Dandara Villar
E sabe aquele conto de fadas perfeito? Pois é, ele não existe na vida real! Ah, mas se você encontrar o seu amor verdadeiro e blá-blá-blá....
Ok! Eu sou fruto de um amor verdadeiro, isso eu posso afirmar, porque até hoje, depois de mais de 20 anos de casados, meus pais parecem tão apaixonados que eu desejei isso pra mim.
Porém eu direcionei essa expectativa em um sapo feio e asqueroso, que vestia uma pele de príncipe loiro de olhos azuis, de boa família e com o sorriso gentil... pena ele ter me marcado da forma mais cruel e baixa possível, arrancando de mim todos os meus sonhos e deixando para trás uma cicatriz profunda, a desilusão de uma menina sonhadora, e um coração que eu nunca mais vou confiar a ninguém!
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Maria Eduarda
— Bom dia princesa da mamãe! — abro as cortinas do quarto da minha princesa, que sorri e vai se espreguiçando.
— Bom dia mãezinha! — ela senta na cama e estica os braços, e eu dou um beijo em sua bochecha. — Dormiu bem? O papai já saiu para o hospital?
— Dormi bem sim, meu amor. — faço carinho nos cabelos da minha menina, cacheados como os meus.
— Seu pai está tomando café, se você se apressar, consegue uma carona com ele.
— Oba! Vou só tomar um banho correndo e já desço! — ela pula da cama, exatamente como fazia quando era criança, e eu fico olhando e pensando... como minha pequena cresceu, hoje já é uma mulher feita!
Mas antes de sair correndo, ela me abraça apertado e me enche de beijos.
— Agora sim, dona Maria Eduarda, um bom dia! — sorri, satisfeita.
— Te amo, minha princesa, agora já pro banho! — finjo estar brava e ela sai rindo, mas para na porta do banheiro.
— Mãe, o Uly chegou bem tarde ontem, deixa ele dormir mais um pouquinho, hoje ele só tem aula na faculdade mais tarde.
— Seu irmão e essa vida de tocar nesses bares... — resmungo.
— É o sonho dele mãe... — faz bico. Nunca vi irmãos que se defendem tanto, e agradeço por meus filhos serem tão unidos.
— Tá, tudo bem! — acabo concordando. — A sorte do Yuri é que eu e seu pai apoiamos os sonhos de vocês, senão..
— E por isso vocês são os melhores pais do mundo inteiro! — ergo uma sobrancelha e apoio as mãos na cintura.
— Uhum, sei bem... vai tomar seu banho e desce pra tomar café. — ela me joga um beijo e eu retribuo, antes de sair do quarto e descer as escadas, indo até a sala de jantar.
Vejo meu marido concentrado, lendo algo no Tablet, que eu retiro gentilmente de suas mãos e ponho sobre a mesa, o que faz ele me dar um sorriso de lado e tirar os óculos, me encarando.
— Já acordei a Dandara, meu amor! - apoio minha mão no ombro do meu marido e me inclino, prestes a beijar seu rosto, e confesso que o perfume do meu playboy mexe comigo até hoje, como se fosse a primeira vez.
— Senhora Villar, eu estava lendo as notícias, sabia? — me olha, com um sorriso divertido no rosto.
— Sem telas quando estivermos fazendo as refeições, meu playboy. — dou uma piscadinha para ele, ainda com o corpo inclinado e ele se aproveita da posição e me envolve em seu braço, me puxando e me colocando sentada sobre suas pernas.
O olhar do meu Gui sempre foi carinhoso, ele é um marido incrível, um pai maravilhoso, e eu nem preciso citar o quanto eu sou totalmente e completamente apaixonada por esse meu loiro lindo, que me causa suspiros, ainda mais quando ele está todo sério, de jaleco branco, andando a passos firmes pelo corredor do hospital... meu diretor linha dura!
— Morena, sabe que dia é hoje? — ele pergunta, enquanto acaricia meus ombros e desce a mão grande pelos meus braços.
