Nota da autora
O título do texto é bem claro,idas e vindas ,se você é do tipo de pessoa que não tem paciência de esperar ler tudo dando errado para depois dar tudo certo,nem começa a ler. Mas...se é um tipo e pessoa que sabe ler e que não espera que seja aquele copia e cola, da felicidade eterna na história toda(clichê e sem graça) ,seja bem vindo e aproveite a leitura!
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—Próximo por favor!
—Boa noite Alexia! Carinha de cansada...
—Boa noite dona Maria! Pois é,ser caixa de supermercado cansa viu? Ainda mais com as festas de final de ano se aproximando. E olha que estou em busca de mais um emprego!
—Que isso minha filha! Você não vai dar conta!
—Tenho que dar! Somos só minha mãe e eu, ela não pode trabalhar fora, ganha só um salário mínimo...temos contas pra pagar e eu sonhos para realizar!
—Você é uma menina de ouro! Sua mãe tem uma filha maravilhosa e bendito do rapaz que se casar com você! - lhe dou um sorriso tímido- Quanto deu?
—Cento e treze reais. Dinheiro ou cartão?
—Cartão. Não comprei nada e olha quanto deu!
Fecho o meu caixa, entrego tudo na arrecadação e vou-me embora, já são mais meia noite. Ainda bem que o ônibus para em frente a minha rua e o local onde moro é movimentado. Chego em casa, minha mãe ainda me espera, como sempre, não dorme antes de eu chegar.
—Graças a Deus você chegou bem filha! Deixei o seu prato arrumado na geladeira é só esquentar no micro-ondas, agora posso dormir sossegada. Boa noite meu amor!
—Obrigada mãe! Boa noite!
Enquanto tomo banho e esquento o meu jantar penso em nossas vidas de lutas constantes.
Eu tenho 27 anos, me formei em direito na Universidade Federal Fluminense, a duras penas com muito suor e dedicação. Estudei minha vida toda em escola pública e só Deus sabe como foi conseguir passar em um dos vestibulares mais difíceis do país concorrendo com gente que teve as melhores formações.
Logo após eu me formar,o meu pai faleceu devido a um infarto,ele trabalhava como taxista aqui mesmo na cidade de Niterói onde moro. Minha mãe e eu ficamos desnorteadas,eu não trabalhava porque meu pai fazia questão que me dedicasse integralmente aos estudos e minha mãe nunca trabalhou na vida além de possuir problemas de saúde que a impedem as vezes até de fazer serviços domésticos básicos.
O único bem deixado por ele foi a nossa casa, com a ajuda de vizinhos e amigos conseguimos nos estabilizar até minha mãe começar a receber sua pensão por morte e eu arrumar o emprego que tenho hoje,em uma das centenas de lojas espalhadas pela região Sudeste ,da rede de hipermercados Sol e Mar .
A escala e o horário permitem que me dedique a estudar para a prova de OAB, como não disponho mais de tempo integral como antes, sinto a necessidade de fazer um curso preparatório. Para isso, preciso de dinheiro, e não dá para tirar nada do meu salário,pois tudo é destinado às contas da casa.
"Preciso arrumar outro emprego que pague melhor ou que possa complementar a renda" pensa
Depois do jantar, me deito e vou dormir exausta.
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Acordo cedo no dia seguinte para ajudar minha mãe nas tarefas domésticas.
—Esse telhado não vai aguentar a próxima tempestade Alexia! Agora que está se aproximando o verão, serão uma atrás da outra. Estou pensando em fazer um empréstimo para pensionista, assim conseguimos fazer os reparos na casa.
—Não sei mãe...tem tantas coisas aqui para se fazer! Vai sair muito caro ,melhor listarmos o que é mais urgente,como o telhado, e depois fazemos as outras coisas.
No início da tarde,sigo para o meu emprego no supermercado. Encontro minha amiga Priscila e falamos sobre a vida e nossos planos.
—O negocio é fazer concurso público, Alexia! Garantir estabilidade financeira!
—Eu sei, mas não tenho tempo nem de me dedicar a prova da OAB...estou tão cansada Pri! Desanimada com a vida!
