado, ele mal conseguia conter a sua felicidade. Ele olhou para os lados, como se tivesse se certificando que não havia ninguém ali por perto para ouvir o que ele tinha para falar pra ela.
— Ani, eu finalmente dei aquele enorme passo! — Diz a sorri.
— Enorme...passo? Não entendi Enzo! — Respondeu ela, confusa.
Anica era muito lerda para entender algumas coisas e o seu amigo, sabia que ela era lerda o suficiente para demorar a entender tudo que ele tinha em mente para lhe dizer, por isso optou por ser específico na sua reposta.
— Ani, eu perdi a minha virgindade. — Solta por fim, fazendo ela o encarar pasma.
— Se-sério?! Com quem?
Anica estava muito curiosa, ela adorava quando o Enzo contava as suas experiências e não dava importância para qual fosse a experiência nova que ele fizesse.
— Lembra daquela ruiva que me deu o contato dela quando estávamos na praia?
— Sim.
— Foi com ela. Ontem, ela mandou-me uma mensagem, dizendo que estava sozinha em casa, então eu me arrumei e fui pra lá.
— Você é louco? Tem nem quinze dias que vocês se conheceram e já foram fazer isso? E se ela fosse alguma maluca?! — Diz brava.
Enzo riu, ele deu um tapa fraco na perna dela e a mesma gemeu de dor, assim que ele olhou para a perna dela, ele notou algumas manchas roxas. Quando Anica notou que a mancha que tinha na sua perna estava a mostra, ela rapidamente colocou a mão em cima e disse muito nervosa.
— Eu cair ontem, por isso a marca roxa...
— Você vive caindo ultimamente, já estou achando isso estranho! — Diz desconfiado.
— Não mude de assunto, continue com a sua história!
— Você que está mudando de assunto Anica — Suspira — mais o que você que ouvir? Eu já falei com quem eu dormir ontem.
— Quem tomou a iniciativa? Foi bom?
— Foi maravilhoso...— Enzo fechou os olhos, ele parecia está tendo lembranças da sua noite quente com a ruiva.
Anica sentia inveja do Enzo, ele teve a sua primeira vez com uma mulher bonita e não foi forçado a nada. Já ela, bom, ela foi obrigada a dar a sua virgindade de mão beijada para o seu primo. Ela nunca foi amada e muito menos sentiu prazer...ela só sentiu dor, dor e mais dor...
— Ani, acorda!
Gritou Enzo, fazendo ela se assustar e o encarar assustada. Ela deu um sorriso sem graça e encarou o chão. Enzo novamente sentiu o clima fica estranho, ele encarou ela e a mesma continuava a encarar o chão. Ela mal batia os olhos e parecia estar perdida em pensamentos novamente.
— " O que tanto te atormenta, Anica? "
Perguntou-se, e logo voltou o seu olhar para o céu azul. Ao seu redor só era felicidade e luz, mas quando ele olhava para a Anica, podia perceber que ela não estava tendo dias de paz e felicidade.
— Eu desejo, um dia ser feliz...ser livre. — Anica quebrou o silêncio, trazendo a atenção dele para ela novamente.
— Você não vai me contar o que está atormentando os seus dias? Vai guardar isso até quando? — Indagou olhando bem nos fundos dos olhos sem brilho da Anica.
— Se eu contar, você terá pena de mim e eu não quero que você sinta pena.
— Certo...só não esquece, que eu estarei sempre aqui...
— Não esquecerei.
<_ Dois anos depois _>
Esses últimos dois anos foram os piores da vida da Anica, ela não teve um dia e muito menos um minuto de paz em casa. Edgar fazia questão de buscar ela na escola. Ele a proibia de sair de casa, não deixava ela sozinha por muito tempo com o Enzo, para ser sincera, eles se falavam mais por telefone.
Enzo chegou até a brigar uma vez com o Edgar, e por esta briga, ele passou um tempo sem poder ir ver a Anica e ela, foi torturada todas as noites por seu primo.
Novamente chegou o dia do aniversário da Anica. Ela não queria comemorar aquela data, pois aquela data a marcou de um jeito nada agradável. Só que o Enzo havia feito questão de fazer a festa de quinze anos dela, ele até fez ela aprender a dançar valsa.
— Querida?
Uma voz suave e muito gostosa de ouvir soou pela casa, fazendo a Anica se levantar e dar um sorriso para a Ester, mãe do Enzo.
— Oi tia, já está na hora? — Perguntou ela, com a voz baixa.
Anica estava com a garganta inflamada, pois infelizmente na noite anterior, ela foi obrigada a pagar um b0quete para o seu primo e isso resultou na inflamação da sua garganta.
— A maquiagem está do seu agrado? Você realmente gostou do vestido meu bem?
— Sim, a maquiagem serviu para cobrir o meu hematoma...e o vestido é belíssimo! Eu sou muito grata por tê-los ao meu lado.
— Você tem certeza que esse hematoma foi causado por um acidente doméstico? Meu bem, o Enzo ainda insiste em dizer que o seu primo lhe agride, pois o comportamento dele com você é tóxico!