— Como eu poderia esquecer, meu playboy? - acaricio o rosto do meu marido, olhando bem no fundo daqueles olhos verdes. — Hoje é o dia em que comemoramos o aniversário do nosso primeiro beijo. — suspiro, sentindo uma emoção enorme me tomar. — Me lembro nitidamente daquele estacionamento, de como você estava lindamente vestido, do seu sorriso Gui, e de como eu estava bobamente envolvida e morrendo de medo de fazer algo errado e você sair correndo, porque era a primeira vez que eu beijava um rapaz... foram tantas primeiras vezes entre nós, meu amor, e eu não me arrependo de você ter sido o primeiro em nenhuma delas, porque foi com você, o meu Dr. Fantástico! — nós dois sorrimos, sem deixar de nos olhar. Sei bem que já fazem anos, mas eu afirmo com muita certeza, que meu coração continua sendo desse homem, e erra as batidas exatamente como no primeiro toque, no primeiro beijo...
— Eu sou inteiramente seu, exatamente como naquela tarde, minha morena. O meu amor por você só aumentou e se fortaleceu, e não existe nada que se compare a felicidade de ver você sorrir, minha pequena. — se a intenção desse meu playboy cinquentão, gato, cheiroso e que arranca suspiros de mim todos os dias, era de deixar totalmente corada e emocionada, então ele conseguiu.
O beijo dele não mudou, ou melhor, mudou sim, porque hoje temos uma intimidade única, e por isso nossas línguas têm uma sincronia perfeita!
— Olha, eu poderia ser a filha chata e dizer: Eca, que nojo! Mas vocês são tão lindos assim, juntos, que eu não seria incapaz de ser insensível e pirralha a esse ponto! — nós nos afastamos e nos viramos, encarando nossa filha, que vem até nós e nos dá um beijo na bochecha e recebe um abraço duplo, cheio de carinho.
Tomamos nosso café da manhã num clima bem leve, ouvindo nossa menina contar sobre as novidades da residência e o quanto ela está feliz com o casamento "surpresa" da Maria Isis.
Nós já sabíamos a maioria das novidades relacionadas ao trabalho, porque afinal ela trabalha no mesmo hospital onde o meu marido é diretor. Mas vê-la animada, traz conforto ao meu coração, porque eu vi a minha menina passar por momentos difíceis, mesmo que ela não tenha dito nada, eu sei que algo muito, muito sério deixou marcas nela, e isso me doeu como mãe, pois ela se fechou para nos poupar, e apesar de eu ter questionado inúmeras vezes, ela sempre desconversava, então preferi dar a ela amor e carinho, o que foi ajudando minha princesinha cacheada a sorrir novamente.
— Morena, só hoje, me deixa comer só um pedaço do bolo de cenoura? — a carinha do meu marido me faz sorrir... pensem num homem dramático!
— Suas taxas de açúcar ainda estão altas, Dr. Villar, então não, você não pode! — ele faz bico. — Mas se comer sua tapioca com queijo branco, prometo que não te controlo hoje a noite e deixo você comer alguns docinhos no jantar de casamento da Isi. — falo, vendo meu marido sorrir feito criança... ele ama doces, um hábito nada bom que adquiriu depois do nosso casamento, pois antes o meu Gui não era muito chegado.
— Hum, tapioquinha com queijo e tomate. Delícia!
Eu e nossa filha nos acabamos de rir, porque ele reclama diariamente por eu ter mudado a alimentação dele, por conta dos resultados dos exames terem mostrado taxas de açúcar um pouco elevadas, e ele anda muito estressado ultimamente, culpa da pressão de ser diretor do hospital. Por esse motivo eu mudei um pouco as coisas aqui em casa, e hoje faço o mínimo de doces possíveis, mas o bolo de cenoura com ganache dos meus bebês, ah isso eu não posso deixar de fazer!