—Que isso! Nunca a vi assim, sem esperanças.
—As coisas estão muito difíceis lá em casa. Todo dinheiro que entra é para pagar as contas e comprar comida,não sobra para lazer e nem para fazer os pequenos reparos que precisamos fazer na casa. - eu abaixo a cabeça e deixo uma lágrima correr.
—Não fica assim amiga! Uma hora as coisas irão melhorar!
O supervisor entra e nos chama para assumir nosso turno, começo o meu trabalho no automático, parece que só o meu corpo está ali,a cabeça está longe...
Sempre ouvi que tinha um grande futuro pela frente,por sempre ter sido uma boa filha, uma moça inteligente e bonita como meus cabelos ondulados castanhos,olhos da mesma cor e meus 1,65 de altura. Me acho normal,nada de especial, muitos rapazes quiseram me namorar, mas o meu foco era o estudo,nunca tive tempo para olhar para mim de maneira diferente. A minha maneira de ser, introspectiva, sempre repelindo os rapazes, me fez ser virgem até hoje ,com vinte e sete anos. Os namoradinhos que tive nunca passaram do portão da escola.
—Oi Alexia? Ouviu o que eu disse?
—Oi dona Maria! Mil desculpas, eu estava viajando nos meus problemas...
—Talvez eu tenha a solução para eles!
—Vai partilhar comigo o seu prêmio na mega da virada se a senhora ganhar? - eu rio
—Quem sabe? - ela me devolve o riso - Encontrei um oportunidade de emprego pra você. Na mansão da família Duarte, os donos dessa rede de hipermercados.
—Sério? Mas onde é? Para fazer o quê?
—A mansão fica no bairro do Joá,lugar exclusivo da cidade do Rio. Mas você irá receber todos os benefícios,como transporte e alimentação, é para fazer serviços de lavadeira. Eles irão pagar muito bem, ai você pode sair do mercado porque só o salário de ela irá dobrar ! Além é claro do horário, você irá pegar pela manhã e sair no meio da tarde, dá tempo de fazer seus cursinhos lá pelo Rio mesmo para não perder tempo.
—Vai ser perfeito pra mim! Por quem eu procuro?
—Toma ! - ela me entrega um papel - Entra em contato com ela ,Inês, governanta da família Duarte,é minha amiga. Eu trabalho na mansão vizinha a deles.
—Dona Maria! Nem sei como lhe agradecer! - saio do caixa para dar um abraço e um beijo naquela senhora linda e fofa!
Após o expediente, volto para casa cheia de esperanças durmo mais contente,peço para chegar um pouco mais tarde no dia seguinte ao supermercado para dar tempo de ir à entrevista na casa da família Duarte na manhã seguinte. Me arrumo e vou esperançosa até lá, pego duas conduções e chego no local muito bonito exclusivo onde há várias mansões de artistas e milionários brasileiros. A governanta me atende e eu entrego a referência dada por Dona Maria.
—Sabe passar e lavar? - pergunta Inês
—Sei sim senhora! Quer me testar? Eu sempre fiz de tudo em casa , a minha mãe lavava e passava para fora durante um tempo mas parou por causa da saúde.
— Maria deu ótimas referências sobre você, parece ser de confiança. Me intrigado ser tão jovem,formada uma boa universidade e está aqui pedindo emprego doméstico. Bom,você começa na segunda-feira, mas olha não se atrase! Aqui se entra e sai entra na hora certa, tudo bem? Envie os seus documentos para o e-mail que eu irei mandar, é do Grupo Duarte, lá eles irão analisar toda a sua documentação e fazer a efetivação. Mas lembre-se, segunda-feira eu quero você aqui às 8 horas da manhã!
Saio de lá com as esperanças renovadas, eu vou ganhar pouco mais do que o dobro do que ganhava no mercado e ainda terei tempo de estudar e passar para minha prova da OAB, quem sabe conseguiu um estágio e me efetivar ! As esperanças dentro de mim se renovaram!
— Mãe, boas notícias! Eu consegui um emprego melhor !
Conto para ela, que fica feliz, mas ainda sim triste.
