Park Jimin

Fiquei boquiaberto com minha mãe enquanto ela terminava de fazer sanduíches de queijo grelhado para meu irmão.

_O que você quer dizer com estamos indo embora? -continuei meu questionamento persistente.

Ela suspirou antes de afastar as mechas de cabelo do seu rosto.

_Jimin, a mudança é apenas temporária. Além disso, você poderá passar um tempo com seu avô.

_Mãe, o vovô morreu quando eu tinha 3 anos. -a olhei como se ela fosse louca.

_Não é o pai do seu pai Jimin, é o meu pai. -ela evitou os meus olhos e começou a lavar a louça.

_Seu pai ainda está vivo? Temos outro avô? Por que eu não sabia disso? -meus olhos se arregalaram.

_É meio complicado Jimin. -ela continuou evitando meus olhos.

_Mas... -iria protestar, mas ela me interrompeu.

_Chega Park Jimin! -ela me lançou um olhar e eu fechei a boca- Lamento muito nunca ter contado sobre o seu avô, mas foi uma decisão que o seu pai e eu tomamos antes de você nascer. Acredito que isso será uma ótima oportunidade de aprender sobre a minha descendência, não apenas sobre a descendência de seu pai. -dito isso ela gritou chamando Jihyun para almoçar.

O meu irmão desceu as escadas correndo, euforico. Sorri porque ele se parecia com o meu pai naquele momento. Foi engraçado o quanto nos parecemos com cada um deles. O meu irmão é a réplica exata do meu pai. A única coisa que ele não compartilha com o nosso pai são os olhos azuis, ele tem os olhos castanhos da mamãe. Eu, por outro lado, disseram que eu pareço com a minha mãe, exceto no que diz respeito ao cor do cabelo e dos olhos.

Quando eu ainda estava em desenvolvimento os meus genes não escolherem nem a cor do cabelo do meu pai, nem da minha, sou o único da família com cabelo loiro. Além disso meus olhos azuis estranhamente mudam de cor a cada emoção que experimento.

_Comece a fazer as malas. -mamãe disse, me tirando dos meus pensamentos- Vamos embora amanhã.

...🐺...

Jeon Jungkook

_Toc, Toc. -uma voz feminina disse antes de enfiar a cabeça na porta do meu escritório.

Sorri com as travessuras bobas da minha mãe e pausei a minha digitação temporariamente.

_Sim?

_Oi, querido, podemos entrar? -ela me deu um sorriso ansioso.

Perdi meu sorriso quando meus pais, Namjoon e Hoseok entraram em meu escritório.

_O que é isso? -perguntei encarando os quatro- Eu não sabia que tínhamos uma reunião marcada para hoje?

_E não temos. -disse a voz rouca do meu pai- Estamos aqui porque temos algumas preocupações.

_Que tipo de preocupações? -levantei uma sobrancelha.

Minha mãe ficou na frente do meu pai, juntando as mãos ansiosamente.

_Não são preocupações Jungkook, apenas perguntas.

_Jungkook... -Hoseok deu um passo à frente- ... Taehyung ouviu conversas na matilha sobre o senhor ter um ômega.

Eu enrijeci e soltei um grunhido baixo.

_E sobre o que são essas conversas? -eu disse com os dentes cerrados- O que eles estão dizendo?

_Eles têm medo de que, como você não tem um ômega, outras matilhas nos vejam como fracos e ataquem. -meu pai disse olhando diretamente para mim- E eles não estão errados em presumir isso.

_Eles podem presumir o que quiserem. Eu sou o Alfa e tenho feito meu melhor. E até agora, eles têm sido bem cuidados.

Ele suspirou cansado.

_Jungkook, se você tivesse um companheiro ou companheira, você não acha...

Eu lancei um olhar para ele e gritei.

_NÃO TERMINE ISSO!!!!

_Querido, seu pai... -minha mãe se encolheu.

Eu rosnei para ela e meu pai se colocou na frente dela.

_Chega, Jungkook! -meu pai rosnou- Acho que é hora de começar a considerar um dos ômegas sem companheiro como seu companheiro ou companheira. É melhor para a matilha.

