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Quebra De Contrato

Rainha de Gelo

Meu punho se colide contra a ponte do nariz do bastardo com pressão o suficiente para fazer a cabeça dele ser jogada para trás, o sangue se espalha pelo ar e até mesmo algumas gotas pingam em meu rosto. O merdinha cai de bunda no chão cobrindo o rosto ensanguentado com ambas as mãos, o líquido rubi não para de escapar por entre seus dedos. Será que quebrou?

— Próximo — falo alto e em bom-tom massageando meu punho. Os amiguinhos do bastardo me encaram horrorizados em suas poses ridículas. O colégio em peso está rodeando essa cena erguendo seus celulares ou pedindo por mais violência, bando de animais.

— Eu serei o próximo, senhor García! — o professor Girafales agarra meu braço bastante bravo, o nome dele não é exatamente esse, mas como ele é idêntico ao ator não tivemos muito o que fazer. — Sua luta vai ser com o diretor Foster, seu vândalo.

Os adultos se reúnem em volta da minha vítima exasperados gritando por ajuda. Acho que é muito drama chamar uma ambulância para um narizinho quebrado, para que serve a porcaria da enfermaria? Reviro os olhos enquanto sou arrastado pelo professor Linguiça pelos corredores escutando seus sermões, escutando meu nome na boca de todos os alunos. Essa deve ser a minha quarta medalha por ficar mais de uma semana sendo o assunto da escola, estou um pouco orgulhoso.

Afinal quem vai me julgar? Você? Sinceramente qualquer um se sentiria indignado no meu lugar, os caras ficam no meu pé tentando me humilhar de todas as formas possíveis. O motivo? Estou em uma terra estrangeira e esses garotos não vão com a cara de brasileiros. Da próxima vez não será apenas o nariz que irei quebrar.

— Espere aqui, delinquente. — O professor bate o pé com força no piso me deixando sozinho na porta da diretoria.

...— Informações sobre Benjamin García —...

...1° Tem 17 anos....

...2° Tem potencial para ser um dos melhores alunos....

...3° Ao todo, já se envolveu em 150 brigas dentro do colégio....

Entediado, espio pela abertura na porta percebendo a presença de mais uma pessoa. Um cheiro frio exala pelo ar. Uma mulher, aluna ou responsável. Empurro a porta lentamente para bisbilhotar, me deparando com uma cabeleireira ruiva gigantesca. Ando de fininho até a mesa do diretor e me sento na cadeira ao lado dela. A moça está petrificada e para ela tanto faz minha presença.

Me inclino e fico tamborilando os dedos na mesa, disfarçando algumas olhadelas sem acreditar no tamanho do cabelo dela que cai por seu ombro e descansa em seu colo, é bem bonito. Percebo que ela está carregando um livro, então logo imagino que deva ser a professora substituta. É a mais nova que temos até agora, talvez esteja na casa dos vinte e pouco. 

Esqueço de disfarçar minhas olhadas e acabo me deparando com o olhar frio dela sobre mim. É exatamente o olhar reprovador de uma professora me lembrando qual é o meu lugar.

— Ora, um aprendiz briguento — diz ela quebrando o silêncio. Em seus olhos há um charme de avelã implacável. — Espero que as chances de ser meu aluno sejam baixas.

Ergo os punhos

— Foi em legítima defesa.

Ela une as sobrancelhas mesmo que seu rosto ainda permaneça petrificado como o de uma estátua.

— Como poderia ser? — a professora substituta faz um círculo com o dedo indicando meu rosto. — Não tem um único arranhão.

Dou de ombros.

— Olha, na minha perspectiva a violência foi criada para a defesa pessoal.

— Exatamente as palavras de um valentão. — Ela retruca de maneira áspera.

Me viro completamente para ela.

— Não sou do tipo que corre atrás de confusão, respeito meus professores, eles fazem a parte deles e eu faço a minha — gesticulo dando ênfase nas palavras. — Mas se alguém me tirar do sério, eu vou descer o cacete sem piedade.

Não sou de ficar desconfortável, mas é meio complicado quando tem uma mulher tão bonita te encarando de uma forma fria. Ela mantém seus olhos tão presos aos meus que me sinto desafiado a entrar no jogo. Quem desviar o olhar perde.

Aos poucos vou me dando conta de que seus olhos de avelã não são sua única arma em nosso jogo. As mechas ruivas parecem se sobrepor umas às outras, o batom rosado em seus lábios é vislumbrante. Aguento o máximo que consigo até perder as forças e desviar o olhar.

— Seu sotaque é engraçado. Não é daqui, certo? — ela retorna para a conversa ignorando completamente a batalha silenciosa que tivemos há poucos segundos. Até mesmo as palavras desta mulher parecem ser feitas de gelo.

