Tudo começou como uma mentira, o mago que queimou tudo, quem teve o poder de destruir os magos negros, alguém que fingiu desde o início.
Em uma antiga vila, situada entre as montanhas e rodeada pela floresta verde, havia uma taverna quente e acolhedora que abrigava os melhores amigos e aventureiros: Cedric Thornfield, um mago de grande talento, mas, segundo diziam seus companheiros, um tanto preguiçoso e mulherengo; Theron Frsheart, um louco companheiro que o seguia em suas loucuras; Freya Stormwatcher, uma curandeira enérgica e sábia; e Magnus Shadowlock, um mago místico e sábio nos segredos arcanos. Evangiline Silverleaf, a mais poderosa maga do grupo, que se formara antes de seus colegas e trabalhava com segurança e Caspian Sunfire, o mago mais centrado e chato do grupo.
O frio inverno tinha dado lugar à fresca primavera, e o sol redescia entre as casas da vila enquanto os amigos se reuniam para tomar uma taça de vinho na taverna A Estrela Encantada. A mesa estava cheia de faíscas de risos e bom humor, intercalados com anedotas sobre aventuras passadas e desafiadores tetragramas que Cedric resolvera.
—Por que não usa sua mágica para ajudar mais os outros ao invés de sentar aqui todos os dias bebendo?— perguntou Caspian, com um olhar de pai bondoso mas preocupado para com seu amigo Cedric. —Há muito o que fazer neste mundo.—
—Caspian—, respondeu Cedric sorrindo e erguendo sua taça para dar um gole, —a mágica é como a medicina: deve ser utilizada no momento adequado e em necessidades justas. Agora me sinto feliz entre meus amigos, desfrutando desta linda noite—.
—É verdade, Caspian, pelo menos Evangeline não tenta surpreender ninguém com sua inteligência, ela apenas desfruta do momento, se ela estivesse conosco concordaria que você é um chato—, defendeu Freya.
A conversa continuou enquanto os amigos compartilhavam sua refeição e suas histórias, cercados pelo encanto e alegria que se encontra apenas em boa companhia.
Depois de várias taças a mais e rodeados pelo ambiente festivo de —A Estrela Encantada—, Cedric, que até então mantivera uma atitude relaxada e tranquila entre seus amigos, sentiu um impulso súbito que o levou a levantar-se e observar com atenção uma mesa situada num canto da taverna. Nela, sentada e rodeada pela escuridão, encontrava-se uma linda mulher que chamou sua atenção desde o momento em que a vira passar pela porta.
A mulher era lindíssima, com cabelos ondulados castanho-avermelhados e olhos azuis profundos que brilhavam com sabedoria e intriga. Cedric sentiu que seus olhos foram aprisionados nos dela, como se fossem a ponta de uma flecha feita pelos deuses para unir almas.
Com a impulsividade que o caracterizava quando estava bêbado, Cedric não hesitou nem um segundo em usar seu sorriso para exibir seu maior encanto e prender a atenção da linda mulher. Ao som de uma melodia mágica que saiu de suas mãos, os olhos azuis dela se dilataram com surpresa, seguidos por um sorriso sedutor.
—Serias tu de quem os rumores mencionam? Cedric, o mago que esconde o poder do dragão—, perguntou a mulher com uma voz baixa e suave como uma brisa de primavera, olhando fixamente para Cedric. —Meu nome é Evelyn e sinto-me encantada com o charme que acabou de fazer surgir—.
Cedric não podia acreditar no que fizera: conquistar uma bela mulher desconhecida apenas com sua reputação, em um momento de embriaguez.
Depois de sair da taverna, rodeados pela escuridão mas com a luz das estrelas brilhando sobre seus rostos, Cedric e Evelyn se afastaram do grupo para encontrar-se num local mais privado. Ali, os dois se sentiram libertados pela alegria e pelo charme que os levara a cruzar caminhos naquele momento, enquanto desfrutavam da conversa e da música mágica de Cedric.
