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No Amor E Na Dança

MINHA VIDA É UMA DANÇA

            Nunca pensei que a dança tivesse passos complicados. Eu estava errada! Na dança, há passos beeeem complicados. E não era nada do tipo Plié do Ballet ou do Kick It – NCT Dance do Kpop. Tô falando de coisas básicas na dança de salão como Cruzado de pernas do Bolero ou Romário de costas na Gafieira.

            Quando pequena, dançava as músicas de axé dos anos 90, coreografias de grupos ensaiados e também das novelas teens da época. Sempre consegui dançar no tempo certinho e sei até hoje de cor e salteado! Desde sempre amei dançar! Arriscava uns passos aleatórios e as pessoas achavam muito boa minhas performances, até eu achava!

            Dançava na escola, em casa, na rua para algumas pessoas. Qualquer música que tocava eu arriscava uns passinhos, mesmo que bobos. Sabia até uns passos de Street Dance que sempre amei! Lutava para formar um grupo, mas ninguém queria formar grupo comigo porque me achavam boa, mas não o suficiente para eles. Tentei formar um grupo sozinha, mas as meninas faltavam demais e cada uma tinha um compromisso mais importante que o grupo de Street. Tive uma conversa muito dura com elas um dia, pois vi que estava insustentável manter da forma como estava e mesmo assim, percebi que elas não tinham nenhum comprometimento e não queriam dançar. Desisti do grupo.

            Meus pais achavam que eu tinha jeito para dança e me incentivavam a me inscrever em concursos de dança e ter aulas para aprimorar meu talento. Até me empolgava, mas tinha um pouco de vergonha de estar com muita gente me olhando e deixei isso um pouco de lado. Amava dançar... para mim... e para pouca gente... sem holofotes. O Street seria para as competições de bairro mesmo. Nem pensava em competições regionais ou algo assim. Isso tem muito nos EUA, aqui não. Eu morava em Cityway, próximo ao sul do Brasil. É um povoado de aproximadamente 300 habitantes esquecido pelo mundo de tão pequeno. As novidades chegavam aqui beeem atrasadas, mas a gente vivia bem. Tem bastante área urbana, embora considerado povoado. Nasci e cresci entre a área urbana e o interior, então, sabia de tudo dos dois lados.

            Daí cresci, já não era mais adolescente, aí surgiu faculdade, trabalho, intercâmbio, viagens e deixei a dança de lado que até podia se dizer que esqueci como que se dançava. Ela ficou lááá no fundinho do meu coração e a chama da dança sempre se mexia dentro de mim, mesmo fazendo ela ficar quietinha, pois não sabia se voltaria um dia. Bom, meu foco agora era carreira, estudos e ganhar dinheiro. Não me divertia tanto porque não tinha muito tempo, em um momento ou outro me envolvia em um romance. Uma decepção após outra!

            O primeiro que me apaixonei era ainda na escola. Ele também gostava de mim, me pediu em namoro, a gente ficou junto por um tempo, mas ele muito criança (ou eu, adulta demais) e não queria mais namorar, então, terminamos. Depois, me encantei por outro que tocava em uma banda de rock local, coisa que naquela época tinha a rodo. Nos conhecemos num teatro local. Ele fazia uma apresentação num evento da comunidade e o pessoal do teatro faria também uma apresentação. Quem faria parte da peça? Sim, eu! Tentei fazer teatro para vencer a timidez, funcionou por um tempo, mas ainda era tímida. Aí, cruzamos os olhares, foi amor à primeira vista, nos víamos algumas vezes no teatro, — porque fizemos apresentações em alguns bairros — trocamos algumas palavras e nos beijamos na terceira vez dessas idas e vindas do teatro. Ficamos por um tempo juntos. Éramos felizes. Aí, a banda dele fez sucesso, ele se mudou para outra cidade e nunca mais nos vimos. Chorei à beça!

            Fiquei dois anos derretida por outro que não me dava bola de jeito nenhum. Ainda na escola, já na época final dos estudos, arrumei outro cara. Era um loiro de olhos azuis muito gato. Ficamos por dois meses, começamos a nos desentender e cada um para um lado.