— Eu ainda quero ver você chegar aqui dizendo que encontrou um emprego em algum escritório de advocacia. Tenho fé que você vai conseguir Alexia! Você é muito capaz, essa é só sua primeira etapa das sua escalada até o sucesso!
No dia seguinte, peço demissão do mercado e me preparo para o novo trabalho, pego mais dicas de lavagem de roupas e como as emgomar com a minha mãe para não decepcionar no trabalho.
Não tenho vergonha de estar trabalhando em algo aquém do esperado para mim, eu tenho uma meta e é para ela que eu olho. Eu vou conseguir! Eu vou chegar até o topo, com muito suor e trabalho honesto!
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Meu nome é Caio Duarte ,herdeiro do grupo Duarte, aliás um dos herdeiros, pois tenho duas irmãs: Aurora, a mais velha e Helena a caçula.
Meu pai ,Sérgio Duarte, colocou em cima de mim toda a responsabilidade pelo nosso grupo que além de contar com uma rede de hipermercados presentes em todo o território brasileiro, tem também fabricação de produtos próprios, alguns exportados para a América do Sul.
Tenho 33 anos, 1,80 m de altura, moreno, cabelos lisos e castanhos. Gosto muito de praticar esportes,o que fazem o meu físico se tornar invejável. Prático tênis,polo e surf,esse último aliás, somente quando estou no Brasil, pois, atualmente moro em Londres na Inglaterra desde quando me divorciei da minha ex-esposa Amora Galvão.
Amora e eu namoramos desde a época do ensino médio, ela é filha de um grande amigo do meu pai dono de uma construtora civil que trabalha para o governo federal. Nos casamos quando eu tinha 28 anos, foi uma festa que parou o Rio de Janeiro e eu estava muito feliz em poder começar a minha vida ao lado da minha então mulher amada. Mas todo o meu mundo ruiu quando dois anos após o meu casamento, descobri a traição da Amora com o meu melhor amigo Jonas.
Enquanto eu viajava à negócios representando o grupo da minha família em Nova York, os dois estavam vivendo um caso debaixo do meu nariz. Retornei uma semana antes para fazer uma surpresa para a minha esposa,mas na verdade o surpreendido fui eu ao encontrá-los juntos na nossa cama. Eu não tive reação na hora, simplesmente fechei a porta e sumi pegando uma bolsa com roupas e viajei o Brasil todo de carro durante meses, dando sinal de vida apenas para a minha irmã Helena ,que é a minha melhor amiga, só ela sabia dos meus destinos e não contava para ninguém. Quando eu retornei, me divorciei e resolvi abafar o caso, não queria ser mais humilhado do qie já havia sido diante de toda a cidade. Mas eles não pensaram nem um pouco em mim,assumiram o relacionamento, casaram e hoje estão à espera do primeiro filho. Para tentar superar, pedi ao meu pai para ficar em Londres estudando, me aperfeiçoando e cuidando dos negócios da família virtualmente.
O amor foi traiçoeiro comigo, logo comigo! Eu que sempre me dediquei ao meu casamento, que sempre quis ter uma família! Não foi justo o que aconteceu e eu não sei quando poderei ou se conseguirei me abrir novamente a um novo relacionamento.
Estou voltando ao Brasil para passar as festas de final de ano com a minha família, fico até meados de Janeiro, aproveito o verão na cidade e pratico o meu esporte favorito, já que em Londres seria impossível surfar!
— Oi amor da irmã ,quando você chega? Estou com tanta saudade de você Caio!
— Eu também Helena ! Chego no Rio duas semanas antes do Natal.
— Semana que vem então! Já está próximo! Caio, por que você não vem morar de vez no Rio? Esse assunto do seu divórcio já passou, Amora e Jonas estão vivendo a vida deles.
—Não fala sobre esses dois canalhas! Isso ainda me dói muito!
—Desculpa! Mas eu não acho justo você ter fugido da cidade como se tivesse sido o errado !
— Eu fugi da vergonha ,da dor e do meu amor pela Amora.
—Você ainda a ama!?
