Aquele dia estava estranho para mim, uma decisão difícil pesava em meus ombros. O homem à minha frente não era qualquer um, ele era Pablo, meu amigo de infância, crescemos juntos. Como é que tudo tinha chegado a isso?
— Já decidiu o que vai fazer com ele? — perguntou Cristóvão, me tirando dos pensamentos.
— Ainda não. Até a noite eu decido— digo sentindo o peso que era tomar aquela decisão.
— Ele é um traidor, chefe. Merece morrer como todos os outros! — Cristóvão diz impaciente.
— Já disse que decido até a noite, caralho! — respondi, irritado. O peso da decisão me esmagava. Ainda era difícil de acreditar que Pablo, aquele que confiava como um irmão, havia me traído, levando-me direto para uma emboscada da qual eu mal saí vivo.
— Deixe-me a sós com ele! — ordenei. Precisava de uma conversa particular com Pablo, tentar entender o porquê disso tudo.
Cristóvão saiu do galpão bufando, claramente frustrado. Ele queria acabar com Pablo, e eu sabia disso. Sempre teve a impressão de que Pablo invejava a minha vida.
Fiquei ali, frente a frente com o traidor.
— Por que fez isso, Pablo? — perguntei, a voz mais cansada do que furiosa.
— Achou mesmo que eu ia viver à sua sombra para sempre? — ele respondeu, com um desprezo que eu nunca tinha ouvido antes.
— Você não era minha sombra. Era meu amigo. Considerava você como um irmão, porra!— esbravejo chateado por ele ter feito o que fez, e por isso me fazer lhe dá a sua sentença.
— Eu nunca te vi assim. Pra mim, sempre foi um rival. Você ficou com a mulher que eu amava! Ela nunca olhou para mim porque eu parecia pequeno perto de você. Eu amava a Cecília, e você? Só a usou, como faz com todas!
Aquilo me atingiu como um soco. Eu não sabia que ele amava Cecília. Se soubesse, teria feito algo diferente?
— Eu não sabia que você a amava, Pablo. Por que nunca me disse? Sempre dei abertura para você falar comigo. E eu não a usei, sempre fui honesto com ela. Disse desde o início que eu não era homem para namorar.
— Você é culpado da morte dela! — Pablo gritou, sua voz carregada de ódio. — Ela morreu abortando um filho seu!
Fiquei paralisado. Cecília estava grávida? Como eu não soube disso?
— Eu juro que eu não sabia… — respondi, sentindo um peso esmagador de culpa. Se eu soubesse, teria feito algo. Talvez não me casasse com ela, mas teria cuidado dela e da criança.
— Merece morrer, miserável! — Pablo cuspiu as palavras. — Foi por isso que levei você àquela emboscada. Eu queria entregar sua cabeça numa bandeja para Santiago.
Santiago. Só o nome daquele desgraçado me fez perder o controle.
— Cala a boca! — gritei, interrompendo-o antes que ele pudesse continuar.
Respirei fundo, tentando me recompor. O que mais podia ser dito? Pablo já havia escolhido seu destino.
— Sinto muito, Pablo. Não era assim que eu queria que terminasse. Mas você não me deixou escolha. Faça uma boa passagem — digo com o coração partido.
Empurrei o banco que sustentava Pablo, e saí do galpão sem olhar para trás, enquanto ele lutava com a corda que o sufocava lentamente. A morte estava vindo para ele, como ele havia desejado para mim.
Do lado de fora, meus seguranças me esperavam. Cristóvão se aproximou com um olhar questionador.
— Tá feito. Limpe a sujeira. — disse, sem emoção.
— Deixa comigo. — Cristóvão respondeu, já ansioso para acabar com o trabalho.
Dirigi até minha mansão, precisando de algo para acalmar a mente. Peguei uma garrafa de uísque e fui para o piano. Fiquei ali, tocando por horas, enquanto as lágrimas caiam silenciosamente sobre as teclas. Por mais que minha reputação fosse de um homem frio e sem sentimentos, eu ainda era humano. E a dor, mesmo escondida, estava lá.
Eu não tinha escolhido essa vida. Meu destino foi selado pelo meu pai, que me preparou desde pequeno para assumir o controle de sua "herança". Aos dezoito anos, eu herdei o império, que para o público era uma rede de enlatados, mas eu sabia que era muito mais que isso.
