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Esposa Errada

capítulo 1

Prólogo

— Que lugar é esse? — Fred aumentou o tom de voz para que o amigo escutasse. A música estava muito alta. Um melodia desagradável aos seus ouvidos. Ele detestava música em balada.

Preferia algo com letra que pudesse ouvir sozinho ou com uma bela mulher em seus braços, de preferência na horizontal.

— Uma boate secreta. — Guto respondeu cheio de mistério.

— Não tem nada de secreta. A placa em neon faz com que as pessoas a vejam de muito longe — debochou.

— Me expressei mal. Quis dizer que é uma boate cheia de segredos.Quando Fred ia zoar o amigo, uma mulher estonteante se aproximou do balcão e disse olhando para Guto: — Vocês foram autorizados. Me acompanhem.

A mulher era loira, com curvas nada suaves e usava um vestido preto colado ao corpo e que mal chegava abaixo da bunda.

Vez ou outra Fred encarava o fim do vestido, com a nítida impressão

de que ele subiria e a calcinha — ou a falta dela — se mostraria.

Não aconteceu.

— Esse aniversário vai ser divertido — comentou enquanto seguia os dois até uma escada que levava ao subterrâneo.

Antes de chegar no último degrau, percebeu que se tratava de uma extensão do que acontecia na parte de cima, só que com mais glamour. A música era mais suave, com som e letras sugestivas.

A mulher os levou até uma mesa em um canto. A mesa ficava em frente a um sofá e em frente a ela havia um poste onde poderiam assistir a uma dança sensual particular.

— Desejam algo para beber? — questionou.

— Absinto. — Guto se apressou a dizer.

Fred o olhou reprovando. Sabia bem que o motivo para ele querer beber até perder a consciência era Samantha.

— Nem vem, amigo. É o seu aniversário e a minha fossa, então vamos entornar — disse e virou-se para a mulher. — Traga a garrafa.

— Com licença. — Ela saiu rebolando, deixando os dois ainda discutindo sobre a bebida.

— Vou te dar um desconto só porque foi rejeitado no pedido de casamento, mas pode esquecer se acha que vou carregar homem bêbado no meu aniversário. — Apesar de seu tom brincalhão, Guto sabia que o amigo o entendia. Afinal, cresceram juntos e ele nunca escondeu que era apaixonado por Samantha. E achavam que era reciproco, mas Samantha chorou, disse não e saiu correndo quando ele preparou um jantar romântico na casa que havia comprado para viver com ela o resto de sua vida. Foi um baque muito grande na vida de Guto. Ele passava seu tempo livre bêbado. Ainda que mantenha suas responsabilidades profissionais em dia como advogado na empresa da família Castro.

Alheio aos pensamentos pesarosos do amigo, Guto comentou:

— Só espera! Seu presente já está chegando. Quando o vir vai me carregar no colo.

Riram. Guto não queria acabar com a festa por causa de problemas românticos. O clima voltou a ser de conversa sobre o ambiente.

Fred olhou ao redor analisando o lugar. Foi quando a viu. A mulher mais perfeita que já viu na vida.

Ela vinha com a mulher que os acompanhou até o lugar e com uma outra loira muito bonita.

Mas podia haver milhões de mulheres lindas ali que nenhuma a ofuscaria.

Por um instante Fred até esqueceu onde estava. Seus olhos seguiram os passos sensuais daquelas belas pernas bronzeadas. O micro vestido vermelho deixava pouco espaço para a imaginação e muito para o desejo. Os cabelos longos e cacheados que chegavam quase até a bunda eram de um castanho tão claro que alguns fios se assemelhavam a dourado. Os seios, apesar de não serem avantajados, se destacavam por causa do decote.

Tudo isso deixava Fred sem reação, mas o sorriso dela era a arma que podia levá-lo a cometer uma loucura. Um sorriso cheio de segundas intenções.

— Essas são Susan e Bella, elas vão fazer companhia para vocês esta noite. A Bella será responsável pela diversão do aniversariante. — As palavras da anfitriã o trouxe de volta a realidade.

— Gostou do meu presente? — Guto disse alto.

O olhar de Fred na direção do amigo deixou claro que não teria como escolher melhor presente.

A mulher caminhou até ele e se sentou em seu colo sem pedir permissão, a outra fez o mesmo com Guto e passaram a servir bebida e petiscos para eles.

Depois da segunda garrafa de absinto que os quatro dividiram, eles decidiram ir para os quartos.