— É uma mistura de amor e ódio. Mas vou superar.
— Você ainda irá encontrar um motivo pra ficar,um alguém!
— Se depender da Aurora, eu me casa com o Sabine - eu rio
— Deus me livre ! Aquela garota sebosa e mimada? Agora está sabendo que ela é influencer digital? Só fala besteiras ,rotina de academia e estética...fútil toda vida! Mas tem milhões de seguidores e está ganhando rios de dinheiro com publicidade.
— Não faz meu estilo de mulher, embora ela seja linda!
— A agência da Aurora está cuidando da carreira dela. Nossa irmã tem um faro para negócios...
— É de família! E você? Conclui a faculdade com louvor?
— Está falando com a mais nova bacharel em direito! Assim que passar no próximo exame da OAB, irei trabalhar na parte jurídica da empresa da nossa família.
— Que bom! Assim que chegarmos ao Rio, iremos comemorar em grande estilo! Beijos minha caçula!
—Beijos meu amor!
Desligo o telefone e vou me arrumar para encontrar meus amigos no PUB mais badalado de Londres,é inverno, e a cidade que já é cinzenta,fica com um ar mais triste ainda. Mal vejo a hora de olhar o céu azul e colorido da minha cidade natal!
— Caio! Estávamos te esperando!
Robert e David ,são meus melhores amigos,são britânicos e trabalham para a nossa empresa,junto comigo aqui de Londres.
— Desculpem,estava falando com a minha irmã e acabei me atrasando.
Enquanto bebemos,conversamos com algumas garotas. Não sou um cara de ter muitas mulheres, gosto de ter relacionamentos fixos,mas durante esse meu período de "luto" pelo fim do meu casamento e da minha amizade antiga com o Jonas, eu me permitir viver casos de uma noite. Como hoje, onde terminei na cama com uma das moças que conheci no PUB. Hoje, não acredito mais no amor,pelo menos acho que eu não fui feito para ele,então pretendo levar a minha vida de forma leve e descompromissada.
A data da minha viagem chega,embarco para o Brasil ansioso por rever minha família e temeroso por encontrar quem não desejo ver,mas cansei de ter que fugir do meu passado.
Chego no Rio recepcionado por minhas irmãs que vem correndo me abraçar, somos muito unidos, nos protegemos e cuidamos muito uns dos outros.
— Os irmãos Duarte novamente juntos! Que saudades Caio! - diz Aurora
— Saudades das minhas princesas também! - começo a tirar o meu casaco - me esqueci como essa cidade é quente! Dois anos sem pisar aqui! Parece tudo diferente!
—Que nada! Quase tudo na mesma! Vamos logo, porque a Inês mandou preparar um almoço daqueles para você !
Chego na mansão da minha família e sou recebido por minha mãe Ruth Duarte e nossa governanta Inês, que praticamente ajudou nossa mãe a nos criar.
—Aí está você meu amor! Esta pálido meu filho, tem comido direito? Olha isso Inês! Temos que fazer aquelas vitaminas par a esse menino, olha a palidez do Caio!
—Mamãe! Sabe como é Londres, quem pode manter uma cor saudável naquele lugar? - rio e a beijo logo em seguida me viro para Inês
—Mas que coroa bonitona! Cadê os pretendentes?
—Menino! Olha o abuso! Não quero saber dessas coisas,homem só dá dor de cabeça!
Eu a dou um grande beijo e subo para o meu quarto. Tudo está do jeitinho que deixei antes de me casar ,Inês tirou apenas as fotos e recordações do meu relacionamento com Amora.
Abro as cortinas e janelas, deixo a luz e a brisa do mar entrarem. Hoje eu descanso, mas amanhã cedo estarei surfando no Joatinga!
Tomo um banho e troco as roupas para almoçar com a minha família.
—Estou pronto! Cadê o papai?
—Almoço de negócios em Ipanema. Mas ele já combinou uma reuniãozinha essa noite com alguns amigos para recepcionar você !
—Ah não...ele vai querer falar de negócio , e hoje é domingo!
—Sabe como ele é meu filho...não para!