Depois de um tempo, mandei Carmen preparar uma banheira com gelo para mim. Precisava me recompor antes da reunião importante com alguns investidores naquela noite.
— Está pronto, senhor! — ela avisou.
Mergulhei no gelo, deixando o frio anestesiar meus pensamentos e o corpo. Quando saí, me sentia mais forte, pronto para enfrentar o que viesse.
Mais tarde, cheguei ao restaurante. Todos já me esperavam. O clima era tenso, como sempre.
— Ramon Castell, é uma honra conhecê-lo pessoalmente. — disse um dos homens, estendendo a mão para mim. Eu apertei sua mão com firmeza e um olhar sombrio.
— E você, quem é?
— Guilherme Álvares, filho de Antônio Carlos Álvares. Meu pai era muito amigo do seu.
— Certo, prazer. — respondi, tentando esconder o tédio na minha voz.
Depois de cumprimentar todos, me acomodei no meu lugar, com meus seguranças posicionados a uma distância segura. Fizemos os pedidos, e logo uma garçonete entrou para nos servir.
Ela era linda. Não havia outra palavra. Mesmo vestida com o uniforme simples de garçonete, sua beleza brilhava. Longos cabelos presos num coque impecável, maquiagem sutil que destacava seus traços delicados, e aqueles olhos… um azul profundo que me fez esquecer por um instante onde eu estava.
Alícia
— Boa noite, senhores. — sua voz era suave, e quando nossos olhares se encontraram, foi como se ela tivesse visto minha alma. Ela sorriu de leve, e algo em mim mudou.
Ela se aproximou, me entregando o pedido. Seu perfume doce e floral preenchia o ar, e eu estava completamente hipnotizado.
— Aqui está seu pedido, senhor. — disse ela.
Mas então, o celular dela começou a tocar. Ela olhou assustada.
— Seu celular está tocando. — falei num tom sério.
— Desculpe, senhor. Não costumo ficar com o celular no trabalho, mas minha mãe está doente. Às vezes preciso sair correndo para socorrê-la. — ela explicou, tímida.
— Não precisa me dar justificativas. Eu não sou seu chefe. — respondi, tentando esconder o interesse.
— Sim, senhor. — disse, e antes que ela pudesse se afastar, eu a chamei.
— Qual é o seu nome?
— Alicia. — respondeu.
— Melhoras para sua mãe, Alicia. — falei, tentando ser gentil.
Ela sorriu, revelando covinhas nas bochechas, e aquele sorriso ficou preso na minha mente o resto da noite.
Eu não conseguia parar de pensar nela. Não era como as outras. Alicia não tentou me seduzir, não fez nada além de ser ela mesma. Pela primeira vez, eu não olhei para uma mulher com desejo carnal, mas com algo diferente. Uma vontade profunda de protegê-la, de cuidar dela. E isso, para mim, era totalmente novo.
Saí sem entender o que havia acontecido. Aquele homem chamou muito a minha atenção, não só pela aparência, mas pela dor que ele carregava. Dava para ver nos seus olhos. Por um momento, quis abraçá-lo e perguntar o que havia acontecido para que tivesse um olhar tão triste. Talvez as pessoas ao redor não percebessem, pois quem o visse à primeira vista diria que era um homem sério ou até muito frio, mas eu conseguia enxergar que havia muito mais naquele olhar.
Fui até o banheiro para atender o meu celular, que tocava mais uma vez.
— Oi, Santos, o que houve? — atendi preocupada, pois sabia que o Santos, meu grande amigo, só ligava quando fosse urgente.
— A sua mãe está passando muito mal, estou a caminho do hospital, te espero lá.
— Tudo bem, já estou indo. Muito obrigada, Santos.
Desliguei o celular, ainda mais preocupada com a minha mãe. O peso da preocupação era constante, e a incerteza em relação ao tratamento me deixava angustiada. Decidi que precisava conversar com meu chefe, que sempre foi muito compreensivo e estava ciente do estado de saúde dela.
Esperava impaciente um táxi, mas, àquela hora da noite, era difícil. E com o frio que fazia, eu estava quase congelando. Cruzava os braços, tentando amenizar a sensação gélida, enquanto a frustração de não conseguir um táxi e a preocupação com a minha mãe me consumiam. Logo, lágrimas começaram a brotar, e eu chorei muito.