—Está certo que nos permitamos esta alegria—, disse Evelyn, caindo lentamente sobre uma toalha de grama fresca e sustentada pelos braços de Cedric. —Eu também me senti atraída pelo seu charme e descobrir se os rumores são verdadeiros.—
Enquanto o tempo passava e as estrelas brilhavam sobre eles, os gemidos suaves de Evelyn foram ouvidos entre a música mágica e o riso de Cedric. Embora ninguém pudesse vê-los nem ouvir suas palavras de fora, naquele momento a magia amorosa os uniu em um vínculo que duraria para sempre.
Com o passar do tempo e das estrelas, Cedric e Evelyn se entregaram ao prazer mágico e à alegria da companhia que os envolveu. No entanto, conforme a noite avançava e as horas transcorriam...
—Devemos voltar—, disse Cedric ao sentir-se expulso, —sinto-me muito grato por esta noite mágica contigo, Evelyn, mas devo cuidar de meus amigos e cumprir minhas obrigações—.
Evelyn lhe ofereceu um beijo apaixonado antes de Cedric desaparecer junto com a magia que os mantinha unidos. No caminho para casa, embora cheio de alegria e lembranças daquele encontro mágico, Cedric não pôde evitar refletir sobre seu futuro e como este episódio poderia afetar sua reputação entre os amigos e a comunidade mágica. Não se importava, apenas cantarolava ao som dos pássaros enquanto cambaleava de um lado para o outro.
Enquanto se acostumava com seu entorno e tentava superar o peso da lembrança noturna, Cedric notou um pacote na porta. Aproximou-se e ao abri-lo encontrou uma cesta cheia de cuidados: dentro havia um bebê de apenas três meses com um tufo vermelho similar ao seu próprio cabelo, bem como olhos que lhe lembravam sua coloração. Da mesma forma, encontrou um bilhete junto à criança que dizia: —Este é seu filho, seu nome é Lysander—.
Naquele momento, a emoção e a surpresa tomaram completamente Cedric, fazendo com que seu estado de embriaguez se desvanecesse ante o olhar inocente do pequeno ser que lhe fora dado como castigo.
Depois de enfrentar a realidade de ser pai e descobrir o bilhete mágico que lhe anunciava esta nova etapa em sua vida, Cedric se viu obrigado a encontrar um equilíbrio entre sua vida.
Em vez de passar o resto de seu tempo sozinho, refletindo sobre sua situação, Cedric decidiu voltar para a taverna onde havia gastado grande parte da noite anterior. Lá, encontrou seus amigos e tentou compartilhar com eles o que descobrira ao acordar: uma cesta com um bebê de apenas três meses, cujas origem e significado eram misteriosos.
Os amigos de Cedric, compreendendo a situação incomum na qual ele agora se encontrava, começaram a zombar dele. No entanto, quando tentou alimentar o bebê sem o menor esforço, suas ações ficaram evidentes diante dos olhos de seu companheiro Theron, que zombou dele:
- Finalmente recebes consequências. Agora você tem que cuidar de alguém além de você mesmo.
- Encontrarei a mãe e devolverei Lysander - disse Cedric sem ânimo de mostrar responsabilidade.
No meio da pressão de Theron e da compreensão limitada sobre como cuidar de um ser tão incomum, Cedric não conseguiu esconder sua desesperança de que aquela situação não durasse muito tempo. Mas enquanto seus pensamentos oscilavam entre o medo do fracasso e a incerteza sobre o porquê e como havia chegado a estar em sua casa, Freya entrou.
Freya olhou para Cedric com ódio e repulsa quando observou como ele segurava o pequeno bebê. Então, sem mais palavras, aproximou-se da criança, tomando-a em suas próprias mãos para demonstrar como alimentá-lo e cuidar dele de maneira efetiva. Naquele momento, o bebê sorriu novamente, como se reconhecesse Freya como uma figura amorosa e segura.
Naquele momento, quando Freya trazia um pouco de leite aos lábios do bebê para alimentá-lo, deteve-se e olhou para Cedric com um sorriso gentil misturado com uma certa dose de reprovação. Com sua voz cheia de reclamação, Freya disse:
- Vejo que você tem algum senso comum de como alimentar um bebê, meu amigo tolo. Você não pode abandonar sua responsabilidade tão facilmente e pensar em procurar sua mãe...
