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A Princesa Irá Se Vingar

Traição

"Princesa, estamos atrasadas para a cerimônia de coração do seu irmão."

Minha babá vinha a passos largos e bufando na minha direção.

"Já estou indo, falta só a tiara...prontinho! Não estou linda?"- disse me exibindo.

"Está sim. Agora vamos, antes que a rainha tenha um treco."

Eu só não imaginava o que me esperava a seguir.

Antes de chegarmos à sala do trono, onde estava acontecendo a coroação, eu percebi uma movimentação estranha. Tudo estava muito quieto, até aí okay. Todos deviam estar na sala do trono. Mas é estranho que eu não tenha visto um único criado. A única coisa que vi foram guardas, o problema era que não eram os guardas do nosso castelo e sim do castelo do grão-duque.

"É normal os guardas dos nobres virem prestigiar o novo rei?"

"Não, não é. Principalmente armados. Venha comigo princesa." Ela pegou o meu braço e guiou-me na direção contrária.

"E a coroação?"

"Algo está estranho princesa. Até descobrimos o que está acontecendo, temos que estar alertas."

"Babá, para onde você...- Ela moveu a espada de uma armadura, então a parede abriu-se e uma escada que ia para o subsolo apareceu.- Mas que porra é essa?"

"Essa é uma saída de emergência, utilizada para proteger os membros da família real. Vamos, por aqui princesa."

"Não, minha família, eu preciso saber o que está acontecendo!"

"Minha filha, nenhum exército tem autorização para entrar no palácio real, principalmente no dia da coroação! Se o que vimos foram os cavaleiros do grão-duque, isso significa que ele cometeu traição. Agora só podemos nos manter a salvo, principalmente você princesa. Vamos!"

O grão-duque está cometendo traição? Impossível! Ele era amigo do meu pai e eu ia noivar com seu filho! Sua filha é minha melhor amiga, eles são quase… família? Talvez até mais que isso!

"Babá, você deve estar enganada. A família do grão-duque é a mais fiel à coroa, eles nunca iriam…"

"Trair? Minha filha, qualquer um é capaz de cometer traição quando tem em vista o poder. O grão-duque sempre foi um homem ambicioso. Seu pai o manteve na linha enquanto estava vivo, mas agora ele morreu e seu irmão ascendeu ao trono, nada poderia parar o grão-duque."

Chegamos a uma saída no jardim, saída essa que eu nem sabia que existia. Quando íamos sair do jardim vimos mais soldados do grão-duque, eles estavam cobertos de sangue. No chão havia alguns guardas do palácio mortos e alguns criados também. Precisei tampar a boca para não fazer barulho. Traição. Não havia mais como defendê-lo. Meu corpo inteiro tremia de pavor. Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Como está minha mãe? E meu irmão? Só podia torcer para que estivessem vivos.

"Merda, eles já devem estar controlando o palácio." - Sussurrou a babá."Princesa, vem por aqui."

Ela me puxou para perto da ala dos criados. Havia um bueiro ali, ela retirou a tampa e se jogou lá dentro.

"Mas o que raios é...- Antes que eu pudesse processar tudo o que estava acontecendo, ela me puxou para dentro do bueiro.- Aí!"

"Desculpa princesa, mas não temos tempo. Preciso te tirar daqui, a essa altura já devem estar te procurando.

Lá em baixo era maior do que eu imagina. Era um enorme túnel com várias passagens dentro.

"Para onde isso vai dar babá?"

"Para a rede de esgoto da cidade."

Quando saímos do túnel, ouvimos gritos para todo o lado. A capital estava em chamas. Do alto do castelo, dava para ver o grão-duque. Ele usava a coroa do meu irmão. Um soldado ao seu lado pegou um alto falante e anunciou: "Hoje caiu a linhagem dos Habsburgos. A partir de agora a família Borgonha irá governar o império. Aqueles que resistirem serão mortos pela espada. Vida longa ao rei!"

Dois guardas apareceram trazendo dois corpos nus. Minha mãe e meu irmãos estavam mortos. Seus corpos estavam cobertos de sangue, a marca da espada em seu peito jorrava sangue. Eles foram pendurados na torre mais alta do castelo, para que todos pudessem vê-los.

Meu estômago embrulhou, era difícil acreditar no que estava vendo.Tudo que eu amava estava em chamas agora, não restou nada. Meu reino estava em chamas. Minha família morreu pela espada daquele que eles mais confiavam. Grão Duque Felipe, o homem que nesse momento está no ponto mais alto do castelo, olhando para o reino em chamas enquanto ria do seu grande feito.

"Princesa, temos que ir! Se acharem a gente, iremos morrer!"- Ah Lúcia, minha babá. Ela foi tudo que me restou.

"Do que adianta continuar a viver Lúcia? Tudo foi destruído, está tudo em chamas!".