De repente, um SUV parou bem à minha frente. Abaixei a cabeça para secar as lágrimas, tentando disfarçar a vulnerabilidade que me dominava. A porta do carro se abriu, e uma figura masculina saiu, envolta em um casaco escuro. Ele se aproximou com um olhar atento, e, apesar da sombra que o cercava, reconheci o olhar penetrante que me deixara intrigada.
— Está tudo bem? — Aquela voz grave me era familiar. Quando levantei o olhar, vi que era o homem de olhar triste.
— Sim, está — menti, mas a minha voz trêmula e os olhos vermelhos de choro me entregavam.
— Mente muito mal — ele disse, notando claramente que eu estava chorando.
— Está muito frio e a essa hora é impossível aparecer um táxi. Vem, eu te levo até sua casa— ele me ofereceu carona.
— Eu não o conheço, então não posso aceitar a sua carona — falei, mas no fundo eu sentia confiança nele, e ele tinha razão. Eu não conseguiria um táxi àquela hora, e precisava ir ao hospital para ficar com a minha mãe.
— Eu não mordo, não sou um maníaco e prometo te levar a salvo ao seu destino — ele falou, esboçando um sorriso pela primeira vez.
— Tudo bem, eu aceito, mas não estou indo para casa, preciso ir até o hospital — respondi.
Ele abriu a porta para que eu entrasse e logo se acomodou ao meu lado.
— Vamos deixar a moça no hospital, Juarez.
— Sim, chefe — seu motorista respondeu, dando partida.
No caminho, eu o olhava de canto e percebia que ele também me observava. De repente, me dei conta de que não sabia o nome dele, e, após pensar um pouco, decidi perguntar.
— Eu ainda não sei o seu nome.
— Ramon Castell.
— O senhor é o Ramon Castell, das redes Castell Enlatados? — perguntei surpresa.
— Sim, eu mesmo — ele respondeu, achando engraçada a minha cara de espanto.
— Tentei várias vezes um emprego na fábrica que tem na minha região, mas não tive sucesso. Vocês são bem exigentes! — falei sem pensar, e logo me dei conta do que disse, ficando envergonhada.
— Me dê o seu número e mande o seu currículo em PDF. Se eu aprovar, terá um emprego — ele disse, e eu não pude conter e sorri sem acreditar de que o que eu acabei de ouvir era verdade.
— Sério? — perguntei. Conseguir um emprego fixo mudaria minha vida, e eu teria mais tempo para cuidar da minha mãe doente.
— Sim — ele confirmou, e eu abri um sorriso.
Ele pegou o celular, desbloqueou a tela e me mostrou para que eu digitasse o meu número. Com tudo de ruim que estava acontecendo ultimamente, conhecer esse homem foi como uma luz no fim do túnel, uma corda que me ajudaria a sair do poço.
— Chegamos! — ele disse.
— Muito obrigada, senhor Ramon.
— Foi um prazer ajudá-la. A propósito, como vai voltar para casa?
— Meu amigo Santos está aqui com a minha mãe, ele nos levará de volta — expliquei.
— Sua mãe, o que ela tem?
— Câncer. Ela está em tratamento, e às vezes se sente muito mal — falei, e ele me olhou por um momento como se refletisse minhas palavras.
— Não deve ser fácil, mas agora não vou tomar mais o seu tempo, sua mãe precisa de você.
— Mais uma vez, obrigada!
— Não precisa agradecer — ele disse com um sorriso gentil.
Corri para dentro do hospital e logo encontrei Santos na recepção.
— Ai, Santos, eu demorei muito, né? Como ela está?
— Fique tranquila, ela já está sendo atendida.
— Muito obrigada. Eu não sei o que seria de mim sem a sua ajuda.
— Não precisa me agradecer, faço de coração.
Enquanto isso, na minha casa, eu estava deitada ao lado da minha mãe, com o coração cheio de esperança, pensando também em Ramon. Ele era um homem difícil de decifrar, mas, por alguma razão, eu confiava nele. Esperava ansiosa pela manhã, torcendo para que ele me mandasse uma mensagem pedindo o currículo. Seria um sonho ter um trabalho fixo de carteira assinada, algo que me permitiria cuidar melhor da minha mãe.
As noites eram longas e exaustivas, mas eu sempre encontrava forças para continuar. O sorriso da minha mãe, mesmo debilitado pela doença, era o que me motivava. Cada dia, ao vê-la sentada no sofá, envolta em cobertores, eu sentia um misto de esperança e desespero. O tratamento estava custando mais do que eu imaginava, e a pressão financeira pesava em meus ombros.