Encosto meu corpo contra a cadeira e relaxo os músculos.

— Diretamente do Brasil — cria do Rio, contenho um sorriso pela minha piada interna idiota. — Sou meio novato aqui no Missouri.

A professora substituta se vira para a mesa do diretor sem perder sua postura, mantendo sua classe elevada no queixo erguido.

— Interessante.

Tenho muita pena dos caras que já tentaram chegar nela, principalmente aqueles com papos meios tortos e sem sentido. Estou me sentindo frustrado nessa troca de palavras sendo que eu sou apenas um mero aluno, imagina um adulto interessado nela. Interessado em uma mulher que eu posso perfeitamente apelidar de "Rainha de Gelo".

Deixo outra olhadela escapar para o colo dela notando o livro com diversas fórmulas, entregando o papel dela aqui. 

Levo as mãos atrás da cabeça.

— Para seu azar, estamos sem professora de matemática.

Ela suspira após se passar um minuto e depois me responde esfriando a sala:

— É uma pena. Meu nome é Amaryllis Griffin, a professora substituta.

...— Algumas informações sobre Amaryllis Griffin —...

...1° Tem 26 anos....

...2° Costuma se exercitar durante as madrugadas dos fins de semana mesmo odiando....

...3° Raramente elogia outra pessoa independentemente de seu título....

Apertamos as mãos e, para minha surpresa, elas estão quentes como as de uma pessoa normal.

— Benjamin García — aperto os olhos. — Amaryllis é muito pesado, não?

— É uma flor ornamental.

— Então seus pais são fãs de flores, os meus são bem otimistas.

Benjamin soa muito como algo próspero aguardando os dias bons de uma vida difícil, meus pais estavam inspirados de certo modo.

Amaryllis Griffin puxa delicadamente uma mecha de seu cabelo.

— Na verdade, não, eles detestam jardins e qualquer obra da natureza.

Antes que eu consiga ao menos pensar nas palavras dela, o diretor Foster invade a própria sala com passos ligeiros até estar com a bunda pregada em sua cadeira. Pelo visto ele foi enfeitiçado, pois tenho a nítida impressão de que ele não me viu aqui.

O que posso dizer sobre o nosso diretor? Ele é calvo, barbudo e orelhudo, e mais um pouco de calvície. Também é muito espalhafatoso dentro do terno azul.

Ele folheia algumas páginas do documento sobre a mesa sem deixar de apreciar a professora substituta. Compreendo sua angústia, diretor, não temos ruivas no colégio, Amaryllis é uma peça rara, uma flor ornamental.

O diretor Foster apoia os cotovelos na mesa e descansa o queixo em suas mãos unidas. 

— Me perdoe a espera, senhorita Griffin. Já organizamos tudo e sua primeira aula começará em alguns minutos. Estamos felizes em tê-la aqui conosco — mostra sua simpatia com estupenda alegria, mas troca de expressão ao olhar para mim. — Por outro lado, me entristece as atitudes de um certo rapazinho.

Ergo as mãos sem a intenção de discutir, não é a primeira e nem será a última vez que levo sermão dele. Posso apenas aceitar, não vou parar de me defender e muito menos ele vai parar de me dar corretivos.

Amaryllis Griffin se levanta agradecendo ao diretor pela oportunidade e se retira da sala. O diretor Foster inicia seus sermões inúteis. Meus olhos involuntariamente acompanham os movimentos dela. Ela é um salto alto, um vestido negro, um cabelão ruivo e curvas deslumbrantes, até mesmo a bunda dela é deslumbrante, droga.

A pergunta que não quer calar é: como vou conseguir prestar atenção na aula desse jeito?

Em pleno destaque

Observo os assentos formando um círculo incompleto na confortável sala destinada aos educadores com paredes brancas enfeitadas com quadros, acredito que sejam medalhas. Títulos orgulhosos como "Melhor Professor do Ano", "Professora Mais Amada". Normalmente estaria revirando os olhos para coisas tão bregas, não busco títulos, busco reconhecimento pelo meu trabalho.

A porta se abre e rapidamente é trancada, o senhor Foster faz questão de trancá-la. Ele abre os braços, seu sorriso consegue se abrir ainda mais, perdendo o jeito de um homem sofisticado, a maioria deles age da mesma forma.

— Está feliz, querida? — pergunta Foster mexendo em sua gravata.

— Bastante, senhor Foster. — Me apoio em uma das cadeiras, percebendo que o olhar dele está preso em minhas pernas.

— Não seja tão formal, querida, estamos a sós.

O homem está completamente paralisado, algum tempo depois ele parece retomar o controle e voa em minha direção agarrando minha cintura enquanto beija meu pescoço. Foster me faz recuar até a parede extrema, minhas mãos passam por seus ombros, sua barba faz cócegas em minha pele.