            Na juventude, me apaixonei por outro enquanto trabalhava como secretária em um escritório de tradução. Ele era um cliente do escritório. Logo quando me viu, começou a me cantar e eu nem tinha notado. Na época, não me importava tanto com romances como na adolescência, afinal, a vida tinha mudado e as atenções eram outras. Quando percebi, me deparei gostando das insinuações do cara. Ele era jeitosinho, super educado, cavalheiro e romântico. Até demais! Eram flores quase todos os dias, mensagens o dia inteiro, ligava de três a cinco vezes ao dia! Quando estávamos juntos, não desgrudava de mim e quando não, dava um jeito da gente "se encontrar". Era pior que carrapato! Algumas pessoas acham fofo ou legal, mas eu não! Isso foi me enjoando e cortei a relação.

            Namorei outro por quase um ano. Descobri que estava sendo traída. Fiquei arrasada! Passou um ano, conheci outro que me apaixonei iludidamente. Ele tinha um grande apreço por mim, como amiga, como irmã. Acabou a amizade. Não conseguiria dar conselhos a um cara que estava com outra e eu querendo ele para constituir família! Não dava! Desisti de arrumar alguém.

            Bom, aí me foquei em outras áreas como carreira, trabalho, estudos. Trabalhei muito, estudei muito, viajei muito e curti muito durante 25 anos da minha vida mesmo com esses rolos amorosos, mas uma coisa nunca esqueci de fato: o prazer pela dança. Não podia deixar esse lado meu morrer. Não podia desistir sem tentar. Deixei a vergonha de lado e me matriculei numa academia de dança! Dança de salão. O desafio era grande e eu tinha que tentar. E lá fui eu!

            Ahh... Meu nome Cinthia Lelis e essa é uma parte da minha vida. Agora a outra parte é a minha vida, A DANÇA!

 

 

 

DECISÃO TOMADA

            Resolvi fazer algo diferente e me propus a um novo desafio em minha vida: Dançar. E sei que isso mudará a minha vida totalmente, pois sinto isso!

            Não, vocês não entenderam errado. Eu disse que sempre amei dançar, mas não citei que certos estilos de dança nunca sequer imaginei dançar na vida! Via muito na televisão os casais dançando, se apresentando, dando aqueles passos maravilhosos, aqueles giros incríveis... E aqueles saltos? Eu ficava deslumbrada ao ver aquilo! Achava o máximo em ver, mas de estar ali no lugar de alguma daquelas meninas? Nunca!!

            Não contei também qual é meu estilo de dança preferido. É o Street Dance. Mas não pensem vocês que eu sabia todos os passos. Não sabia nem metade do que deveria saber, eu só improvisava e saía legal. Quem não conhecia, achava o que eu dançava bacana, que eu era incrível e que tinha talento. Não seria o mesmo pensamento para quem manja mesmo! Dançava mais por hobby e nunca levei a sério em dançar profissionalmente, mas não seria má ideia se surgisse algo. Toparia na hora! Só que isso nunca me aconteceu.

            Bom, não deixei de viver por causa disso. Dançar era minha paixão, mas eu era muito desajeitada por muitas das vezes e dançava meio que de qualquer jeito. Eu precisava dançar! Meu prazer era esse. Inventava passos novos que ficavam bem legais e também amava ensaiar coreografias. Nisso, me dava muito bem porque tenho remelexo e quando as pessoas me viam dançar ficavam embasbacadas, pois me entregava de um jeito que só quem dança sabe do que estou falando. Perdia a vergonha nessa hora. Só não podia lembrar que estava dançando na frente de muitos olhares, pois isso me intimidava. Era engraçado como eu ficava tímida e me soltava quando dançava. Eu parecia um interruptor que a gente acende e apaga, como se o liga fosse o não estou tímida e o desliga, estou tímida de novo! Sei que é meio babaca falar assim, mas é assim que sempre pensei quando me lembrava disso.

            Analogias à parte, agora estava disposta a me propor esse desafio e vencê-lo. Estava decidida a entrar numa escola de dança e não era qualquer dança, não. Era dança de salão! Vocês acharam que ia falar em me aperfeiçoar no Street. Sim, pensei várias e várias vezes, mas me achava muito velha para isso e tinha certos movimentos que já estava bem endurecida, então optei por outro estilo. Quem sabe se meu corpo se acostumasse e ficasse mais flexível, voltasse a pensar no assunto? Meu negócio agora era a dança de salão!