Enquanto almoço com as mulheres da minha vida, conto sobre minha estadia na Inglaterra e ouço as novidades que minhas irmãs tem para me contar sobre a vida delas. Após o almoço me retirei para descansar da viagem e sou acordado no início da noite por meu pai.
—Meu herdeiro! Meu sucessor! Que bom que está aqui! - ele me abraça forte- Como foi a viagem?
—Foi bem pai!
—Caio, quando você volta? Eu sinto sua falta na empresa comigo e aqui em casa também, sou o único homem com esse bando de mulheres.
—O senhor não está sozinho! Tem a Apolo! - Apolo é o buldogue francês da minha mãe
Ele ri de mim e me dá mais um abraço.
—Uma hora você tem que superar e seguir em frente, meu filho !
—Estou seguindo em frente! Só está difícil de superar.
—É por que você está fugindo Caio! Quando encarar de frente essa situação você vai superar!
Durante a noite, no pequeno coquetel de recepção organizado para mim, sou alvo de disputas entre as famílias que possuem filhas solteiras,reviro os olhos e saio de perto.
—O que foi Caio? A conversa o aborreceu?
Quem me pergunta é Sabine Malta ,amiga e agenciada da minha irmã Aurora. Ela é influencer digital, mas também pertence a uma abastada família dona de uma rede concessionárias de carros espalhadas pelas região Sudeste.
—Não é muito agradável ser tratado como um troféu a ser disputado. - respondo
—Entendo, bem eu não vou disputá-lo, mas se quiser ser meu por vontade própria...pelo menos podemos sair para beber alguma coisa, a galera sente a sua falta!
—Eu sei, também sinto falta. Estarei aqui ate meados de Janeiro, poderíamos marcar alguma coisa com o pessoal da época da escola.
—Combinado! Eu vou agitar todo mundo. É bom ter você de volta,mesmo que por pouco tempo. - ela me dá um demorado beijo no canto da boca e sai.
— O que foi isso? Você e a Sabine?Sabe que eu chipo vocês, não é? -fala Aurora
—Chipar? Tem quantos anos agora? Treze? - eu dou uma gargalhada
—Não seu bobinho! Tenho que estar ligada nessas gírias, faz parte do meu trabalho!
— Você fala de mim mas tem 35 anos e não sai da casa dos nossos pais! Quando é que você vai parar de enrolar o Fabiano?
—No próximo mês de agosto, já marcamos a data.
—Aleluia!
—E você será padrinho junto com a Sabine,já estou comunicando!
—Ah,estava demorando!
—Não vou poupar esforços para ver você feliz de novo!
Depois do coquetel, eu peço licença para me retirar e descansar, amanhã quero levantar junto com os primeiros raios de sol e cair no mar!
Na segunda-feira, acordo às 5 horas da manhã e vou para o ponto de ônibus, faço a minha baldeação até chegar no Joá. Assim que entro na casa, sou recebida pela Inês, que me explica todo o serviço me mostra todas as dependências e tudo que está disponível para o meu trabalho
Tem muito serviço para fazer, os lençóis e toalhas dos quartos são trocados a cada 2 dias, fora as roupas da família e das demais áreas da casa.
Durante todo o dia ,não vi ninguém da família, aliás acho que não verei,já que o meu serviço se restringe à lavanderia e levar as roupas limpas e passadas até os quartos.
Durante os quatro primeiros dias ,a rotina foi essa, entrar na casa pelos fundos e ir para a lavanderia.
—Ainda bem que estamos em recesso escolar, terei tempo de me adaptar a essa rotina antes se voltar aos meus estudos. Estou tão cansada Inês!
—O serviço parecia bobo,não é?Ainda mais para você quem vem de Niterói,mas você vai se adaptar.
Assim que ela sai , eu me encosto na pia, olhando a área de lazer da mansão, meus pensamentos voam e o cansaço bate,acabo cochilando em pé e esbarro na garrafa de alvejante que entorna toda no meu uniforme preto.
—Ai como sou desastrada! Vai manchar!Não posso entrar na casa com essa roupa assim, não é apresentável.