— Mãe, posso levar um pedaço de bolo? Prometo que não dou ao papai no caminho. — nossa filha sorri e meu marido estreita os olhos.
— Duda, sua filha sabe que vai precisar da minha carona, não sabe? — ele agora cruza os braços e ergue uma sobrancelha, encarando a Dandara, que pressiona os lábios, segurando a risada.
— Bom dia família mais amada e falante de Nova York! — nosso filho aparece, com seu bom humor matinal de sempre.
— Bom dia! — respondemos e ele ganha muito carinho de todos nós, se sentando e encarando o pai.
— Mãe, a senhora não vai acreditar, mas ontem eu cheguei de madrugada, e adivinha o que eu vi?! — Guilherme endireita a postura e limpa a garganta, e eu já até imagino o que seja, mas vou dar corda...
— Não faço ideia! — digo, torcendo a boca.
— Dr. Guilherme Villar... roubando pudim escondido na geladeira! — meu filho já está se acabando de rir e meu marido o cozinhando com o olhar.
— Garoto, nós somos homens! Eu sou seu pai e você deveria ficar do meu lado! — meu marido bufa, meneando a cabeça.
— É ruim hen pai! Eu amo o senhor, mas quem faz meu bolo de cenoura de todo dia, e tem a melhor portaria no lançamento de chinelo?! É a mamãe! Isso se chama prioridade, senhor Villar. — Yuri pega seus três pedaços de bolo e come com gosto, sorrindo da cara de bravo do pai.
— Ihhh, vamos logo, Sr. assaltante de geladeira noturno, antes que a general Duda revogue o seu direito de comer doces no jantar, mais tarde! — Dandara se levanta e beija minha testa, dando também um beijo no irmão. — Vê se come e volta a dormir, Uli. Você chegou tão tarde ontem que eu nem vi. — ela resmunga, com a mão apoiada no ombro dele.
— Pode deixar, maninha. É que a fome falou mais alto que o sono. — ele sorri e minha filha revira os olhos.
— Verdade! — meu marido se levanta. — Mas minha morena é maravilhosa e não faria isso comigo... não é, amor? — impossível isso! A cara desse homem nem treme!
Respiro fundo e meneio a cabeça, vendo nossos filhos rindo discretamente da cara de cachorro pidão que o pai faz.
— Ah, eu faria! — respondo, me virando em direção às escadas.
— Morena... Duda, meu amor... foi só um pedacinho... estava tão apetitoso, amor... — ele vem atrás de mim e eu só sei rir, mas de costas para ele, é claro... vou dar um mole desse?! Aprendi com dona Isadora, que faz o Sr. Dutra andar miudinho até hoje!
Amo a família que construí ao lado do meu marido, amo a relação que temos, a cumplicidade, o amor e o respeito. E meu desejo de mãe, é que meus filhos, Dandara e Yuri, encontrem o mesmo amor que eu e o Guilherme encontramos, vivam algo tão forte quanto o que nós dois vivemos até hoje... espero que isso se realize!
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Bateu saudades? Então corre lá no livro Amor a Primeira Vista, para relembrar a estória de Gui e Duda. Vale a pena!
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Dandara
Um dia corrido na residência em pediatria, mais um dia normal na vida dessa residente aqui, e olha que só passou meio plantão!
— E então, princesa dos cachos, vamos almoçar?— sorrio, e recebo um abraço da minha metade da laranja, Maria Isis Donartti Blake.
— Bora encher o buchinho! — respondo, com uma expressão divertida, enquanto caminhamos abraçadas até o restaurante do hospital.
Minha história com a Isy é engraçada. Há uns anos atrás minha mãe estava grávida dessa preciosidade que sou eu, e no aeroporto prestes a embarcar para o Brasil, onde nossos familiares moram. E um marido desesperado aparece e implora ao meu pai para operar sua esposa, que tinha sido atingida por um tiro e estava num hospital correndo risco de vida.