Anica nega com rapidez, ela sabe o que lhe acontecerá se descobrirem o que realmente acontece com ela. Edgar é um monstro, um homem sem coração que seria capaz de fazer qualquer coisa apenas para machucar ela.
— O Enzo está viajando demais tia! O Edgar me trata...ele me trata super bem! — Força um sorriso — Está na hora ou não?
— S-sim...— Ester passou a mão no rosto, ela sorriu e se aproximou da Anica, tocou na face dela e logo depois a puxou para fora daquele quarto — não convidamos muitas pessoas, apenas convidamos alguns conhecidos do Enzo que é da mesma escola que a sua.
— Eu não conheço ninguém...por mim, nem comemoraria, pois eu só tenho o Enzo de amigo.
— Você precisa fazer novos amigos...
— Já tentei, mas não sou igual ao Enzo, não consigo ser social...
— Entendo, eu já fui como você. Gosto de saber que o meu filho não saiu igual a mim, eu era muito estranha quando era jovem — Rir — espero que a sua noite seja maravilhosa e só desejo felicidades para você meu bem, só felicidades!
Anica deitou a cabeça no ombro da Ester. Ela sentia o seu coração se aquecendo aos poucos. A jovem não aproveitou muito o amor da sua mãe, já que ela morreu quando a mesma tinha apenas 10 anos. As poucas lembranças que ela tem da sua amada mãe, são muito valiosas para ela e são essas lembranças que faz ela acordar todos os dias, que faz ela não desistir da sua vida.
Ao chegar no salão de festa, Anica ficou admirada com a decoração do local. Havia mesas em um lado com algumas pessoas conversando e bebendo. Do outro lado tinha um buffet magnífico. Na frente havia uma banda tocando algumas músicas clássicas e no meio do salão tinha mais pessoas dançando.
Ela estava sentindo-se deslocada naquele local, ela realmente estava nervosa, muito nervosa. Todos os olhares estavam nelas, Ester estava anunciando a chegada da aniversariante. Anica estava procurando o Enzo na multidão, pois ela só conseguiria ficar mais a vontade ao seu lado.
Perto do buffet, ela encontrou ele conversando e rindo com a sua ficante e logo voltou a sua atenção para a multidão à sua frente. Como ela iria cumprimentar aquelas pessoas estranhas? Ela mal sabe o nome deles, não conversa com nenhum...
— Querida, vamos lá? — Incentivou Ester e logo a mesma suspirou e deu um sorriso de canto.
— Agradeço...agradeço a todos por sua...por sua presença...
Todos bateram palmas e logo saíram dali, deixando ela sozinha. Ninguém teve coragem de ir parabenizá-la, de falar: " Nossa, como você está bela Anica!" " Meus parabéns, lhe desejo felicidades!" Ninguém disse isso, nenhum deles eram seus amigos, eles eram amigos do Enzo e não dela!
Chateada, ela simplesmente saiu dali, deixando a Ester pasma. Anica não estava a vontade, ela nunca quis uma festa, apenas um bolo era o suficiente!
— Anica!
Era o Enzo a chamando, mas ela não parou, ela só aumentou os seus passos, queria está o mais longe possível daquele lugar! Enzo passou a mão na cabeça e correu atrás dela, ele sabia que havia errado, mas não imaginava que ela fugiria da sua festa de aniversário.
Enzo puxou Anica pelo braço, a impedido de continuar andando. Frustrada, ela virou-se, encarou o Enzo e logo depois a mão dele que estava no seu braço.
— Me solta Enzo! — Pede ela brava.
— A onde vai? É a sua festa Ani!
— Minha? ESSA É A SUA FESTA E NÃO A MINHA! Porra...eu não conheço ninguém, não tenho amigos Enzo...o que você estava pensado quando convidou essas pessoas? Eu disse que não queria festa...eu não gosto de festa...
— Desculpe...eu...eu achei que seria uma boa ideia, queria te apresentar novas pessoas...
— Eu não quero conhecer novas pessoas, você é o meu amigo e deveria saber disso!
Anica puxou o seu braço, ela encarou os seus pés e percebeu o qual miserável ela estava sendo. Ele gastou uma grande fortuna só para dar uma festa de aniversário digna à ela e é assim que ela age?
— Desculpa...você teve tanto trabalho para organizar isso tudo e eu...estraguei tudo! — Diz entre lágrimas.
— Não, você não estragou...na verdade, fui eu que estraguei — Se aproxima dela — se você preferir, podemos sair e curtir apenas nós dois.
— Você não precisa fazer isso, eu só necessito de um tempo para me acalmar...já volto para lá.
— Certo, mas se mudar de ideia, me avise!
Ela sorriu tristonha, ele depositou um beijo na testa dela e sustentou o seu olhar, logo uma voz melosa o chamou. Ele suspirou e retornou para o salão, indo de encontro com uma linda morena de olhos verdes.
Lá no fundo, bem no fundo, ela sentia ciúmes...
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