            Entrei para a academia Revolution Dance, uma das poucas escolas que havia na cidade. Ainda bem que essa era a mais perto de casa. Tinha mais duas, mas preferi essa. Não sei como nem o porquê, algo me chamava para entrar nessa escola.

            Já que me propus ao desafio e parecia que o destino estava me ajudando, então, dei a mão para o destino e entrei. Ao estar lá, logo pude perceber que a vibe era totalmente diferente do mundo lá fora. Aquilo me animou de um jeito que pensei: “É aqui o meu lugar!”

VENCENDO O OBSTÁCALULO

Estava muito feliz com a minha escolha de estilo e empolgada em começar as aulas. Fui logo na Gafieira. É um estilo muito bonito, em que ficava babando quando via aqueles giros e cruzadas de pernas da mulherada. Arrisquei-me por algumas vezes e até me saí bem. Então, acho que me daria bem ao começar pela Gafieira.

            Engano meu! No começo dos passos básicos até que estava de boa. À medida que ia avançando os passos eram piores! Já não parecia tão fácil quanto no começo e me sentia muito perdida com tanto passo e com as muitas jogadas de perna entrelaçadas.

            Coitados dos meus parceiros de dança! Acho que voltavam com os pés inchados de tanto que eu pisava e esbarrava em seus pés. Tá certo que todo começo em algo novo é difícil e que depois ficava mais fácil e que o básico é facinho, mas a sensação que eu tinha é que era difícil o tempo todo! Parecia que nunca tive contato com a dança de maneira nenhuma! Ficava assustada comigo mesma e às vezes tinha vontade de desistir dessa loucura em que me meti. Mas eu tinha um objetivo e era vencer esse desafio e tinha que encarar o que viesse, não importa o quão difícil era, não podia desistir! Pensando nisso, continuava.

            Resolvi focar mais nos passos e treinar mais vezes sozinha como fazia quando tinha as coreografias prontas. Peguei vários vídeos na internet e treinava também com os vídeos das aulas gravadas pelo professor com a turma. Começou a dar certo. Pedi ajuda do professor que foi super solícito me auxiliando nos passos até eu conseguir pegar. Fiquei mais aliviada comigo mesma quando me vi avançando nos passos de maneira satisfatória e sendo elogiada tanto pelos colegas quanto pelo professor. Yupi! Estava conseguindo.

            Até aí, tudo bem. Estava avançando aos poucos, estava feliz com os resultados, mas nunca fui de fazer uma coisa de cada vez, fazendo várias ao mesmo tempo. Estava gostando do que fazia, porém, precisava de mais emoção na minha vida. Sentia que faltava algo mais e só um ritmo para mim já não era o suficiente. Matriculei meu nominho no Sertanejo. Era um estilo um pouco diferente, que também gostava e que tampouco nunca me atrevi antes em fazer, isto é, seguir o passo a passo de fato. Então, lá fui eu de novo.

            Logo de cara já consegui acertar os passos, o que me acalmou bastante e me incentivou a querer mais. Já estava dando giros e não pisava tanto nos pés dos parceiros. Um alívio a eles, pois alguns dos meus colegas da Gafieira também faziam Sertanejo, sem falar dos apoios de sala. Eles não demonstravam desconforto na minha frente ou pelo menos disfarçavam muito bem porque acho que eles pensavam: Nãooo, lá vem o monstro que pisa no pé de parceiros indefesos!! Tinha dó deles e pedia desculpas, mas acho que nunca seria o bastante. Eles eram super atenciosos comigo falando que no começo é assim mesmo e me incentivavam a dançar, mas sabe quando a gente percebe que é um estorvo? Assim que me sentia. Se eles tivessem a opção de dançar comigo e com outra garota, podiam ter certeza de que não me escolheriam.

            Mas agora, estava me dando bem, pois não pisava tanto nos pés dos parceiros e o Sertanejo era muito mais fácil de manejar, então, logo ficaria craque e não seria vista tão mal diante dos colegas e dos apoios, por mais que todo mundo já tivesse passado por isso um dia. Parece que eles esquecem que um dia já estiveram em nosso lugar e que eles também não sabiam de nada, como estávamos agora.

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