Fred estava faminto por aquela mulher, mal conseguia esconder a ereção. Ele a puxou pela cintura, beijando-a com voracidade. Queria estar dentro dela, metendo vorazmente, mas também queria vê-la por completo.

Se afastou dela e sentou na cama, onde haviam caído durante o beijo.

— Vá até aquela parede — exigiu.

Sem nenhum pudor, ela se levantou e caminhou lenta e sensualmente até a parede.

— Estava louco para te ver por trás desde o momento em que coloquei os olhos em você.

— Só queria ver mesmo? — o provocou.

Usando o próprio corpo para pressioná-la contra a parede,Fred mordeu sua orelha.

— De jeito nenhum.

capítulo 2

São Paulo, dois anos antes...

— Onde está? Onde está? — Bella deixou de lado a muleta para se apoiar no imenso armário no quarto dos pais. Suas pernas engessadas atrapalhavam muito o movimento, mas ela queria

encontrar o álbum de fotografias da família para incluir sua foto com

o gesso cheio de assinaturas dos seus colegas. Como era de se esperar, sua tentativa ocasionou em uma queda que lhe arrancou lágrimas abundantes de dor.

Na tentativa de se levantar, ela puxou a porta que acabou se fechando. Por alguns instantes, Bella apenas ficou no chão acompanhada pelo choro silencioso, pois seu pai odiava ouvir as filhas chorando, de tal forma que elas aprenderam a serem silenciosas em suas dores. Seu cabelos cacheados se soltaram do coque mal feito e grudavam no seu rosto molhado.

Quando finalmente decidiu se levantar, Bella ouviu a porta sendo fechada bruscamente e a voz grave do seu pai.

— Que merda foi aquela, Francine? De risadinhas com o vizinho? Perdão a noção?

Bella decidiu olhar por uma fresta no exato momento em que sua mãe era jogada contra o chão.

— Nem que precise de uma surra diária, vai aprender a respeitar o homem que tem em casa.

Um urro de dor escapou da boca de Francine quando sentiu o impacto do pé dele em sua barriga. Ele a chutou algumas vezes antes de arrancar as suas roupas e possui-la.

De dentro do armário, Bella chorava e tentava em vão não olhar pela fresta ou tapar os ouvidos para não ouvir os lamentos da mãe ou os gemidos insanos misturados com insultos do pai. Estava tão presa na cena macabra que continuou vendo-a mesmo depois que seu pai saiu do quarto resmungando sobre o jantar ainda não estar pronto.

Ela estava paralisada e acabou deixando seus soluços ganharem vida, já não conseguia controlar.

O barulho fez Francine ir até o armário e escancarar a porta.

Seu coração se partiu ao ver o estado da filha. E soube que ela no mínimo ouviu o que aconteceu, ao que foi submetida por um ciúmes sem motivo. Ao que era submetida sempre que Marcos tinha uma de suas crises de ciúmes ou raiva.

Notando o desespero da filha, ela a abraçou.

— Está tudo bem, meu amor!

— A porta não fechava. Eu não tive culpa. — Bella tentava justificar em meio ao pranto. Se sentia envergonhada por presenciar tal ato, se sentia irada.

— Está tudo bem. — Francine disse enquanto acariciava o rosto da filha e tirava os fios de cabelo colocando atrás da orelha.

— Mamãe, ele a forçou, ele a machucou. Não pareceu a primeira vez. Por que a senhora ainda está com esse monstro? —

Tinha dificuldades em aceitar que sua mãe vivesse aquilo. Sempre

achou que ela fosse uma mulher forte, vê-la apanhando do marido

quando tinha saúde, um trabalho... toda uma chance de uma vida melhor, enchia seu coração de revolta.

— Ele é seu pai...

— O que o torna mais monstruoso. A senhora sabe que eu me guardei com o sonho bobo de ser só de um homem; o meu marido. Agora vejo que nem os maridos merecem confiança.

— Seu marido vai amá-la. Eu prometo — disse temendo que a filha abandonasse o sonho de ser esposa e mãe, sonho que tinha

desde menina.

— Não vou me casar jamais. Nunca vou deixar nenhum homem me tocar. — Bella tremia. — E nós vamos embora dessa casa porque se eu me encontrar com aquele monstro vou matá-lo com minhas mãos.

Francine a olhou com ternura. Sua amada filha falava em defendê-la mesmo estando amparada por duas muletas.

— Quero que me prometa que vai confiar em seu coração e amar. Não existe nada mais belo que o amor. Prometa — pediu.