Minha mãe, com toda a sabedoria que só dona Maria Eduarda tem, entendeu a situação e pediu ao meu pai que ajudasse o pobre homem, desesperado pra salvar sua esposa. E quem eram? Simplesmente tio Nicollas e tia Mariana!
Anos depois, já crescidas, eu e a Maria Isis nos encontramos na faculdade e nos tornamos amigas. Uma coincidência incrível, pois ela acabou vindo trabalhar no hospital onde meu pai é o diretor, e quando comecei a residência, nos tornamos colegas de trabalho também. E agora somos a dupla dinâmica... só que ao invés de Batman e Robin, somos Dandara e Isis!
Nos sentamos para almoçar, e enquanto a Isy demora uma eternidade para comer, eu devoro meu peito de frango grelhado com creme de milho, arroz e salada em poucos minutos.
— Isso é falta de apetite ou preocupação, amiga? — questiono, apontando com o queixo, para o prato dela, quase intocado.
Um suspiro desanimado e os ombros caídos da minha amiga já me respondem, sem que ela precise abrir a boca. Dou um sorriso carinhoso e seguro sua mão, apoiada sobre a mesa, em uma tentativa de conforto.
Eu queria poder dizer que tudo vai ficar bem, que logo o Tenente vai estar de volta e que ele preparou um jantar maravilhoso para celebrar a união deles, mas eu não posso. Porque?
Bom, prometi ao Carter que não abriria minha linda boca, que manteria a noiva dele muito bem entretida e sem a mínima chance de desconfiar da tal surpresa. E além disso, eu meio que sou cúmplice e ajudei ele, dando dicas do que ela gosta, ajudando a tia Mari a escolher flores e decoração, resumindo, eu estou até o pescoço nisso e louca para ver a carinha de felicidade da minha amiga quando chegar ao local, hoje a noite. Tenho certeza de que ela vai chorar litros, e obviamente, eu também vou, pois somos duas emocionadas!
— Estou sofrendo por antecipação? Sim. Mas não sei como vou ficar semanas longe dele, amiga. — ela dá outro suspiro, segurando minha mão e fazendo um bico.
— Você vai chorar, é fato. — ela dá um sorriso fraco. — Não vou mentir, imagino que vai ser difícil, mas ainda assim, eu tenho certeza de que você é forte o suficiente para passar por esse período longe, e quando ele voltar, vocês vão estar loucos de saudades um do outro e o sentimento entre vocês ainda mais fortalecido, você vai ver. — vejo minha amiga pressionar os próprios lábios.
— Dara, eu não sei se já te disse, mas a minha vida tem mais sentido com a sua amizade, sabia?
— Pois é?! É como eu digo, eu sou essencial! — finjo me gabar e ela só assente, com um sorriso mais descontraído dessa vez. — E como prova de que eu sou uma amiga maravilhosa, vou aproveitar a desculpa das suas noites solitárias, para arrastar você e a baby Lary para a minha casa, nos entupir de sorvete, chocolate e outras porcarias que nós vamos consumir, em muitas noites do pijama! — afirmo.
— Hum, é bom saber que minha futura tristeza vai te dar motivos para se entupir de doces e furar a dieta, amiga. — me olha, com a sobrancelha erguida, meneando a cabeça.
— Desculpa?! — ponho a mão no peito, com cara de indignada, mas logo deixo a atuação e dou de ombros. — Tenho que tirar proveito de você, gata! — pisco pra ela, que me joga um guardanapo de papel, e nós duas sorrimos.
Bom, o meu almoço segue tranquilo, mas confesso que vez ou outra dou uma olhadinha discreta para uma certa parte da lanchonete, onde um homem muito sério, vestindo um terno preto impecável, cabelos penteados milimetricamente para trás, barba por fazer, ombros largos, mãos grandes, unidas na frente do corpo e um semblante de dar medo, está parado há bons minutos, observando tudo através das lentes dos seus óculos escuros.