Tiro correndo as roupas e fico de lingerie, não entra ninguém ali a não ser Inês, e no meu desespero não poderia imaginar que alguém diferente chegaria bem nessa hora...
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Estou aproveitando minhas breves semanas de férias no Rio para reencontrar velhos amigos, curtir bares e casas noturnas e toda a vida boêmia que tanto sinto falta. Mas minha saudade maior chama-se surf! Todos os dias vou em busca da onda perfeita, depois corro no calçadão e termino minha manhã bebendo água de coco ou em alguma cafeteria da cidade após tomar uma ducha do chuveirão na areia.
—Inês! Você viu minha blusa com proteção térmica?
—Qual delas Caio? Você tem várias!
— A laranja com preto.
— Deve estar na lavanderia, pode estar úmida. Não serve outra?
—Aquela tem um fator de proteção alto, e hoje vai bater quarenta graus,preciso estar bem protegido!
Ela colocava a mesa de café enquanto me ouvia
—Eu vou lá buscar,meu filho!
—Não, você está ocupada! Eu mesmo pego.
Assim que chego na lavanderia,sou surpreendido pela cena de um moça, jovem e muito bonita, só de lingerie, agindo de forma preocupada. Quando ela me vê, dá um grito e se cobre com um dos lençóis pendurados.
—Me desculpa moça! - me viro de costas - Eu só vim pegar um blusa minha,espero você se vestir!
Depois de uns cinco minutos eu me dirijo a ela.
—Posso me virar?
—Pode - percebi que estava sem graça. Ela tinha um rosto gracioso, tão harmônico...além de uma candura no olhar.
—Eu vim procurar uma blusa de proteção térmica, laranja com preto.
Ela vai até a lava e seca, e a tira de dentro da máquina.
—Essa?
—Essa mesma! Obrigado! E mais uma vez,desculpe!
—Tudo bem, foi imprudência minha.
Saio e a deixo em seu serviço.
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Meu Deus! Como poderia imaginar que alguém entraria ali,aliás, como poderia imaginar que algum homem entraria ali! Não faço a mínima ideia de quem seja, mas provavelmente é um membro da família, um belo integrante, diga-se de passagem!
Após ele sair, continuo o meu serviço e levo as roupas para os quartos na esperança de ver aquele rapaz novamente.
—Só posso ser louca ! - penso alto
Encontro Inês no corredor e pergunto a ela de quem são as roupas masculinas que cuido. Sempre notei que eram de um homem mais jovem e de outro mais velho,mas nunca me interessei em saber de quem realmente eram.
— As do senhor Sérgio e as do Caio,filho dele. Ele não mora no Brasil, veio apenas para a festas de final de ano, em meados de Janeiro retorna para Londres.
—Ah...- dou quase um lamento de decepção.
Levo as roupas até a suíte do casal, no quarto das filhas e em seguida a do filho. Eu já havia entrado ali antes e nunca reparei nos detalhes,mas dessa vez ,não sei porquê, me senti curiosa e me vi atento a todos os detalhes. Realmente não tinham muitos pertences,indicando que a estadia era curta. Vi um vidro de perfume, muito diferente, com certeza era de nicho, abri e senti aquele aroma diferenciado, cheiro de homem viril, de macho alfa...o meu corpo se arrepiou.
—Melhor sair daqui logo! Estou começando a ter devaneios!
Quando me viro para a porta,ele entra, sem camisa ,usando apenas uma bermuda esportiva, pude reparar naquele físico. O abdômen trincado,os braços e pernas definidos e uma única tatuagem no braço direito.
—Olha só quem está aqui! Acho que andamos nos embarrando com poucas roupas por aí!
Fico corada de vergonha
—Já terminei por aqui! Com licença!
—Espera, nos vimos duas vezes hoje e eu nem sei o seu nome.
—Alexia. Agora realmente tenho que ir.
Eu saio com coração disparado,mas imediatamente coloco meu juízo no lugar.
—Ele é lindo,educado,muito rico e seu patrão! Esqueça!
O último namorado que tive,quase apresentei aos meus pais, fiquei de fato apaixonada,mas ele não era uma pessoas com grandes metas na vida então abri mão de nosso relacionamento,isso já 2 anos.