_E O QUE É MELHOR PARA MIM? SEU PRÓPRIO FILHO. -gritei e ele ficou em silêncio- Saia do meu escritório e vá controlar essa fofoca estúpida. -olhei para Hoseok.

Me sentei na cadeira e puxei meu meu cabelo.

_Eu me importo com a matilha, realmente me importo, mas me importo mais com meu ômega. Mesmo que eu não saiba quem ele ou ela é.

Minha mãe veio até o meu lado da mesa e bagunçou meu cabelo.

_Como deveria ser meu querido. -ela lançou um olhar para o marido- Você sabe como seu pai fica quando tem algo a ver com a matilha.

_Eu sei que a decisão inteligente seria casar com outra pessoa para o bem-estar da matilha, mas simplesmente não posso. Meus instintos dizem que não posso.

_Não estou questionando sua decisão, filho. -ela esfregou minhas costas suavemente- Estou aqui para lhe dizer que seja o que você decidir, vou apoiá-lo 100%. -ela se abaixou e beijou minha cabeça antes de sussurrar em meu ouvido- Só confie em seus instintos, eles nunca o decepcionaram.

^^^Continua...^^^

Jimin

Minha mãe mexeu no rádio do carro até escolher uma de suas músicas favoritas. Olhei para o rosto adormecido do meu irmão antes de fazer as perguntas que estavam em minha mente desde que desde quando chegamos em Busan.

_Mãe?

_Que foi filho? -ela perguntou.

_Como é o seu pai?

Ela agarrou o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Por um momento, pensei que ela não iria responder até que começou a falar.

_Quando eu era mais jovem, meu pai era um homem duro e rígido. Ele sempre insistiu que eu deveria estar mais focada nos estudos do que no mundo exterior. -ela focou na estrada- Agora que tenho meus próprios filhos, entendo o que ele quis dizer, mas quando adolescente, fiquei chateada com ele.

Ela virou em uma estrada não pavimentada e continuou a dirigir.

_Eu continuei a fazer o que ele mandava, porque se não fizesse, ele costumava me fazer sentir culpa... -ela ficou tensa- ...ele costumava gritar comigo, dizendo que enquanto eu morasse na casa dele, tinha que seguir as regras dele.

Fiquei triste pela minha mãe naquele momento. Ela era uma mulher tão maravilhosa que eu não conseguia imaginar que tipo de vida ela tinha antes.

_Uma noite... -ela continuou- ...fiquei tão farta da gritaria dele que fui para a casa de uma amiga. E é claro que sendo adolescentes estúpidas decidimos fazer algo rebelde.

Ela riu e pela primeira vez nesta maldita viagem, eu sorri.

_Como o clube mais próximo ficava a 2 horas de distância, minha melhor amiga e eu decidimos ir a uma fogueira que um dos universitários estava fazendo. -o sorriso dela permaneceu enquanto ela continuava a dirigir- Então decidimos pegar um atalho pelo bosque. E é claro, que com meu ótimo senso de direção, nos perdemos. -ela se virou para mim e sorriu.

As habilidades de direção da minha mãe são péssimas. Minha lembrança favorita quando criança foi quando meu pai decidiu ensinar à minha mãe habilidades de direção com apenas um mapa e uma bússola. Adorei ver como ele era paciente com ela, mesmo depois que ela continuava fazendo agente se perder.

_Depois de uma hora...-ela continuou-...começamos a ficar preocupadas. Estava escuro e havia notícias sobre recentes ataques de lobos. Então, de repente, ouvimos um lobo uivar.

Sentei-me direito no banco do carro, encantado com a história dela.

_E sendo as idiotas que éramos, corremos. -rimos e vi os dedos dela relaxarem- Depois de alguns minutos, fizemos uma pausa, perto de onde começamos, quando ouvimos um galho estalar... -ela balançou a cabeça- ...e naquele momento ficamos tão assustadas que começamos a gritar a plenos pulmões.

Ela parou no acostamento e estacionou o carro.