Duvido muito que ele tenha algum título grande como "Diretor Mais Aclamado do Missouri", mas assim que o conheci, fui fisgada primeiro pela recompensa de ter um caso com ele, e depois pelo mísero fato de que sua boca sabe como me satisfazer.

Foster está apalpando minhas coxas, pronto para iniciar uma guerra ali mesmo, mas é impedido antes que encontre meus lábios. Seguro seu rosto, afastando-o do meu.

— Espere um pouco, teremos muito o que conversar hoje à noite. Tenho que ir trabalhar agora.

Suas orelhas ficam vermelhas e seus olhos estão repletos de desejo, no entanto ele obedece.

— Está bem, tentarei resistir.

A expressão gravada na face de Foster quando nos afastamos é de pura selvageria, quer me devorar de uma vez por todas. Admito gostar um pouco desse lado dele, mesmo que me assuste um pouco. Já deixei homens loucos, mas não cheguei ao ponto de fazê-los me encarar daquela forma como se eu fosse a única coisa que importasse no mundo.

Abandono o diretor Foster, pronta para iniciar meu trabalho. Atravesso dois corredores vazios que logo estarão inundados de adolescentes barulhentos. Paro em frente à minha sala, me preparando com um suspiro e passo pela entrada abraçando meu livro. Os alunos estão despojados, jogando conversa fora, meu bom-dia não sai tão alto quanto deveria sair, porém consigo captar a atenção deles fazendo um barulho bem alto deixando o livro grosso cair sobre a mesa.

— Bom dia, turma — coloco os braços atrás das costas, dando tempo para eles se sentarem direito. Os garotos são os primeiros, as meninas parecem desconfiadas. — Serei sua professora substituta, Amaryllis Griffin.

Sou recebida com um "seja-bem-vinda". Varro a sala pelo mar de cabeças até encontrar um par familiar de olhos. Olhos calmos como âmbar, cabelo preto se embolando no topo de sua cabeça. Benjamin García está no centro da turma com os braços cruzados. Pela largura de seus ombros e o formato de seu rosto, arrisco a imaginar o tipo de homem que irá se tornar. Ele estava quieto antes mesmo da minha presença, o único isolado do bando.

Andando de um lado para o outro, explico como abordaremos cada assunto e não consigo evitar a satisfação de estar finalmente dando aula. Me formei com muito esforço, adquiri experiência em estágios e agora posso me orgulhar disso.

Minha explicação e meu devaneio são interrompidos:

— Ei, professora, tente não ser tão chata como a última.

Localizo o garoto responsável pela interrupção e dou alguns passos até seu assento.

— Ok, estou aberta a sugestões.

Ele mostra seus dentes em um sorriso suspeito, passando as mãos pelo cabelo e encarando seus colegas.

— Que tal brincarmos daquele jogo onde você faz uma pergunta para cada aluno enquanto tira uma peça de roupa?

Continuo séria em meio aos risos que escalam as paredes. Ah, sim, o palhaço. Sempre haverá um, independente de onde você vá.

De repente, Benjamin empurra sua cadeira para trás, fazendo caminho até o garoto piadista, agarra a nuca dele e pressiona seu rosto contra a mesa.

— Mais respeito, Charles, seu merdinha.

A sala fica em silêncio, fomos pegos de surpresa pela atitude dele. Os risos param, menos os cochichos.

— Benjamin, tudo bem. — Levanto a mão, me apressando para evitar uma confusão no meu primeiro dia.

— Eu não fiz nada, filho da puta. — Charles se debate, mas é solto quando o garoto me obedece.

Charles lança um olhar perigoso para o colega, passando a mão na própria nuca. Engulo em seco tentando não perder a postura. Os olhos de todos eles estão caindo em mim agora, estão esperando a adulta aqui mostrar o porquê deveria ser respeitada.

— Vamos jogar, então. — Cruzo os braços parando na frente de Charles.

Ele fica sério, talvez incrédulo. Levanto um dedo e prossigo: — Toda vez que eu fizer uma pergunta e você errar, perderá pontos.

Charles salta da cadeira.

— Espera um momento, eu sou péssimo em matemática.

Pisco lentamente, tomando controle da situação ao perceber que os alunos já não me encaram de maneira suspeita.

— Então, acho bom o senhor estudar bastante.

O silêncio permanece. Lanço uma olhadela de agradecimento para Benjamin, que finalmente encontra um motivo para se sentar novamente. Jurava que as suas palavras eram falsas, pois elas me conquistaram. Prevejo um laço entre nós dois, somos parecidos, não ficamos apenas nas palavras, também sabemos agir.