Meu modo de ver o amor e relacionamentos românticos é peculiar, sou muito fechada e desconfiada,não me interesso por ninguém com facilidade. Esse meu comportamento fez com que eu permanecesse virgem, até os dias de hoje,com vinte e sete anos.
Mas com o Caio foi diferente...eu não sei o que deu em mim! Eu quero vê-lo a todo momento, queria saber mais dele,ao mesmo tempo que a razão me chama, ele é um homem impossível para mim.
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Tomo minha ducha gelada, pensando na camareira...Alexia...tão bonita! Eu sou o tipo de homem que não tem preconceito de classes sociais, gosto e me atraio por mulheres inteligentes. Mas também sei do meu lugar, nunca importunei nenhuma funcionária da minha família, sejam as do lar ou do escritório,embora eu mesmo tenha sido assediado várias vezes por elas.
Mas essa moça não, o que ela tem que mexeu comigo? Vai muito além da beleza que indiscutivelmente ela possui, tem algo naquele olhar, uma doçura misturada com fortaleza.
Na parte da tarde, me preparo para sair e encontrar o meu pai em uma reunião no centro da cidade,estou de férias, mas o coroa insiste em me ter nas suas negociações, pego meu Audi e saio, no meio do caminho , vejo Alexia parada em um ponto de ônibus. De regata e calças jeans, encostada no muro com um cara de cansaço, encosto do lado e abaixo os vidros.
—Aceita uma carona?
—Não,obrigada! Está quase na hora do meu ônibus passar.
—Tem certeza? Está fazendo quarenta graus com sensação de sessenta. Vem, deixa se ser orgulhosa!
Ela olha para os lados e entra no carro.
—Nossa! Que diferença! Aqui está tão geladinho.
Eu rio da reação natural dela.
—Vai para onde?
—Niterói.
—Você mora em Niterói?! Como faz para chegar aqui todos os dias?
—Acordo às cinco da manhã e pego duas conduções.
—Puxa! Deve ficar exausta.
—E isso porque ainda não comecei o meu curso preparatório, vai ficar mais puxado ainda...
—Preparatório? Algum concurso?
—Minha prova da OAB.
—É bacharel em direito? Minha irmã caçula acabou de se formar em direito pela PUC.
—Me formei há um ano pela UFF.
—Formada por uma federal e trabalhando como doméstica? - estranho
—Reveses da vida!
Enquanto dirijo em direção ao centro da cidade, ela me conta sua história e eu fico a refletir sobre os meus privilégios. Me formei em administração e já tinha emprego garantido, assim como Helena,minha irmã. Acabou de se formar e já sabe onde irá trabalhar.
—Para onde você vai? Me deixa aqui no Castelo,o meu ônibus passa aqui.
—Faz tempo que não atravesso a ponte! Gosto de Niterói, adoro as praias oceânicas, me amarrava surfar em Itacoatiara! Aliás,vou tirar um tempo para ir de novo por lá.
Atravesso a ponte, e deixo Alexia em frente a sua casa numa travessa simples na Alameda São Boaventura.
—Bem, é aqui! Agradeço demais a carona!
—Amanhã é sábado, estará de folga?
—Não, só no domingo.
—Então eu passo aqui no domingo bem cedo para irmos em Itacoatiara. Me faz companhia?
—E...eu...tá bom! Te espero no domingo!
—Ótimo! Até breve ,garota de Nikiti! - a apelidei com a mesmo apelido da sua cidade Natal.
Aonde ele mora é praticamente a subida da ponte,e em minutos estava novamente no Rio e no centro comercial, onde encontro o meu pai ,cerca de uma hora atrasado. Mas satisfeito,além de ter feito uma boa ação dando uma carona para ela,pudemos travar uma conversa interessante. Era isso o que me chamou atenção ! Alexia, não é só um rostinho bonito,ela é batalhadora,inteligente, delicada e forte ao mesmo tempo.
—Ei...volta para a realidade Caio! Cuidado...o amor é traiçoeiro! Que tudo não passará de uma simples amizade.
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