Abracei minha mãe com carinho, pedindo em meu coração para que ela fosse curada. Já fazia um ano que ela lutava contra o câncer. Para pagar o tratamento, eu trabalhava como faxineira durante o dia e, à noite, como garçonete em eventos ou no restaurante, quando precisava cobrir algum funcionário que faltava.
Pela manhã, enquanto faxinava uma casa, eu olhava o celular de vez em quando, esperando por uma mensagem. Quando estava quase terminando, o celular começou a tocar. Era um número desconhecido. Pensei que poderia ser Ramon e atendi rapidamente.
— Alô! — respondi.
No caminho de volta para a mansão, senti uma alegria inesperada tomando conta de mim. Era raro me sentir assim, e confesso que mal podia acreditar que isso ainda era possível.
— Chefe, você está sorrindo? — perguntou Juarez, parecendo surpreso, já que em todos esses anos trabalhando comigo nunca me vira sorrir desse jeito, como se estivesse... bobo.
— Estou, sim. Algum problema?
— Não, só é meio estranho ver o senhor sorrindo, mas fica muito melhor assim. Devia sorrir mais.
— E você devia prestar atenção na estrada — retruquei.
Juarez riu.
— Ah, agora sim. Voltamos ao normal — comentou, referindo-se ao meu humor habitual.
Mas naquela noite, por mais que tentasse, eu não conseguia tirar Alícia da cabeça. Toda vez que fechava os olhos, a imagem dela surgia, clara e perfeita.
Na manhã seguinte, liguei para ela. Estava ansioso, mas mantive a voz firme.
— Alícia?
— Sim, sou eu. Quem está falando?
— Ramon Castell.
— Ah, sim! Senhor Ramon!
— Não vou tomar muito do seu tempo, então vou direto ao ponto. Surgiu uma vaga de emprego como assistente pessoal. Se estiver interessada, traga seu currículo ao meu escritório às três da tarde. Vou mandar o endereço por mensagem.
— Sério? Eu estarei lá, às três! — A voz dela irradiava felicidade.
— Tenha um bom dia, senhorita.
— Obrigada, senhor Ramon. Bom dia!
Assim que desliguei o celular, percebi que estava ansioso para vê-la novamente. Mentia para mim mesmo dizendo que nossa relação seria puramente profissional. A verdade é que nossas realidades eram completamente opostas. Eu era um mafioso e ela, uma moça linda, honesta e inocente.
Claro que o currículo era só uma formalidade. Eu já sabia tudo sobre Alícia, depois de ter pedido uma investigação completa.
"Nome: Alícia Steves Miller. Idade: 23 anos. Formação: Secretariado Executivo e Relações Públicas. Nasceu na Colômbia e morou lá até os 12 anos. Vive com a mãe. O pai não é presente e a mãe a criou sozinha."
— O resto eu descubro sozinho — murmurei para mim mesmo.
— Chefe, essa moça parece bem inocente. Não entendo o que o senhor quer com ela — comentou Cristóvão, meu braço direito.
— Você não tem que entender nada.
— Tem notícias do carregamento?
— Sim, chega de madrugada. O desembargador resolveu aquele problema.
— Ótimo. Cuide de tudo e me ligue se houver qualquer falha.
— Certo, chefe.
— E o Miguel? Alguma notícia?
— Ainda não.
— Certo. Pode ir.
Às três horas em ponto, pelas câmeras, a vi chegar em meu escritório. Ela estava visivelmente nervosa e, enquanto esperava, percebi que fazia uma oração silenciosa, provavelmente pedindo para ser contratada. Minha assistente ligou avisando, e eu pedi que a mandasse entrar.
Quando ouvi as batidas na porta, meu coração acelerou. Apaguei o charuto e virei o uísque de uma só vez.
— Pode entrar — falei, ajeitando-me na cadeira.
— Boa tarde, senhor Ramon — Alícia me cumprimentou, com um sorriso tímido.
— Boa tarde, senhorita Alícia. Como está sua mãe? — perguntei, tentando parecer cordial.
— Mais ou menos, senhor Ramon.
— Espero que ela melhore logo — estimei. — Está pronta? Podemos começar a entrevista? — perguntei.
— Sim, claro.
Ela me entregou o currículo, mas percebi que havia esquecido as informações dela espalhadas na mesa. Rápido, juntei as folhas e guardei no envelope.