"Olhe para mim princesa! Você é a única herdeira legítima do trono agora. O sangue real está em suas veias, você deve recuperar o que é seu por direito e se vingar daquele que causou toda essa destruição!"

Vingança. Essa palavra nunca soou tão doce e, ao mesmo tempo tão amarga nos meus ouvidos.

"Sim. Tem razão, eu devo me vingar dele!"

Floresta

A capital estava um caos. Havia soldados lutando para tudo quanto é lado, casas pegando fogo, pessoas gritando e crianças chorando ao lado dos corpos dos seus pais. Estávamos tentando sair sem sermos percebidas, mas é difícil não chamar atenção quando se está vestida como uma princesa.

"Peguem elas!" - Um soldado gritou.

"Droga! Corre princesa"

Corremos o máximo que podemos, mas a babá já era uma mulher de idade, ela não iria aguentar muito tempo. Um soldado alcançou-nos e puxou o cabelo da babá.

"Tira as mãos dela!" - Voei para cima dele. Tirei uma força que nem sabia que tinha e comecei a desferir golpes na sua cabeça.

"Vá princesa! Precisa fugir!" - Ela tentava em vão se soltar do soldado que agora estava tendo que lidar com nós duas. Ele sacou a sua espada e acertou a babá.

"Não! Não, não, não! AAAhhhhhh!" - Avancei para cima dele, mas eu não era párea ele. Quando ele ia me acertar com a espada também, a babá o segurou pela perna e olhou para mim com os olhos marejados.

"Vá, minha filha."

" Não! Eu..."

"Vá logo! Não vou aguentar muito tempo!"

"Sai sua velha!" - O soldado disse a chutando, mas ela segurava-o como se a sua vida dependesse disso.

Mais guardas estavam vindo.

"Eu prometo que vou te vingar babá." - Olhei uma última vez para o guarda, para gravar o rosto dele. Eu iria matá-lo. Iria matar todos eles.

Eu corri. Corri como nunca. Nem percebi que o meu vestido rasgou até um pouco acima do joelho, quando eu caí por causa de um cavalo que passava em alta velocidade com uma carroça presa a suas costas. Também não percebi que as minhas pernas sangravam. Eu só corri. Mal conseguia enxergar por causa das lágrimas. Se aquilo era um pesadelo, eu só queria que acabasse. Eu só queria acordar.

Eu consegui despistar os soldados. Mas estava com tanto medo que continuei a correr até chegar à costa. Havia soldados por todo parte.

"Merda, eles estão até aqui."

Resolvi então ir para a floresta. Ela também dava para o litoral, mas as embarcações não costumavam parar ali, por ficar mais afastada da cidade. Meu plano era atravessar a floresta e ir para lá.

A floresta era assustadora. Tudo era assustador. Eu mal consegui processar ainda tudo o que aconteceu nas últimas horas. De uma hora para outra o meu mundo virou de cabeça para baixo. Lágrimas começaram a brotar dos meus olhos novamente quando pensei na minha família, na babá e em tudo mais.

"Não, eu não posso chorar. Eu não tenho tempo para chorar. Preciso sair daqui viva."

É incrível como o corpo humano reage quando entra em estado de sobrevivência. Mesmo que estivesse com dor e cansada, eu não parei até achar um local para passar a noite. Eu consegui achar uma caverna para me abrigar, mas mesmo que eu estivesse cansada, não consegui dormir naquela noite. O medo e a ansiedade não permitiram que eu pregasse os meus olhos nem por um minuto. A adrenalina das últimas horas ainda era tão palpável em todo o meu corpo, que sentia os meus nervos tremerem sob a minha pele.

Assim que o sol começou a sair, eu voltei a caminhar. Agora eu estava com fome, a minha última refeição foi o café da manhã do dia anterior. A dor dos meus membros feridos estava pior também, o que dificultava a caminhada. Segui o barulho da água e encontrei uma pequena nascente, tomei um pouco de água e me lavei ali.

Ali perto também havia algumas árvores frutíferas. Comi bastante e peguei umas quatro para poder comer ao longo do dia.

" Seria ótimo ter uma bolsa ou cesta nessas horas"

Continuei meu caminho seguindo o sentido da nascente. Então eu ouvi um barulho.

Quando a gente acha que não tem como ficar pior

Ouvi um barulho vindo de entre as árvores. O meu corpo inteiro já ficou em alerta, mas para meu grande alívio, era só um coelho.

"Você quase me matou do coração, coisinha fofa".

De repente, sai um lobo. Um FUCK LOBO de entre as árvores!

"Merda!"

Corri. Correr não é nem a melhor palavra para se usar. Eu praticamente voei entre as árvores e os arbustos. Consegui chegar numa clareira e foi então que eu me deparei com o inimaginável, ou melhor, com o abominável.

HAVIA UM HOMEM MIJANDO ALI!