Amarílis

Guardo minhas mãos dentro dos bolsos do moletom preto. Mantenho a cabeça erguida, fazendo todos se desviarem do meu caminho pelos corredores. Posso escutá-los perfeitamente comentando sobre o acontecido há algumas horas. Pelo visto, sou oficialmente o delinquente odiado. Bom, "odiado" é exagero, os nerdolas estão me admirando e algumas garotas até mesmo mostram interesse.

Uma alma inconveniente decide permanecer no meu caminho. 

— Oi, lindinho, o que acha que está fazendo?

Scarlett coloca as mãos na cintura inclinando levemente o torso.

Dou de ombros fazendo uma cara feia.

— Indo pra casa?

— Você quebrou o nariz de um garoto e agora ele está em um estado irreconhecível. Como pode andar por aí tão tranquilo, idiota?

Scarlett aponta o dedo na minha cara. Ela é chamativa, seja pelo degradê castanho presente em seus cabelos toda vez que sua cabeça se mexe ou pela blusa justa expondo a barriga e um piercing. Também veste uma jaqueta com seu ex time de líderes de torcida.

...— Algumas informações sobre Scarlett Hoover —...

...1° Tem 17 anos....

...2° Foi adotada aos sete anos de idade....

...3° Colocou seu primeiro piercing no aniversário de onze anos escondida do pai adotivo....

Levanto o punho.

— Foi só um soquinho, ele é muito dramático, isso sim.

— É melhor irmos embora antes que mais garotos venham atrás de você.

Scarlett me puxa pelo braço às pressas. Não somos namorados, mas é o que parece aos olhos alheios. Há três anos poderíamos ter tido alguma coisa quando me confessei com uma carta de amor idiota e fui recompensado com uma humilhação pública onde a menina dos piercings gritou por todos os telhados que jamais daria bola para um latino de merda.

Bom, agora quem não quer sou eu. Tenho que aturá-la como colega porque não posso fazer nada a respeito, mas não vou mais dar moral como fiz há três anos. Relacionamentos servem apenas para gerar dor de cabeça, viver dia após dia no mesmo estresse, acumulando coisas desnecessárias.

Percebo que tem algo a mais chamando atenção da galera durante a saída. A professora substituta passa por mim com seu salto alto e seu cabelão ruivo. Desacelero os passos captando a fragrância que ela deixou para trás; um aroma gelado assim como suas palavras.

Alguma vez na vida já me senti tão atraído assim? 

Escapo dos braços de Scarlett e ando depressa na mesma direção que Amaryllis Griffin foi.

— Ah, pode ir na frente, Scarlett, tenho que resolver uma coisa. — Grito por cima do ombro.

— Vai procurar confusão de novo, garoto? 

Seguindo o trajeto dela, dou a volta pelo colégio passando pelos diversos carros dos alunos. Percebo que a professora substituta continua caminhando se afastando do estacionamento e indo para o canto mais deserto, talvez ali esteja seu carro. 

Descarto a ideia assim que ela abre a porta do passageiro de um Jeep azul. Apenas uma pessoa possui um Jeep nesse lugar. Por um instante, vejo o diretor Foster ao volante, vidrado na mulher que se senta ao seu lado, uma expressão de pura depravação. A professora vira a cabeça na minha direção antes de bater a porta, por sorte me escondo antes de ser flagrado.

Não faz sentido eu me sentir frustrado por um motivo tão idiota desses, quem se importa se o diretor está trepando com ela? O que eu tenho a ver com isso? Por que eu a segui para início de conversa?

— Você é muito rápido.

Scarlett está atrás de mim, arquejando fortemente com as mãos no joelho.

— Mandei ir pra casa. — Passo por ela irritado por sabe se lá qual motivo.

— Vamos para a minha — rapidamente ela se propõe a caminhar ao meu lado. —Deixa eu cuidar do seu punho.

— Está preocupada comigo? — deixo um riso escapar. — Deveria fazer companhia para o garoto que está no hospital.

— Claro que é só uma desculpa, idiota — declara, socando meu braço. — Quero é ver o que tem debaixo da sua camisa.

Scarlett cobre a boca, envergonhada. Logo seu rosto fica vermelho virando a cabeça de um lado para o outro.

— Quem sabe algum dia. — Balanço a mão no ar.

— Sério mesmo? — ela segura meu braço mais uma vez.

Ignoro os puxões de Scarlett.

Estou concentrado em saber por que fui correndo atrás dela, conversamos por alguns minutos na diretoria mais cedo, ela é linda e atraente, atraente pra cacete. Não é muito difícil encontrar pessoas com essas características por aqui, mas nenhuma delas poderia ter um cheiro tão frio. O diretor Foster está saboreando o perfume dela e isso me incomoda.

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