_Assim que começamos a gritar, um cara bonito com cabelos castanhos e os mais lindos olhos azuis que eu já vi veio de trás de uma árvore e perguntou se precisávamos de ajuda. -ela levantou uma sobrancelha- Tem alguma ideia de quem possa ser?

_Era o papai?

_Sim, o próprio. Ele nos acompanhou até em casa. Minha amiga primeiro e depois eu. -ela suspirou- Durante nossa pequena caminhada, conversamos bastante, e para ser honesta, foi amor à primeira vista para mim.

_Bem, aparentemente o sentimento era mútuo. -apontei para meu irmão e para mim- Se não fosse, acho que não estaríamos aqui agora.

Ela me lançou um olhar.

_De qualquer forma, eu estava me divertindo tanto que a caminhada para casa passou tão rápido que me peguei querendo ficar com ele, mas infelizmente, eu sabia que isso não era possível. -ela balançou a cabeça- Eu estava pensando "Esse cara é perfeito demais para ser verdade" ou "Esse cara é muito gostoso para não ter namorada".

Eu ri, mas ela me ignorou e continuou sua história.

_Imagine minha surpresa quando ele se inclinou e beijou minha bochecha, prometendo que me veria em breve.

_Ai que lindo! -eu ri alto o suficiente para que meu irmão acordasse de seu cochilo- Papai era um fofo.

_Sim, ele sempre foi um doce.

^^^Continua...^^^

_Já chegamos? -Jihyun perguntou assim que o carro parou.

_Quase querido. -ela desceu, abriu o porta malas e me entregou umas sacolas- A casa do seu avô fica logo ali. Fiquem sempre juntos e não importa o que aconteça, não vão para a floresta sozinhos. Sempre há lobos caçadores de Hunter e eu não quero que nenhum de vocês se machuque.

_Onde estão as outras casas? -olhei em volta.

_Não há outra casa Jimin, seu avô é dono de todas essas terras.

_Tudo isso? -minha boca se abriu- Você nunca me disse que era rica?

Ela desviou o olhar.

_Eu não sou Jimin. Seu avô que é. O dia em que me casei com seu pai foi o dia em que ele deixou isso muito claro. -ela balançou a cabeça- Mas essa é uma história para outro dia, venha agora, é, melhor você ir, vai escurecer em breve.

_Diga-me de novo por que você não vem morar com a gente?

_Novas oportunidades de trabalho. -ela não me olhava nos olhos e eu sabia que havia mais do que ela estava disposta a me dizer- Vou pegar um avião para o Alasca às 22h. Me ligue quando chegar na casa do seu avô.

_Ele sabe que estamos vindo, certo? -eu estava hesitante.

Ela me olhou nos olhos pela primeira vez durante toda a viagem.

_Ele sabe. Eu me certifiquei disso, fica tranquilo.

Balancei a cabeça e ela deu beijos em nós dois.

_Você está com meus cartões de crédito, cartões hospitalares e números importantes, certo Park Jimin?

Eu me encolhi ao ouvir meu nome completo, mas balancei a cabeça em afirmação mesmo assim.

Seus olhos intercalavam entre eu e meu irmão, como se ela estivesse tentando se lembrar de algo.

_OH!! -ela exclamou- Eu matriculei vocês dois em uma escola particular, e vocês começam na segunda-feira.

Olhei para meu irmão e ele olhou de volta para mim. Nós dois olhamos para minha mãe e começamos a choramingar.

_Sejam bonzinhos vocês dois. -ela riu- Lembrem-se de sempre serem vocês mesmos, não importa o que aconteça. Abrace quem vocês são e não dêem ouvidos a ninguém. -ela nós abraçou e tocou meu rosto gentilmente- Lembrem-se que vocês são filhos de Park Jihoon. O homem que nunca desistiu de nada, nem de ninguém.

_O que o fato de sermos filhos de Park Jihoon tem a ver com isso?

_Você descobrirão em breve, meus amores. -ela caminhou até o lado do motorista do carro- Cuidem um do outro. E lembrem-se, mamãe ama muito vocês dois.

Meu irmão agarrou minha mão enquanto caminhávamos até a casa do nosso avô.

_Jiminie, estou com medo.