"AAAhhhhhh" - Gritei tampando meus olhos.

"Cuidado!" - Ele gritou, então eu olhei para trás e vi o lobo pulando na minha direção.

"AAAAHHHHHH!" Meu Deus! Vai ser assim que vou morrer depois de tudo que passei? Sendo estilhaçada por um lobo depois de ter visto a nudes de um homem?

Então eu ouvi um barulho de lâmina. O homem estava agora na minha frente. O lobo estava morto.

"Mas que merd..."- Antes que ele pudesse terminar a frase eu taquei uma maçã na sua cabeça. A única que consegui continuar a segurar depois de toda a adrenalina dos últimos minutos.- "Eu acabei de te salvar e é assim que você me recompensa?"

"Você está pelado!"- Cobri meus olhos rapidamente. Meu Deus, que visão do inferno.

"Ah! foi mal... Pode olhar, estou vestido agora."

"Quem raios fica pelado no meio da florest..."- Tive que me calar ao deparar-me com a sua beleza, que é algo que poderia ser quase classificado como divino.

Ele tinha os cabelos bem negros, olhos azuis e pele clara. Os seus músculos eram bem definidos. Tudo nele parecia ter a proporção certa, exceto… bem, deixa pra lá.

"Ei! Como eu iria advinhar que uma mulher iria aparecer de repente e ainda por cima com um lobo na sua cola? Credo, não pode mijar em paz nem na floresta."

Ele parecia bem aborrecido a princípio. Então olhou para mim e pude vislumbrar um olhar de... preocupação? Bem, talvez ele só estivesse perplexo, já que meu estado era de dar pena.

"Pelos céus... O que aconteceu com sua perna?!"

Minha perna estava toda ensanguentada. Parte dos ferimentos eram do dia anterior e se abriram mais conforme eu corria e me arranhava em galhos de árvores e espinhos.

"Eu me arranhei aqui e ali" - Eu fiquei um pouco sem graça ao perceber meu estado. Meu vestido havia se rasgado mais e eu estava toda suja e suada.

Ele pegou sua jaqueta branca que estava no chão e veio até minha direção. Eu me encolhi por reflexo.

" Eu não vou te fazer mal. Eu prometo...Desculpa se fui grosso agora a pouco, eu só fiquei surpreso com toda situação." - Gentilmente ele colocou sua jaqueta sobre meu ombro. - " Você não me disse seu nome..."

" Anastasia..."

"É um nome bonito. Prazer, Jack. Então, o que está fazendo sozinha no meio dessa floresta?"

"Eu me perdi."

"Beleza, eu te levo de volta para casa. Deixa só eu..."

"NÃO! Digo...não precisa!"

"Precisa sim. Que homem que eu seria se deixasse uma senhorita perdida no meio da floresta?"

Você seria um homem que cuida da sua vida, pensei.

"Eu não quero voltar". Disse por fim.

"Por que?"

Esse cara não tem mais o que fazer? Pelo amor de Deus!

"A capital está pegando fogo... aparentemente alguém traiu o novo rei. Lá está assustador e eu...Bem, eu perdi minha casa e minha família." - Irei omitir a parte que sou da família real por enquanto.

"É mesmo?" Ele pareceu genuinamente surpreso.

"Sim..."

"Isso vai dar um problemão...- Ele parecia sussurrar para si mesmo.- Você tem para onde ir?" - Então seu foco voltou para minha pessoa mais uma vez.

"Honestamente... Não."

"Quer vim comigo?

"Eu não te conheço, como posso seguir um estranho?"

"Acho que é melhor que ficar sozinha nessa floresta, não acha? Claro, se quiser pode ficar aqui. Mas só para te avisar, lobos não são os únicos animais que irá encontrar aqui.Existem predadores bem piores nessa floresta."

" Eu vou com você! Aí!"- Tentei levantar, mas minha perna doía muito.

"Licença"- Disse encostando na minha perna.

"Mas o que voc...Aí!"

"Dói?"

Não, faz cosquinha... É lógico que dói!

"Dói e dói muito"

"Você deve ter torcido"

Que ótimo. Sinceramente, quando a gente acha que não tem como piorar, vem a vida e mostra que estamos muito enganados.

"Vem, sobe nas minhas costas" - Disse se virando agachado para mim.

Eu não queria subir. Acabei de o conhecer, e venhamos e convenhamos, foi de uma forma nada convencional. Como posso confiar em alguém assim? Mas na minha situação, não posso fazer mais nada além de confiar nele.

"Licença então"- Disse envergonhada.

Eu subi em suas costas. Era quente e confortável.

Depois de tudo que passei até aqui, meu corpo parecia finalmente querer desligar. "Não posso dormir aqui, eu não o conheço. E se ele tentar fazer algo comigo?" Mas não teve jeito, eu estava exausta demais e antes que desse por mim, eu apaguei.

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