Sabia que a filha seria uma mulher sozinha e amargurada se passasse a acreditar que todos os homens eram iguais. E ela sabia bem que não era assim. Teve alguém antes de Marcos que a amava acima de tudo, mas o câncer o levou.

— Eu prometo, mas só se a senhora prometer que vai se amar e sair dessa casa. A senhora não precisa passar por isso, mamãe — exigiu.

— Oh, minha filha! Eu amo tanto você e sua irmã. Vou sair sim. Já estava pensando nisso, mas primeiro vou juntar um dinheiro para não ter o perigo de precisar voltar implorando.

— Quanto tempo?

— Uns dois meses, no máximo. Já tenho um pouco. Com mais dois meses vou ter o dinheiro das minhas férias. Não é muito,mas vai ser suficiente para nos manter em alguma cidadezinha até eu conseguir algum emprego. — Acariciou o rosto molhado da filha em busca de passar confiança.

— E a Graça?

— Só vamos contar para ela depois que tivermos certeza de tudo. Ela é muito apegada ao pai. Pode contar para ele e colocar tudo a perder.

— Tudo bem, mamãe. Também tenho um pouco de dinheiro que poupei na lanchonete. E vou fazer mais trabalhos para os meus colegas de escola. Estão todos desesperados por ser o último ano.

— Você e sua irmã são meus tesouros — disse emocionada.

Se abraçaram e, depois dessa troca de carinho, Francine ajudou a filha a se colocar de pé e a ir para o quarto que dividia com a irmã.

capítulo 3

No dia seguinte, ao retornar da escola, Bella descobriu uma nova dor, a dor da perda. Sua mãe havia sido atropelada por um motorista bêbado quando voltava da padaria, na mesma rua em que

ela se acidentou. Ninguém sabe quem foi, pois não foi possível anotar placa e o bairro não tinha câmeras de segurança nas ruas.

Seria só mais um crime que seria tratado como “acidente”.

Mas não para Bella, que teve o seu coração destroçado, que nunca mais poderia ouvir a voz doce de sua mãe, que nunca mais a abraçaria novamente.

Para ela, as cores do mundo se tornaram apenas tons de cinza.

Dias atuais

Bella acordou assustada. Não estava no armário. Foi apenas um sonho. Mas também não estava longe do que mais a atormentava e sua mãe se foi para nunca mais voltar.

Ela olhou para o lado e viu que suas lágrimas molharam a foto da mãe, com a qual dormia todas as noites. Lembrar da última conversa, do último abraço; era muito doloroso.

Sem conseguir voltar a dormir, ela se enrolou na manta e foi até a cômoda onde guardava seus poucos pertences. Antes olhou para a cama da sua irmã e constatou que ela novamente havia saído. Ela fazia isso quase todas as noites depois que começaram a faculdade, saia dizendo que ia estudar com amigos e só voltava quase amanhecendo. Graça, apesar de serem idênticas fisicamente, era o oposto de Bella. Ela andava com roupas estravagantes e ousadas, enquanto Bella cada vez mais se escondia em roupas sóbrias e longas, pois não queria que nenhum homem a olhasse com segundas intenções, depois que sua mãe se foi ela desistiu de cumprir a promessa de dar uma chance ao amor. Outra diferença entre as duas era que o pai preferia Graça, descaradamente. E ela sempre foi apegada a ele. Mas isso era algo que Bella só desejou até aquele maldito dia em que viu quem Marcos realmente era.

Seus pensamentos e lembranças faziam seu coração doer.

Depois de sentar no chão, ela puxou a última gaveta e tirou um envelope que estava preso com fita adesiva.

— Em breve vou sair dessa casa, mamãe — prometeu olhando a foto e as notas que tirou do envelope.

Havia passado quase dois anos desde a morte de sua mãe.

E durante esse período ela passou longas tardes e noites trancada no quarto fazendo trabalho de colegas para ganhar um dinheiro. A faculdade de Administração, para a qual ganhou uma bolsa integral, era repleta de pessoas precisando desse tipo de serviço. Depois que suas pernas sararam ela também voltou para a lanchonete para

conseguir mais dinheiro, pois seu pai havia se apossado de cada centavo que sua mãe deixou.

Ela planejou tudo direitinho para fugir logo após conseguir uma transferência da universidade. Usou a biblioteca da escola para pesquisar as cidades onde havia campus, e escolheu uma boa para empregos e com alugueis baratos. Por sorte o seu pai não cobrava parte do seu salário. Podia guardar cada moeda. E ele nem desconfiava dos seus planos.

Faltava poucos dias para ela deixar tudo para trás e começar uma nova vida.

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