_Não se preocupe, vai ficar tudo bem. -dei um sorriso tranquilizador.

Não importa o que aconteça, prometi proteger meu irmão. Mesmo já sendo um menino crescidinho de 12 anos, Jihyun sempre foi mais fragil, e isso me tornou 10 vezes mais protetor com ele. Na nossa antiga escola, sempre que alguém tentava intimidá-lo, eu os ameaçava a ponto de eles voltarem para casa chorando.

Meus pais costumavam me chamar de lobinho porque eu era muito protetor com ele, como se ele fosse meu filhote.

Alguns minutos depois estávamos diante da maior casa que já vi. Parecia mais uma mansão do que uma casa. Muito maior que nosso apartamento em Seul.

Quando me virei para Jihyun, ele estava de boca aberta. Ele foi dar um passo à frente quando eu agarrei seu ombro.

_Jihyun, enquanto estivermos aqui, quero que você me conte tudo, não me esconda nada. Promete? -estiquei meu mindinho pra ele.

_Claro, maninho, vou te contar sobre o meu dia! -ele entrelaçou seu mindinho com o meu.

_E me diga se você se sentir desconfortável nesta casa. Se você se sentir vamos embora. Eu prometo.

_Você acha que o vovô vai gostar de nós? -ele perguntou.

_Claro que vai.

_O último a chegar tem chulé. -ele gritou e saiu correndo.

Tentei correr atrás dele mas o movimento das cortinas da sala chamou minha atenção.

_Eu ganhei, você tem chulé hyung. -Jihyun provocou.

Revirei os olhos, caminhei até a porta e baguncei o cabelo dele.

Ele bateu na porta com entusiasmo. Depois de um minuto sem ninguém atender, toquei a campainha.

Depois de 5 minutos sem ninguém responder, franzimos a testa e eu bati na porta com certa força.

_Eu pensei que mamãe tinha avisado que agente vinha. -Jihyun falou desanimado.

_Ela avisou, vai ver ele está dormindo. OLÁ? ALGUÉM ESTÁ EM CASA? -gritei alto, alguém vai ter que ouvir.

_Pare com essa gritaria, garoto. -uma voz profunda disse atrás de nós.

Levamos um susto, e no impulso coloquei Jihyun atrás de mim.

O homem de quase 60 anos tinha cabelos grisalhos, usava camisa de flanela e jeans escuro. Ele era um homem alto e não o tipo de pessoa que eu esperava que fosse meu avô. Seu comportamento era frio e pouco convidativo, o oposto da minha mãe.

_Eu não estaria gritando se você atendesse a sua porta.

Seus lábios se estreitaram.

_Suponho que sejam os filhos da Minah?

Eu levantei uma sobrancelha. Ele nem sequer nos chamava de de netos, muito menos, minha mãe como sua própria filha.

_Sim, somos.

Continuei protegendo meu irmão atrás de mim quando vi a expressão de desaprovação no rosto do mais velho.

Ele olhou para a nós antes de acenar com a cabeça em direção à casa.

_Sigam-me.

Jihyun se agarrou ao meu braço com força e eu dei um beijinho no topo de sua cabeça.

_Vai ficar tudo bem amigão.

O velho abriu a porta e minha boca se abriu em horror. Toda a sua sala estava cheia de animais, todos mortos e empalhados, para ser exato.

Jihyun ficou tremendamente nervoso.

_Que diabos? -murmurei, sabendo muito bem que o velho me ouviu.

_Cozinhas por aquele lado. -apontou para a esquerdae- Meu escritório e oficina são por ali. -então apontou para a direita- Se eu não estiver no escritório, é provável que esteja na oficina. O segundo andar são os quartos de hóspedes. Escolha o quarto que mais lhe convier. Fique fora do terceiro andar.

Ele começou a se afastar, mas antes fez uma pausa.

_Ah, palavra do sábio, fiquem fora da floresta. Às vezes gosto de praticar meu tiro lá fora.

Ele foi para a direita, provavelmente para sua oficina maligna para torturar animais indefesos.

_Vamos, amigão, vamos desfazer as malas.

^^^Continua...^^^