Enquanto Freya falava, Cedric sentia-se atingido por sua falta de atenção para com Freya, que continuava falando sem parar de proferir insultos em cada palavra. Seu olhar refletia a confusão e pena por ter passado tanto tempo pensando em sua obrigação como pai. No entanto, quando viu como Freya assumia a tarefa de alimentar o bebê com tranquilidade e efetividade...
- Obrigado por sua ajuda, Freya – disse Cedric enquanto apreciava como ela alimentava seu filho sem qualquer problema evidente. – Eu sabia que teria que fazer isso corretamente, mas em minha defesa de desespero, esqueci como alimentar uma criança.
Depois que Freya terminou de alimentar o bebê mágico e o devolveu a seus braços, Cedric disse, com esforço para manter seu otimismo:
- Não se preocupe, Freya. Tudo isso voltará ao normal, devolverei o bebê à sua mãe e você não precisará se preocupar com ele.
Freya fez uma careta de desprezo.
- Você é um idiota, com certeza poderia ser filho de qualquer uma, duvido que tenha em uma lista todas as suas aventuras.
- Você pode estar certa, Freya, mas na verdade lembro de cada uma das garotas, como esquecer aqueles momentos que decidiram compartilhar comigo. Então, pela idade de Lysander, resta apenas uma lista reduzida de dez garotas.
Imediatamente, os olhos de todos se voltaram para Cedric e outra série de amigos que estavam escutando em silêncio. Alguns permaneceram calados enquanto outros não puderam deixar de sorrir ao ouvir a conversa e o número reduzido de candidatas.
Enquanto a conversa entre Cedric e seus amigos continuava seu curso, ouviram o barulho de alguém entrando na sala. Ergueram os olhos para ver Evangeline, que caminhava com certa fadiga visível em seu rosto. Sua entrada atraiu a atenção de todos e ela encontrou um lugar para se sentar perto de seus amigos.
- Estivemos trabalhando por muito tempo para tentar controlar os problemas causados pelos magos negros e me sinto exausta até os ossos - ela se inclinou para frente e pediu que alguém lhe trouxesse uma cerveja gelada. - Faz muito tempo que não tenho uma hora para relaxar e esquecer meus problemas, então me apressei para aproveitar esta oportunidade enquanto posso. Cedric, sinto muito, mas não tenho tempo para ouvir suas aventuras.
- Deve ser difícil, houve muitos ataques de magos negros na área, ter que controlar toda a cidade deve ser um caos...
- Esses dias têm sido dos piores - observou Evangeline - Eles se reúnem como abelhas se organizando, atacando carruagens e casas distantes, nunca deixam testemunhas embora coisas estranhas sempre aconteçam. Meus superiores têm a teoria de que estão procurando algo na região, algo tão poderoso e devastador que temos que detê-los, mas nem mesmo somos capazes de capturar um sequer com vida, todos preferem morrer antes de revelar algo.
Cedric caminhava pela cidade, pensando em todas as possibilidades. Seu primeiro passo tinha sido pensar nas antigas amizades e namoradas, e Clara Rodcliffe era sua primeira opção na lista. Ela era uma garota atraente e inteligente, mas também bastante instável. Tinha um charme infantil que Cedric sempre achou irresistível. Eles tinham passado muitas noites felizes juntos. Mas essa era toda a informação que ele tinha sobre Clara naquele momento.
Enquanto caminhava, Cedric segurava o bebê em seus braços, cuidadosamente para não acordá-lo e fazê-lo chorar em silêncio. O pequeno estava expressando sua angústia com a situação e seu desejo de voltar para casa, mas Cedric também sabia que ele era muito novo para entender a verdadeira gravidade da coisa. Lysander tinha nascido com um charme especial que fazia com que todos se sentissem atraídos por ele, e esse charme era o que permitia Cedric carregá-lo em seus braços sem causar suspeitas. Mas ele sabia que não poderia durar assim por muito tempo.