— Amiga, olhar não arranca pedaço, mas também não vai te ajudar a conseguir o telefone do Ethan. — desvio o olhar rapidamente, para encontrar o par de olhos verdes da Maria Isis me encarando. — Já disse que, se quiser, eu posso..
— Não, amiga. — a interrompo, mordendo o lábio de um jeito nervoso, movendo a perna rapidamente, em um sobe e desce que faz meu corpo se mover um pouco.
— Ei, calma. — a voz da Isy é calma, mas noto a preocupação. — Tudo bem se não quiser... eu só quero que se permita. — Seu sorriso carinhoso e o aperto em minha mão me fazem dar um suspiro, enquanto desvio meu olhar novamente na direção do Ethan, e mesmo com os óculos escuros, eu poderia afirmar que ele estava me olhando de volta... que coisa estranha!
Volta a encarar a minha amiga, antes de sentir uma dor fina no meu peito, e um aperto bem conhecido na garganta, algo com o qual aprendi a lidar...
— Eu agradeço seu apoio, amiga. Mas acho difícil ele querer... querer alguém como eu, que passou o que eu passei. Uma mulher marcada.
— Você não é uma mulher marcada! — ela afirma, com uma firmeza invejável, já que mesmo que eu repita isso para mim, dia após dia, ainda é difícil me convencer disso. — Você é incrível, e quer saber? — solto o ar com um pouco mais de força, pois sei que ela vai dizer, mesmo que eu negue.
— Eu acho que você deveria tentar! Ele está solteiro, é um cara sério, é verdade, mas isso tem suas vantagens. Um homem, Dandara Villar, não vai agir feito um imbecil, moleque, inconsequente. Um cara maduro, de bom caráter, eu acho que é disso que você precisa. E algo me diz, que o chefe de segurança da minha família precisa de uma boa dose de você, pra alegrar a vida chata e monótona dele.
Dessa última parte eu acabo rindo, porque imaginar o senhor mal humorado rindo das minhas piadas horríveis, isso sim é algo para me deixar, no mínimo, empolgada. Aliás, eu nunca o vi sorrir, na verdade. Será que ele sabe sorrir?!
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Volto ao meu plantão, como sempre, e hoje a parte da tarde foi mais tranquila, então só faço algumas visitas na companhia da minha tutora e depois, fico na pediatria, acompanhando alguns casos simples.
Às 5 da tarde, bato meu cartão de ponto e vou para o vestiário, mas no caminho de volta, depois de terminar meu banho, acabo esbarrando no tal Ethan, assim que ponho os pés pra fora da porta.
Ergo o rosto, ainda com meu corpo perigosamente perto do dele, e tudo o que consigo ver é o peitoral largo e duro feito pedra, e subindo mais um pouco, o maxilar desenhando, másculo, coberto pela fina camada dos fios escuros de sua barba por fazer. Engulo em seco quando o perfume marcante invade minhas narinas sem ao menos pedir permissão, arrancando minha capacidade de raciocínio e me fazendo ficar com a cara mais abobalhada do universo, e eu nem preciso de um espelho para saber disso.
Continuo na mesma posição, até ele limpar a garganta e, até o movimento do seu pomo de Adão, não passa despercebido aos meus olhos, porque até isso nele exala masculinidade. Sacudo a cabeça, voltando a minha normalidade, pelo menos o pouco que consigo, devido ao turbilhão de sensações que um simples esbarrão com esse homem causou em mim.
— Ah... eu.. me desculpa?! — dou um passo atrás, ainda com o pescoço erguido, para poder olhar no rosto da muralha à minha frente, mas não sei se sou eu ou ele quem deve pedir desculpas... torço a boca levemente, com esse questionamento.
— Desculpas aceitas, Doutora Villar! — a voz firme precede dois passos laterais, me dando espaço para que eu passe, e eu demoro alguns segundos assimilando tudo. Sujeitinho estranho!