— Senhorita Alícia, já trabalhou como assistente antes?
— Não, senhor. Nunca tive a oportunidade. Quando terminei meu curso, minha mãe ficou doente, e eu precisei cuidar dela. Todos os cargos de assistente exigiam disponibilidade para viajar, o que eu não tinha por causa da doença dela.
Eu poderia usar isso como desculpa para não contratá-la e parar com essa loucura antes que fosse tarde demais, mas não conseguia. Eu a queria por perto. A razão já não falava mais alto; a emoção estava no controle.
— Sempre morou aqui na Itália? — perguntei, tentando prolongar a conversa.
— Não, senhor. Nasci na Colômbia e morei lá até a adolescência.
— Como veio parar aqui?
Ela hesitou. Percebi o nervosismo.
— Minha mãe... recebeu uma proposta de emprego aqui. Meus avós não aceitavam que ela fosse mãe solteira, então um italiano que conhecemos na Colômbia nos trouxe para cá. Eu era muito nova na época.
Algo na história dela não me parecia certo, e eu tinha um faro infalível para mentiras. Alícia estava escondendo alguma coisa. Isso só aumentava minha curiosidade. Eu queria saber o que ela ocultava e, acima de tudo, queria tê-la perto de mim.
— O emprego é seu. Pode começar hoje mesmo. Rebeca vai te passar tudo.
— Sério? Muito obrigada, senhor Ramon! Prometo dar o meu melhor — ela respondeu, os olhos brilhando de felicidade.
Enquanto ela era treinada por Rebeca, não pude deixar de ligar para meu hacker e pedir mais informações. Eu precisava saber o que Alícia estava escondendo e se havia algo mais em sua vida simples que os relatórios não mostraram.
No final da tarde, chovia muito. Apenas Alícia e eu permanecíamos no escritório. Ela havia aprendido rápido, revisado minha agenda e marcado reuniões, deixando tudo em ordem.
O telefone em minha mesa tocou.
— Senhor Ramon, tem um homem aqui querendo vê-lo, mas ele não tem horário marcado — ela relatou.
— Qual o nome dele?
— Miguel Ferrat — ela disse.
— Mande-o entrar — respondi.
Quando Miguel entrou, eu sabia que algo havia dado errado. Ele era meu intermediário e, quando vinha pessoalmente, era sinal de problemas.
— Para você estar aqui, é porque houve algum problema, não é? — perguntei, com um tom grave.
Miguel coçou a cabeça, claramente desconfortável.
— A carga não chegou ao Equador, e o Alex está furioso. Acha que o enganamos.
Aquilo fez meu sangue ferver. Eu tinha rastreado aquela carga. Sabia que havia chegado ao destino.
— A carga não chegou no Equador, o Alex tá enfurecido e pensa que enganamos ele.
— Já ligou para o Sandro?
— Sim, mas só dá fora de área.
— O Mathias estava com ele. Ligou para o Mathias?
— Sim, mas também tá fora de área. O rastreamento da carga mostra que chegou ao Equador, mas o Alex diz que não recebeu a carga.
— Ligue para ele agora! — pedi. Dava para ver as veias saltarem no meu pescoço.
Miguel rapidamente liga para o Alex e coloca no viva-voz. Não demora e ele atende.
— Alô, Alex! — fala Miguel.
— Miguel, já resolveu o problema? — ele pergunta.
— Alex, aqui é Ramon. Nosso rastreamento diz que a carga está no Equador. Não conseguimos contato com os nossos seguranças da carga. Não acha isso estranho? — perguntei desconfiado.
— Está insinuando que eu tenho algo a ver com isso?
— Não insinuei nada. Você que acabou de colocar dúvidas em mim — falo frio.
— Eu não sei da carga. Ela não chegou até mim. Você manda-me outra carga ou devolve o meu dinheiro! — Alex fala irritado, mas a essa altura eu já entendi o que aconteceu. O Alex estava com a carga, e ele não contava que em todas as caixas havia um rastreador. Não sou novo no negócio; fui bem treinado pelo meu pai, e o Alex não contava com isso.
— Uma nova carga está a caminho — falo e desligo.
— Esse desgraçado acha mesmo que sou idiota! Manda uma carga explosiva para o galpão do Alex. Ele quer uma carga? Eu vou dar uma especial — ordeno a Miguel.
— Agora mesmo.
— Explode tudo, não deixa nada! — ordeno.
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