Quando chegou ao final da rua, encontrou-se diante da casa de Clara. Era uma pequena casa de madeira com uma garagem no quintal e um jardim no lado esquerdo. Conforme Cedric se aproximava, podia ver Clara através das janelas da sala.
Cedric bateu na porta da casa com certa esperança em seu rosto, era a primeira chance em dez, poderia ter sorte naquele momento.
Clara tinha mudado muito desde os tempos em que haviam sido amantes. Agora tinha 17 anos, cabelo curto e cacheado, e suas sobrancelhas se uniam em uma linha contínua sobre o nariz. Tinha uma figura magra e seu rosto parecia vazio, como se não houvesse nada dentro dele. Quando viu Cedric, expressou tanto repulsa quanto raiva em seu olhar.
- Clara - disse Cedric - peço perdão por vir aqui. Mas preciso falar com você.
Lysander começou a chorar baixinho em seus braços e Clara se aproximou para observar o bebê. Então disse a ele: - Enfim o karma fez algo bom. Agora você terá que se responsabilizar por esse ato, Cedric.
Depois dessa declaração, Clara bateu a porta na cara deles. Sem que Cedric pudesse dizer uma única palavra.
Cedric caminhou até a praça mais próxima e sentou-se em um banco. Lá, enquanto Lysander brincava com suas mãos, observou a lista de ex-namoradas na roupa de baixo de sua jaqueta. Riscou o nome de Clara com certo desprezo. Ela não podia ser a mãe de Lysander, não depois de parecer tão surpresa.
Assim que riscou o nome de Clara, sua mão se moveu para outra ex-namorada chamada Camila Lancaster. Ela era uma garota encantadora e sexy, com cabelos longos e ondulados e olhos verdes brilhantes como pérolas. Tinha 28 anos e era dona de uma boate chamada O Sátiro, localizada no centro da cidade. Camila tinha uma vida cheia de homens e era propensa a manter relacionamentos sem compromissos emocionais. Parecia ser perfeita para a situação, dado que ele não queria responsabilidades.
Quando estava com Camila, ele tinha sentido um tipo de encantamento, como se ela o atraísse e o mantivesse em sua esfera de influência. Aquela sensação o lembrava de ser o alimento de uma aranha, por isso terminou com ela. E naquele momento Camila estava no topo de sua lista.
De repente, ouviu-se uma explosão na distância. A fumaça começou a subir no ar e as pessoas começaram a correr na direção oposta. Lysander começou a chorar com mais intensidade. Cedric o abraçou e disse:
- Não se preocupe, garoto. Estamos perto de casa.
Desde o início, Cedric culpou os magos negros.
- Esses loucos estão começando a atacar em plena luz do dia - disse ele. Levantou-se e carregou Lysander em seu peito enquanto corria em direção à sua casa, buscando proteger o bebê de qualquer perigo.
Cedric se sentiu internamente culpado por Lysander. Se não fosse pelo bebê, ele poderia ter lutado contra os magos negros e protegido a cidade. Se sua mãe não tivesse deixado o menino em uma cesta na porta de sua casa, ele não estaria fugindo como um covarde agora.
Quando chegou em casa, ficou no quintal e olhou para cima. A fumaça ainda subia do prédio que havia sido bombardeado.
Cedric olhou para fora, onde a fumaça começava a se dissipar e desenhava padrões no céu. Suas mãos estavam amarradas atrás das costas. Seria repreendido na Academia de Magos e repreendido por seus amigos.
Havia um acordo entre todos os magos: se um ataque de magos negros começasse, cada um tinha que ir ajudar. Esse era o código, essa era a regra. Agora Cedric não podia segui-la porque se o fizesse, perderia Lysander. Ele tinha que encontrar uma maneira de resolver a situação sem colocar o bebê em perigo.
Pensou em Camila e em O Sátiro. Esse era o lugar onde ela provavelmente estava. Talvez pudesse conversar com ela e descobrir alguma coisa sobre Lysander.
Cedric pensou em suas tarefas pendentes: encontrar a mãe de Lysander e defender a cidade contra os magos negros. Ele tinha que escolher entre um e outro, mas não conseguia decidir qual era mais importante.
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