Meneio a cabeça, com um sorriso incrédulo, antes de passar ao lado dele e seguir pelo corredor, ainda sem entender o porquê ele estava parado na porta do vestiário feminino, e porque aceitou minhas desculpas e nem retribuiu, já que agora que estou caminhando para fora do hospital, percebo que não fui eu a culpada do esbarrão, e sim o senhor muralha mal humorada! Aff!
— Você deveria voltar lá e confrontá - lo! — murmuro baixinho, passando pelas portas de vidro e sentindo o vento do fim de tarde me receber, bagunçando meus cabelos e me fazendo fechar os olhos e aproveitar a sensação do vento fresquinho do fim da primavera.
Porém meus sentidos são aguçados por aquele bendito perfume que parece ser se entranhado nas minhas roupas, nariz e pensamentos, e eu me irrito comigo mesma por isso, mas basta ouvir o ronco do motor de uma moto, para que eu abra os olhos e veja o senhor muralha mal humorada sentado numa moto preta, enorme diga-se de passagem, acelerando sem a mínima necessidade.
O vento que bagunça meus cachos, é o mesmo que parece que trás o perfume dele até a mim, me fazendo soltar o ar com um pouco mais de força que o necessário, enquanto me viro de costas e sigo meu caminho, assim que meu irmão para o carro e ouço a buzina.
Entro no veículo sem nem olhar para trás, o que não quer dizer que, assim que estou protegida pelos vidros escuros, não dou uma espiadinha, e encontro o senhor cheiroso encarando o carro com uma expressão, no mínimo, indecifrável no rosto... se bem que, indecifrável deveria ser o sobrenome desse homem!
Bufo e quando olho, meu irmão desvia o olhar de mim, para o condutor da moto preta gigante e nada discreta. E quando volta a me olhar, um Yuri com a expressão curiosa franze os lábios, parecendo intrigado.
— Eu deveria perguntar? — ele ergue uma sobrancelha.
— Não! — respondo, colocando o cinto.
— Ainda assim, quem é ele? — continua, tamborilando os dedos no volante, com o motor do carro ligado, mas sem parecer ter a intenção de sair do lugar.
— Porque perguntou se eu disse que não deveria perguntar?! — faço cara de óbvio.
— Porque sou seu irmão. Porque você é a nossa princesinha. Porque eu acho que aquele cara está te encarando muito, e porque você pareceu bem... mexida, eu diria. — ele volta a me encarar. — Então, você vai me dizer, ou vou ter que ir lá e perguntar? — eu pisco os olhos algumas vezes. Desde quando eu tenho um irmão tão ciumento?! A tá, desde o que aconteceu...
— É o chefe de segurança da família Donartti. Ele está fazendo a segurança da Maria Isis por conta de toda a história com a ex amiga traidora e o ex noivo babaca, satisfeito?! cruzo os braços sobre o peito e meu gesto parece liberar o perfume do Ethan, que parece realmente grudado na minha roupa, e que me faz puxar o ar com um pouco mais de força, como se eu ridiculamente quisesse guardar esse cheiro na minha mente.
— Por hora, sim. — meu irmão tomba a cabeça levemente, batendo o polegar no volante, dessa vez. — Mas eu acho que ele parece mais interessado em ficar de olho em você, do que na Isis. — dá de ombros.
— Uli, por favor, eu ainda preciso me arrumar, e tenho cabelos cacheados, isso leva o dobro do tempo, então pode por favor ir logo? — peço, o mais educadamente que consigo, antes de olhar discretamente para o lado e reparar que o senhor cheiroso continua no mesmo lugar, com a moto estacionada, mas agora mexe no celular.
Meu irmão meneia a cabeça, sorrindo, antes de finalmente sair do estacionamento do hospital, em direção à nossa casa. E durante todo o trajeto, um certo perfume me faz fechar os olhos, várias vezes... mas que droga!
O perfume desse homem deveria ser proibido! Como ele consegue ser tão cheiroso?!
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